Crato, Cultura, Cego Aderaldo e o livro de Seridião Correia Montenegro

"Quem a paca cara compra
Paca cara pagará Oh! Violeiro do mundo
Dei-me atenção de um segundo
Pra meu lamento profundo
Que hoje decanto o retrato
Um grande vulto do mato
Mato de onde não fujo
Aderaldo Ferreira de Araújo
O Cego Aderaldo do Crato 


Ali nasceu o artista
De ferreiro a maquinista
Que mesmo perdendo a vista
Via com o coração
No pontear de um botão
Era jornal de matuto
Analfabeto e inculto
Orgulho desse meu baião /

 Ao poeta e trovador
Dos repentista, lendário
Da poesia operário
Onde estiver com amor
Do teu admirador
Receba estas rimas vagas
Como uma espécie de "paga"
No seu primeiro centenário"
 

Os versos acima é uma das mais belas interpretações do Rei do Baião, Luiz Gonzaga. A música me veio quando terminei de ler o lIVRO Crato-Princesa do Cariri, Capital da Cultura, Oasis do Sertão, da autoria de Seridião Correia Montenegro.
 

O livro reacendeu minha curiosidade pela vida e obra do Cego Aderaldo, nascido no Crato, o lendário cantador. Uma das mais belas histórias que já ouvi. Remeti a outro livro onde o Cego Aderaldo conta que os seus pés pisaram a poeira de muitos caminhos!

"Tenho comigo as lembranças mais gratas de minhas cantorias, ainda no começo  de minha vida. Percorri todas as serras, alcancei os chapadões, varei a caatinga, entrei no brejo...Por toda parte eu levava a minha voz...Cantei em Baturité, em Canindé...No Crato o meu solo verdejante do Cariri... Que terra boa, maravilhosa! Nunca meus lábios provaram melhor água"!

Lembrei de uma lágrima que chorei quando o ouvi revelar a dor de perder a visão. 

 “Eu ainda era pequeno
    mas me lembro bem
    de ver minha pobre Mãe
    em negra viuvez.
    Meu pai jazia morto
    Estendido em um caixão
    Chorei pela primeira vez!


 E a pobre minha Mãe
    Daquilo estremeceu:
    De uma moléstia forte
    A minha mãe morreu.
    Fiquei coberto de luto
    E tudo se desfez
    E eu chorei então
    Pela segunda vez.


 Então, o Deus da Glória,
    O mais sublime artista,
    Decretou lá do Céu,
    Perdi a minha vista.
    Fiquei na escuridão,
    Ceguei com rapidez
    E eu chorei então
    Pela terceira vez.
    Meus prantos se enxugaram.
    Das lágrimas que corriam
    Chegou-me a poesia
    E eu me consolei.
    Sem pai, sem mãe, sem Vista,
    Meus olhos se apagaram;
    Tristonhos se fecharam
    E eu nunca mais chorei".


No livro, o escrito Seridão Correia Montenegro, proporciona outras viagens culturais. Revela que através das pesquisas descobriu ser descendente de famílias do Crato e faz um autêntico invenário cultural da região dissertando sobre pessoas, prédios, sítios e monumentos históricos, uma miscigenação cultural valiosa.
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