Patativa do Assaré, o poeta andarilho da poesia falada

A obra de Patativa do Assaré (1909-2002) reinventou a nação semiárida para os seus próprios viventes. O poeta foi tão necessário nessa empreitada quanto autores como Raquel de Queiroz, José Américo de Almeida ("A Bagaceira") e José Lins do Rego foram para a fundação da imagem do Nordeste na primeira metade do século passado.  Aqui deixa-se de fora, de propósito, Graciliano Ramos e sua alma russo-nordestina, nome que carrega outros sóis.

Andarilho de poesia falada, como os trovadores medievais ou beatniks da América, Patativa botou a prosódia do recolhido homem sertanejo, quase oriental nos seus modos, para desavergonhar-se e tocar no rádio.

O que era economia da fala vira sangradouro, tempestade, como a cheia que invade agora a terra seca. O semiárido, corte da geografia que abriga quase 20 milhões de almas, ganharia assim o seu Camões ou Comonge, como se diz por lá, onde o português reencarna, no anedotário, um anti-herói à João Grilo e Pedro Malasartes.

Ele apreciava muito "Os Lusíadas", ao ponto de dizer muitos versos na mesma métrica. Também perdeu uma vista, desde menino. "Dor-dolhos" se chamava a doença que cegava nos sertões mais precários. 

O seu primeiro livro, "Inspiração Nordestina", recolhido por um amigo que se ofereceu para o exercício da datilografia, agora é reeditado pela Hedra. O bardo não anotava nenhum garrancho do que recitava, mas guardava tudo de memória.

Além do pendor camoniano, Patativa -pássaro miúdo e cantador, daí o apelido- era chegado num Castro Alves. As musas do parnaso também lhe mostravam os bordados das anáguas. Eta Bilac para deixar rastros, talvez seja o mais influente poeta brasileiro de todos os tempos, está nas dores do mundo de Cartola, um fã confesso, está nos floreios do poeta mais sertanejo.

Como se vê no livro relançado, cuja primeira edição é de 1956, seja nos sonetos, nas quadras ou motes, o condoreiro e o homem do "ora, direis" se encontram no Assaré (CE), que quer dizer atalho na língua tupi, caminho dos jardins que se bifurcam da poesia nordestina. Homem que é homem pode até preferir João Cabral, mas não tem medo de raspar o tacho de mel dos adjetivos.

É com esse mundo meloso que Patativa prensa a sua rapadura -nada representa mais a sua poesia do que esse doce nordestino. Com linguagem aparentemente adocicada, ele fez um tijolo impenetrável para a dentição dos esmorecidos. 

Como em "A Triste Partida", sua canção gravada por Luiz Gonzaga: "-De pena e sodade, papai, sei que morro!/ Meu pobre cachorro, / Quem dá de comê?/ Já ôto pregunta: -Mãezinha, e meu gato?/ Com fome, sem trato,/ Mimi vai morrê!".

Nas "vidas secas" de Antônio Gonçalves da Silva, que ganharam mundo a partir de programas de rádio do Crato, Ceará há o duro protesto contra a cerca de arame do latifúndio, mas com uma verve "romântica" à Castro Alves.

Na sua canção de um exílio inevitável, não há o piripaque metafísico ("em cismar sozinho à noite...") de Gonçalves Dias, pois a dor já começa na estrada. Patativa botou o homem do semi-árido, seco e contido por natureza, para derramar-se. Isso é quebra de tabu, sertão sob o sol da psicanálise. 

Fonte: Xico Sa-Jornalista
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Caruaru: Viva a simplicidade. Vivam os Vitalinos *Professor José Urbano

Conheci pessoalmente Severino Vitalino no início dos anos 90. Antes, na condição de estudante, ouvia falar sobre ele como personagem principal e continuador da obra artística criada pelo seu pai, o Mestre Vitalino de Caruaru. 

Na década que trabalhei na Fundação de Cultura, pude assistir uma rotina que englobava vários personagens de nossa cultura, professores, artesãos, músicos, poetas etc. Da família Vitalino, dona Maria José - irmã de Severino - ia mensalmente no Espaço Cultural, e sempre me dava alguns bons momentos de memória e reflexão.

