BONITA MARIA DO CAPITÃO VIRGULINO FERREIRA, O LAMPIÃO

A aventura da menina que saiu de casa aos 19 anos para percorrer o sertão nordestino a pé num bando de cangaceiros até tombar, aos 27, humilhada a ponto de ter a cabeça, decepada quando ainda vivia, exposta à curiosidade popular, tem sido narrada em prosa, verso, imagem e som. O centenário de nascimento de Maria Bonita, mulher de Lampião, motivou o lançamento de um livro que celebra sua vida e seu mito, .

Nascida e criada na Malhada da Caiçara, no sertão baiano, Maria de Déa foi destinada ao casamento, celebrado em plena adolescência, e a uma vida pacata. Aos 16 anos, casaram-na com o sapateiro Zé de Nenê, mas o lar do casal, que foi morar no povoado de Santa Brígida. No fim de 1929, cruzou a soleira dos pais dela, Zé Filipe e Dona Déa, o temível Rei do Cangaço no sertão, Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião aos 32 anos.

O chefe de bando era vingativo, cruel e destemido, mas também tinha lá seus laivos de herói romântico. Dos saques das fazendas dos ricaços do sertão furtava perfumes franceses de boa cepa e o melhor uísque escocês. Ao relento nos acampamentos no zigue-zague das fugas para escapar da perseguição policial, puxava um fole de oito baixos e a ele foi atribuída a autoria de um dos maiores sucessos do cancioneiro sertanejo e nacional, "Muié Rendeira", de cuja autoria se apropriaria, no Rio, Zé do Norte.

Não era de estranhar que fizesse corte à morena e começou por lhe encomendar que bordasse suas iniciais CL (Capitão Lampião) em 15 lenços de seda, o que permitiu a abordagem e, depois, serviu de pretexto a novo encontro, que terminou com a retirada da morena separada do marido da casa dos pais. Foi, então, que a beleza da escolhida do Rei lhe deu a alcunha com que morreu na Grota do Angico, Sergipe, ao lado do amante, e que se fixou na memória do povo: Maria Bonita.

Expedita, filha do casal real da caatinga, criada no Estado em que os pais morreram, Sergipe, sobreviveu à carnificina e gerou, entre outros filhos, Vera Ferreira, que, professora universitária em Aracaju, tem mantido viva a memória dos avós e empreendeu obra de vulto para comemorar o centenário da avó.

 "Bonita Maria do Capitão", livro trazido em 2012, a lume pela Editora da Universidade do Estado da Bahia. O volume de 328 páginas, organizado pela neta, jornalista e escritora, com a cumplicidade da desenhista paraibana Germana Gonçalves de Araújo reproduz o legado da personagem lembrada pelos caprichos e vontades, mas também pelo bom humor e descontração quase infantil, com esmero e bom gosto.

O casal, evidentemente, foi tema de muitos romances de cordel. Num deles, Saboia, chamado de Marechal de Cordel do Cangaço, registrou: "Cupido fez passatempo /com Maria e Lampião/ ela Rainha ele Rei /governou nosso sertão /cangaço e amor viveu /não foi uma ilustração". Rouxinol do Rinaré e Antônio Klévisson Viana versejaram: "Maria Gomes de Oliveira /amou muito a Lampião /decidiu ser a primeira /cangaceira do sertão /ignorando o destino /acompanhou Virgolino /pela força da paixão". O livro reproduziu a capa de um cordel de Sávio Pinheiro sob título "O Arranca-rabo de Yoko Ono com Maria Bonita ou A Desaventura de John Lennon e Lampião", editado em 2008.

