SANFONEIRO DE LUZ DOMINGUINHOS SEMPRE FIEL Á SANFONA E A LUIZ GONZAGA

Na mais tenra infância, José Domingos de Morais, o Dominguinhos, já tocava sua sanfona tão bem que, num sábado, sua mãe se aprontou, colocou o instrumento num saco, pegou o menino e ia saindo quando o pai perguntou: “Onde cê vai, Mariinha” e ela respondeu: “Vou ali”. “Ali” era a feira, explicou o músico ao GLOBO, em 23 de fevereiro de 1973.

-Quando chegamos, ela tirou a sanfoninha de dentro do saco e disse: “Agora pode tocar”. Botamos o chapéu no chão e choveu tanta prata de um cruzado (cruzeiro) e quinhentos réis, que encheu o chapéu. — contou o sanfoneiro na ocasião.

O chapéu de couro cru de boiadeiro permaneceu para sempre na vida do menino, que, por mais de 60 anos continuou ganhando a vida da mesma forma: tocando sua sanfona para quem quisesse ouvi-la. Os palcos, entretanto, se tornaram muito maiores.

Nascido em 12 de fevereiro de 1941, logo cedo Dominguinhos começou a experimentar o instrumento do pai, seu Francisco, o Chicão, um dos melhores tocadores e afinadores de sanfona de Garanhuns, no interior de Pernambuco, a 230 quilômetros do Recife. Depois do sucesso na primeira apresentação, ele passou a tocar sempre que podia. Então, Dominguinhos teve um momento de sorte: Luiz Gonzaga, o rei do baião, viu uma apresentação sua em 1949, quando ele se apresentava em frente a um hotel da cidade.

— Tocamos, e no final o seu Luiz Gonzaga nos deu o endereço dele aqui no Rio e também 300 mil réis. Ora, a gente que vivia naquele tempo com quinhentos réis, um cruzado (cruzeiro), dez tostões, quase morremos de alegria com tanto dinheiro. Sabe, nós passamos muito tempo comendo daquele dinheiro. Foi uma coisa louca — afirmou o músico, que, no entanto, não pôde por muito tempo ir atrás do ídolo no Rio.

Em 1954, ele chegou a Nilópolis, na Baixada Fluminense, para morar com o pai e o irmão. O jovem músico lavou roupas, fez entregas em uma tinturaria, até que um dia decidiu ir ao endereço de Luiz Gonzaga e de lá, como o próprio Dominguinhos costumava dizer, não saiu mais. Era o início de uma parceria que iria durar até o fim da vida de Gonzagão, e que fez dele o mentor de Dominguinhos, que seria considerado seu sucessor musical. Gonzaga até sugeriu a mudança do nome artístico de seu protegido, que até então se apresentava como “Neném”:

— Ele me disse: “Rapaz, esse negócio de Neném é apelido que veio de casa, você já está crescido, que tal mudar para Dominguinhos?” — afirmou ao GLOBO em 14 de agosto de 2010.

Aos 16 anos, o recém nomeado Dominguinhos já acompanhava Luiz Gonzaga em shows e gravações. Um pouco depois, ele conseguiu um emprego na Rádio Nacional, onde tocou com nomes como Jackson do Pandeiro, Marinês, Genival Lacerda, Trio Nordestino, Jorge Veiga, Ciro Monteiro e outros. Em 1960, o menino do forró e do baião entraria na MPB, e um pouco mais tarde, em 1965, conheceu Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e Chico Buarque.

— Em 1972, compus com Anastácia “Eu só quero um xodó”. Gil ficou maluco pela música. Então, fui tocar na banda da Gal e do Gil, ele aprendeu o “Xodó” e tudo floriu — contou em entrevista de 21 de setembro de 2000, sobre o maior sucesso de sua carreira, composto com a parceira e mulher na época.

No mesmo ano, o empresário dos baianos, Guilherme Araújo, o convidou para fazer parte das apresentações de Gal e Gil no Festival de Midem, em Cannes, na França.