O mestre Severino assumiu a responsabilidade de dar vida à Casa Museu Mestre Vitalino, última residência oficial do célebre artesão e há tempos o portal de entrada da cultura no Alto do Moura. Lá, diariamente, Severino estava com todos os seus adjetivos: simplicidade, sorriso fácil, excelente memória, acolhimento, paciência para explicar, boa vontade inquestionável, e aquele ar de satisfação de quem sempre fez o que gostou. Um homem feliz! 

Ainda na recordação, em 1998 ele fez sua viagem internacional, indo a Portugal com um grupo de artesãos para mostrar na Europa a arte popular de Caruaru. E no Brasil, inúmeras exposições, feiras etc.

Teve uma vida longa, 78 anos genuinamente bem vividos em Caruaru, sempre no famoso bairro cultural. Lá residia com a esposa e sua prole numerosa, treze filhos ao todo.

E foi lá que, em 2009, recebeu as maiores autoridades políticas do Brasil, até Presidente e Governador, para celebrar o centenário de nascimento do seu pai. A imprensa nacional fez cobertura jornalística, e na matéria, um detalhe me chamou atenção, que quero recordar com os leitores.

No meio da multidão que se aglomerava na pequena casa, uma repórter de microfone em punho e câmera ativa, perguntou a ele: o Brasil se faz presente para homenagear seu pai hoje. O senhor está orgulhoso?
- Orgulhoso não, respondeu o mestre. Estou muito alegre!

Um homem que não teve a oportunidade de estudar temas como filosofia existencial ou teologia, não cursou faculdades ou especializações, tinha essa sabedoria de entender a diferença entre orgulho - aquilo que nos isola, ensoberbece e nos diminui - e alegria, esse sentimento divino, primeiro requisito da solidariedade e autossatisfação espiritual.

O tempo futuro há de evidenciar sua vida e trabalho cultural.
Para mim, o humano dele se sobrepôs ao talento artístico.
Eu o definiria numa única frase: um mestre, com a simplicidade de um discípulo. Coisa de gênio!

Agora na eternidade, um sonoro “vivam os Vitalinos”, viva a cultura popular nordestina.

Professor José Urbano
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Estudo relaciona uso de redes sociais a desordens comportamentais

Estudo de pesquisadores da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos (EUA), mostrou relações entre o uso de redes sociais, mais especificamente o Facebook, e o comportamento de pessoas viciadas. A pesquisa foi divulgada no Periódico de Vícios Comportamentais.

Segundo os autores, a lógica de oferta de “recompensas” por esses sites e aplicativos dificulta a tomada de decisões e estimula atitudes de retorno contínuo ao uso do sistema, assim como no caso de outras desordens ou de consumo de substâncias tóxicas.

De acordo com os pesquisadores, os estudos sustentam um paralelo entre usuários com grande tempo dispendido em redes sociais “e indivíduos com uso de substâncias [drogas] e desordens decorrentes do vício”. O excesso de redes sociais afetaria a capacidade de julgamento das pessoas no momento de escolhas mais benéficas.

“Nossos resultados demonstram que um uso mais severo de sites de redes sociais é associado com maior deficiência na tomada de decisões. Em particular, nossos resultados indicam que usuários em excesso de sites de redes sociais podem tomar decisões mais arriscadas”, dizem os autores.

O estudo aplicou uma escala utilizada para medir níveis de vício no facebook (Bergen Facebook Addiction Scale), problemas na tomada de decisões e propensão a depressão em 71 pessoas em uma universidade alemã. A amostra, portanto, é importante para cuidados no momento de generalizar os resultados para o conjunto da sociedade, mas não inviabiliza as conclusões importantes da análise.

As pessoas com maior intensidade de uso de facebook foram as que tiveram pior desempenho no teste de lógica de tomada de decisões (reconhecer escolhas que, no conjunto, trariam mais benefícios e menos prejuízos para si).

“Nossas descobertas implicam que os usuários em excesso de sites de redes sociais estão considerando mais os efeitos potencialmente positivos de suas decisões do que os efeitos potencialmente negativos”, afirmam os pesquisadores no estudo.

O facebook é utilizado por aproximadamente 2,5 bilhões de pessoas no mundo, sendo a maior rede social do planeta. A empresa ainda controla outros sites de aplicativos semelhantes no topo do ranking desse mercado, como whatsapp, instagram e facebook messenger.