A beleza de Maria, mostrada em foto e cinema por Benjamin Abrahão, fascinou artistas plásticos como Mino e virou tema obrigatório de xilogravadores como J. Borges, Mestre Noza, J. Miguel e Marcelo Soares. Suas peças de vestuário e as joias que usava foram reproduzidas no livro, que também se refere à peça de Rachel de Queiroz sobre ela e a filmes do gênero dito nordestern, que a adotaram como personagem. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Bonita Maria do Capitão - Livraria da Vila (Rua Fradique Coutinho, 915). Tel. (011) 3814-5811. Terça-feira, 18h30.
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DO SERTÃO AO NORTÃO, ESCRITORA MARIA DA PAZ DESBRAVA TERRITÓRIOS E A IMAGINAÇÃO

*Texto: Mayla Miranda
mayla.miranda@olivre.com.br

“Maria, Maria, é um dom, uma certa magia, uma força que nos alerta, uma mulher que, merece viver e amar, como outra qualquer do planeta”, A música eternizada por Milton Nascimento, exalta a força das “marias” e pode ser utilizada para traduzir a história de uma vencedora: Maria da Paz.

Com um nome que é pura inspiração e uma história grandiosa – tímida, meio calada e com um certo desconforto em abrir sua intimidade – a jornalista e escritora tem muito a contar. As dificuldades da juventude moldaram uma mulher forte que, com otimismo e um sorriso no rosto, transformou a batalha contra uma doença implacável em apenas mais um desafio.

A propósito, desafios fazem parte da rotina da mulher “arretada” [o sotaque logo de cara revela sua origem nordestina]. Nascida no interior da Paraíba, com brilhos nos olhos vai revelando uma infância humilde, mas inspiradora.

Bonecas de espiga de milho, roupinhas confeccionadas à mão, pedras que se transformam em qualquer coisa, um grande rio que contorna sua cidade natal, Ingá (próxima a Juarez Távora Paraíba) e muitas árvores, são elementos que compõem o cenário das melhores lembranças que traz no coração.

De uma família numerosa – ela é quarta de dez irmãos – fala com carinho de uma das irmãs mais velhas que perdeu para uma febre. Sobre os pais, Maria conta que mesmo humildes, eram perspicazes e astutos. Segundo ela, sua mãe era extremamente sábia, mesmo sem ter sido alfabetizada. Seu pai, um homem muito carinhoso, pragmático e provedor também ensinou muito, principalmente pelo exemplo de luta e superação.

Mesmo com as dificuldades do dia-a-dia, na lida na roça e na falta de água que marcava o sertão, ela não vê traumas, nem mesmo tristeza. Detalha tudo com um certo sorriso nos lábios e um saudosismo dos melhores tempos.

Na juventude não tinha como ser diferente. O desejo de desbravar o mundo à levou a Universidade Federal da Paraíba. Foi lá que, bem aos poucos, foi se apaixonando pela profissão de jornalismo. Ela conta que no começo, não sabia ao certo o que era um jornalista, o que fazia e muito menos como, mas sabia que queria escrever, mover o mundo com seus pensamentos, histórias e relatos, já que para ela as letras eram muito mais mágicas, amplas e reveladoras que as palavras ditas.

“Mas é preciso ter manhã, é preciso ter graça, é preciso ter sonho sempre. Quem traz na pele essa marca, possui a estranha mania de ter fé na vida”, e nessa sequência, Milton segue desvendando nossa Maria.

Tempos depois de formada e empregada em um grande jornal da capital, nasceu mais um desejo de ousadia, “Como seria ir para um lugar onde ninguém me conhecesse?”, pensava ela, almejando ainda mais o anonimato e as aventuras que a saída do ninho lhe permitiria.

E foi aí, a partir de um ímpeto de coragem que Maria seguiu com o afrontamento da realidade e buscou o novo. Primeira parada, Fortaleza-CE. Mas não revelou à mãe seus planos de voo. “Faltou coragem para tanto, não sou rebelde, sempre fomos muito unidos”, pondera.

Lá não era tão longe assim, não tão anônimo quanto esperado. Foi quando se lembrou de uma amiga que disse qualquer coisa sobre Roraima, “Será? Vou tentar”, pensou ela.

Na segunda saída, descobriu que o destino era mesmo Cuiabá, Mato Grosso.

