Tese de mestrado, autor mostra que há união entre o erudito e o popular

A música erudita e a canção popular brasileira estabelecem relação de proximidade. A influência se dá de maneira mútua, nas duas direções. Tanto a canção popular recebe influências da música erudita quanto a música erudita também dialoga com o campo popular. 

A avaliação é do músico Chico Saraiva, que fez mestrado para entender o ponto de confluência entre os dois universos musicais, aparentemente localizados em polos distintos. O resultado da pesquisa é o livro Violão-canção: diálogos entre o violão solo e a canção popular no Brasil.

Também resultam da pesquisa o filme Violão canção, uma alma brasileira, com duração de 30 minutos, além de plataforma digital onde estão publicadas as entrevistas sem cortes.

Com a experiência de músico, autor de seis álbuns, Chico resolveu enveredar-se pelo universo acadêmico com a missão de colocar em diálogo a música erudita, escrita em partituras, e a canção popular. Realizou conversas com mestres das duas áreas: João Bosco, Paulo César Pinheiro e Luiz Tatit, no campo da canção popular. Com Paulo Bellinati, Sérgio Assad e Marco Pereira, representando o violão solo de concerto; e Guinga e Elomar como membros das duas tradições.

Embora a música erudita seja amplamente estudada na academia, Chico entendeu que havia lacuna para traçar a relação com a canção popular brasileira. Ele considera que livro, site e vídeo são balanço da carreira. A orientação do mestrado foi feita pelo professor Gil Jardim. 

A banca de avaliação contou com o músico e professor José Miguel Wisnik e o violeiro e professor Ivan Vilela. “Minha ideia, desde o início, é conectar o violão ligado à tradição escrita ao universo da canção popular.” O músico levou oito anos para escrever o livro.

A canção popular brasileira abarca diferentes vertentes. Conforme ressalta Chico, a curadoria da Mostra Cantautores, em que ele é um dos convidados, revela diversidade ao convidar artistas como Ângela Ro Ro, Zélia Ducan e João Bosco, entre outros. “A Cantautores é um apanhado maravilhoso dessas vertentes tão diferentes”, diz.

Chico ressalta que não há hierarquização entre os gêneros. Ao contrário, há uma horizontalidade entre os gêneros, como aponta no livro. No trabalho, ele também apresenta a gênese dos dois gêneros. A canção brasileira tem herança melódico-harmônica da tradição europeia. Também tem influência rítmica da tradição africana. O artista está atento aos “cancionistas”, que são músicos que fazem as composições a partir da vocalidade da palavra. “Estabeleci polaridades, como se fossem linhas de polaridade: nossa herança africana rítmica e melódico–harmônica europeia”, disse.

Ele lembra, porém, que expoente da música erudita brasileira, o maestro Heitor Villa-Lobos (1887-1959) é exemplo do diálogo entre a tradição escrita e a canção popular. “A música erudita releu o folclore nacional. Do outro lado, a canção popular chegou a ponto de maturidade musical a partir de Tom Jobim e já consegue inverter isso. Canção popular mais elaborada, influenciando a tradição escrita.”

Chico defende que o livro resulta da pesquisa, que teve cunho artístico muito mais do que científico. “Procurei colocar em diálogo opiniões e pontos de vista. Meu esforço foi colocar em diálogo mestres. Tudo isso gerou algo que transcende a limitação da plataforma da tradição escrita”, diz.

Ele completa: “O vídeo é a melhor forma de transmitir o que a partitura não dá conta”. O material foi editado para o filme Violão canção, uma alma brasileira, com duração de 30 minutos. As entrevistas brutas podem ser vistas no endereço www.violao-cancao.com.
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