Frevo de luto: morre o maestro Nunes, Patrimônio Vivo da Cultura

O frevo perdeu um dos seus maiores ícones. José Nunes de Souza, o Maestro Nunes, Patrimônio Vivo de Pernambuco, morreu aos 85 anos por problemas pulmonares. A data ganha duplo significado: 14 de setembro é o Dia Nacional do Frevo, que se soma ao 9 de fevereiro, considerada a data de nascimento do ritmo.

Nunes nasceu em Vicência, na Mata Norte de Pernambuco, em 22 de julho de 1931, filho do clarinetista e violonista José Francisco Nunes e de Maria Apolônia Nunes. Desde criança, seu talento musical era evidente: aos 9 já era clarinetista, quando adolescente já sabia orquestrar. Aos 19 anos, mudou-se com a família para o Recife, onde dedica-se com mais afinco aos estudos musicais.

Participou do Movimento de Cultura Popular (MCP), ao lados de nomes como Paulo Freire, Germano Coelho, Abelardo da Hora e Miguel Arraes, que foi encerrado violentamente pelo golpe de Estado de 1964. A militância política (era filiado ao Partido Comunista Brasileiro) lhe rendeu perseguições no período, mas sempre esteve presente em suas composições.

Maestro Nunes criou, em 1984, a Banda de Frevos do Nordeste. Foi fundador do Centro de Educação Musical de Olinda (CEMO) e regente da banda de música 10 de Agosto, em São Lourenço da Mata, município da Região Metropolitana do Recife. Integrou ainda a banda de música do Liceu de Artes e Ofícios, da Universidade Católica de Pernambuco. Ainda em 1972, fundou a Escola Musical do Frevo, focada em ensinar música a crianças de comunidades de baixa renda. Apesar da idade avançada, o músico continuava ensinando emantinha a Escola de Frevos do Nordeste Maestro Nunes, no Largo de Santa Cruz, no Centro do Recife.

Criador prolífico, compôs inúmeros frevos. Seu maior clássico, considerado o hino do frevo de rua, é Cabelo de Fogo, presença garantida no repertório de todas as orquestras e melodia cantarolada e assobiada por todos os amantes do frevo e do carnaval pernambucano.

Em 2009, Maestro Nunes recebeu o título de Patrimônio Vivo, como reconhecimento ao seu valor artístico e cultural. Ele foi um dos sete maestros homenageados no filme Sete Corações, idealizado pelo também maestro. "Ninguém é mais tocado que ele nas ruas, nenhum compositor de frevo é mais tocado que ele, por todas as orquestras. As crianças e jovens que começam no frevo começam tocando as músicas dele", disse Maestro Spok.

O jovem maestro, responsável pela última grande renovação do frevo à frente da Spok Frevo Orquestra ainda afirmou que Nunes é "Muito especial e importante. Muito simples e grande. Nunes é realmente uma lenda do frevo. Cabe a gente, às orquestras, continuar seu legado, sua música".
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