“Mas é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre. Quem traz no corpo a marca, Maria, Maria, mistura a dor e a alegria”, Milton segue costurando a descrição dessa história.

Com apenas uma mala com poucas roupas e grandes sonhos, Mato Grosso abraçou Maria, que finalmente se sentiu acolhida e aquecida. “Mas espera um pouco, acho que ainda não é aqui”, pensou novamente. Foi quando uma conhecida de poucos dias falou qualquer coisa sobre uma cidade chamada Sinop, “Agora está fazendo sentido para mim”, e lá se foi ela, seguindo seu forte instinto.

Não que é Maria tinha razão? Era, sim, nessa nova cidade, em um novo jornal em que construiria sua marca em uma carreira premiada e com muito reconhecimento. Como disse antes, Maria não larga o sotaque, mas é oficialmente cidadã sinopense. Fala com um orgulho e com tremendo brilho nos olhos, “mereci esse título e sou muito feliz em tê-lo”, garante.

Seguindo suas diferentes facetas, foi em Sinop que ela – junto com grandes personalidades –  fundaram a Academia Sinopense de Letras. Mas não foi ainda neste ano que se tornou imortal. Maria foi freada pelo destino ao descobrir um sério câncer de mama.

Sim, freada, não parada. Isso porque Maria não é mulher de se deixar abater, não sem luta. E ela venceu mais essa etapa que foi transformadora em sua vida, “é difícil dar de cara com a morte, a gente repensa nas nossas prioridades”, revela.

“Maria, Maria, é o som, é a cor, é o suor, é a dose mais forte e lenta, de uma gente que ri quando deve chorar, e não vive, apenas aguenta” e nessa sequência Milton segue nos contando sobre Maria.

Ainda sem deixar de surpreender, em dado momento revela um gosto pela vida noturna, algo difícil de se esperar por quem vê pela primeira vez a figura de óculos, pequenina e bastante quietinha.

Em seus assuntos de domínio, aí sim, são muitas palavras, muitas discrições. Maria é autora de livros que contam a história de mulheres e homens pioneiros, além das ficções educativas, como a saga da formiga Zaroia e agora a doce história de Juquinha, um menino que ensina a amar.

“Ele mostra que, mesmo com a deficiência física que possui, não é isso que o define”, decreta.

Na tentativa de entramos um pouco mais em sua vida pessoal, desconversando, ela revela apenas seu amor por Santinha, uma cachorrinha vira-lata e faceira. Santinha retira muitos risos nas redes sociais, onde aparecem suas aventuras narradas por Maria. A mais marcante foi mesmo na viagem ao nordeste quando, em uma discrição hilária, que revela mais uma vez o talento de Maria para narrativa, Santinha fez seu diário de viagem, com direito a confusões e mordidas na coleguinha.

Sobre as redes sociais? “Não sou tão interessante para isso, mas meu trabalho é”, fala sorrindo.

Fonte: **Mayla Miranda mayla.miranda@olivre.com.br
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MORRE ORLANDO TEJO, AUTOR DO LIVRO ZÉ LIMEIRA, O POETA DO ABSURSO

O jornalista, advogado, ensaísta e poeta, Orlando Tejo, autor do famoso livro “Zé Limeira: o poeta do Absurdo” faleceu  ontem domingo (1º). Aos 83 anos, natural de Campina Grande, na Paraíba, ele é autor do livro Zé Limeira, Poeta do Absurdo, editado no início dos anos 80, que conta a história do cordelista, cantador bom de viola, mais mitológico do Brasil. 

Tejo testemunhou ainda jovem muitos dos desafios do qual Limeira participou. Chegou a registrar algumas gravações de voz, que não existem mais. O que conseguiu memorizar colocou no papel e editou o livro. Na obra, ele relata como conheceu Zé Limeira, em 1940, e conta alguns causos, entre eles a história de que o governador de Pernambuco, Agamenon Magalhães, promovera no palácio um encontro de repentistas com a participação de Zé Limeira. Muitos acham que Zé Limeira não existiu, que era uma lenda criada por Orlando Tejo. 

