UM MÊS APÓS REINTRODUÇÃO NO SERTÃO BAIANO, ESPECIALISTAS FALAM SOBRE VOLTA DAS ARARINHAS AZUIS

Um mês depois das ararinhas-azuis voltarem ao céu de Curaçá, a reintrodução desses animais à natureza é considerada bem-sucedida pelos especialistas que acompanham de perto essa adaptação. A ave rara e endêmica da região ficou há mais de duas décadas extintas da natureza.

No Alto dos Morros, no meio da Caatinga, pesquisadores e brigadistas do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (Icmbio) estão de olho em oito ararinhas-azuis spixii que foram soltas em 11 de junho deste ano, no sertão baiano. Trabalho que resultou de uma parceria com uma ONG alemã.

Eles também monitoram sinais de rádio emitidos por equipamentos presos no corpo das aves, as primeiras a ganhar a liberdade depois que a espécie foi considerada extinta na natureza, há 22 anos.

"Nós conseguimos registrar qual é o comportamento de cada indivíduo ou do grupo, se ele está se alimentando, se ele tá buscando algum recurso que tá no ambiente, como água de riacho ou alimento disponível ali na área e material também para a construção de ninho", disse a pesquisadora do Icmbio, Ariane Ferreira.

A caraibeira é uma das árvores preferidas da ararinha-azul para fazer o ninho. É uma árvore da beira dos riachos, uma das mais altas da caatinga, algumas chegam a vinte metros de altura.

O casal de ararinhas, que fica junto a vida inteira, geralmente escolhe os galhos mais altos. No local elas se reproduzem e também se alimentam. O fruto da caraibeira é um banquete para as aves.

As ararinhas também gostam muito das sementes de árvores como o pinhão e a favela. As aves, que nasceram em cativeiro na Alemanha, ainda preferem ficar perto do viveiro, onde se sentem seguras, mas algumas já arriscam voos maiores na unidade de conservação criada para elas.

É uma área equivalente a 120 mil campos de futebol na zona rural de Curaçá, sertão da Bahia, o único lugar no mundo onde ela existe. Os moradores da região se tornaram parceiros na tarefa difícil de proteger as ararinhas.

A aposentada Lídia Rosa avisou os pesquisadores quando viu um grupo de ararinhas na fazenda dela, algo que não acontecia havia mais de 20 anos.

"Faço questão de ajudar. É uma ave que já foi daqui da nossa região, e agora elas voltarem de novo para nossa região é muito importante", contou.

A dona de casa Liete de Araújo ouviu o canto de um pássaro no telhado, e, para surpresa dela, era uma ararinha. A ave foi resgatada depois de nove dias desaparecida. Como agradecimento, os pesquisadores deram a ela o nome da moradora.

"Eu nunca imaginei que tivesse meu nome aí na ararinha. Eu desejo que ela seja muito feliz e viva muito aqui no nosso convívio e nada aconteça com ela", afirmou a baiana.

O brigadista Anthony Pietro Martins, que só tinha ouvido falar das ararinhas, agora ajuda a proteger a espécie, seguindo o exemplo do avô.

"Quando eu vi as ararinhas pela primeira vez, eu relembrei todas as histórias que meu avô contava para mim, e eu fiquei bastante feliz de poder estar trabalhando com o que ele fez no passado".

Por Mauro Anchieta, Joyce Guirra e Lílian Marques, Jornal Nacional


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