Vidas Secas pelo olhar de Raimundo Carrero

Prometido é devido, não é? Assim, começo falando de Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Talvez o nosso maior artesão literário, mais modernista do que os próprios modernistas, ou porque fosse apenas considerado regionalista, o que nunca foi e jamais será, Graciliano Ramos revolucionou inteiramente a prosa de ficção brasileira mas não foi percebido. Ou foi notado pelo óbvio: a criação do romance desmontável - sem enredo fixo, aliás, sem enredo algum, de tal forma desmontável que pode começar por qualquer capítulo, sem prejuízo para o leitor. Romance sem enredo é, sem dúvida, uma revolução ficcional. Além disso, alguns personagens não têm nome.

Portanto, novidades revolucionárias- romance sem enredo, desmontável e personagens inominados: O soldado amarelo, o menino mais velho e o menino mais novo. O que representa muito. Acrescento ainda o narrador plural, o olhar e a voz do personagem e o falso monólogo interior. Muito além daquele que parecia ser o texto de um autor bem informado e, mais do que isso, inconformado - para não esquecer a rima.

Vidas Secas começa com um cenário natural narrado pelo olhar do narrador plural, embora com predominância do imperfeito, que sugere a presença de um narrador onisciente. É preciso destacar que o imperfeito é um tempo verbal que não começa e não termina. Foi Proust quem descobriu essa habilidade técnica em Flaubert. Sutil tempo psicológico. Nem começa e nem termina - por isso imperfeito.

 Escreve o autor na abertura: Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da catinga rala.

Aí há claramente a técnica do olhar do personagem através dos olhos do narrador plural. Mas quem é este narrador plural, até porque não existe o pronome nós? Graciliano esclarece no parágrafo seguinte, nomeando os donos dos olhos:

Arrastaram-se para lá, devagar, Sinha Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O Menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás.

Agora é possível definir os integrantes deste narrador plural: Sinha Vitória, o filho mais novo, Fabiano, o menino mais velho e Baleia. Eles veem e contam, incorporando também o narrador oculto, o maestro, este que organiza a narrativa internamente, reunindo olhares, vozes e ouvidos. E faz com que o cenário natural chegue com tanta simplicidade ao leitor. Antecipo que, mais tarde, cada um terá direito ao seu próprio monólogo.

Mas ainda agora o Menino mais velho assume o solo do texto ao entrar na agonia do desmaio. No parágrafo seguinte, ele vê e diz: Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se. O Menino mais velho pôs-se a chorar, sentou-se no chão. Somente uma pessoa que está desmaiando pode dizer que os juazeiros aproximaram-se recuaram, sumiram-se. É aí é a voz - e não só o olhar - do menino.

Fonte: Raimundo Carrero/Diário de Pernambuco
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Ney Vital sacode o forró com bom jornalismo


O rádio continua sendo o principal veículo de comunicação do Brasil. Aliado a rede de computadores está cada vez mais forte e potente. Na rádio Cidade Am 870, Juazeiro Bahia, o jornalista Ney Vital apresenta o Programa Nas Asas da Asa Branca-Viva Luiz Gonzaga, todos os sábados a partir das 7hs da manhã.

O programa é transmitido também via internet www.radiocidadeam870.com.br e segue uma trilogia amparada na cultura, cidadania e informação. "É a forma. O roteiro concreto para contar a história da música brasileira a partir da voz e sanfona de Luiz Gonzaga e seus seguidores", explica Ney Vital.

O programa Nas Asas da Asa Branca-Viva Luiz Gonzaga é um projeto que teve início em 1990, numa rádio localizada em Araruna, Paraíba. "Em agosto de 1989 Luiz Gonzaga, o  Rei do Baião fez a passagem e então, e na oportunidade, o hoje professor doutor em Ciência da literatura, Aderaldo Luciano fez o convite para participar de um programa de rádio. E até hoje continuo neste bom combate". 

O programa desse pesquisador e jornalista é o encontro da família brasileira. Ney Vital não promove rituais regionalistas, a mesquinhez saudosista dos que não se encontram com o povo a não ser na lembrança. Ao contrário, seu programa evoluiu para a forma de espaço reservado à cultura mais brasileira, universal, autêntica, descortinando um mar e sertões  de ritmos variados e escancarando a infinita capacidade criadora de nosso povo.

É o conteúdo dessa autêntica expressão nacional que faz romper as barreiras regionais, esmagando as falsificações e deturpações do que costuma se fazer passar como patrimônio do povo brasileiro.

