JACKSON DO PANDEIRO, ADELZON ALVES E LUIZ GONZAGA

Programa NAS ASAS DA ASA BRANCA-VIVA LUIZ GONZAGA E SEUS AMIGOS faz uma justa homenagem ao fenômeno, Mestre do Ritmo, Jackson do Pandeiro, que completaria 102 anos no dia 31 de agosto.

 Aqui foto rara: jornalista Adelzon Alves, que comandou junto com Jackson um programa na Rádio Globo nos anos 70, programa rádio que teve participação de Luiz Gonzaga, Rei do Baião. 

Esta foto é clássica na história da música brasileira. Jackson do Pandeiro, Adelzon Alves e o Luis Gonzaga. Adelzon Alves é radialista e até hoje o maior sinônimo de audiência no  Rádio programas transmitidos no período da madrugada.

Nascido em Cornelio Procopio (Paraná) iniciou aos 19 anos seu primeiro trabalho como radialista na rádio de Cornélio Procópio, já com a intenção de prestigiar a cultura brasileira.

Em 1962, deixou sua cidade natal indo para Curitiba. Lá, trabalhou na Rádio Guairacá e na Rádio Cruzeiro do Sul, onde conviveu com Euclides Cardoso, outro radialista experiente que também o influenciou na definição da sua visão de trabalho em rádio, pautado na valorização da música brasileira.

Em 1964, foi para o Rio de Janeiro, onde passou a trabalhar na Rádio Globo como locutor noticiarista em programas como "O seu redator chefe" e "O Globo no ar" e como locutor comercial no programa de Abelardo Barbosa, o Chacrinha, no qual prevalecia a música da Jovem Guarda.

Nesse período, ficava atento ao que acontecia fora do programa do Chacrinha, especialmente nos movimentos musicais que surgiam, como o Teatro Jovem, o CPC da UNE, o Beco das Garrafas e o Grupo Opinião, no qual se destacaram Nara Leão, Zé Keti e Eliseth Cardoso, entre outros, além da Bossa Nova, que cada vez mais ganhava espaço. De todos esses movimentos, sua atenção se deteve no movimento do samba, que acontecia fora do circuito universitário e da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, como o Zicartola.

Em 1966, começou a ter seu próprio programa, "Amigo da madrugada", na Rádio Globo, de meia-noite às 4 da manhã. Passou a contactar com artistas do morro como Cartola, Candeia, Nelson Cavaquinho, Zagaia, Silas de Oliveira, Dona Ivone Lara, Geraldo Babão, Djalma Sabiá e demais compositores de samba, como Paulinho da Viola e Martinho da Vila. No mesmo período, começou um trabalho pioneiro de abrir espaço do rádio aos compositores do morro, só precedido pelo radialista Salvador Batista, na Rádio Tupi.

Em seu programa "Amigos da madrugada", iniciou um movimento de valorização do compositor do morro. Com aguda sensibilidade para intuir sucessos certeiros no gosto popular, foi responsável pela divulgação de clássicos da música popular dos anos 70, como "Foi um rio que passou em minha vida", de Paulinho da Viola, e "O pequeno burguês", de Martinho da Vila. Os dois compositores foram aconselhados pelo radialista a trabalharem a divulgação das referidas faixas de seus discos lançados naquela ocasião.

O grande sucesso obtido por essas composições marcou seu programa, na fase inicial de seu trabalho como radialista. Em função desses dois sucessos, foi convidado para ser produtor de disco da cantora Clara Nunes, obtendo grande sucesso.

Lançou João Nogueira, Roberto Ribeiro, depois Dona Ivone Lara e Wilson Moreira da Portela. Também dirigiu o trio "Os Tincoans", que gravou "Cantos Afros" autênticos, em Yorubá arcaico.

Como radialista, fez um programa com Jackson do Pandeiro no início dos anos 70, provocando um reaquecimento da música nordestina na época. Jackson do Pandeiro permaneceu durante oito anos no programa. Em um destes programa participou Luiz Gonzaga.

Em 1982, passou também a apresentar o programa "Fole e viola", na Rádio MEC, que tem como objetivo divulgar a música regional autêntica das várias regiões brasileiras, do Rio de Janeiro ao Amazonas, recebendo artistas dessas regiões. 

