Alexandre Garcia, antigo assessor da ditadura, por Urariano Mota

Entre as notícias leves da semana, esteve a de Alexandre Garcia, ou Alexandre Eggers Garcia, virar porta-voz de Bolsonaro. Depois, Garcia procurou esclarecer a informação, com a eterna modéstia que não lhe falta. Alexandre, o grande jornalista, preferia continuar o seu trabalho para 15 jornais e 280 emissoras de rádio. Apenas. Melhor que Hércules, parecia, por executar mais de doze trabalhos. Mas para quem não sabe, ele escondeu o óbvio, porque é um mestre em omitir. A sua fala, falha ou coluna apenas era, é reproduzida em rede. 

Aliás, por falar em omitir, no seu perfil no Portal dos Jornalistas ele informa, e reproduz depois aonde vai, porque é mestre em rede: “O primeiro emprego no jornalismo foi um estágio na sucursal do Jornal do Brasil (RJ) em Porto Alegre. Começou a escrever na editoria de Economia e se especializou em Bolsa de Valores. Nessa época, conciliava um emprego no Banco do Brasil com o do jornal. Pouco tempo depois, foi contratado pelo JB e largou o trabalho no banco”.

Omitir também é mentir. Se ele saiu por um tempo, sob licença generosa, mais adiante voltou com ainda mais generosidade, porque ocupou cargos comissionados na direção geral do Banco do Brasil. E continuou e saiu no fim muito bem, como pesquiso aqui em um comentário na web:

“Alexandre Garcia é aposentado pelo Banco do Brasil, com uma belíssima aposentadoria paga pela PREVI. Na época, anos 70, havia uma situação esdrúxula, abominável, típica daqueles tempos apelidada de ‘teta dupla’, que consistia no seguinte. O cara estava lá no BB em Brasília, daí através de um ‘pistolão’, era convocado por um órgão público, e o funcionário era cedido para um ministério, por exemplo (Maílson da Nóbrega é outro exemplo), no chamado ‘interesse do serviço, com ônus para o Banco’. O nome ‘teta dupla’ se aplicava porque o cedido acumulava os dois proventos. O BB cedia o funcionário com ônus, isto é, ele continuava na folha de pagamentos e contando tempo de serviço normalmente. Posteriormente isso acabou, agora se o funcionário for cedido ele opta pelo salário do novo órgão ou fica com o salário do BB, porém os custos são repassados. Aposentou-se no topo da carreira, como se tivesse exercido altos cargos por mais de 30 anos. Se passou uns 2 ou 3 anos no BB foi muito”.

Na verdade, no Banco do Brasil ele fingiu trabalhar, porque na ocasião, recebendo salário de comissionado para 8 horas, não cumpria sua jornada. E falava, com modéstia e impunidade, pois sempre esteve a favor dos ventos: “o que outros fazem em oito horas, eu faço em quatro”. Gênio. Os demais, coitados, que se submetessem à carga geral das oito horas por dia.

Nesta semana, ao divulgar as razões para o seu trabalho com a ditadura, neste novo tempo da extrema-direita, ele fala, de passagem: “Certa vez, em casa, eu tirava o suor no chuveiro, minha mulher irrompeu ao banheiro com um ultimato. ‘Ou eu ou o Figueiredo’. E optei pelo Figueiredo”, publicou. É um autêntico puxa-saco de plantão, que se exibe despudorado, como prova maior de amor não há.

A propósito do ilustre servidor da ditadura, há um livro, “No Planalto com a Imprensa”, de André Singer, Mário Hélio Gomes, Carlos Villanova e Jorge Duarte, sobre o qual publiquei breve resenha em  19/01/2011, no Direto da Redação do saudoso Eliakim Araújo. O texto foi reproduzido depois na redecastorphoto e no Observatório da Imprensa.

Ali, pude ver que nos trechos onde o eufemismo recomendaria chamar de momentos menos honrosos do jornalista, eram indicadas ações vis como se fossem coisas bobas, ossos do ofício de experientes assessores, entre um riso e outro.

Ainda que o livro não tivesse qualquer espírito investigativo, pois as palavras dos assessores de imprensa entrevistados eram sempre as últimas e se aceitavam sem qualquer contraditório, podiam ser notados atos falhos dos profissionais no Planalto. A primeira coisa que se percebia vinha a ser  a banalização da ditadura. Era como se um golpe de Estado, censura, clima de terror, torturas e assassinatos não fossem o preço necessário para o acesso agradável aos ditadores da ocasião.

Mas nos flagrantes de ser vil, servil, nada se comparava a Alexandre Garcia, quando esteve numa posição intermediária entre assessor do assessor e secretário do secretário de imprensa de Figueiredo. Ele assim se dirigiu, em suas primeiras horas de poder, ao general Rubem Ludwig:

‘Agora, gostaria de ouvir os seus conselhos de como proceder lá dentro porque costumo vestir a camisa dos lugares onde trabalho.’

Quanta entrega de espírito e devoção à causa para segurar o cargo, poderia ser comentado.
Para Alexandre Garcia, enfim, nada era mais honroso que isto, exibido com orgulho em seu currículo:

‘Condecorado com a OBE (Ordem do Império Britânico) pela Rainha Elizabeth’.  Então a resenha de 2011 concluía: Deus salve a rainha. Para tal honra, John Reed e semelhantes deviam se torcer de inveja por todos os séculos.

Agora, o adulador maior de ditadores fala que não será porta-voz oficial de Bolsonaro. “Porta-voz de todos”, ele publica no Twitter. Mentira. Fora do Planalto, ele serve melhor ao presidente fascista nos comentários e artigos. Aquelas mesmas falas geniais para 15 jornais e 280 emissoras de rádio. A cada frase, nova façanha. Um Hércules da bajulação em rede.  

*Fonte: www.vermelho.org.br
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