— O povo todo endoidou com o nosso ritmo e nossa espontaneidade. Não foi como os outros artistas que vieram com show montado, como o Isaac Hayes. — afirmou Dominguinhos na época.

O impacto do espetáculo em sua carreira foi imenso e ficou registrado em crítica de Sérgio Cabral, publicada no GLOBO em 25 de junho de 1976: “Se outro mérito não tivesse o chamado grupo baiano, o de ter tornado o sanfoneiro Dominguinhos um nome conhecido nacionalmente já contaria muitos pontos a seu favor”.

Em 2002, ele venceu o Grammy Latino de melhor álbum local, com o CD “Chegando de mansinho”. Em 2007, ganhou o Prêmio TIM na categoria de melhor cantor regional. No ano seguinte, esse mesmo prêmio o homenageou, numa cerimônia que teve convidados como Nana Caymmi, Elba Ramalho, Gilberto Gil, Zezé di Carmago & Luciano, Ivete Sangalo e Vanessa da Mata. Em 2010, Dominguinhos ganhou o Prêmio Shell de Música pelo conjunto da carreira.

Na sanfona e voz de Domiguinhos, a cantora Elba Ramalho (“De volta pro aconchego”), em entrevista ao GLOBO, em 20 de março de 2005, disse sobre o amigo com quem lançara um disco:

— Ele é um dos maiores músicos do mundo, e não sou eu que digo isso, é Gil, Lenine, Chico, toda a música brasileira acha isso. Mas acho que há um descuido em relação à obra dele, que é um grande sanfoneiro, é um grande cantor, mas também é um grande compositor. Talvez seja um preconceito contra a música nordestina, de não reconhecer num sanfoneiro um grande compositor.

Dominguinhos faleceu, aos 72 anos, em 23 de julho de 2013, devido a complicações infecciosas e cardíacas, depois de passar meses internado no Hospital Síro-Libanês, em São Paulo, por complicações decorrentes de um câncer no pulmão, descoberto em 2006. 

Alguns dos maiores nomes da música brasileira, como Chico Buarque, Moraes Moreira, Elba Ramalho e Wagner Tiso divulgaram notas lamentando a morte do artista. No dia 25 de julho, O GLOBO publicou um artigo assinado pelo cantor e compositor Chico César chamado “É forró no céu, comandado por Gonzagão”, sobre a vida e a história de Dominguinhos. Na mesma edição, Moraes Moreira, o cantor, escreveu um poema especialmente para O GLOBO, chamado “Outrora foi o Gonzaga, agora vai Dominguinhos”.

Fonte: *Augusto Decker*
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PROFESSOR JOSÉ URBANO: NORDESTE, UMA NAÇÃO E OS SEUS VALORES

Fechando o primeiro semestre do ano, entramos no processo de execução do ciclo junino.  E discorrer sobre esse período, é mergulhar no que temos de melhor na grandiosa nação nordestina.  União de nove estados, abrangendo litoral, agreste e sertão, somos uma região geográfica convivendo com cruéis períodos de secas, mas também com um ecossistema próprio, na beleza rudimentar da caatinga e no encanto das águas quilométricas do belo rio São Francisco, que nasce mineiro-sulista e tem a sua foz na alagoana nordestina cidade de Penedo. 

Descrever o mês de junho é altamente desafiador, quando ele nos abre um panorama cultural que o nordeste tem, o Brasil conhece e o mundo reverencia. Afinal de contas, esse povo festeiro e valente, é o dono das terras onde nasceu o próprio país, em 1500, a partir da aventura marítima dos portugueses, em busca do “novo mundo”.  

Foi do encontro com os Cariris, nação indígena ainda presente em partes do território, que desenhamos a identidade de brasilidade.  A exaltação nordestina nos deu nomes do quilate dos religiosos Antonio Conselheiro, Padres Ibiapina e Cícero Romão, este último misto de sacerdote e político, personagens da grandeza musical de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, Alceu Valença e Raul Seixas, Elba Ramalho e Marinês, Jorge de  Altinho e Fagner, Belchior e Trio Nordestino, entre tantos outros. 