Apresentou também, na Rádio MEC, o programa "MPB de Raiz", dando espaço aos compositores de samba autêntico e valorizando o compositor brasileiro ligado às raízes culturais nacionais. O programa "Amigo da madrugada" permaneceu na Rádio Globo até 1990.

Autodidata em sua formação de jornalismo e radialismo, destaca-se por seu trabalho sempre voltado para a música popular brasileira, defendendo a preservação do espaço comercial e de execução da música para o músico brasileiro, de preferência aqueles voltados para as raízes nacionais. Tem dedicado todo seu trabalho de radialista e produtor de discos à defesa da conscientização de nossa cultura e do espaço de execução da autêntica música brasileira.

Em 2000, recebeu homenagem da Câmara dos Vereadores) do Rio de Janeiro, que fez sessão solene para lhe entregar o título de Cidadão Carioca, aprovado por unanimidade pela casa.

Em 2005, seu programa na Rádio MEC, de inquestionável popularidade, de consagrada qualidade e caráter visionário, aglomera artistas populares já renomados ao lado de expoentes mais novos que têm oportunidade de ver seu trabalho avaliado pelo experiente radialista.

"Com a morte de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, entre outros, houve um vazio na música nordestina, e então uns 'picaretas' começaram com 'música de safadeza'. São uns imbecis e mentirosos, culturalmente falando, que cantam música nordestina de teclado com chapéu de vaqueiro, e reagindo a isso surgiram compositores e cantores que passaram a fazer música nordestina na linha do Gonzaga, como Maciel Mello, Petrúcio Amorim e muitos outros", avalia Adelzon.

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TRÊS QUARTOS DA POPULAÇÃO DOS PAÍSES RICOS DEFENDEM PROTEÇÃO AMBIENTAL

A maioria da população dos 20 países mais industrializados do mundo concorda em tornar prioritário o combate à crise climática e a proteção da natureza. Os empregos e lucros podem passar para segundo plano, dizem 74% da população dos países do G20, de acordo com pesquisa feita para a Global Commons Alliance.

A atividade humana empurra o planeta para um ponto de difícil retrocesso. A opinião é três quartos da população dos países mais ricos do mundo. Para eles, a prioridade é apoiar ações decisivas para inverter esse caminho, mesmo que implique perder lucro econômico.

Entre os entrevistados nos países do G20, 58% afirmam que estão extremamente preocupados com o estado do planeta.

"O mundo não caminha como um sonâmbulo para a catástrofe. As pessoas sabem que estamos correndo riscos colossais, querem fazer mais e querem que seus governos façam mais",  afirma Owen Gaffney, da Global Commons Alliance, um dos autores do estudo.

Para ele, "os resultados da ciência devem fornecer aos líderes do G20 a confiança para agir mais rapidamente e implementar políticas mais ambiciosas para proteger e regenerar nossos bens comuns globais".

O estudo mostra que, entre as nações do G20, 73% das pessoas acreditam que a "atividade humana empurrou a Terra para perto de pontos de inflexão".

Os países menos ricos têm maior consciência desses riscos - Indonésia (86%), Turquia (85%), Brasil (83%), México (78%) e África do Sul (76%) - comparativamente às respostas dos países mais ricos - Estados Unidos (60%), Japão (63%), Grã-Bretanha (65%) e Austrália (66%), que reconhecem menor perigo.

Quatro em cada cinco entrevistados afirmaram que estavam dispostos a alterar o seu cotidiano para ajudar a regenerar os bens comuns globais.

Elizabeth Wathuti, ambientalista queniana, escreveu no prefácio da pesquisa que "as pessoas começam a sentir que a natureza está reagindo".

"As pessoas no poder parecem achar que não há problema em derrubar árvores velhas ou destruir ecossistemas naturais para construções ou estradas, ou extrair petróleo, desde que plantem novas árvores. Mas essa abordagem não está funcionando, e as descobertas no relatório mostram que muitas pessoas não apoiam mais essa idiotice econômica", alerta Wathuti.

Resistência: Os autores do trabalho acreditam que vão encontrar resistência entre grandes grupos económicos e investidores, mas por outro lado, o documento representa a opinião pública desses 20 países industrializados.

Mais de 8% das pessoas ouvidas pretendem proteger o equilíbrio da natureza e 69% defendem que a proteção dos sistemas de suporte à vida do planeta custará menos que os danos causados pelas alterações climáticas. Os brasileiros são os que mais apoiam essa ideia e os franceses, menos.

