O forró
merece respeito. Representa a cultura de um povo chamado Nordeste. Não podemos
sair por aí dizendo que o som dessas bandas de plástico é forró. A batida é
diferente, a mensagem contida nas letras é totalmente diversa do que propõe o
forró.
O ritmo
plástico, que agora também vem recebendo o título de estilizado, no palco se
apresenta com muitas mulheres semi-nuas e com letras pobres. No São João, eu
estava no terreiro do forró quando uma banda começou a anunciar no palco:
“Amanhã é folga para quem não bicou. Eu quero ver. Levante o copo. Dá uma
rodadinha. Só um golim e traga a cachaça, que ela libera. Você tá com medo de
pedir um beijo pra ela. Gatinha mamadinha, levante o copo. Dá uma rodadinha. Só
um golim”.
Isso levou uns quatro minutos até que, em seguida, cantou: “É o
chefe!”. Patrocina ousadia, e as novinhas se derretem / É o chefe / É o chefe /
Considerado, respeitado, e com ele ninguém se mete / É o chefe, é o chefe/
Quando chega na balada, sempre chama atenção / Pelas roupas que ele usa, e a
grossura do cordão / Deixa os playboys rasgar, sempre com muita fartura /
Whisky com Redbull, a mais perfeita mistura / Trata todos com respeito, isso é
já de costume / As novinhas ficam loucas com o cheiro do perfume / Gosta de
ostentação e não tem problema algum / As novinhas ficam doidas pra andar de
R1.”
Nessa
hora, fogos de artifícios no palco e a multidão enlouquecida, a dançar, beber e
repetindo o refrão: É o chefe, é o chefe. Meu Deus! Uma ostentação repassada de
forma selvagem e impiedosa para aquele povo, que mais parecia o admirável gado
novo do poeta Zé Ramalho. As autoridades devem respeitar os festejos juninos,
festa de tradição e que não pode ser transformada em micaretas ou mesmo em
inóspitos e rudes festivais de música.
Como conceber nos palcos do São João, as
atrações principais serem figuras do mundo musical do plástico, sertanejo e do
axé. Nada contra Bel Maques, Victor e Léo, César Menotti e Fabiano, Daniel, Asa
de Águia e outros. Mas o fato é que São João é festa do forró, do xote, do
xaxado e do baião. Cada um no seu lugar, no período próprio. O povo e os
turistas querem ouvir forró!
Em
entrevista, Targino Gondim, foi questionado se o seu forró era o de “pé de
serra”. Com um sorriso franco, respondeu: “Não. O
meu forró é forró. Por que forró só existe um! Ou é forró, ou não é forró! ...
Hoje em dia, nossa juventude, de tanto ouvir, acaba achando mesmo que
"nós" fazemos o "pé de serra" e as bandas
"fulano-de-tal do forró" é que fazem o forró. O que é isso, gente?
Gosto do som de muitas dessas bandas. Mas estão longe do nosso forró! Não estou
aqui querendo atacar ninguém, mas responder de uma vez por todas a essa pergunta
e chamar a atenção do povo e dos meus companheiros : - O meu forró não é
"pé de serra"! É simplesmente forró!”
Fonte:* Onaldo Queiroga - Escritor, Pesquisador, Juiz-João Pessoa PB
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