 A literatura de Castro Alves e Jorge Amado, José Condé e Nelson Barbalho, o humor de Ludugero e Otrope, Chico Anysio e Renato Aragão.  É do nordeste, o paraibano Assis Chateaubriand, o mega empresário das comunicações brasileiras, que nos trouxe o primeiro canal de TV, em 1950, e fundou o “Diários Associados”. 

É sergipano João Carlos Paes Mendonça, gigante do comércio varejista nacional.  A poesia cearense e matuta de Patativa do Assaré, em contraste com a guerrilha rural do pernambucano  Virgulino Lampião e sua baiana Maria Bonita. Quem por aqui aportou, se apaixonou de imediato, que o diga Maurício de Nassau, o conde de origem alemã e administrador apaixonado por nossa gente. 

 Nas lutas sociais, cruzamos os atos heroicos de Frei Caneca e seu sonho republicano, e a luta por liberdade a partir de Zumbi dos Palmares.  As mãos iluminadas do mestre Vitalino, e a voz libertadora de Joaquim Nabuco, a missão de paz de Dom Hélder, e alegria televisiva de Abelardo Barbosa, o saudoso Chacrinha, ícone da TV brasileira. 

A trajetória política de Miguel Arraes, a ruptura institucional do marechal Deodoro da Fonseca, a grandeza cordelística de Leandro Gomes de Barros, fonte inspiradora  da magnífica obra literária e  teatral de Ariano Suassuna.  E a veia criadora de Chico Science, pai do manguebeat, inserido no panorama musical do nível de Maria Betânia, Caetano Veloso e Gilberto Gil, e o pai da bossa nova, João Gilberto. 

 Na educação, temos Paulo Freire, o maior filósofo da educação brasileira, o folclorista potiguar Luiz da Câmara Cascudo, o samba de Bezerra da Silva e Alcione...é muita gente boa, filhos e filhas dessa encantadora região do Brasil.  Problemas sociais? Temos muitos, é verdade, mas são menores do que a capacidade de nos tornarmos um povo batalhador, criativo, empreendedor entre a fábrica e a feira, a roça e o shopping, a charrete e o avião, a lamparina e o led.  

O que dizer do nosso tão original dialeto?  As vaquejadas que remontam lutas medievais na Europa, e os jangadeiros na sua luta incessante na grandeza do Oceano Atlântico.  A cana de açúcar e a produção do ouro branco, adoçando as mesas mundo a fora, junto com o cacau baiano e seus cafezais. 

 Esse é um pequeno ensaio do nordeste, que celebra a sua religiosidade e tradições culturais no ciclo junino, no colorido da decoração, no calor da fogueira, nos movimentos de suas danças, na beleza de sua poesia, e na musicalidade sanfonada por Sivuca e Dominguinhos, moradores da eternidade.  A emoção nos une, famosos ou anônimos, formando uma só voz: Olha Pro Céu Meu Amor, é São João, é Nordeste.  Abram as porteiras do coração, deixa a cultura passar.  Viva a nossa gente, viva o povo nordestino.

Fonte: Professor José UrbanoHistoriador
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LUIZ ROSA, APRENDEU TOCAR SANFONA QUANDO SE APOSENTOU E DIZ QUE LUIZ GONZAGA TOCA A ALMA DO POVO

‘’Sanfona Brasileira toca a alma da gente’’. A frase de Dominguinhos, um sanfoneiro que deixou saudades nos meios musicais, principalmente do caboclo do sertão, permanecerá viva na mente de todos por muito tempo. É o que promete o aposentado Luiz Rosa, sanfoneiro e proprietário da Casa dos Artistas em Petrolina, Pernambuco.