Apenas 25% das pessoas questionadas dizem que os governos devem manter a prioridade em garantir empregos e lucros.

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JOSÉ RAMOS TINHORÃO: PESQUISADOR CONSOLIDOU OS ESTUDOS DE MÚSICA NO BRASIL

“Nós passamos 11 anos falando sobre tudo: música, cinema, viagens, gastronomia, literatura, putaria, política, sobre a vida, a morte, saúde, sobre tudo. Até que o fascismo nos afastou, infelizmente. Depois veio a pandemia. Mas eu ainda esperava reencontrá-lo para retomar nossas conversas.” Assim relata, saudosamente, Aline Pereyra, amiga de José Ramos Tinhorão, por ocasião de sua morte em 3 de agosto de 2021.

Esse jornalista de origem, que se tornou um dos principais historiadores da música popular no Brasil, tinha muitos outros interesses e trabalhos para além de sua faceta mais conhecida. A música foi sua principal paixão e objeto de estudo. Mas foi além, abordando literatura, dança, economia, tecnologia, religião e tudo o mais que lhe permitisse olhar a realidade musical como parte de um contexto mais amplo. E, pelo que seus amigos contam, essa amplitude se espraiava pela vida.Jorge Henrique Bastos editou um de seus livros, Crítica Cheia de Graça, e foi um dos que compartilharam os outros deleites de Tinhorão. Durante o tempo em que morou em Portugal, Bastos recebia seu amigo todos os 

anos. Lá, degustavam sempre uma nova pedida para completar o repertório gastronômico do pesquisador. Quando perguntado sobre quais eram os traços mais marcantes de Tinhorão, Bastos responde: “A ironia ferina, o lado libertino e dionisíaco – amava um vinho, gostava de um bom prato e não recusava uma cachaça –, a agudez do pensamento e a facilidade no tratamento, por parte de alguém que sabia que produzira uma obra colossal e mesmo assim era esnobado pela academia”.

Aliás, essa tensão com o universo acadêmico foi uma das tônicas de sua vida. Uma das frases muito ouvidas por quem conviveu com Tinhorão revela como ele via os pesquisadores universitários: “Comem Tinhorão e arrotam Mário de Andrade”.

O historiador e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP José Geraldo Vinci de Moraes viveu na pele a resistência de Tinhorão com a universidade. Em várias ocasiões, pôde perceber o ar de desconfiança do pesquisador em relação a esse meio.

 “Ele dizia que não era lido pela universidade, que o viam de uma maneira muito preconceituosa. Isso é uma meia verdade”, diz Moraes, lembrando como ele até se orgulhava desse suposto desprezo universitário. E completa: “Eu digo que é meia verdade, e não é justo com ele nem com a universidade, porque, na verdade, não era contra ele. Não é que a universidade não ligava para o Tinhorão. A universidade não ligava para o tema, para esse objeto”, referindo-se à música popular urbana.

Mas Moraes lembra que, depois – a partir dos anos 80, em áreas como a literatura e a comunicação e, dos anos 90, na história – a universidade passou a dar a devida importância para música popular e, consequentemente, para Tinhorão e outros pesquisadores do tema. 

“Ele era muito rigoroso com o texto, com as fontes. Do ponto de vista historiográfico, ele era incrível nesse sentido. Para mim, as maiores contribuições dele foram as questões ligadas à dimensão social e cultural da música”, diz o professor. Ele destaca os trabalhos feitos em torno da modinha e do fado, entre outros temas tratados por Tinhorão. E cita o livro Música Popular: os Sons que Vêm da Rua como o ponto de virada de sua obra. 

“Ali, ele dá um ordenamento àquela tematização envolvendo as bandas, os cantores de rua, os cafés, os pregões, os chopes berrantes etc., tudo aquilo que estava disperso nos outros autores e mesmo nas primeiras obras dele. Mas, nesse livro, de 1976, ele sai do universo estrito da crítica e do colecionismo e passa a fazer um trabalho de historiador de fato. Nesse livro, ele tematizou, deu ordenamento – não fica mais numa dispersão fragmentária – e apontou caminhos. Até hoje, as pessoas continuam pesquisando o que ele apresentou ali”, resume Moraes.

