Ode ao agricultor Manoel Magalhães, de Santana do Cariri, Ceará

O Rádio e os jornais do sul do Ceará anunciaram a morte do ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santana do Cariri, Ceará, Manoel Magalhaes.

Tive o prazer de conhecer este senhor de 94 anos, numa visita ao Crato, lugar que ele morava. Devido a doença não falava. Todavia o seu olhar comunicava e confirmava acompanhado com um sorriso tudo que o genro,  as filhas e netos me contavam. Histórias de um homem que amava a agricultura e as paisagens rurais dos verdes canaviais. Cada gesto e esforço do sr Manoel me fazia lembrar do meu avô Antonio Vital e de um amigo falecido no início desse ano, Vicente Jeronimo.  O sr Manoel Magalhaes me fez lembrar muito a altivez desses dois amigos, meu avô e sr Vicente.

Seu Manoel Magalhães viveu junto com Dona Lorita mais de 70 anos. Deixou os frutos de 5 filhos, 18 netos, 11 bisnetos e 1 tataraneto. Gostava de sentar a mesa da cozinha e conversar. Participei no Crato de uma dessas rodas de conversa.

E a cada prosa percebia  o elo de dedicação do sr Manoel a causa dos trabalhadores rurais e  isto me fez  reportar de um agricultor que nos deixou em agosto de 1962. João Pedro. João Pedro Teixeira foi  líder e fundador das Ligas Camponesas.

O poeta e político Raymundo Asfora escreveu que a morte não consegue fechar os olhos dos que trabalharam por uma causa justa. "Os olhos Brilham numa expressão misteriosa, como se tivessem sido tocados por um clarão de eternidade. Os seus olhos, os olhos de um agricultor morto, ficam  escancarados para a tarde. E, dentro deles, eu vi – juro que eu vi – havia uma réstia verde que bem poderia ser saudade dos campos ou o fogo da esperança que não se apagara".

É certo que na morada do Pai Superior existe outros caminhos e nesta nova caminhada sr Manoel Magalhães vai se juntar novamente há  tantos homens sem terra e tantos homens aflitos e tantos homens de coragem, Compenetrados de consciência de classe, do valor da disciplina e da coesão, mobilizados ardentemente, em cada feira e em cada roçado.

João Pedro, Vicente Jeronimo, Zumbi dos Palmares, Antonio Vital,  Manoel Magalhães, Patativa do Assaré não morreram! Nas palavras de Asfora, estes agora  são zumbis. "Sombra que se alonga pelos canaviais, que bate forte na porta das casas grandes e dos engenhos, que povoa a reunião de casa sindicato, que grita na voz do vento dentro da noite, e pede justiça, e clama justiça social.  Vozes que passeiam pelas estradas,  que fala, pela boca de milhares que amam seu pedaço de terra."

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