Luiz Joaquim Rosa nasceu em Floresta, Pernabuco. Apaixonado pela origem de agricultor e pela região sempre ouviu a voz e os baiões de Luiz Gonzaga. Despertou que tinha vocação para ser tocador de sanfona. "Fiquei aposentado e resolvi aos 60 anos aprender tocar sanfona. Hoje já faço forró é so chamar que junto com a sanfona, zabumba e triangulo, a animação está garantida", diz Luiz Rosa.

Detalhe:  Luiz Rosa se tornou professor de aula de sanfona. "Nós sanfoneiros fazemos uma roda e vamos ensinando os acordes, e o principal incentivo é quando temos crianças e jovens interessadas na arte da sanfona". Na casa dos artista o aprendiz não paga."O objetivo é manter principalmente para os mais jovens a tradição de tocar sanfona e valorizar Luiz Gonzaga, Dominginhos", ressalta Luiz Rosa.

Na casa dos artista já existe mais de 80 sanfonas. "Na verdade é uma coleção de sanfona. Temos até uma sanfona de 8 baixos, a origem de todo forró brasileiro, a famosa sanfona pé de bode", conclui Luiz Rosa. 

Nas gravações realizadas em Exu, durante os festejos dos 70 anos da música Asa Branca, Luiz Rosa foi um dos sanfoneiros em destaque do documentário. Ele também participou do Clisertão 2018=Congresso de Literatura, Leitura e Linguagens do Sertão

Os interessados podem se inscrever e agendar as aulas na Casa dos Artistas, das 7h30 às 14h e das 14h às 16h30, que fica na Rua Engenheiro Valmir Bezerra, centro de Petrolina,  fone watsap 87996085740.


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CONCURSO SARAU POÉTICO, A PROMESSA DO BARÃO DE EXU, 150 ANOS DE HISTÓRIA, ACONTECE NESTA QUINTA-FEIRA 21, EM EXU

Este ano a igreja de São João Batista do Araripe comemora 150 anos. A Budega Cultural Vale do Ançu, realiza o concurso “Sarau poético, com o tema "a promessa do Barão de Exu, 150 anos de história". 

A divulgação do resultado e a cerimônia de premiação acontecerá em um evento público a ser realizado no dia 21 de junho de 2018, a partir das 21 horas, nos festejos da igreja de São João Batista, no povoado do Araripe no municipio de Exu.

O Concurso tem o objetivo de comemorar o aniversário de 130 anos de Fernando Pessoa e os 150 anos da igreja São João Batista do Araripe, que foi construída por Gualter Martiniano de Alencar Araripe (O Barão de Exu), como pagamento a uma promessa feita a São João Batista por salvar seu povo de uma epidemia de cólera que invadiu principalmente o nordeste brasileiro, tendo atacado o Crato, Ceará de 1862 a 1864.

Serão premiadas com um certificado comemorativo todas as poesias selecionadas, e mais premiação em dinheiro para as três poesias finalistas do concurso.
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PROFESSOR URBANO, JORGE DE ALTINHO E CARUARU, A CAPITAL DO FORRÓ

Caruaru. Capital do forró, da poesia. Denominação criada pela extraordinária poesia e melodia de Jorge de Altinho - o olindense mais matuto de Pernambuco - gigante da nossa musicalidade, e que de quebra fez a bela canção Juazeiro – Petrolina, Capital do Forró está inserida no repertório daqueles forrós que se tornaram imortais, e tem inúmeras razões para isso. Gravada pelo Trio Nordestino, no ano de 1980, fase na qual o excelente grupo vendia 1 milhão de discos a cada lançamento, a capital do agreste ganhou uma homenagem perpétua e inigualável.

Do ponto de vista de construção poética, Capital do Forró é um texto que fez o marketing da cultura caruaruense de um modo que nunca foi superada. Musicalmente, Caruaru pode ser representada por 4 canções extraordinárias, respectivamente: Feira de Caruaru, de Onildo Almeida, Capital do Agreste, de Nelson Barbalho, Caruaru Azul Palavra de Carlos Fernando e Capital do Forró, de Jorge de Altinho. 