José Ramos não nasceu “Tinhorão”. Esse complemento ele ganhou de seu chefe de redação, Pompeu de Souza, em 1953. No Diário Carioca, notou que sua matéria sobre o Natal estava assinada com essa alcunha. Ao questionar, recebeu uma risada como resposta: “Tinhorão, você é um idiota. J. Ramos é nome de ladrão de galinha, tem um monte na lista telefônica e Tinhorão vai ser só você”. 

Mas não foi Pompeu de Souza que o inventou. O nome, que se refere a um tipo de planta tóxica, foi dado pelo secretário de redação, Everardo Guilhon. Como conta Elizabeth Lorenzotti em seu livro Tinhorão, o Legendário, ao ver o rapaz de cabeça baixa, perguntou: “Mas quem é esse cara mesmo? Zé Ramos? Zé Jardim?”. E, escolhendo o vegetal que marcaria para sempre seu interlocutor, definiu: “Zé Tinhorão”.

Aliás, essa reportagem que lhe rendeu o apelido-sobrenome demonstra bem, já no início dos anos 50, sua marca pessoal. Tendo como referência de formação o marxismo, ali é possível verificar sua inclinação de buscar os fatos dentro de contextos mais amplos e com um olhar claramente voltado aos desfavorecidos. 

Vamos a um pequeno trecho:“Conversando com as crianças de vários bairros, a reportagem do Diário Carioca pôde apurar também – e talvez nisso os etnólogos não tenham pensado – que a integridade do mito de Papai Noel no RJ está sujeita a certas posturas municipais. Conforme a versão das crianças de certas vilas pobres do Botafogo e do Morro de Humaitá, ele chegaria de charrete, muito de noite… abrindo a porta deixada sem ferrolho pelas pessoas adultas.”

Essa preocupação com os mais pobres revela o caminho que percorreu como pesquisador. O historiador Eduardo Pontim, membro do Instituto Glória ao Samba, ressalta que “Tinhorão foi um voraz defensor de músicos e criadores do povo brasileiro, principalmente os dotados de profundo talento e marginalizados pelo grande público e por boa parte da imprensa de então”.

Sua interpretação da cultura recorre a conceito muito importante dentro do marxismo: as classes sociais. O compositor e escritor Fábio Carvalho escreveu uma crônica sobre um de seus encontros com Tinhorão, no habitual Bar do Raí, como ficou conhecida a atual lanchonete Amélia, na Vila Buarque, em São Paulo. Ele reproduz as explicações do pesquisador, motivadas pela discussão sobre seu livro História Social da Música Popular Brasileira, lançado em 1990:

– Então, veja bem, a cultura nos países capitalistas se constitui em culturas de classes: cultura da classe dominante e cultura da classe dominada. A cultura da elite é a cultura oficial da sociedade capitalista, é a cultura imposta. Isso porque dispõe de estruturas que garantem a sua hegemonia, como escolas, auditórios, teatros, conservatórios e meios de comunicação, além de financiamento público e privado. Além disso, em países como o Brasil, a própria cultura dominante é também dominada, pois faz parte dos negócios comerciais dos países que dominam o nosso mercado. Neste caso, a cultura dos pobres é submetida a uma dupla dominação.

Fábio, então, ao ouvir de Tinhorão que a classe média não produz cultura, restringindo-se a consumir ou apropriar-se das culturas da classe dominante ou da cultura dos pobres, pergunta-lhe sobre a Bossa Nova. Não seria uma produção própria da classe média?

– Ih, rapaz, se os caras estivessem vivos eu mandaria você perguntar pro Alfredo José da Silva, porque ele adotou o nome artístico de Johnny Alf… Ou pro Farnésio Dutra e Silva, o Dick Farney… Ou o William Blanco, que virou Billy Blanco…

Essa postura rendeu-lhe a distância de muitos artistas que estiveram no alvo de suas críticas. Bossa Nova e Tropicalismo mais do que todos. Ao mesmo tempo, ele surpreendia os leitores que esperavam de antemão sua acidez. Numa reportagem da Folha de São Paulo de 1999, tratando de um artista muito popular na ocasião, o agora deputado Tiririca, Tinhorão defende: “Tiririca é um artista muito talentoso e engraçado. Sua música vem de uma tradição de arte chula e rasteira que remonta à Grécia antiga. Na música brasileira, esse tipo de música existe há muito tempo. Os lundus tinham letras chulas e o povão sempre gostou de safadeza. Quem não gosta disso é a classe média, que sempre rejeitou a arte popular”.