Também por este motivo no programa o sucesso pré-fabricado não toca e o modismo de mau gosto passa longe."Existe uma desordem , inversão de valores no jornalismo e na qualidade das músicas apresentadas no rádio", avalia Ney Vital que recebeu o titulo Amigo Gonzaguiano Orgulho de Caruaru recentemente em evento realizado no Espaço Cultural Asa Branca. e o Troféu Viva Dominguinhos em Garanhuns.

Ney Vital usa a credibilidade e experiência de 25 anos atuando no rádio e tv. Nas filiadas do Globo TV Grande Rio e São Francisco foi um dos produtores do Globo Rural, onde colocou reportagens sobre Missa do Vaqueiro de Serrita e festa aniversário de Luiz Gonzaga e dos 500 anos do Rio São Francisco.

Formado em Jornalismo e com Pós-Graduação em Ensino de Comunicação Social pela UNEB/Universidade Federal do Rio Grande do Norte faz do programa um dos primeiros colocados na audiência do Vale do São Francisco, segundo as pesquisas.

O Programa Nas Asas da Asa Branca, ao abrir as portas à mais genuína música brasileira, cria um ambiente de amor e orgulho pela nossa gente, uma disseminação de admiração e confiança em nosso povo — experimentada por quem o sintoniza, dos confins do Nordeste aos nossos pampas, do Atlântico capixaba ao noroeste mato-grossense.

Ney Vital usa a memória ativa e a improvisação feita de informalidade marcando o estilo dos diálogos e entrevistas do programa. Tudo é profundo. Puro sentimento.O programa Flui como uma inteligência relâmpago, certeira e  hospitaleira.

"O programa incentiva o ouvinte a buscar qualidade de vida. É um diálogo danado de arretado. As novas ferramentas da comunicação permitem ficarmos cada vez mais próximo das pessoas, através desse mundo mágico e transformador que é a sintonia via rádio", finalizou Ney Vital.




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Denise Dummont, a filha única de Humberto Teixeira, O Homem que Engarrafava Nuvens

Exatos trinta anos após a morte do pai, o compositor Humberto Teixeira (1915-1979), a atriz Denise Dummont ("O Beijo da Mulher Aranha", "A Era do Rádio") lançou o filme, o documentário "O Homem que Engarrafava Nuvens", que ela produziu, Lírio Ferreira ("Baile Perfumado") dirigiu.

Assisti naquele mesmo ano o lançamento em São Paulo, isto tornou para mim o filme mais emocionante. Em 2015 outras emoções. Fui prestigiar as festividades dos 100 anos de Humberto Teixeira, lá em Iguatu, Ceará. Conheci ali Denise Dummont. Vi lágrimas e sorrisos da filha do Doutor do Baião.
 

A brasilidade de Humberto Teixeira está impressa em cada cena de "O Homem que Engarrafava Nuvens", que une o passado e o presente do baião e ilustra suas ligações com outros gêneros musicais. Mostra esse Brasil que está vivo.

No filme assistimos cenas raras como a cena do filme "Arroz Amargo"(1949), de Giuseppe de Santis, em que a atriz italiana Silvana Mangano canta "O Baião de Ana" em espanhol.

Na entrevista para o Programa Nas Asas da Asa Branca-Viva Luiz Gonzaga, Denise, conta

que com a produção do filme incluiu um outro desafio, este de ordem pessoal. Foi a sua produção, afinal, que lhe permitiu superar definitivamente algumas mágoas do passado, marcado por uma relação difícil com o pai e o afastamento, imposto por ele, de sua mãe, a atriz Margot Bittencourt.

No filme, Denise tem uma conversa muito franca com a mãe - que morreu em 2007 - em que esclarece definitivamente questões sobre o difícil desquite entre os dois, depois do qual ela foi viver nos EUA com o novo marido, Luiz Jatobá. Advogado, Teixeira não permitiu à mãe levar a filha, que cresceu com ele no Brasil.

Humberto Teixeira assinou cerca de 500 canções, como as famosas "Asa Branca", "Baião", "Juazeiro" e "Assum Preto", Kalu...Humberto Teixeira, o doutor do baião", era advogado e foi criador de uma pioneira lei sobre direito autoral.