O governador Paulo Câmara, por meio de sua assessoria de Comunicação, lamentou a morte do jornalista e escritor Orlando Tejo. "Quero apresentar meus sinceros sentimentos de pesar pela morte do jornalista, ensaísta e poeta Orlando Tejo. Sua longa produção intelectual expressa a importância para a cultura de Pernambuco e do Nordeste, especialmente por sua obra seminal "Zé Limeira – Poeta do Absurdo". Minha solidariedade ao seus familiares, amigos e admiradores".
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ARARINHAS AZUIS ESTÃO VOLTANDO PARA JUAZEIRO E CURAÇA, BAHIA

As ararinhas-azuis (Cyanopsitta spixii) estão voltando para o Brasil e levando com elas, inclusive, novidades para compartilhar com as comunidades da região de Curaçá, no sertão baiano. Na inauguração do Centro da Associação para Conservação de Papagaios (ACTP, na sigla em inglês), em Berlim, Alemanha, o ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte, recebeu a notícia de que o centro disponibilizará, inicialmente, 300 mil euros para implementação de Unidades de Recuperação de Áreas Degradadas (Urad) na região.

"A Caatinga, região da ararinha-azul, passa por uma situação econômica muito difícil. E a sobrevivência da ararinha passa, também, pela melhoria da qualidade de vida das pessoas que ali estão. As URADs são ações muito simples, mas que têm uma efetividade enorme. Elas recuperam a capacidade produtiva das famílias e serão a garantia de vida longa para a ararinha-azul e para todos que moram na região", destacou Edson Duarte.

Visivelmente emocionado durante o ato na ACTP, Edson Duarte contou que nasceu no único lugar do mundo onde viveu a ararinha-azul e que, na juventude, fez uma opção em defesa da Caatinga. "Quando comecei a trabalhar com a ararinha só havia um único exemplar na natureza e um dia ela sumiu. O que eu nunca imaginaria era que eu viraria ministro do Meio Ambiente para vir a Berlim assinar um acordo e fazer com que ela volte a tornar o céu azul do sertão do Brasil, mais azul", disse.

A ararinha-azul é uma espécie endêmica da Caatinga e considerada uma das aves mais ameaçadas do mundo. O declínio da espécie foi atribuído a dois fatores principais: a destruição em larga escala do seu habitat e a captura para comércio ilegal nas últimas décadas. Atualmente, existem 11 ararinhas em território brasileiro. Elas estão no criadouro Fazenda Cachoeira, em Minas Gerais.

Para que os animais sejam recebidos no país, será construído um centro de reintrodução da espécie no município de Curaçá (BA), também com apoio da ACTP e da Fundação Pairi Daiza, da Bélgica.

Esses esforços já possibilitaram que a população de ararinhas passasse de 79 indivíduos, em 2012, para 158 em 2018.

Para garantir a reintrodução e preservação da espécie, no Dia Mundial do Meio Ambiente deste ano, 5 de junho, o governo brasileiro criou o Refúgio de Vida Silvestre da Ararinha-azul, no município de Curaçá, e a Área de Proteção Ambiental da Ararinha-azul, em Juazeiro (BA). O objetivo dessa iniciativa, além de proteger o bioma Caatinga, é promover a adoção de práticas agrícolas compatíveis com a reintrodução e a manutenção da espécie na natureza.

O Refúgio da Ararinha-azul tem 29,2 mil hectares; e a Área de Proteção possui 90,6 mil hectares. As unidades vão compor um mosaico de UCs para conciliar a conservação de remanescentes de Caatinga, o único bioma exclusivamente brasileiro, com o Programa de Reintrodução da Ararinha-azul na natureza, que prevê a soltura dos primeiros exemplares a partir de 2021.

