Maria da Paz Sabino: Eu decidi viver! Venci um câncer

A proximidade da morte transforma os pensamentos e, com medo, desejamos viver mais e aproveitar melhor o tempo que nos resta. Isso ocorre principalmente quando somos acometidos, como eu fui, por uma doença maligna, como é o caso do câncer.

Neste livro, conto a minha experiência de ter passado por este período tão difícil da minha vida. Pensei que não sairia viva. Pensei que tudo iria acabar. Por um momento, perdi a fé e a esperança, mas, por amor à minha família e aos verdadeiros amigos, encontrei as forças suficientes para lutar e vencer.

Logo que descobri o câncer, tive uma reação de negação. Eu não queria acreditar que estava doente. Mas, infelizmente, eu estava e teria que reagir urgentemente para sair deste "vale da morte".

Aos poucos, fui recobrando a minha fé e fazendo nascer em mim a esperança. Eu reagi por amor, pois, já não bastando o meu desespero, a minha família também entrou em pânico. Todos sofreram muito por causa de mim e eu fiquei muito triste por ter sido motivo de sofrimento para eles.

Às vezes eu me sentia culpada por estar doente e sentia vergonha da minha fragilidade, pois passei a depender das pessoas mais do que nunca. Mesmo assim eu não demonstrava revolta. Segui em frente deixando que alguém me ajudasse a tomar banho, a me levar ao banheiro, a fazer e me dar comida, a me dar os remédios, a me levar aos médicos, a me acompanhar nos hospitais. Enfim, aceitei tudo em silêncio, sem reclamar de nada.

Eu aceitei, mas sofri. Sofri e chorei. Chorei e sorri. Para disfarçar a minha dor (nem sempre as dores eram físicas, pois estas passam logo com as inúmeras drogas receitadas pelos médicos), eu estava sempre bem humorada sem demonstrar os meus medos e toda a inquietude do meu ser. O meu comportamento fazia lembrar o poema de Fernando Pessoa quando dizia: "o poeta é um fingidor/ finge tão completamente/que chega a fingir que é dor/a dor que deveras sente". Eu fazia como o palhaço triste, chorava por dentro sem me permitir transparecer o choro.

Mas, enfim, os tempos mudaram e eu estou cada vez mais confiante de que as tempestades nem sempre derrubam todas as árvores. Eu sou uma das árvores que ficou em pé. Sinto-me como um pé de Itaúba, firme e forte e, embora o câncer tenha balançado minhas estruturas, continuo minha caminhada sempre com o pensamento positivo acreditando que nenhum mal dura para sempre.

O bom da vida é que as dores passam. E, melhor ainda, é as tristezas fortalecem a alma e mostram que o mais importante de tudo é viver. Eu tive uma nova chance de aprender a dar valor aos mínimos detalhes da minha existência. Hoje, mais do que nunca, tenho certeza que foi o câncer quem salvou a minha vida. E, como disse Dalai Lama, "só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã. Portanto, hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e, principalmente, viver". Eu decidi viver!
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