LITERATURA INDÍGENA E OS CORDEIS DA ESCRITORA E POETA AURITHA TABAJARA

A literatura indígena é rica, vasta, carregada de ensinamentos inspirados em suas origens e na tradição oral aprendida. Repassada de geração em geração. Apesar disso, livros escritos por indígenas ainda carecem de visibilidade. Escritores, poetas e pensadores dos povos originários carecem de visibilidade. Afinal, quantos autores você conhece? Ou, melhor, quantos livros escritos por indígenas você já leu?

Nesta edição do podcast DiversEM, o Estado de Minas conversou com a escritora e poeta Auritha Tabajara. Mulher indígena, lésbica e cordelista, ela é autora do livro “Coração na aldeia, pés no mundo”.

A tradição oral é extremamente marcante na cultura dos povos originários, sendo a principal fonte de conhecimento passada entre as gerações. Essa foi, inclusive, a forma com a qual Auritha teve seus primeiros contatos com as histórias, os livros e os cordéis, típicos da cultura Tabajara que ocupa o litoral cearense, de onde Auritha vem.

Minha avó é minha maior referência e a minha incentivadora de tudo. Ela não sabe ler, não sabe escrever. Ninguém da minha família, dos mais velhos, sabe. Meu avô era vaqueiro improvisador de toadas, que não estão escritas em lugar nenhum, eram coisas ancestrais”, comenta Auritha.

Aos 43 anos, a cordelista começou a escrever muito cedo. Uma das únicas mulheres indígenas na escola que frequentava, Auritha aprendeu a escrever aos 9, quando começou a traçar os rascunhos de “Coração da aldeia, pés no mundo”.

Já adulta, a escritora se mudou para São Paulo para tentar investir e crescer na carreira de cordelista. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de um terço dos quase 900 mil indígenas do país moram em áreas urbanas. Além disso, de acordo com o Grupo de Pesquisa Lesbocídio, o estado de São Paulo concentrou 20% de todas as mortes de lésbicas no Brasil entre 2014 e 2017.

Auritha voltou atualmente a morar em sua região, com as irmãs, que insistiam em participar da entrevista para este podcast, o que rendeu à escritora algumas interrupções e boas risadas durante nossa conversa.

Auritha viaja para dar palestras e fazer apresentações para diversos públicos indígenas e não indígenas, incluindo em universidades. Porém, apesar do prestígio, ela cobra maior reconhecimento e valorização dos saberes tradicionais por parte das instituições de ensino. “Nunca tem dinheiro para pagar uma ajuda de custo. O que a gente repassa pra comunidade é vivenciado, são coisas ancestrais, não são aprendidos em livro nenhum”, comenta.

Auritha gosta de destacar a diferença entre os conceitos que considera de o que é literatura indígena e o que é literatura indigenista. A primeira ela diz ser aquela produzida pelos próprios indígenas, enquanto a segunda é a escrita por terceiros, sejam antropólogos ou pesquisadores, sobre suas visões da cultura indígena.

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