O nome O Homem que engarrafava Nuvens retrata o sentimento de Humberto Teixeira...amor pelo Nordeste, Iguatu, Brasil.
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Crato, Cultura, Cego Aderaldo e o livro de Seridião Correia Montenegro

"Quem a paca cara compra
Paca cara pagará Oh! Violeiro do mundo
Dei-me atenção de um segundo
Pra meu lamento profundo
Que hoje decanto o retrato
Um grande vulto do mato
Mato de onde não fujo
Aderaldo Ferreira de Araújo
O Cego Aderaldo do Crato 


Ali nasceu o artista
De ferreiro a maquinista
Que mesmo perdendo a vista
Via com o coração
No pontear de um botão
Era jornal de matuto
Analfabeto e inculto
Orgulho desse meu baião /

 Ao poeta e trovador
Dos repentista, lendário
Da poesia operário
Onde estiver com amor
Do teu admirador
Receba estas rimas vagas
Como uma espécie de "paga"
No seu primeiro centenário"
 

Os versos acima é uma das mais belas interpretações do Rei do Baião, Luiz Gonzaga. A música me veio quando terminei de ler o lIVRO Crato-Princesa do Cariri, Capital da Cultura, Oasis do Sertão, da autoria de Seridião Correia Montenegro.
 

O livro reacendeu minha curiosidade pela vida e obra do Cego Aderaldo, nascido no Crato, o lendário cantador. Uma das mais belas histórias que já ouvi. Remeti a outro livro onde o Cego Aderaldo conta que os seus pés pisaram a poeira de muitos caminhos!

"Tenho comigo as lembranças mais gratas de minhas cantorias, ainda no começo  de minha vida. Percorri todas as serras, alcancei os chapadões, varei a caatinga, entrei no brejo...Por toda parte eu levava a minha voz...Cantei em Baturité, em Canindé...No Crato o meu solo verdejante do Cariri... Que terra boa, maravilhosa! Nunca meus lábios provaram melhor água"!

Lembrei de uma lágrima que chorei quando o ouvi revelar a dor de perder a visão. 

 “Eu ainda era pequeno
    mas me lembro bem
    de ver minha pobre Mãe
    em negra viuvez.
    Meu pai jazia morto
    Estendido em um caixão
    Chorei pela primeira vez!


 E a pobre minha Mãe
    Daquilo estremeceu:
    De uma moléstia forte
    A minha mãe morreu.
    Fiquei coberto de luto
    E tudo se desfez
    E eu chorei então
    Pela segunda vez.


 Então, o Deus da Glória,
    O mais sublime artista,
    Decretou lá do Céu,
    Perdi a minha vista.
    Fiquei na escuridão,
    Ceguei com rapidez
    E eu chorei então
    Pela terceira vez.
    Meus prantos se enxugaram.
    Das lágrimas que corriam
    Chegou-me a poesia
    E eu me consolei.
    Sem pai, sem mãe, sem Vista,
    Meus olhos se apagaram;
    Tristonhos se fecharam
    E eu nunca mais chorei".


No livro, o escrito Seridão Correia Montenegro, proporciona outras viagens culturais. Revela que através das pesquisas descobriu ser descendente de famílias do Crato e faz um autêntico invenário cultural da região dissertando sobre pessoas, prédios, sítios e monumentos históricos, uma miscigenação cultural valiosa.
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"Seu Ademar" uma vida de paixão e dedicação ao Rádio

Um Café, boa prosa e a preocupação com o futuro do Rádio. Sim Rádio com R maiusculo

Apesar de sua reconhecida importância no Brasil, o Rádio tem sido objeto de poucas publicações. Nem mesmo a expansão dos cursos de graduação e a consolidação dos mestrados e doutorados modificaram de forma signicativa essa situação.
Em Petrolina, Pernambuco Ademar Mariano de Freitas, 75 anos, é merecedor de um capítulo a parte no quesito valorizar a história do Rádio e contribuir com o conhecimento das novas gerações.

"Seu Ademar" mostra, orgulhoso, o fruto de seu trabalho. Após o conserto, os rádios antigos e os toca-discos funcionam perfeitamente e dão um tom histórico a todos que visitam a sua casa.

Ele faz questão de contar a história de cada exemplar e como o Rádio ressurgiu em suas mãos. Segundo ele, o mais antigo é da década de 1940. "O mais antigo eu creio que é da Philips holandês valvulado. Na época, a Holanda já tinha FM. Eles usavam uma frequência um pouquinho diferente da nossa atual, eles tinham FM, AM e ondas curtas. O valvulado portátil é muito difícil de encontrar”, explica.

