Caruaru: Viva a simplicidade. Vivam os Vitalinos *Professor José Urbano

Conheci pessoalmente Severino Vitalino no início dos anos 90. Antes, na condição de estudante, ouvia falar sobre ele como personagem principal e continuador da obra artística criada pelo seu pai, o Mestre Vitalino de Caruaru. 

Na década que trabalhei na Fundação de Cultura, pude assistir uma rotina que englobava vários personagens de nossa cultura, professores, artesãos, músicos, poetas etc. Da família Vitalino, dona Maria José - irmã de Severino - ia mensalmente no Espaço Cultural, e sempre me dava alguns bons momentos de memória e reflexão.

O mestre Severino assumiu a responsabilidade de dar vida à Casa Museu Mestre Vitalino, última residência oficial do célebre artesão e há tempos o portal de entrada da cultura no Alto do Moura. Lá, diariamente, Severino estava com todos os seus adjetivos: simplicidade, sorriso fácil, excelente memória, acolhimento, paciência para explicar, boa vontade inquestionável, e aquele ar de satisfação de quem sempre fez o que gostou. Um homem feliz! 

Ainda na recordação, em 1998 ele fez sua viagem internacional, indo a Portugal com um grupo de artesãos para mostrar na Europa a arte popular de Caruaru. E no Brasil, inúmeras exposições, feiras etc.

Teve uma vida longa, 78 anos genuinamente bem vividos em Caruaru, sempre no famoso bairro cultural. Lá residia com a esposa e sua prole numerosa, treze filhos ao todo.

E foi lá que, em 2009, recebeu as maiores autoridades políticas do Brasil, até Presidente e Governador, para celebrar o centenário de nascimento do seu pai. A imprensa nacional fez cobertura jornalística, e na matéria, um detalhe me chamou atenção, que quero recordar com os leitores.

No meio da multidão que se aglomerava na pequena casa, uma repórter de microfone em punho e câmera ativa, perguntou a ele: o Brasil se faz presente para homenagear seu pai hoje. O senhor está orgulhoso?
- Orgulhoso não, respondeu o mestre. Estou muito alegre!

Um homem que não teve a oportunidade de estudar temas como filosofia existencial ou teologia, não cursou faculdades ou especializações, tinha essa sabedoria de entender a diferença entre orgulho - aquilo que nos isola, ensoberbece e nos diminui - e alegria, esse sentimento divino, primeiro requisito da solidariedade e autossatisfação espiritual.

O tempo futuro há de evidenciar sua vida e trabalho cultural.
Para mim, o humano dele se sobrepôs ao talento artístico.
Eu o definiria numa única frase: um mestre, com a simplicidade de um discípulo. Coisa de gênio!

Agora na eternidade, um sonoro “vivam os Vitalinos”, viva a cultura popular nordestina.

Professor José Urbano
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