Ele seguia surpreendendo mesmo os que foram mais alvejados por suas críticas. Se Caetano Veloso não costumava receber afagos do pesquisador, houve pelo menos um momento de exceção. Como recorda o compositor e pesquisador Celso Luiz Prudente, certa vez Tinhorão pediu-lhe pessoalmente para transmitir ao músico baiano um elogio:

– Prudente, como você é muito próximo do Caetano Veloso, caso você o veja, diga a ele que Cajuína eu gostei, que é uma música maravilhosa.

A composição a que o pesquisador se referiu na ocasião foi feita em memória ao poeta e letrista Torquato Neto. “Isso mostra o humanismo do Tinhorão. Por mais que ele tenha sido marcado por uma crítica contumaz à Bossa Nova e ao Tropicalismo, sabendo que eu e o Caetano sempre tivemos um grau de amizade muito significativa, pediu que eu falasse que Cajuína foi uma música que ele gostou”, pondera Prudente.

Sua erudição, somada ao gosto pela polêmica, rigor investigativo e destreza impressionante na escrita, criou uma espécie de lenda. O professor José Geraldo Vinci de Moraes, ao reler sua obra, também considera importante amenizar essa imagem imponente. “Percebo que, a partir de certo momento, ele se torna repetitivo nos temas, nos exemplos. E vários capítulos vão sendo reaproveitados quase integralmente em outros livros. Tudo bem ele fazer isso. Na universidade também se faz. Mas isso tira um pouco daquela aura fundadora e sempre criativa dele. Ou seja, ele é um sujeito como qualquer um de nós. E, diante das demandas, ele repete. Quer dizer, cada obra dele não é fundadora, como ele queria marcar. Cada obra vai se desdobrando.”

Outra lacuna que Moraes enxerga na obra de Tinhorão é a falta de análise musical propriamente dita. “Ele conhecia os elementos musicológicos, mas esse esforço de tratar da linguagem musical faz um pouco de falta na obra dele”, reflete o historiador.

VIVER E MORRER PARA A CULTURA: José Ramos nasceu em Santos (SP), em 1928. Na década de 1930, mudou-se com a família para Jundiaí, Bragança Paulista e Rio de Janeiro, onde se fixou, formou-se em Direito e Jornalismo, trabalhou e fez boa parte de sua carreira como jornalista, crítico e historiador. Em São Paulo, para onde se mudou em 1968, emprestou sua lenda à famosa quitinete na Rua Maria Antonia. Num espaço de cerca de 30 metros quadrados, acomodou um acervo gigante.

Segundo Eduardo Pontim, eram “mais de 30 mil partituras, cerca de 10 mil fotografias, aproximadamente 7 mil livros, cerca de 12 mil fonogramas de 76 e 78 RPM, 4 mil LPs e muito mais. Com tanto material em sua casa, a falta de espaço era natural, o que levou Tinhorão a viver sem fogão nem geladeira e a dormir num colchão de ar”.

Esse acervo foi comprado pelo Instituto Moreira Salles em 2001. E, dos parcos 31 metros quadrados em que se acumulavam, os materiais de Tinhorão foram retirados da quitinete em várias viagens de caminhão.

Vivendo de refeições de boteco a fim de que em sua residência coubesse tudo isso, alimentou mais ainda sua figura legendária. “Todos esses esforços e privações eram feitos para que ele pudesse documentar a música popular brasileira da maneira mais fiel e verdadeira possível, numa prova de devoção e paixão pelo que fazia”, constata o historiador Eduardo Pontim.

Ainda em São Paulo, fez uma breve concessão à universidade, concluindo seu mestrado em História Social na USP em 1999, sob orientação do professor Jônatas Batista Neto. A dissertação, intitulada A Imprensa Carnavalesca no Brasil, também virou livro. Foi um dos mais de 20 lançados em sua vida.

