Virgilio Siqueira: Zabe da Loca viveu como quem nunca existiu morreu prá tocar no céu

Zabé da Loca viveu
Como quem nunca existiu
Cansou-se daqui; morreu
E pra loca do céu subiu...

O espírito do som

O som mais limpo
É o do oco da taboca
O do ranger da pororoca
O que da tribo se desentoca/ O que toca lá na loca, Zabé da Loca

O múltiplo som de Hermeto
O da sanfona de Sivuca
O aboio do rei Luiz

O som do fole de Arlindo
E o de Dominguinhos
(Cada um, por tocar, o mais feliz)

A melodia absoluta
A música do âmago do toco
A tessitura da raiz
O som que enche o mundo e a sala
O som da fala
De quem a verdade diz

O som do coco, do reggae e do baque
Do maracatu – quer seja solto ou virado
Das congas quentes que traduzem e trazem
O reino do congo a reboque
Do ilustre som coroado

Som de batuque de atabaque
No terreiro ou na varanda
O som que imprime o sotaque
E os meneios da ciranda

De Jackson, com seu suingue
E de Suzano com requinte no repique
Num martelo a beira-mar, tic-tac no pandeiro
A batucar samba ou jazz, baião, rock
Com seu toque e seu retoque
No terraço ou no terreiro

O som de quem faz
O som pelo som, nada mais
De quem toca porque toca
E porque gosta do que faz

Aliás, o som mais puro é o som
De quem, primeiro, se toca

Pra depois fazer vibrarem notas ao ar e soar
Deixar fluir a música do espírito
No espírito do som
Tocar

Fonte: Poeta, escritor e músico Virgílio Siqueira
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