Raimundo Aniceto, tocador da Banda Cabaçal do Crato tá doente, tá sem tocar, sem dançar, sem pular, tá sem alegria

Numa conversa com o amigo escritor, professor Aderaldo Luciano, ouvi a promessa que será colocado em um poema certeza que Deus era um tocador de pife e foi soprando nele, num pife feito de taboca, que deu vida ao Homem com seu sopro fiel. 

Nesta madrugada não me saiu da "cabeça" o sentimento da falta de respeito que é tratado nossos mestres da Cultura. 

A Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto do Crato, Ceará tem no tempo uma vereda de espinho e esperança, brilho das estrelas que não mudam de lugar, a peleja entre a fome e a fartura. Este ano a Banda completa 201 anos de Fundação.

Em 2015 a Banda perdeu o mais antigo dos integrantes, Antonio Aniceto, o responsável por abrir o caminho para os mais novos. A

Banda já está na terceira geração, com os filhos de Adriano, Cícero e Jeová, filhos de Antônio e João, netos de José Aniceto e ousam em desafiar a "industria capitalista avassaladora". Valorizam a história e a tradição. 

Mais uma fez a dor qual espinho massacrando a pele, a ferir os sentimentos mais nobres traz uma situação de desconforto: Seu Raimundo Aniceto, 86 anos sofreu um AVC, perdeu a voz. O braço está paralisado, já não toca! Por telefone a filha de Raimundo, a Socorro Aniceto conta com voz baixinha: a situação carece de muita preocupação.

Raimundo Aniceto é Mestre da Cultura, oficialmente reconhecido pelo Governo do Estado do Ceará. É Patrimônio da Cultura mais Brasileira.

A história conta que tudo começou com o índio kariri José Lourenço da Silva, que com suas cabaças resolveu criar um grupo musical surgida em 1815. Toda a família se envolveu no trabalho, e a tradição foi passada por três gerações.

Os irmãos Aniceto lançaram três discos: o primeiro em 1978, patrocinado pelo Ministério da Educação e Cultura; o segundo em 1999, produzido pela Cariri Discos em parceria com a Equatorial Produções; e o último em 2004, intitulado “Forró no Cariri”. Também lançaram um DVD, gravado em 2008, no Theatro José de Alencar, registrando a histórica apresentação da Banda Cabaçal em conjunto com a Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho.

O nome da banda vem do tempo de José Lourenço, o Aniceto. Na época, a zabumba era feita da cabaça da roça. A terra natal dos Irmãos Aniceto é o Crato, mas a cultura da família já é conhecida em todo o Brasil e até na Europa. O grupo resiste...

A professora Elídia Clara Aguiar Veríssimo, da Universidade Estadual do Ceará (Uece), que em 2002 defendeu tese de mestrado sobre o som produzido pelo quinteto explica que os componentes da Banda se diferenciam das demais bandas cabaçais do Cariri pela temática de suas músicas. Usam os sons e o comportamento observado na natureza.

"Aí nascem os baiões e forrós que ninguém mais produz, trazendo o cotidiano da roça para o palco”, avaliou Elídia. Também fazem parte do repertório situações vividas por alguns integrantes. É o caso da música da Luta do Severino Brabo. Mestre Raimundo contou que esse personagem realmente existiu e fez parte de sua infância. O tal homem assustava a todos andando com dois facões na cintura e tentando arrumar briga por onde passava.

“Eu ficava olhando, aprendi alguns movimentos com ele e coloquei isso na banda”. Nesse caso, impressiona o som emitido pelas facas que acompanham a música.

Seu Raimundo era o responsável pela coreografia, ele dançava, pulava e arriscava até um salto mortal na apresentação. Na foto ele está com o então ministro da Cultura, Gilberto Gil.


Apesar da solidão e olhar triste Seu Raimundo em nome da Banda Cabaçal Irmãos Anicetos já recebeu a Honra do Mérito Cultural, concedido pelos relevantes serviços prestados a cultura.

A pesquisa de Elídia também mostra que, apesar de não possuírem formação acadêmica em música, os Aniceto têm ouvido para sons que músicos profissionais não têm. O mesmo ocorre com a habilidade em tocar seus instrumentos musicais.

Por tudo isto nesta madrugada eu penso com mais Fé: Deus dai-me forças e tende compaixão de nós neste vale de lágrimas! Não deixe o som do Pife parar!



Nenhum comentário

← Postagem mais recente Postagem mais antiga → Página inicial

0 comentários:

Postar um comentário