Encontro de Reisados do Sertão do São Francisco acontecerá na sexta (11)

Na próxima sexta-feira (11) será realizado em Santa Maria da Boa Vista, Pernambuco, O Encontro de Reisados do Sertão do São Francisco, Viva Reis. 

O evento terá início às 18hs na Praça Xisto Graciliano com a concentração dos grupos no Pátio da Igreja Matriz. 19h cortejo Cultural. 19h30 Apresentações de Reisados, Pastoris, Marujada, Congada. 21hs Show com Xote pras Meninas.

No topo do Monte Carmelo, ponto privilegiado de observação do Rio São Francisco no município de Santa Maria da Boa Vista, Mestra Maria Emília lamenta a estiagem no sertão pernambucano e o assoreamento do território em que vive há 71 anos.

É as margens do rio símbolo de vida e resistência que ela dá continuidade a uma tradição cultural secular da região e um dos mais recentes Patrimônios Vivos de Pernambuco: o Reisado da comunidade quilombola do Inhanhum, ou simplesmente, Reisado de Inhanhum.

Sem registro preciso de fundação, a história do grupo é repassada oralmente pelos mais velhos do povoado, onde cerca de cem famílias residem atualmente e veem no folguedo popular um motivo de orgulho, de festa e de expressão de sua religiosidade.

“Tinha 12 anos quando comecei a dançar o reisado, era uma emoção muito grande porque naquele tempo não tinha os movimentos (festivos) que tem hoje”, lembra Emília.

O atual Reisado do Inhanhum perpetua saberes e reaviva ainda a experiência de um outro grupo surgido na região em meados do século passado, o Reisado de Congo. Sob a liderança do agricultor João Preto – que aprendera os ritos da tradição na Bahia e passou a ensinar jovens a tocar instrumentos como violão, pandeiro e triângulo ao retornar à comunidade -, o grupo se manteve ativo também pelo empenho de personagens como a mestra Dona Xandô, irmã de João.

“Se não fosse João Preto, eu não tava aqui agora”, lembra Manoel Benedito, atual violeiro do grupo. Foi com ele que aprendeu, ainda adolescente, a tocar o instrumento que tem animado as festas na região.

De acordo com relatos dos remanescentes do quilombo, homens e mulheres sempre participaram do reisado em Inhanhum, mas sem indumentárias especiais. Os homens usavam chapéus e roupas do cotidiano; as mulheres, saias ou vestidos. O cuidado com as vestimentas – como a definição de trajes que revelam a unidade do grupo – é uma inovação na linha histórica do folguedo.

“A gente sempre viveu da agricultura, teve época em que não tinha dinheiro para fazer as roupas, então comprava tintol e tingia as saias de vermelho, pra todas ficarem iguaizinhas”, lembra Maria Genovês, uma das dançarinas mais antigas do grupo. Hoje, as vestimentas, arranjos de cabeça e fantasias, assim como as espadas utilizadas nas apresentações são confeccionadas pelos integrantes ou parentes.

Na conversa com os brincantes, uma preocupação sempre se sobressai: o pouco engajamento dos mais jovens da comunidade. “Antigamente não tinha tanta festa, o reisado era nossa festa, era onde a gente se divertia, conhecia as meninas e só muito tempo depois começava a namorar”, lembra Seu Manoel Benedito. 

As transformações socioculturais no cotidiano do interior brasileiro ensejam um grande desafio para a renovação de grupos atrelados a costumes e ritos religiosos como é o caso do reisado.
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