Luiz Gonzaga e os nomes das mulheres amada

O arquiteto Oscar Niemeyer gostava de falar sobre sua paixão pelo trabalho e pelas obras que construiu pelo país.

Uma das definições mais extraordinárias do amor ao trabalho foi ele dizer que a maior atração era a curva livre e sensual. "A curva que encontro nas montanhas. No curso sinuoso dos sentidos, nas nuvens do céu. No corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo."

"A obra de Gonzaga traz a mulher que cuidava das crianças, na Zona da Mata, no Agreste e no Sertão, da matriarca da família que exercia o mesmo respeito, a mesma mística que o senhor de engenho e proprietário da terra, mas ao mesmo tempo Gonzaga acompanha o desenvolvimento dessa mulher", explica o cantor e compositor Silvério Pessoa.

Animada para a festa e valente para a peleja. Assim é a mulher nordestina de Luiz Gonzaga, refletida em artistas como Terezinha do Acordeon, que fez de tudo para não deixar sua sanfona. "Meu pai achava estranho e o povo achava mais estranho ainda. Só que depois, eu fui fazer o que toda mocinha faz. Namorar, casar, ter sua família. Eu casei com uma pessoa que não gostava de sanfona. Eu tinha uma casa, marido, filhos e faltava alguma coisa. Meu marido não queria nem ouvir falar em sanfona".

Iolanda Dantas, viúva de Zé Dantas, falecida recentemente, contava que conheceu o Rei do Baião quando ainda namorava Zé Dantas. "Ele fazia, escrevia, se apresentava no programa de rádio e Luiz Gonzaga cantava. [...] A primeira música que ele [Zé Dantas] fez para mim foi a 'Fulô ingrata', assim como 'Sabiá', que ele também fez para mim. Luiz Gonzaga diz que 'Cintura fina' também foi para mim".

Discutindo as músicas de Gonzaga sobre as mulheres, 'Paraíba masculina' não podia ficar de fora. Mulheres que conviveram com Luiz Gonzaga e artistas analisam a música e discutem se a música é ou não machista. "Eu acho que se seu Luiz fosse vivo, não ia cantar mais assim não", acredita a cantora e compositora Bia Marinho.

A mulher presente em obras como 'Samarica parteira', que conta as aventuras para buscar a parteira, traz a tona essa figura que tanto marcou a história nordestina. "A música mostra para a gente esse respeito pela mulher parteira, o respeito por sua ancestralidade", acredita a parteira Suely Carvalho. 

Figuras como a vaqueira Maria Soneide mostram a força da mulher. "Eu comecei a amansar jegue com papai, ele me mostrava os caminhos no mato", conta Maria. "Eu acho que pareço um pouco com a Karolina com 'K' e um pouco essa mulher guerreira, batalhadora. Ela tem essa coisa da alegria, da festa, que gosta de se divertir", acredita a pesquisadora Leda Alves.

A partir deste conceito analiso o significado da Mulher no universo sempre apaixonante que encontramos nos versos cantados por Luiz Gonzaga. A música de Luiz Gonzaga cantou o Nordeste/Sertão, de todas as formas, fala de sua força para o trabalho e suas lutas, mas também fala da mulher e sua formas sensuais.

Luiz Gonzaga acariciava a sanfona, dialogava com sanfona/mulher amada...Provocava prazer percorrendo o corpo imaginado sem pressa dos 8 aos 120 baixos, dedos leves em cada nota, acorde,/acordes de tal forma que antes do fim da nota, a mulher preferida,  já se encontre em pleno êxtase...

A música "Morena Cor de Canela constitui um roteiro da mulher bonita e sensual, enumerando suas qualidades e independência, culminando num jogo plurissignificativo.

Vejamos: "Olha o jeito dela, morena cor de canela pode morrer de paixão quem olhar nos olhos dela...corpo esculturado, beleza que Deus Criou
Cabelos anelados, boca cor de jambo
ela vai envenenando qualquer homem que lhe ver
sua cintura bem fininha, afinadinha
vai descendo, enlarguecendo
nos quadris, que tentação
as suas pernas torneadas, tão bonitas
pois qualquer homem fica com ela no coração
sai da janela, caminha requebrando
a gente vai olhando, vai ficando na ilusão...
não faz assim comigo não...

É a pura valorização da mulher. Já em "Vem Morena", Luiz Gonzaga na composição de Zé Dantas dispensa comentários: 
"Vem, morena, pros meus braços
Vem, morena, vem dançar
Quero ver tu requebrando
Quero ver tu requebrar
Quero ver tu remexendo
No Resfulego” da sanfona
“Inté” que o sol raiar
Esse teu fungado quente
Bem no pé do meu pescoço
Arrepia o corpo da gente
Faz o “véio” ficar moço
E o coração de repente
Bota o sangue em “arvoroço”

Esse teu suor salgado
É gostoso e tem sabor
Pois o teu corpo suado
Com esse cheiro de “fulô”
Tem um gosto temperado
Dos tempero do amor
Vem, morena, pros meus braços"...
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