O IMPACTO PERMANENTE DA OBRA DO REI DO BAIÃO, LUIZ GONZAGA

Não importa se o contato com a obra de Gonzagão se deu ao vivo, num encontro via palco, ou por meio de sua extensa discografia. O impacto de sua musicalidade tem algo de permanente.

O cantor e compositor pernambucano Siba Veloso, por exemplo, ouvia suas músicas desde pequeno. Um dos mais destacados pesquisadores da música brasileira, Ricardo Cravo Albin, por sua vez, teve a chance de gravar depoimentos de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira para o acervo do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. Lembrado pelo episódio do violão quebrado no Festival da Record de 1967, Sergio Ricardo é outro que manteve um intenso diálogo com a tradição musical nordestina, presente na trilha sonora do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, de sua autoria. 

Conhecedor do modo de trabalho de Gonzaga e de seus parceiros, o jornalista José Teles chama a atenção para a relação entre os compositores e o intérprete. Confira a seguir.

SIBA: Gonzaga foi um artista formador, principalmente para quem vem do Nordeste. Formou a própria imagem que temos de nós mesmos. Ele é o grande e primeiro sintetizador da música nordestina. Então a gente cresceu ouvindo. Foi formador da cultura não só do meu lugar como da minha personalidade até.

 A música dele reflete muito a história dos meus avós, dos meus pais, e secundariamente a minha também, que cresci no meio daquele imaginário. Começa por aí, pelo mundo que ele retratou. Por dar uma imagem musical ao mundo do qual ele fez parte. E depois pela beleza, independente do contexto específico e da síntese musical que fez. Ele transforma elementos da música tradicional numa música universal, que pode ser ouvida em qualquer lugar.

Nesse sentido Luiz Gonzaga é um artista do qual quem é do Nordeste não pode escapar e quem não é, se escapou, está perdendo. De toda essa imensa obra o que mais me marca e do que posso falar como fundamental para mim são as gravações das poesias de Zé Marcolino. Pássaro Carão, Cantiga de Vem Vem, Cacimba Nova.

Para mim, é o ponto alto da união da poesia com a musicalidade que ele inventou. E o Zé é um cara subavaliado hoje em dia. Só quem conhece muito Luiz Gonzaga é que tem noção da importância dele, um autor tão especial. É uma música que estava no ambiente de quem cresceu no Nordeste. Tive minha infância nos anos 1970 e essa música estava acontecendo ainda. Já tinha tido seu auge mas continuava tendo uma importância tremenda. Cresci ouvindo aquilo sem nem pensar no que ouvia. Claro, depois de uma certa idade tomei consciência da importância que ele tinha e passei a admirá-lo de maneira mais consciente.

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