Há exemplares também da década de 1950, 1960, 1970 e 1990. São rádios de mesa, de carro, de cabeceira, amplificadores e até toca-discos. Entre as peças mais interessantes está um Rádio de 1950. Na coleção é possível encontrar Rádios como o ABC A Voz de Ouro, Transglobe-9 faixas, Semp,  Caravelle, Motoradio, Philco 8 faixas.

O Rádio ainda hoje é companheiro não apenas daqueles que gostam de boa música, mas também dos fãs de futebol. A mania de andar com um pequeno radinho no estádio de futebol fez surgir um rádio bem compacto na década de 1960. Seu Ademar tem versões dos famosos "radinhos de bolso".

A mágica do Rádio tocou Seu Ademar ainda menino e ele relembra o quanto era boa a vida no campo ao som dos passarinhos e do locutor de rádio, trazendo as melhores notícias do dia ou as músicas sertanejas do momento. Como esse tempo não volta mais, ele preserva e resgata o que ainda restou do tempo áureo do rádio no Brasil.

São mais de 60 aparelhos e cada um deles recebe depoimentos memorialísticos sobre ano, origem e o nome dos principais programas das emissoras de rádio. A casa de "Seu Ademar", sem exagero, podemos informar: é um Museu, Centro de Cultura Memória do Rádio...

Os Rádios estão espalhados na casa de "Seu Ademar". Na sala, na cozinha e até no quarto. "Já o conheci com Rádio. Casamos e hoje cada filho ganhou um desses rádios bem antigos para perpetuar o amor, a paixão pelo Rádio", revela Maria de Lurdes Lima Freitas, sorriso largo e amigável  ressalta que um dos programas mais apreciados são os da Madrugada da Globo, Rio de Janeiro, e os transmitidos na Rádio Nacional. São mais 50 anos casados. Uma sintonia perfeita de felicidade e muita comunicação".

Muito organizado "Seu Ademar" possui até uma oficina para restaurar", consertar os rádios quando necessário. Ele mesmo enfrenta a empreitada. Detalhe: todos os rádios estão funcionando perfeitamente.

"Seu Ademar" possui pelo Rádio um sentimento de companheiro e amigo. Estabele com os receptores uma oportunidade, vários presentes permanentes de recriar o ambiente mágico, imagético, cumplicidade e também demonstra carinho, fidelidade e agradecimento pelo maior veículo de comunicação, o Rádio.
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Dona Nilza, nascida no Crato, Ceará, mulher marcada pelo bom combate

O caminho que liga Exu ao Crato é a via das escolhas, das encruzilhadas. As paisagens agem e ardem em eco. Quais mãos trabalharam na confecção desse origami? A planície sem fim...E nesta estrada lembrei de uma mulher que conheci no Crato: Nilza. O sobrenome deve ser Silva ou Santos. Não perguntei!

A história de Dona Nilza ganha uma atmosfera dos escritos de Ariano Suassuna: uma atmosfera de amor e violência comparável à das elisabetanas, que une os elementos sangue e  família, nas exatas medidas dramáticas.

Nilza chora a perda do filho morto. Do filho de Dona Nilza bem sei que não louvarão o nome, não comungarão a passagem dele pela terra, não saberão das dores de um filho adulto que não soube em vida, amar a mãe e agradecer o leite que o alimentou nas horas de fome e sonhos, esperança maior de uma mãe.

Nilza ri, chora e bebe! A cachaça é uma forma de dizer do amor a vida que segue...Vida malvada, amarga cachaça! Amarga vida! Vida que mente amargamente!

Logo ela, Nilza, uma mulher marcada numa vida de bom combate para sobreviver, cozinheira que um dia criança teve brinquedos no acalanto do sol, da lua e das estrelas para brincadeiras que não se quebravam quando menina sonhando ser Feliz...

Em Nilza, o que não se quebra (e Deus o livre disto), é uma base espiritual, amizade, fé e compreensão de um coração e alma boa, mesa farta, bom café, boa prosa, as palavras sinceras e assertivas da professora Antonia. Antonia mais que mãe. Mais que irmã. Defensora e conhecedora da dor e da profundidade escondidas nos nuances da alma: as mesmas lágrimas choradas por "Nossa Senhora" pela morte de Jesus Cristo, também chorou a mãe de Judas. A dor é a mesma por quem amamos...

Professora Antonia vidente das horas que virão é a rota caminho de Nilza: Somente os tolos tentam consolar. Eles não sabem que as palavras de consolo são ofensas à dor da pessoa. Antonia não perturba a dor de dona Nilza...e por isto Dona Nilza sorrir e cozinha e caminha...e até voa...

