As plantas forjam sua descendência, preparando com paciência o botão depois a flor, de onde saem as sementes e se espalham como gente. Presa ao galho a flor serve às abelhas, que procuram através de seu quartel a matéria para fazer o mel; por isso se deixa penetrar, sem medo de se machucar.
Saciadas, as abelhas vão embora. Levam a doçura repartida para manter a vida da colmeia.
Voltam noutro dia para completar a ceia.
A flor em seu balanço fica para cumprir o destino sem descanso: perfumar o ambiente e fazer no silêncio aparecer cada semente. Bela missão é essa de servir: exalar perfume e produzir.
O militante não é a abelha que vai de flor em flor, mas a própria flor que atrai para si a responsabilidade, de responder a cada uma com doçura e verdade que, lutar e vencer é saber perfumar de amor à humanidade. Envolver cada pessoa num grande abraço e, depois, andar juntos os outros passos.
Para avisar as abelhas, a flor, usa o perfume e sua cor; sinais que orientam também o lutador.
Passado os dias à flor madura e satisfeita, deixa murchar as pétalas de seu brilho, para fazer nascer de si os próprios filhos. E como uma caverna que abre suas portas, deixa sair contentes as sementes que transparecem mortas.
Mas é engano. A semente quer o tempo de germinação para, em silencio levantar-se lentamente do chão; imitar a sua espécie com as cores; crescer e também se encher de flores.
A planta da semente busca entrar por cada fresta, puxada pelo sol, ajuda a construir e a expandir a floresta.
Militantes: mulheres e homens em cada ação fazem-se a si próprios e a organização. Tem ela o jeito de seus passos, o carinho de seus gestos e a acolhida de seus braços. Confundem-se em suas identidades, quê, ao não poder vê-los a sociedade, procura seu perfume em cada marca de saudade.
Militante, é aquele que se comporta como a flor exuberante, não como as estrelas que brilham mas estão muito distantes. Flor é como gente, nasce em toda parte, e por saber o seu lugar, transforma-se em semente. Estrela não! Nasce uma vez só e vive de seu brilho, sem nunca poder dizer que teve um filho.
A flor perfuma o jardim e a mesa do auditório. Murcha de pressa na sala do escritório. Se não houver cuidado, o ar ali ventila mais pesado e a flor perde o encanto e a alegria. Como o perfume é um tanto destemido, quer espaço para circular e se livrar da poeira da burocracia.
As flores se multiplicam com o vento. Por que não crescem em quantidade nos acampamentos e assentamentos? Será por causa da fumaça ou por que o brilho das estrelas inibe o seu crescimento?
É no formar da flor que com a militância se encontra a semelhança. Quanto mais flor, mais perfume, mais semente. Quanto mais gente, mais força e mais esperança.
Ademar Bogo- Doutorado em Filosofia pela Universidade Federal da Bahia - UFBA, Mestrado em Filosofia na Universidade Federal da Bahia - UFBA, Licenciatura em Letras Vernáculas pela Universidade do Estado da Bahia
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