Essas unidades também irão incentivar políticas para a melhoria da qualidade de vida da população local, além de estimular atividades que gerem emprego e renda para a comunidade por meio de projetos de produção sustentável, turismo, conservação e pesquisa.

Fonte: Renata Meliga, enviada especial a Berlim (Alemanha)/ Ascom MMA
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COMO SEVERINO VIROU SIVUCA

Texto: Silvia Bessa, para o Diario de Pernambuco *

Na família de Severino, tinha lavradores, artesãos que curtiam couro para selar cavalos e uma turma grande de sapateiros. Música não se ouvia, até porque nem eletricidade havia. Por vezes, passava na beira da casa, lá em Itabaiana, na Paraíba, um sanfoneiro itinerante. Foi aí que Severino, um menino albino, viu aos nove anos uma sanfona. Aprendeu rápido. Aos 15 anos, veio ao Recife, meca de artistas em meados da década de 1940, destinado a bater à porta da Rádio Clube, a pioneira, sintonizada com o prefixo PRA-8. “Quero falar com seu PRA-8”, disse. Ainda era Severino.

“Eu fui lá numa quarta-feira. Na frente da rádio, havia uma salinha com um balcão e uma mesa de telefone com a telefonista que recebia recado. Era uma senhora meio gordinha, dona Eliodeth. Ela estava brincando com um gatinho. Pensei que ela fosse a dona do rádio porque no interior tem aquelas quitandas, bodegas com senhoras que ficavam na porta, esperando as pessoas pra comprar e geralmente fazendo crochê, brincando com gato. Eu cheguei e disse: “A senhora é a dona do rádio?”. Não era. Dona Eliodeth o encaminhou para a autoridade responsável: “Isso é com seu Nelson”. Severino queria tocar no show de calouros.

Seu Nelson era o maestro Nelson Ferreira - diretor musical da Rádio Clube, compositor, pianista, violinista e regente pernambucano respeitadíssimo, que logo propôs a Severino: “Quer tocar uma coisinha para mim?”. O rapazote estava com a sanfona debaixo do braço e começou um frevo chamado Mexe com tudo, de Levinho Ferreira.

O maestro ficou impressionado com a habilidade do jovem albino. “Ô, Antônio Maria!” - disse, referindo-se ao jornalista, compositor e grande cronista brasileiro - “vem ouvir uma coisa. Venha ver esse menino que chegou de Itabaiana”.

Severino ganhou muito mais que uma vaga no show de calouros. Depois que tocou Tico-tico no fubá a mil por hora, conquistou um programa inteirinho no dia seguinte. Quem fez a narrativa foi o próprio rapaz, mais de cinquenta anos depois, em entrevista concedida ao site http://gafieiras.com.br.

A incumbência de escrever o programa ficou com Antônio Maria. Nesse tempo, fazia-se três músicas e se tocava ao vivo, dentro de um quarto de hora, conta Severino no longo depoimento. Foi aí que Severino, em 1945, trocaria um nome próprio por apelido curto. “Seu nome, rapaz?”, perguntaram-lhe. Ele respondeu: Severino Dias de Oliveira. “Nelson Ferreira chegou junto a mim e disse: ‘Nós temos aqui um problema que precisamos resolver. O seu nome é nome de firma comercial de interior. Vamos simplificar. Que tal Sivuca?’ Eu disse: ‘Está bom, maestro, está bom’. A partir desse momento, eu passei a ser chamado de Sivuca”.

Uma semana depois, estreou na Festa da Mocidade, em Recife. “Aguardem, Sivuca!” , anunciava o locutor. “Mas eu havia esquecido que nome ele tinha me dado”.

Sivuca é um nome na história da música brasileira. Multi-instrumentista, ficou consagrado no mercado internacional pela habilidade única com o acordeon, que ele explicou ser a sanfona, apenas afrancesada. A sanfona, instrumento que ganha vida nas festas juninas no Nordeste.