Essas canções banham de poesias a terra de Vitalino. E o povão adora, sempre alguém sabe cantar ao menos um trechinho de uma delas. A minha preferida? Não tenho, as quatro acima estão lado a lado no meu arquivo de memória.

Desde o início dos anos 80, “Capital do Forró” emplacou e não saiu mais das playlists de rádios do nordeste. Quem nunca foi, já ouviu falar / se você for vai gostar / quem já foi volta sempre lá / pra dançar forró no arraiá....é uma construção textual fantástica, na altura do slogan “de tudo que há no mundo, nela tem pra vender” destaque na música da feira.

 A parte que sempre lembro quando retorno das minhas viagens, geralmente a noite: “bonito pra você ver, nas noites de são João, quem vem pra Caruaru, de longe vê o clarão”... e vê mesmo, dezenas de quilômetros em qualquer direção, pelas rodovias que nos trazem ao agreste, as noites estão iluminadas pela energia do povo caruaruense.

Nessa esteira de sucessos regionais, surgiram compositores que impulsionaram a música regional. De saudosa memória e que tive a honra de conhecer pessoalmente, Juarez Santiago, maestro Camarão, Bau dos 8 baixos, Ezequias Rodrigues e tantos outros merecedores da nossa reverência. 

Não satisfeito com a homenagem musical, Jorge teve um novo sopro de poesia Gonzaguena e fez Juazeiro – Petrolina, no mesmo molde poético, leve, bonito, pleno de bom gosto. Essa canção é uma narrativa, que descreve a região do rio São Francisco que une Pernambuco e Bahia a partir das duas cidades belas. Pernambuco decantado em prosa, verso, poesia e forró de qualidade

Não é possível separar o forró de sua poesia - seja urbana ou matuta - pois quando se toca e altera essa fórmula sagrada, o próprio gênero musical perde o seu valor, e a maior prova disso é que não se eterniza na mente e coração dos nordestinos, gente de muita sensibilidade, de uma cordialidade sui generis.

 Olha pro céu amor/vê como ele está lindo...eis a grandeza musical que alcança voos infinitos na seara poética, subindo como um balão, nas asas da Asa Branca. É danado de bom!

Fonte: Professor Urbano Silva-historiador
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LIVRO DE THEREZA OLDAM COMEMORA OS 150 ANOS DE HISTÓRIA DA IGREJA SÃO JOÃO DO ARARIPE, EM EXU PERNAMBUCO

A história de fé da Igreja de São João do Araripe, no município de Exú, no Sertão pernambucano, é contada pela primeira vez no livro “Igreja de São João Batista do Araripe, Exu-Pernambuco – Sesquicentenário (1868/2018)”, de Thereza Oldam de Alencar. 

A obra, que será lançada na própria igreja no dia 23 de junho, véspera de São João, ao final da nona noite do novenário, remonta a trajetória do Barão de Exú, bisavô da autora, que construiu a igreja como pagamento de uma promessa ao santo, e relembra as tradições e festejos até os dias atuais. Aos 87 anos, Thereza escreveu o livro à mão, durante quatro anos de pesquisas e entrevistas.

“Fui juntando peças e ouvindo a voz da tradição. Entrevistei octogenários que guardavam importantes informações e fui vendo se formar, diante de mim, uma linda história de amor e fé. Foram quatro anos de pesquisa e peleja, andando, trabalhando e trabalhando. E, também, me baseei em o que minha mãe – nora do Coronel João Carlos, criado pelo Barão – escreveu”, conta Thereza.

A história começa com a chegada dos Alencar, vindos de Portugal, ainda no século XVII, e chega ao Barão de Exú,Gualter Martiniano de Alencar Araripe, nas fazendas Araripe e Caiçara. Com o “caos de dor” trazido pela epidemia de cólera no Crato, vizinho a Exu, entre 1862 e 1864, o Barão fez uma promessa a São João, para que a doença não se alastrasse por seu povo. 

