Aldy Carvalho, filho de Petrolina carrega o sertão na ponta da lingua

O poeta e cantador pernambucano Aldy Carvalho, filho de Petrolina, costuma carregar na ponta da língua o bordão: “saí do sertão, mas o sertão não saiu de mim’’. Desde que rumou para São Paulo, no final nos anos 80, fez um pacto para melhorar de vida e realizar seus sonhos através da arte, sem perder as raízes com o universo sertanejo e com as águas do rio São Francisco, onde pescou e se banhou bastante na infância. Quando debandou com a família, sabia que teria uma rotina bem diferente da tranquilidade que vivia. Passados mais de 20 anos, o artista mantém sua agenda de show lá e cá, deixando sempre forte o elo com a terra natal.

O retrato dessa paixão pelas coisas sertanejas está em todas as canções e letras do seu novo Cd, Cantos d’Algibeira, que  traduz um diálogo versátil sobre coisas e causos do Nordeste. “Em São Paulo, muitos falam que o sertão não saiu de você, mas é de forma pejorativa. Já eu digo isso de maneira poética e romântica. Quando você se ausenta da sua aldeia é que enxerga melhor seu território”, defende o poeta que entrou para o mundo da arte com apoio do pai (já falecido) que lhe mostrou o horizonte das cantorias e da literatura nordestina. Na capital paulista, onde mora e trabalha, Aldy sempre fincou pernambucana.

“Meu ofício é elevar a arte e aproveito pra mostrar que Pernambuco é um dos estados mais ricos do país no campo da música e poesia popular. Aos poucos vou expondo as diversas linguagens de nossos estados vizinhos”, diz ele, que se inspirou em artistas como Luiz Gonzaga, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Elomar e outros compositores. Ainda na infância, durante as festas religiosas e nas feiras livres, Aldy começou perceber a beleza dos versos nas canções de Gonzagão e nos repentes dos cantadores de viola. O tinha o costume de convidar artistas para tomar café e cantar em sua casa. Depois vieram os festivais de música e lá á estava ele, mostrando suas primeiras criações.

Quando está em São Paulo, onde passa a maior parte do ano, o compositor sabe bem dosar a trilha sonora. “Comecei essa carreira com o intuito de ser um cantador e o meu estilo sou eu que traço. É predominantemente de raiz nordestina porque carrego na bagagem cantorias, emboladas, cocos, martelos, toadas, baiões e xotes tendo como pano de fundo o panorama da caatinga, com ou sem chuva. Os paulistas e paulistanos respeitam e aprendem com as histórias da minha vida”, observa.

Na maior cidade do país, que ele habitou-se a chamar de Selva de Pedra, está sempre buscando editais voltados paras projetos em universidades e espaços culturais. Há cinco anos faz parte de um grupo que movimenta a Caravana do Cordel, envolvendo diversas vertentes da música e literatura. Falando em cordel, o pernambucano lançou dois: A ganância dos preguiçosos e No reino dos imbuzeiros. Este último foi premiado pelo Ministério da Cultura.

No seu CD anterior, Alforje, Aldy que chegou a gravar em vinil, investiu na memória e faz uma analogia com o do vaqueiro. “Esse personagem é tropeiro e carrega todas as coisas dentro do alforje”.  Já em Cantos d’Algibeira,  Aldy explica que é um complemento do anterior, com novas histórias. “A algibeira é a bolsa que se carrega presa à cintura enquanto o alforje se coloca no lombo do burro”, sintetiza. Para o poeta e cantador, que cumpriu sua temporada junina em Petrolina, seja onde for, sua missão é carregar o sertão junto com a arte “para que outras pessoas saibam que a caatinga também é parte do paraíso”.

Fonte: Emanuel Andrade/Jornal Commercio Recife-PE
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