Não mate a árvore, pai, para que eu viva. Esta árvore, meu pai, possui minha alma

Em Campina Grande,  Paraíba, o cine Capitólio capitulou, é um navio fantasma e caolho reivindicando a paz. Do lado esquerdo de quem o encara, passados os camelôs e o ponto de mototaxi, está a Praça Severino Procópio. Nela sentamos várias vezes para ler algum livreto comprado no Sebo. A praça é bela e está bem adornada de árvores. Para o lado da antiga Lobras, nas cadeiras fixas dos engraxates, sinto falta de José Avelino, o enciclopédico musical, historiador natural. Dentro de um dos canteiros, grafados em concreto, estão lá os dois quartetos do soneto A Árvore da Serra, de Augusto dos Anjos. Vaguei, procurando os tercetos com sua chave de ouro, em vão. Não os encontrei. Mas, deixo-vos o soneto inteiro: A árvore da serra

"As árvores, meu filho, não tem alma!
E esta árvore me serve de empecilho...
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice mais calma!
- Meu pai, por que sua ira não se acalma?!
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!
Deus pôs almas nos cedros... no junquilho...
Esta árvore, meu pai, possui minh'alma!...
- Disse - e ajoelhou-se, numa rogativa:
"Não mate a árvore, pai, para que eu viva!"
E quando a árvore, olhando a pátria serra,
Caiu aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra".

Fonte: Aderaldo Luciano-professor doutor em Ciência da Literatura
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