Com a graça alcançada, o fazendeiro iniciou a construção da igreja, inaugurada na véspera do Dia de São João em 1868. Em seu testamento, deixou expresso que seus descendentes cuidassem da igreja.

Os 150 anos do Arararipe também se entrelaçam com a vida de outro conhecido morador de Exu: Luiz Gonzaga. A bisavó do Rei do Baião se abrigou na Fazenda Caiçara, também do Barão, durante a peste de cólera. Foi na igreja que os pais de Gonzagão, Januário e Santana, se casaram. Gonzaga eternizou os 100 anos da igreja na canção “Meu Araripe”. Foi Thereza, a autora do livro, quem escreveu, inclusive, a apresentação do disco “São João do Araripe”, em 1968.

“Meu sonho é que a história dessa igreja seja disseminada por todos. Pelos devotos, pela nossa família, por Exu, por Pernambuco, pelo Brasil. É uma história simples e verdadeira e não pode ser esquecida. É um santuário de fé, patrimônio histórico e cultural do povo de Exu. Não é só um prédio bonito. Sua argamassa é feita de amor e fé”, conclui a autora.

Dividido em 12 capítulos, “Igreja de São João Batista do Araripe, Exu-PE – Sesquicentenário (1868/2018)” faz um passeio detalhados sobre esses 150 anos, misturando a história dos Alencar, dos Gonzaga, do município de Exu e do povoado do Araripe. Sua última parte, intitulada “Memorial Idílico do Araripe”, conta com depoimentos de 33 personalidades da região ou que têm uma relação de carinho com o lugar. Entre eles, o jornalista Francisco José e Dominique Dreyfus, biógrafa francesa de Luiz Gonzaga.

O livro tem prefácio escrito pelo advogado Dario Peixoto, filho de Thereza, e orelha da capa escrita pelo ator e humorista piauiense João Claudio Moreno. A contracapa tem autoria do marido da autora, Francisco Givaldo Peixoto de Carvalho, também escritor. E a orelha da contracapa, com perfil biográfico da autora, foi escrito pelo poeta e escritor cearense José Peixoto Júnior.

Thereza Oldam de Alencar é mestra em Educação Básica, formada pelo Colégio Santa Tereza de Jesus, no Crato (CE), e doutora em Letras pela Faculdade de Formação de Professores de Petrolina (PE). Em 2011, publicou seu primeiro livro “Exu – Três séculos de história”. Condensou, ainda, em livros, memórias de seu pai, Antholiano Ayres Peixoto de Alencar, e de sua mãe, Maria Geralda de Alencar.

Fonte: Digital ComunicaçãoExecutiva -Recife-PE
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TODO O NORDESTE LASTIMA, FRAQUEJA, RÓI, DESANIMA, TENDO NO PEITO UMA CHAGA ESCULHAMBARAM O SÃO JOÃO

E o que vejo no São João 
É esse golpe gritando
Golpeiam o corpo e a alma
E a vida vão golpeando
Golpeiam no coração
Golpeiam na tradição
O golpe é quem nos estraga
E apaga todo lampejo
Procuro luz e não vejo. 
Valei-me, Luiz Gonzaga!!!

Campina Grande cedeu!
Vencida, Caruaru.
Mas a resistência é firme
Na cidade do Exu
Todo o Nordeste lastima,
Fraqueja, rói, desanima,
Tendo no peito uma chaga.
Esculhambaram o São João,
Fizeram trato com o Cão.
Valei-me, Luiz Gonzaga!

Essa turma do dinheiro
Quer acabar com o São João 
Joga água na fogueira
Mijando no foguetão
Prefeito tome cuidado
Que o povo tá revoltado
E vai cassar sua vaga.
Veja aí esses meninos
Valentes, fortes, ferinos
Louvando Luiz Gonzaga!

Fonte: Aderaldo Luciano-Professor. Doutor em Ciência da Literatura
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