Fazenda Araripe em Exu viverá Novenas de São Joao Batista

Em tempos de forró eletrônico e quadrilhas estilizadas, a melhor tradição junina sobrevive
em um lugarejo escondido do Sertão. A Fazenda Araripe, berço do sanfoneiro Luiz Gonzaga, luta para manter as comemorações em homenagem ao padroeiro São João Batista, nos moldes de antigamente.

Numa festa onde o sagrado mistura-se ao profano, a impressão reinante é de que o tempo não passou,
apesar dos 148 anos decorridos desde que a imagem de "São João do Carneirinho", como é docemente conhecida no lugar, chegou da França, cumprindo uma curiosa promessa.

Por volta de 1850, quando uma epidemia de cólera alastrava-se, assolando as cidades vizinhas, o Barão de Exu e então proprietário da Fazenda Araripe, Gualter Martiniano de Alencar, apavorado pela perspectiva de ver a moléstia dizimar seu povo, fez um apelo a São João Batista: se no seu município ninguém fosse vitimado pelo cólera, ele ergueria um templo ao santo, onde o padroeiro seria cultuado com toda dignidade até a quinta geração da família Alencar.

Coincidência ou não, o fato é que a doença, que liquidou a população de Granito, ao sul de Exu, e boa parte da de Crato, ao norte, "não desceu a serra do Araripe", como costumam dizer os narradores da história. O barão preparou-se, então, para cumprir a promessa.

Em 1867, acompanhada dos três reis magos e de uma artística caixa de música, chega da França a imagem de São João Batista, para ocupar a capela que já estava quase concluída. Talhada em madeira , a estátua de um metro de altura. 

No ano seguinte, começariam oficialmente os festejos juninos no lugar. Mas as novenas ainda seguem o antigo ritual, embora não ecoem mais pelo interior da capela as vozes possantes de Santana Gonzaga, mãe do rei do baião, e de Sinharinha dos Canários, personagem de suas músicas.

Os hinos, entoados por um pequeno coral do lugar, e a ladainha, que conta a trágica história do santo decapitado por ordem do rei Herodes, ainda são os mesmos de 148 anos atrás. Encerrada a novena, tem início o forró, patrocinado cada noite por um membro da família Alencar, tocado e dançado
como antigamente.

Em um local no centro da fazenda, conhecido como "latada", uma sanfona, um triângulo e um pandeiro demonstram, na prática, o que significa "forró de pé-de-serra" para uma platéia que é mestre no assunto. Em cada casa da vila, que não tem mais que 100 habitantes, uma fogueira esquenta a festa isenta de preconceitos.

 "No São João do Araripe, todo mundo é igual: preto e branco, rico e pobre. As diferenças acabam na latada", afirma a professora Neide Carvalho, que desde a infância é uma freqüentadora assídua da festa e está escrevendo suas memórias sobre o assunto.

Durante nove dias, a fazenda sobrevive "na base da chinela". "Creio que o Araripe é o último reduto de São João tradicional na região, apesar de não ser uma festa divulgada", diz Neide Carvalho.

E nem poderia ser diferente. Afinal, com os recursos e escassos nesses tempos de seca, somente uma promessa firmada em um passado longínquo, aliada à veneração dispensada ao padroeiro e ao fato de que ali nasceu e viveu o rei do baião, são capazes de manter acesa a fogueira de São João
do Carneirinho para iluminar a vila durante nove dias por ano.

Fonte: Facebook Fazenda Araripe
Nenhum comentário

← Postagem mais recente Postagem mais antiga → Página inicial

0 comentários:

Postar um comentário