Como foi dito, tantas foram suas paixões e interesses. Mas a música, de todas, foi a que mais o marcou. Quando, da última vez, as vozes amigas se uniram para entoar O nosso amor morreu, parte dos versos da canção Rosa Maria, não era aniversário de Tinhorão. Sim, porque seus aniversários eram um acontecimento musical ao seu gosto: na calçada do bar, todos juntos, sem distinção. Desta vez, as vozes, as palmas e o surdo iam marcando uma homenagem diferente. Mas igualmente sonora e popular.(Jornal da USP-Gustavo Xavier)

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PETROLINA: FALTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL PREJUDICA UM DOS MAIS BELOS PONTOS TURÍSTICOS NAS MARGENS DO RIO SÃO FRANCISCO

A falta de conscientização ambiental sobretudo no cuidado com o lixo descartado define uma das ações negativas presentes no Mirante do Urubu, localizado cerca de 20 km de Petrolina. 

A reportagem do BLOG NEY VITAL registrou neste final de semana o acúmulo de sacos plásticos, garrafas, louças quebradas, fraldas descartadas nas margens do Rio São Francisco.

Imagens traduzem o completo descaso e falta de empoderamento de informação cultural sobre a importância de se preservar e valorizar as belezas naturais locais.

Desde 2014, o Mirante do Serrote do Urubu é citado na Elaboração do Inventário e Hierarquização dos atrativos naturais com potencial Turístico do Polo do Vale do São Francisco. O Mirante do Serrote do Urubu situa-se a 376 metros de altitude em relação ao nível do mar, a aproximadamente 140 metros de altura, e distante aproximadamente 1 km da comunidade do Serrote, cuja principal atividade econômica é a agricultura. 

De fácil acesso, possui uma visão privilegiada do Rio São Francisco e de algumas ilhas, da vegetação da Caatinga e observação do por do sol. "É um atrativo que deveria ser bem cuidado pelos visitantes e também uma presença do poder público local, afinal é essencial a preservação deste local. Chamo a atenção dos setores público e privado, além da sociedade, para que cuidemos para que essas áreas se tornem mais agradáveis e bem cuidadas", declarou um dos visitantes.

O Mirante é um local aberto e não possui nenhum controle em relação à visitação e não há infraestrutura no local.

Em uma rede social consta um comentário: o mirante tem bastante potencial turístico, porém encontra-se sem nenhuma estrutura para recebimento de turistas. O lugar sobrevive apenas por sua bela paisagem da caatinga.

SERROTE: O lugar é uma formação rochosa elevada que dá nome à comunidade e fica próximo das margens do Rio São Francisco, um pouco antes do Balneário de Pedrinhas. Está situado a cerca de 20 km do centro de Petrolina (PE) e seu topo alcança 400m de altitude.

A rota a ser seguida para chegar ao Serrote do Urubu é a via conhecida como Estrada das Pedrinhas. Ao chegar no distrito que identifica o ponto turístico, basta acessar o lugarejo Salu, uma estrada de cascalho à direita e seguir por mais 1 km.

Ao terminar o caminho, estacione e comece uma trilha pelas redondezas para apreciar a vista. Você pode também se aproximar da margem e molhar os pés no Velho Chico, mas cuidado com a correnteza que é bastante forte.

NOTA PREFEITURA: A Prefeitura de Petrolina esclarece que, nos próximos dias, um fiscal visitará o local para avaliar o que pode ser feito de imediato na área. Vale ressaltar que todo cidadão tem o papel fundamental de zelar pelos espaços públicos do município. (Redação e Fotos Ney Vital)

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I SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE CULTURAS E LITERATURAS POPULARES ACONTECE EM DEZEMBRO

O I Simpósio Internacional sobre Culturas e Literaturas Populares prorroga o período para proposição de Grupos de Trabalho (GT’s), até o dia 31 de agosto. 

O evento acontece de 6 a 9 de dezembro em formato virtual, com transmissão pelos canais da URCA e do Ipesc, na Plataforma YouTube. As inscrições podem ser realizadas através do siseventos.urca.br.

O evento é uma realização da Universidade Regional do Cariri (URCA), através do do Instituto de Pesquisa José Marrocos (Ipesc), em parceria com diversas instituições, como a Universidade Estadual do Ceará (UECE), Universidade Vale do Acaraú (UVA), Universidade Federal do Cariri (UFCA), Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e a Secretaria de Cultura do Estado do Ceará. 

O simpósio contará com mesas redondas, grupos trabalhos, conferências, oficinas, depoimentos de mestres, exposições e apresentações de vídeos, além de pesquisadores e estudiosos do Brasil e outros países.

