Cajuína é Patrimônio Cultural Brasileiro

"Existirmos: a que será que se destina?
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina/ Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina"

Com esses versos da canção "Cajuína", o cantor e compositor Caetano Veloso divulga e a imortalizou uma das bebidas típicas do Piauí: Cajuína.

Por sua importância, é considerada símbolo da cultura e da cidade de Teresina, capital piauiense, tendo sido recentemente registrada como Patrimônio Cultural Brasileiro pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, um órgão colegiado do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O objetivo é preservar sua identidade local, valorizar o produto e o modo artesanal de produzi-la, além de atrair maior visibilidade para a bebida e estimular o surgimento de políticas destinadas à qualidade do produto.

O consumo da cajuína, que é rica em vitamina C e ferro, é um ato de degustação, geralmente acompanhado de comentários e comparações sobre as qualidades daquela garrafa da bebida, ressaltando sua cor, doçura, cristalinidade, leveza ou densidade, qualidades que derivam tanto do caju escolhido, quanto das técnicas de cada produtor. Essas referências revelam o sentimento de pertencimento do grupo ou família produtora e reforçam os laços entre os membros das redes familiares por onde a cajuína circula.

Apesar de raro no Brasil, o processo de tombamento de práticas ligadas à feitura de alimentos existe e, a passos lentos, vem engrossando o livro de bens imateriais do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) que, no Nordeste, já reconheceu como patrimônio imaterial a atividade das acarajezeiras da Bahia. São essas baianas que garantem a perpetuação da receita tradicional do mais famoso acepipe daquele estado.

Há dois anos, o mesmo Iphan - único órgão, junto à Unesco, a ter autoridade para definir patrimonializações oficiais - incluiu no seu Livro de Registro dos Saberes a produção tradicional e as práticas socioculturais associadas à cajuína no Piauí. Isso significa dizer que quem recebeu o tombamento não foi a bebida pronta, mas, sim, a forma como ela é feita, garantindo que sabor, cor e propriedades nutricionais sejam exatamente as mesmas com o passar do tempo, evitando a descaracterização do produto.


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