Dona Nilza, nascida no Crato, Ceará, mulher marcada pelo bom combate

O caminho que liga Exu ao Crato é a via das escolhas, das encruzilhadas. As paisagens agem e ardem em eco. Quais mãos trabalharam na confecção desse origami? A planície sem fim...E nesta estrada lembrei de uma mulher que conheci no Crato: Nilza. O sobrenome deve ser Silva ou Santos. Não perguntei!

A história de Dona Nilza ganha uma atmosfera dos escritos de Ariano Suassuna: uma atmosfera de amor e violência comparável à das elisabetanas, que une os elementos sangue e  família, nas exatas medidas dramáticas.

Nilza chora a perda do filho morto. Do filho de Dona Nilza bem sei que não louvarão o nome, não comungarão a passagem dele pela terra, não saberão das dores de um filho adulto que não soube em vida, amar a mãe e agradecer o leite que o alimentou nas horas de fome e sonhos, esperança maior de uma mãe.

Nilza ri, chora e bebe! A cachaça é uma forma de dizer do amor a vida que segue...Vida malvada, amarga cachaça! Amarga vida! Vida que mente amargamente!

Logo ela, Nilza, uma mulher marcada numa vida de bom combate para sobreviver, cozinheira que um dia criança teve brinquedos no acalanto do sol, da lua e das estrelas para brincadeiras que não se quebravam quando menina sonhando ser Feliz...

Em Nilza, o que não se quebra (e Deus o livre disto), é uma base espiritual, amizade, fé e compreensão de um coração e alma boa, mesa farta, bom café, boa prosa, as palavras sinceras e assertivas da professora Antonia. Antonia mais que mãe. Mais que irmã. Defensora e conhecedora da dor e da profundidade escondidas nos nuances da alma: as mesmas lágrimas choradas por "Nossa Senhora" pela morte de Jesus Cristo, também chorou a mãe de Judas. A dor é a mesma por quem amamos...

Professora Antonia vidente das horas que virão é a rota caminho de Nilza: Somente os tolos tentam consolar. Eles não sabem que as palavras de consolo são ofensas à dor da pessoa. Antonia não perturba a dor de dona Nilza...e por isto Dona Nilza sorrir e cozinha e caminha...e até voa...

E me restou aos pés da Estátua de Nossa Senhora de Fátima localizada no Crato na visão lá do Juazeiro do Norte, balbuciar uma prece em forma de música:
"Meu caro Cariri, encarecidamente
Venho à tua frente assim de corpo e alma
Venho pedir como pede um romeiro
Que chega em Juazeiro do Padrinho Cícero Romão
Pra longe daqui não deixar seu poeta
Sem ver a linha reta do horizonte dos canaviais"...

Nossa Senhora de Fátima Abençoe Nilza, sua cachaça, sua Fé e tenha compaixão de uma mãe que chora. Dona Nilza escuta a professora Antonia: Não há consolo. "Uma mãe nunca esquece um filho ausente".
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