O simpósio tem seis eixos e oito mesas redondas. As abordagens estarão relacionadas a Saberes, vivências e ancestralidades: as artes do sagrado; Fazeres da artesania na teia da tradição; Poéticas populares do corpo e da voz: cantigas, performances e brincadeiras; Narrativas: oral, impressa e cibernética; Cultura popular na formação humana, no cotidiano escolar e nas universidades; e Patrimonialização da Chapada do Araripe, Araripe Geopark e Museus Orgânicos – iniciativas de salvaguarda do patrimônio natural e cultural.

Cada um dos eixos repercute em outros temas geradores que estarão representados em oito mesas redondas com temas como: A religiosidade popular e as artes do sagrado, Vivenciando a cultura popular tradicional: saberes, ofícios e os tesouros vivos”; Patrimônio cultural imaterial e estratégias de salvaguarda: os casos da Literatura de Cordel, da Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio de Barbalha e da Xilogravura.

Também entram nos debates temas como a Cantoria e cultura popular, cultura hip hop e demais culturas de rua; Cultura afro-brasileira, quilombos e capoeira; Escritas, narrativas e diálogos culturais: circularidades, movências e hibridações; Cultura e literatura popular na educação;  e  Povos Originários e Arqueologia Social Inclusiva. (Fonte: Urca)

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BRASIL, COLAPSO AMBIENTAL: DADOS INÉDITOS REVELAM QUE O FOGO ESTÁ DESTRUINDO OS BIOMAS BRASILEIROS

Um alerta para a humanidade: esta semana, o Painel de Cientistas da ONU para Mudanças Climáticas divulgou um relatório preocupante sobre o que fizemos com o nosso planeta e as consequências que já estamos enfrentando.

Vamos viver essas consequências em escala ainda maior durante séculos, dizem os cientistas. Eles avaliaram 14 mil estudos e é evidente a responsabilidade das ações humanas no aquecimento do planeta.

Ontem domingo (15), o Fantástico estreia uma série sobre a devastação do meio ambiente no Brasil. O que ainda pode ser feito? Como está o ar que a gente respira e a qualidade das águas?

No primeiro episódio, os repórteres Sônia Bridi e Paulo Zero mostram dados inéditos que revelam como o fogo está destruindo os biomas brasileiros.

Hoje, a concentração de CO2 no planeta é quase 50% maior do que há um século e meio. A temperatura média já subiu 1.1ºC - pode parecer pouco, mas é esse um grau a mais que intensifica furacões e faz grandes áreas do planeta serem consumidas pelo fogo, até nos lugares onde o solo deveria estar congelado.

Pela primeira vez, as projeções do clima detalham o que vai acontecer em cada região do planeta em cada cenário. No Brasil, as previsões são de queda da produção agropecuária e de aceleração do processo de desertificação da caatinga, por exemplo. A Amazônia é especialmente vulnerável e pode colapsar em um mundo quatro graus mais quente.

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MORRE SEU BILINO, MESTRE TOCADOR E AFINADOR DE SANFONA DE 8 BAIXOS

“As pessoas não morrem, ficam encantadas… a gente morre é para provar que viveu...O homem nasceu para aprender tanto quanto a vida lhe permita”. A frase é do escritor João Guimarães Rosa. 

Através da produtora cultural Marlla Teixeira, lá de Exu, Pernambuco, terra de Luiz Gonzaga, recebi a notícia que Seu Bilino, tocador de sanfona de 8 Baixos, desencarnou em Barbalha Ceará. "Seu Bilino partiu. Morreu. Fez a Viagem para o Sertão da Eternidade", neste sábado 14 de agosto.

Andar pelos sertões sempre me proporciona encontros, amizades, trocas de saberes! Novos conhecimentos. Entre Exu e Serrita encontrei certa vez, o "Mestre Bilino". Antônio Felizardo Alves, bom proseador e afinador de sanfona de 8 Baixos. Seu Bilino também tocava sanfona de 120 baixos. Mas era apaixonado mesmo pela arte de tocar a sanfona de 8 Baixos. Fazia questão de frisar: Sou afinador de sanfona, dos 8 aos 120 baixos.

Seu Bilino começou a tocar ainda era menino, em 1958, quando seu pai comprou uma sanfona de 8 Baixos pra ele. Naquela época os forrozeiros tocavam nos casamentos, nos aniversários. “Ele, meu pai comprou uma sanfona pra eu tocar pra ganhar um dinheirinho. Nessa época o povo tocava à noite toda”, afirmando, que veio de uma família de  músicos.