Pesquisa do site especializado em tecnologia Quartz indicou que grande parcela dos entrevistados (mais da metade no Brasil) acreditava que a onternet se resumia ao facebook.

Levantamento de um dos mais renomados centros de pesquisa sobre internet do mundo (Pew Internet Research), publicado no ano passado, mostrou preocupação de adolescentes e pais com o tempo gasto em redes sociais. Outro estudo de pesquisadores da Universidade de San Diego sugeriu relação entre tempo de aplicações em computadores e videogames e queda no bem-estar de jovens.

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Ninguém acerta a Mega-Sena e prêmio acumula em R$ 25 milhões

Nenhuma aposta acertou as seis dezenas do concurso 2.114 da Mega-Sena e o prêmio principal, segundo estimativa da Caixa, acumulou em R$ 25 milhões. O sorteio foi realizado na noite deste sábado (12), em São Paulo.

São as seguintes as dezenas sorteadas: 17 - 25 - 30 - 35 - 42 - 57.
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"João do Pife" mantém banda de pífanos fundada há 98 anos

João Alfredo Marques dos Santos é o nome de batismo do músico caruaruense "João do Pife", de 74 anos. Há 59 anos, porém, ele deixou o sobrenome de nascimento de lado e aderiu como identidade ao pequeno instrumento de sopro produzido com bambu.

Há 22 anos, o artista ensina um grupo de idosas a tocar pífano em Caruaru, atividade que concilia com a continuidade da "Banda de Pífanos Dois Irmãos", criada pelo pai do músico, em 1928.

Com o pífano, João viajou por vários países e mostrou a cultura do Nordeste para o mundo. Sem ele, porém, crê que a vida seria diferente: "João do Pife sem o pife não é nada. Sem o pife sou um João qualquer. Com ele sou forte, me sinto completo. É minha arma".

Nascido em 23 de junho de 1943, João aprendeu a tocar e a produzir pífanos com o pai, o mestre Alfredo Marques dos Santos. Na infância, ele dividia os trabalhos na roça com as aulas de pífano.

Na época, ele confessa que chegou a repensar o "ofício" que seguiria na vida. "Eu era agricultor, venho da roça. Minha luta era criar cabras. Quase desisti de tocar para trabalhar no campo. O 'pife' é cansativo e desvalorizado. Nós tentamos valorizar, mas ninguém valoriza. Gosto do que faço e por isso não desisto", desabafa.

A batalha pelo reconhecimento fez ecoar o "sobrenome" de João para o Rio de Janeiro e São Paulo, até países como Portugal, França, Suíça, Inglaterra, Alemanha, Itália e Estados Unidos.

"Quando comecei, pensei que só Caruaru ia me conhecer. Espalhei uma semente. Está plantada, semente boa. Sou muito feliz por isso. Não tem dinheiro que pague o quanto eu já aproveitei. Muita gente é tocador de pife através de João do Pife. Passei para muita gente aprender e ganhar o pão. Está cheio de professor no Brasil. Nos Estados Unidos, formei uma banda de pífanos em uma universidade. Essa cultura do pife não vai acabar", garante.

Segundo o pifeiro, a difusão da cultura popular nordestina ocorre "de inverno a verão", mesmo sem o pífano garantir cachês altos como os do "pessoal que vem de fora" - uma crítica à música estilizada.  "Nossa banda permanece viva desde 1928. Já essas bandas acabam e não saem daqui", diz.

"O pife é o que me deixa forte, me transforma em um líder. Eu me sinto muito rico, cheio de vida, de felicidade, tudo pelo pife. Por causa dele eu criei oito filhos. Fazendo pife, viajando e tocando. Não existe algo tão bom. Eu amo o pife de coração", declara o artista.

Há mais de 20 anos, ele passa os ensinamentos que aprendeu com o pai para um grupo de idosas no Centro Social São José do Monte, localizado no bairro São Fransciso.

Aluna desde o início, Margarida de Melo, de 69 anos, afirma que o pífano mudou a vida dela. "É uma alegria profunda que eu sinto. Eu deixo tudo para vir. Quando eu estou doente e não venho, é uma morte. Fico muito feliz, me orgulho do meu pedaço de pau. Já pedi aos meus filhos que coloquem o meu pife no caixão".

A banda formada pelas idosas surgiu em 1996 e atualmente conta com sete integrantes, mais cinco novatas que estão criando outro grupo musical. 

