CAETANO VELOSO É VERSO, PROSA E EBULIÇÃO AOS 80 ANOS

Foi com Luiz Gonzaga e os sambas de roda baianos que o quinto dos sete filhos de José Telles Veloso e de dona Canô deixou escapulir a vertente artística, ainda na tenra idade dos cinco anos de vida na terra natal Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano. 

Era 1947 e dali até os tempos atuais, exatos 75 anos se passaram, tempo hábil para culminar no octogenário Caetano Emanuel Vianna Telles Velloso, nome inconteste da Música Popular Brasileira, e que neste domingo, 7 de agosto, celebra 80 anos de vida – destes, pelo menos 60 deles dedicados a um fazer artístico peculiar e que segue necessário em verso, prosa e ebulição, que o coloca distante de um mero “mortal” para a cultura do País.

De Caetano, no acervo do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), constam pouco mais de 1,9 mil gravações registradas. Ao longo da carreira são mais de 600 canções, com “Sampa” – composta para o aniversário de São Paulo, em 1978 - no topo das mais tocadas na última década e “Você é Linda” (1983) e “Você não Entende Nada” (1970), respectivamente na segunda e terceira colocação entre as mais executadas em segmentos como rádios e shows. 

 Mas os dados fonográficos que o elegem como símbolo da música nacional é apenas o limiar da vastidão que orbita em torno de Caetano Veloso, como voz que marca também e, fundamentalmente, vieses sociais e políticos Brasil e mundo afora.

Que o digam a Tropicália e, frise-se, para além da estética musical que foi o movimento, com a “Alegria, Alegria” ao lado de Gil, Gal, Tom Zé e Os Mutantes, em um período “sem lenço e sem documento no sol de quase dezembro” dos anos de 1960, que aplainou concomitante junto aos tempos cruéis da Ditadura Militar, inclusive – quiçá principalmente – como o período mais obscuro para a arte como um todo. 

No exílio, em Londres, após ser preso, ao lado do também octogenário Gilberto Gil, Caetano seguiu em movimentos cruciais para projetar a catarse da cultura nacional.

Era início dos anos de 1970 e em tom melancólico e saudoso do Brasil que o havia expulsado, as sete faixas do álbum “Caetano Veloso” (Famous) – que em 2021 completou 50 anos - foi o contraponto para a asfixia que circundava artistas, intelectuais e jornalistas exilados, entre outras figuras “incômodas” à época.

Atemporal, luminoso, inquieto, popular (ou não), cronologicamente Caetano será celebrado neste domingo, às 20h30, em live ao vivo junto aos filhos Moreno, Tom e Zeca, e à irmã, Maria Bethânia - via aplicativo da Globoplay, aberto para não-assinantes e no canal fechado Multishow. 

Na literatura, pelo menos seis livros vão ser lançados para impulsionar a data, um deles “Caetano Veloso – Conversaciones com Carlos Galilea” ganhou lançamento em junho, na Espanha, cujo prólogo foi subscrito pelo ‘oitentão’ baiano. E sobre o mais recente trabalho “Meu Coco” (2021, Sony), tal qual fez nos idos anos iniciais de carreira, ele não silenciou e atento, como é de esperar de quilates da arte como ele, falou (cantou) sobre um dos verbetes em evidência nos tempos atuais: resistir.

“Apesar de você dizer que acabou, que o sonho não tem mais cor, eu grito e repito: Eu não. Vou” (“Não Vou Deixar”). Para os dias, meses e anos após 7 de agosto...

Caetano vai se prolongar resistente, oxalá, ao seu tempo de vida ‘pelas bandas de cá da terra’, embora, plácido (e desapegado), ele apoie-se em finitudes. “Somos o infinito aprisionado no finito. Sinto mais o impacto do mistério de existir, de ter consciência de que isso é finito, que eu vou acabar. Então o mundo todo vai acabar para mim, em mim, de mim” (Caetano Veloso, dezembro de 2021, Roda Viva/TV Cultura).

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