Severino morreu em 2006, aos 76 anos, sendo Sivuca, como quis Nelson Ferreira e como propagou a Rádio Clube, emissora que o lançou para a fama.
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OUVINTE DE RÁDIO APESAR DA TECNOLOGIA CONTINUA ENVIANDO CARTAS PARA OS COMUNICADORES

Com as novas tecnologias que surgem a cada dia as cartas escritas à mão por uma pessoa podem resistir ao tempo tecnológico? A resposta é Sim. As cartas estão mais atuais do que se imagina. 

A prova disto é que em Petrolina, Pernambuco, a comunicadora Mayra Amariz do Programa Forró do Povo,  O Malhadão, transmitido na Rádio Grande Rio Am, recebe cartas dos ouvintes.

Mayra avalia, que isto se deve, certamente, ao respeito e modo de comunicar que seu pai Carlos Augusto, já falecido, deixou para os ouvintes. Carlos Augusto foi radialista, em 1962 um dos pioneiros da fundação da Rádio Emissora Rural e criador da Jecana do Capim-Corrida de Jegues, considerado uma  das principais audiências do Rádio na região do Vale do São Francisco.

"No programa usamos todos os recursos da tecnologia, mas a carta continua chegando no endereço da rádio. Isto até nos surpreende, emociona, pois significa que o ouvinte quer ser ouvido", explica Maira.

A carta foi bastante usado quando os  moradores, ouvintes de Rádio de regiões isoladas do Brasil, por exemplo, utilizam esse instrumento como um meio de comunicação onde a internet e a luz elétrica não chegaram e o rádio à pilha polarizava o poder de comunicação.

Atualmente, a modernidade presente na maioria das Rádios, usam internet, Ipads, wireless, notebooks, tablets e celulares com acesso à internet onde se buscam todos os tipos de informações instantâneas e para surpresa de muitos, a carta continua sendo o registro  do poder da comunicação feita pelos ouvintes.

O rádio está presente na vida pessoal do ouvinte, nos afazeres domésticos, no trabalho sem a necessidade de parar o que se está fazendo, pois a recepção é feita de uma maneira integral. Possui o poder de entreter, envolver e informar. 

O jornalista e pesquisador Ney Vital, avalia que  no Brasil, ainda hoje, existem comunidades que carecem de tecnologias para se comunicar. "Vivemos em sociedades complexas, que privilegiam a cultura do ver e o excesso de imagens, percebemos que o rádio participa da recuperação da sensorialidade dos corpos e ao enviar uma carta o ouvinte  representa o respeito da necessidade de se resgatar, valorizar a importância da cultura do ouvir e ser escutado".

Essa recepção é bastante importante nos dias atuais, já que o uso de comunicações mais sofisticadas como e-mails, mensagens de celular e redes sociais são vistos na cidade como indispensáveis, mas as cartas continuam fundamentais para a comunicação. 
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QUANDO O VERDE DOS TEUS ZÓIO SE ESPAIÁ NA PRANTAÇÃO

*Texto: Rangel Alves da Costa-Poço Redondo-Sergipe.

Luiz Gonzaga é bom demais de ouvir de qualquer jeito e a todo instante. Basta ecoar a sanfona do rei do baião e surgir aquele vozeirão primoroso, forte, ritmado, e então tudo se torna numa festa só. Não obstante a junção da sanfona e da voz, formando a mais plangente e autêntica musicalidade nordestina, ainda há em Luiz Gonzaga a plenitude da poesia.

Seja de sua autoria, coautoria ou de outros compositores, principalmente Humberto Teixeira, Zé Dantas, Onildo Almeida, Zé Marcolino, João Silva, Nélson Valença, João e Janduhy Finizola, dentre outros, na música de Luiz Gonzaga há uma poesia que vai muito além da cantoria tipicamente nordestina, ainda que esta também seja marcada pela beleza dos versos. Com o Rei do Baião, contudo, os versos são construídos como se para serem lidos e não cantados. Como consequência, muitas canções se assemelham a recitais melodiosos.

