Aderaldo Luciano: O Bicho do Mazagão, Rosil Cavalcanti e o Cordel

Rosil Cavalcanti, o compositor e radialista, o Zé Lagoa, foi o criador de uma perene tradição de cocos e rojões. Não alcancei o Forró de Zé Lagoa, seja na Rádio Caturité ou na Borborema, mas ouvi ecos de sua fama no Forró de Seu Vavá pela Rádio Cariri, apresentado por Genival Lacerda, cujo título foi claramente inspirado no seu antecessor. 

Por esse tempo, eu já era fã de Zé Bezerra com seu Bom Dia, Nordeste, com a vinheta criada por João Gonçalves. Mas voltando a Rosil Cavalcanti e, ainda pegando carona nas intervenções de seu centenário no ano passado, lembro de duas novidades da época: o disco de Chico Salles Araujo, Rosil do Brasil, e o livro de Rômulo Nóbrega e José Alves Batista, Para Dançar e Xaxar na Paraíba: ­ Andanças de Rosil Cavalcanti. Homenagens elevadas ao terceiro patamar da excelência.

As canções de Rosil transformaram-se em clássicos na primeira voz de Jackson do Pandeiro e nas demais que se seguiram, entre Alceu e Lenine, Elba e Zé Ramalho, o mesmo Genival Lacerda e Luiz Gonzaga e outros camaradas do alto escalão. Ficava-me obscura a face cordelística do personagem nascido em Macaparana, no Pernambuco, em 1915. Todavia, 101 anos depois alcançou-me, finalmente, a prova física definitiva, dependurada na vitrina da Letra Viva, ali no Largo de São Francisco, ao lado do IFCS, da UFRJ. O Bicho do Mazagão é o exemplar caído dos céus, delicadíssimo devido à idade, publicado em maio de 1964, como diz a capa, mais velho do que eu. Em princípio não acreditei, pensei ser propaganda de algum espertalhão, mas ao manusear e ler, está lá a marca indelével da autoria.

O Bicho do Mazagão, de Rosil Cavalcanti, foi impresso na Gráfica Júlio Costa, em Campina Grande. Patrocinado pelo "Açúcar Puro, Fino e Granulado" Marilúz, da companhia de Artur Freire. Co-patrocinado por Familho, da São Braz, de José Carlos, e pela "Aguardente Que Resolve O Problema" Paturí, de F. Aleixo & Filho, todos de Campina Grande. A narrativa se passa na Serra da Catruzama, avizinhada do Pindurão, no Piauí, divisa com Maranhão. As terras do Major Figal eram uma espécie de paraíso, abandonadas pelo dono. No tempo remoto, sem as comunicações, seus moradores sabiam o mundo formado por vastas e misteriosas matas, cavernas profundas, pedreiras e túneis adornadas de lendas. O cordel de Rosil, em setilhas, é mais uma assinatura magistral do inesquecível artista. Agora, repousa em paz em meu baú do tesouro.

Fonte: Aderald Luciano-professor Doutor em Ciência da Literatura
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