E me restou aos pés da Estátua de Nossa Senhora de Fátima localizada no Crato na visão lá do Juazeiro do Norte, balbuciar uma prece em forma de música:
"Meu caro Cariri, encarecidamente
Venho à tua frente assim de corpo e alma
Venho pedir como pede um romeiro
Que chega em Juazeiro do Padrinho Cícero Romão
Pra longe daqui não deixar seu poeta
Sem ver a linha reta do horizonte dos canaviais"...

Nossa Senhora de Fátima Abençoe Nilza, sua cachaça, sua Fé e tenha compaixão de uma mãe que chora. Dona Nilza escuta a professora Antonia: Não há consolo. "Uma mãe nunca esquece um filho ausente".
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Saudade do tempo que joguei futebol e o drible era poesia, o passe prosa, o chute era êxtase e o gol, delírio pleno.

Minha imaginação viaja pelos campos da minha fantasia. Muitos pensam que só gosto de forró e baião! Tenho uma outra paixão: Futebol. Sou torcedor do Treze de Campina Grande lá da Paraíba.

Fui leitor do jornalista Armando Nogueira, que escrevia a coluna na Grande Área. Com ele li uma vez que O preparador físico Toninho Oliveira, do Flamengo, fez um teste na fase de pré-temporada: media o batimento cardíaco dos jogadores, sempre que tocavam na bola. O resultado mostrou que apenas um não ficava abalado: Romário. Com o craque, a coisa é diferente.

Um dos sonhos que me agitam nas horas de descanso é vibrando na hora do gol. Sim joguei futebol e gostava mesmo era de colocar o parceiro na marca do gol. Tipico meio de campo!  Um drible e um passe genial, sem modestia, garantia minha vaga no time do amigo João João José Oliveira, hoje um craque no jornalismo, trabalhou na Inglaterra e traz no curriculo uma cobertura da Copa Mundial de Futebol. 

Armando Nogueira em dado momento, já nos anos 90, chegou a escrever alertando pela sorte do futebol, tal a degradação a que a estupidez humana estava arrastando os valores do jogo mais apaixonante do mundo.

A falta de ética que afeta a vida pública brasileira invadiu os estádios, subvertendo todos os códigos de conduta dentro e fora do campo. Em vez do drible, um pontapé; em vez de um passe, um cachação. É a lei da selva escancarando a pusilanimidade dos responsáveis que não  punem com expulsão, a rasteira, o pontapé traiçoeiro e outros golpes desleais que ferem fundo a essência do futebol.
 
Contou Armando Nogueira que dias amargos, certa vez, mum tremendo acesso de melancolia: "Que diabo, eu venho de outras eras. Sou dos tempos em que o futebol brasileiro sabia refinar sua técnica, elevando-a às culminâncias da arte: o drible era poesia, o passe era prosa, o chute era êxtase e o gol, delírio pleno.

Sitiado de tristeza, eu me perguntava sem eco: terá sido em vão aquele drible à direita que Garrincha inventou e que nos deu de mão beijada como herança maior?

E a “folha seca” com a qual mestre Didi decretou o outono de tantos goleiros pelos campos afora? E o milagre de Pelé, cujos gols – como eu já disse – eram tramados na véspera, pois, matreiro como ninguém, ele trazia de casa as traves e a bola do jogo...

Belas tardes em que a bola solar de Gérson, Tostão e Rivelino espalhava contentamento pelos campos mexicanos no mundial de 70. Eu tinha orgulho de chorar em público as lágrimas de alegria que não eram só minhas porque de todos nós, irmãos gêmeos de Carlos Alberto, de Jairzinho e Clodoaldo. Até hoje, eles dão a volta olímpica no Azteca da minha infinita saudade.

Bem-vindo sejas, doce Nenem Prancha, tu que me ensinaste a decifrar os mistérios da linha de fundo, fosse nos pés de Tesourinha, fosse nos pés de Garrincha ou de Julinho: tu que me mostraste, pela primeira vez, onde luzia o talento de Heleno de Freitas e a chispa certeira de Ademir Menezes. Tu que tanto louvavas com olhar reverente a majestade de Nilton Santos".

Tá explicado: minha saudade é que o gol um dia na minha vida foi arte, poesia, o passe prosa, o chute magia e o gol delírio pleno...tá explicado!

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