No Velho e Eterno Lua a canção não é somente para ouvir, mas, e acima de tudo, para viajar nos seus versos, nas suas estrofes tomadas de um sentimentalismo lírico tamanho que faz o bardo ajoelhar-se em comoção. Sim, a partir de coisas simples, tudo nascido para falar sobre a terra, sobre o homem, sobre os amores sertanejos e as lidas e sofrimentos do dia a dia. Após esse mote, após a primeira leva de inspiração, então uma asa branca começa a voar além das alturas, um forró de pé-de-serra se transforma em belo canto de saudade, um olhar para o céu numa noite junina logo se torna em celebração do amor. E o jiló? 

Quanta beleza nos versos de “Qui nem jiló”: “Se a gente lembra só por lembrar, o amor que a gente um dia perdeu, saudade inté que assim é bom pro cabra se convencer que é feliz sem saber, pois não sofreu. Porém se a gente vive a sonhar com alguém que se deseja rever, saudade, entonce aí é ruim, eu tiro isso por mim que vivo doido a sofrer. Ai quem me dera voltar pros braços do meu xodó saudade assim faz roer e amarga qui nem jiló...”.
 Esta canção de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira possui alguns dos versos mais bonitos do cancioneiro brasileiro. Disso não se pode duvidar ante a estrofe dizendo que “Se a gente lembra só por lembrar, o amor que a gente um dia perdeu, saudade inté que assim é bom pro cabra se convencer que é feliz sem saber, pois não sofreu...”.

Contudo, nada igual a uns poucos versos contidos numa estrofe da obra-prima que é Asa Branca: “Quando o verde dos teus zóio se espaiá na prantação...”. Mas antes de comentar, vejam mais isto, observem que maravilha e digam se é verdadeira poesia ou não? “Até mesmo a asa branca bateu asas do sertão, entonce eu disse adeus Rosinha, guarda contigo meu coração. E hoje longe muitas léguas, numa triste solidão, espero a chuva cair de novo pra eu vortá pro meu sertão. Quando o verde dos teus zóio se espaiá na prantação eu te asseguro não chore não viu, que eu vortarei viu, meu coração...”.

Irretocável é a letra de Asa Branca, porém, como dito, apenas em poucas palavras e a composição já se irradia de encantamento. Uma simples frase, mas tudo, inegavelmente tudo: “Quando o verde dos teus zóio se espaiá na prantação...”. Este quando o verde dos teus zóio se espaiá na prantação contém tamanha significação e simbologia que em nenhum outro momento musical brasileiro conseguiu alcançar. 

A ele somente comparado, a meu ver, aos versos contidos em Cafezal em Flor (composição de Luiz Carlos Paraná e sucesso na voz de Cascatinha e Inhana): “Era florada, lindo véu de branca renda se estendeu sobre a fazenda, igual a um manto nupcial, e de mãos dadas fomos juntos pela estrada toda branca e perfumada, pela flor do cafezal... Passa-se a noite vem o sol ardente bruto, morre a flor e nasce o fruto no lugar de cada flor. Passa-se o tempo em que a vida é todo encanto, morre o amor e nasce o pranto, fruto amargo de uma dor...”.

Citei mais versos de a Flor do Cafezal, é verdade. Contudo, não significa que apenas a frase citada de Asa Branca não seja ainda de maior profundidade. E assim por que este “Quando o verde dos teus zóio se espaiá na prantação...”, quer dizer quando a terra voltar a brotar, quer significar quando os pendões do milharal chamarem o retorno do amor distante, quer dizer que quando a esperança renascer dias melhores surgirão aos amores distantes, quer significar que da terra brotando e florescendo também o amor sendo fortalecido nos corações.

Se eu disser, pois, que quando o verde dos teus olhos se espalhar na plantação, eu também estarei dizendo que quando os campos novamente florirem eu voltarei. Eu voltarei viu, meu coração.

Fonte: Rangel Alves da Costa. Advogado e Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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