Seu Bilino dizia que não era tocador profissional. Sua profissão mesmo era afinador de sanfona: “Meu ramo mesmo é ser afinador de acordeon, quando o fole se acaba eu também recupero”, diz ele.

Seu Bilino era fabuloso. Viveu no sertão místico disparando linguagem dos sanfoneiros para disfarçar sua genialidade, simplicidade sertaneja e grandiosidade humana. Seu Bilino tinhas sonhos plantados em notas musicais teclados em sua sanfona.

O sanfoneiro, pesquisador Leo Rugero, aponta que a "Sanfona de 8 Baixos, Pé de Bode ou Fole de 8 Baixos, como também é chamado é um instrumento fundamental para a música nordestina e brasileira. No nordeste do Brasil, ele adquiriu características de afinação próprias que o tornaram diferente. Portanto, no nordeste ele desenvolveu um sotaque próprio, que é representativo de nossa cultura. Representa, além de uma tradição musical, um saber único".

Atualmente, a arte do tocador de sanfona de 8 baixos está ameaçada, porque seus instrumentistas não encontram mais espaço merecido nas programações de Rádio e Televisão. O Tocador de 8 Baixos é capaz de agregar uma comunidade e produzir cultura, representá-la e difundi-la, contribuindo para o fortalecimento de nossa própria identidade.

Em 2013, Seu Bilino, contou para a jornalista Maria Peixoto, portal da Cultura de Pernambuco que teve dois mestres, um foi seu pai, que lhe ensinou duas coisas, uma é que “a música é pra ser tocada com carinho e amor, bem e sempre feliz”. A outra é que tem músicas que devem ser guardadas pra momentos especiais. “Meu pai dizia ‘Num toque essa música atoa não. Toque num momento especial, que você fica feliz e eu também fico”, ensina.

O outro mestre de Bilino foi Severino Januário, irmão de Luiz Gonzaga.  “Eu tocava com Severino Januário, eu considero ele meu mestre. Eu toco as músicas dele, tem gente que até chora. Hoje eu estou tocando as letras dele por causa dele. É um xote tão bom de dançar que todo mundo arrupeia os cabelos”, brinca Bilino.

Ele só fica triste com a falta de reconhecimento do seu mestre “Severino dos 8 Baixos não era mostrado na televisão. O homem tocava um 8 Baixos daquele jeito e num era mostrado. Eu fiquei meio triste, andei um tempo sem tocar”, conta o tocador que também não tem a atenção dos holofotes, apesar de seu talento merecido.

O vínculo com a família de Luiz Gonzaga começou desde cedo, Seu Bilino conta que seu pai só afinava o instrumento com Seu Januário: “Ele trazia o 8 Baixos dele porque ele era mestre, aí quando a sanfona dele quebrava.  Ele vinha pra aqui”. E, Bilino, criança, vinha dentro de um caçoá, de Serrita, sua cidade, para Exu.

Em vida Seu Bilino teve consciência de que estava cada vez mais raro achar pelas bandas do Araripe um tocador de 8 Baixos, “Daqui a uns 50, 100 anos quem tocar 8 Baixos vai ser chefe majoritário do mundo inteiro”, Bilino sente prazer quando consegue passar seu conhecimento a alguém “A coisa que  eu acho mais feliz no mundo é eu dar aula pra uma criança, de 8 Baixos, porque de acordeon tá cheio já de tocador”

“Eu não posso abandonar essa carreira até o fim da minha vida. Eu estou feliz desse jeito, porque dinheiro num é tudo na vida não. Eu sou um cara da roça, do mato, eu tenho um sitiozinho que eu plantei, tem 16 pés de coco. As filhas vem do meio do mundo passear. Eu acho bom estar no meio da terra aqui escutando Luiz Gonzaga tocar, chega um amigo, conversa comigo, chega outro”, conta o humilde tocador do fole típico do Sertão que hoje se tornou preciosidade.

Descanse em Paz, amigo sanfoneiro Seu Bilino.

*Texto: Ney Vital-Jornalista. Apresentador do Programa Rádio Nas Asas da Asa Branca-Viva Luiz Gonzaga e Seus Amigos.


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