"Toco caixa, zabumba, triângulo, o que precisar eu toco. Essas aulas são como terapia. Nos divertimos e saímos para tocar em outra cidade. Se estamos estressados, quando chegamos aqui, esquecemos tudo. É muito divertido. Ninguém sente mais a dor da chikungunya", brinca Maria das Dores, de 63 anos.

O "João professor" revela a motivação em transmitir às alunas a tradição do pífano.

"O que dá meu viver é essa terceira idade, que é segura e gosta do que faz. Se não fossem elas, como eu ia viver? É por causa delas que sou o que sou. Temos tantos anos juntos de aulas e apresentações. O pife é vida nova. Imagina esses idosos dentro de uma casa sem ter ocupação? Ficam mais velhos. Aqui, tocando, dançando, viramos crianças", conta João do Pife.

E, por isso, João define o instrumento como "um pedacinho do mundo e o mundo todo, porque através desse pedacinho aqui, eu ando o mundo todo". 

Para o historiador Everaldo Fernandes, "Seu João é uma figura emblemática, é uma figura que serve para nós como referência. Referência enquanto resistência física, teimosia criativa, capacidade de inventar a música ao seu modo, de construir seus instrumentos musicais e de ensinar, que não é tarefa fácil".

G1 TV Asa Branca
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Deputados da oposição e movimentos populares projetam resistência em 2019

Parlamentares de oposição no Congresso Nacional e organizações do campo popular se preparam para lidar com o conjunto de pautas que vem a reboque do governo de Jair Bolsonaro (PSL), eleito em outubro de 2018.

Uma das promessas para o primeiro semestre é o resgate do Projeto de Lei (PL) 7180/2014, conhecido como “Escola sem Partido”. A proposta é fortemente criticada por professores, especialistas e entidades da sociedade civil porque impõe restrições aos educadores, impedindo, por exemplo, conteúdos sobre questões de gênero e educação sexual em sala de aula. Por esse motivo, ela foi apelidada pelos opositores de “Lei da Mordaça”.

Após meses de obstrução da matéria por parte da oposição, o PL foi arquivado, em dezembro de 2018, mas deve ser reapresentado pelo governo.

Conduzido por membros da bancada evangélica, o "Escola Sem Partido" conta com a articulação do filho do presidente, Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ), que se reelegeu como deputado federal e prometeu recuperar a medida.

Para a deputada Erika Kokay (PT-DF), integrante da comissão legislativa que debateu o PL, o projeto exigirá, novamente, uma forte articulação da oposição em 2019. 
Outro desafio citado pela parlamentar é barrar as armadilhas "antiterroristas", que buscam facilitar a criminalização oficial dos movimentos populares: “Ele ['Escola Sem Partido'] faz parte de uma estratégia de retirada de direitos e de entrega da soberania nacional. Essa estratégia precisa calar a escola e todos os espaços de consciência critica, e ela vem no mesmo sentido da criminalização dos movimentos sociais. Tanto o 'Escola Sem Partido' como essa criminalização enfrentarão a nossa resistência”, assegura Kokay.

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5º Encontro dos Ex-Alunos do Colégio Estadual de Petrolina acontecerá no dia 26

Vai acontecer no dia 26 de janeiro de 2019, o quinto Encontro dos ex-Alunos  do Colégio Estadual de Petrolina. Este ano o evento será no Iate Clube de Petrolina, a partir das 11hs. O juiz sanfoneiro Ednaldo Fonseca fará uma participação especial no encontro.

Detalhe: Ednaldo é ex-aluno do Colégio Estadual e entre os ex-alunos estão Aldy Carvalho e Humberto Barbosa, todos são cantores e compositores. Maciel Melo também é um dos ex-alunos. Portanto o colégio foi um celeiro de talentos.

A programação ainda consta de Missa de Ação de Graças.

O ex-aluno e um dos organizadores do encontro, o gestor imobiliário Aldizio Barbosa, diz que são esperados "todos aqueles que participaram do bom tempo de estudantes". 

"São amigos que moram em São Paulo, Salvador, Natal, Recife, Curitiba enfim de todos os lugares desse Brasil. O mais importante é confraternizar e marcar já o próximo encontro, sempre para relembrar nossas boas histórias", diz Aldizio.

Outras informações e contatos 87 988333010. 
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