Aderaldo Luciano e o Dia de São Sebastião

1 -O Dia de São Sebastião sempre foi especial para mim. Em minha infância, porque íamos ao distrito de Mata Limpa participar da festa dedicada ao santo. Caminhávamos uns 5 quilômetros a pé para poder participar da procissão e respirar a aura medieval dos ritos de fé: muita gente que estava a pagar promessas. Depois, à noite, o prolongamento profano: forró e muita aguardente e algum namorico e o retorno a pé. Foi aí, numa dessas festas que vi pela primeira vez uma corrida de argolinha. Hoje gosto de São Sebastião por diversos outros motivos: um deles é o Rio de Janeiro. O outro é essa primeira pintura na ilustração, transformada em clássico.

2. Tornando-se um dos santos mais populares do Brasil, São Sebastião também tornou-se padroeiro de muitas cidades. Pela sua popularidade, no dia de hoje, há romarias e visitações em todas as igrejas das quais seja o anfitrião. Pela história de fé e abnegação tornou-se ainda um dos santos mais retratados em pinturas e gravuras. Dos clássicos aos renascentistas, São Sebastião foi sempre um belo modelo. Reproduções em estátuas de mármore, madeira, argila e gesso são sempre admiradas. A pintura reproduzida, a de número 2, é sensacional: um Sebastião cheio de alegorias na arte de Ronaldo Mendes.

3. O sincretismo religioso brasileiro associou São Sebastião a Oxossi, guerreiro, caçador, guardião da fartura, habitando as florestas. Na Umbanda veste a cor verde, no Candomblé, a azul. Como caçador, Oxossi é paciente e decidido, não perde a presa. Utiliza como ferramenta na caça, o arco inviolável. Amigo ligado às ervas e aos animais, nunca lhe é custoso ajudar aos que precisam oferecendo-lhes um pouco de saúde e prosperidade. Esse pintura que reproduzo, a de número 3, é linda, empresta ao santo um aspecto misterioso e destemido, contrária à imagem do herói sofredor. Não consegui identificar o autor, consegui ler Troll, talvez. Quem souber de quem é essa bela pintura, nos dê o crédito.

4. Sebastião foi um soldado romano do tempo do imperador Diocleciano, nascido em Narbona. Como cristão, passou a proteger os irmãos das perseguições e castigos. Ganhando a confiança do imperador, foi trabalhar na Guarda Pretoriana. Descoberto seu lado cristão, foi acusado de traidor e condenado ao martírio por meio de flechadas. Foi dado como morto, mas sobreviveria. Socorrido por Santa Irene, recuperou-se e num ato de heroísmo cristão reapresentou-se ao imperador que ordenou seu espancamento até à morte. Seu corpo foi jogado nos esgotos de Roma. 

A gravura reproduzida é do acervo da Biblioteca Nacional de Lisboa, sem data nem autor. Belo Sebastião.

Fonte: Aderaldo Luciano-professor doutor em Ciência da Literatura
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