Belchior: apenas um rapaz Politizado e universal

Quando os ponteiros do relógio do dia 26 de outubro de 2016 marcaram 18 horas, Antonio Carlos Belchior completou 70 anos. Compositor cearense entre os mais notórios do cancioneiro popular brasileiro, Belchior conheceu a fama na década de 1970, quando morava no Rio de Janeiro e teve canções gravadas por Elis Regina, incluindo Como Nossos Pais. Ele gravou discos, emplacou sucessos, colecionou namoradas e compôs hinos que atravessaram gerações.

Hoje dia 30 de abril o Brasil perde o talento a voz de Antonio Carlos Belchior. Belchior é o nome legítimo do rapaz latino-americano. Nilson Belchior, irmão caçula do artista é guardião de fotografias, lembranças e documentos da família. Entre eles, a certidão de nascimento de Belchior - com preciosos detalhes sobre a origem do sobralense. Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes é um personagem criado pelo cantor que passou a se identificar como “o maior nome da MPB”. 

Cinco anos antes de Alucinação ganhar as emissoras de radio, Belchior era um estudante de Medicina da UFC. Circulava em importantes corredores da cultura de Fortaleza - como o Bar do Anísio, na Beira Mar - e trabalhava no programa da TV Ceará Porque Hoje é Sábado, que apresentou a nova geração da música local. Mas foi em 1971, em uma viagem cheia de percalços, que Belchior conseguiu projetar suas composições nacionalmente. Deixou para trás a faculdade e a vida em Fortaleza. Juntou os pertences e foi para o Rio de Janeiro.

"Eu decidi de repente e de um dia para o outro fui embora, sem documentos da escola e sem dinheiro. As coisas foram bastante complicadas e difíceis porque além de não conhecer ninguém, eu tava com o orgulho do pobre: 'Se é pra vencer, vou vencer de qualquer jeito'", contou o compositor em entrevista ao jornal O POVO, em janeiro de 2004. À época da viagem, além da faculdade e do programa de televisão, ele era professor em escolas de Fortaleza. Belchior foi um dos cearenses a embarcar para o circuito "Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo". Junto dele estavam Fausto Nilo, Teti, Rodger Rogério. Todos amigos e parceiros de música.

"Ele fez quatro anos de Medicina e disse para mim que não era aquilo que queria. O papai pediu muito para ele terminar, pois faltava só um ano. Ele disse que não, que iria viver de música", conta Nilson Belchior, irmão do cantor. Por poucos dias, o compositor ficou hospedado com um tio. Depois, fez morada na casas de amigos, apartamentos em Copacabana, circuitos culturais. Da capital carioca, seguiu para São Paulo. Lá, firmou residência e sucesso. Casou e teve filhos.

Alimentou segredos guardados em família. Os discos borbulharam, ano após ano, até 1999, data do lançamento do álbum Auto-Retrato. Belchior encarou o autoexílio. Distante do público e da mídia, transformou-se em ícone pop e figura cult. Para os mais próximos, continua sendo apenas um rapaz latino-americano.

Fonte: Por Camila Holanda, Isabel Costa e Marcos Sampaio-Jornal O Povo
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