Denise Dummont, a filha única de Humberto Teixeira, O Homem que Engarrafava Nuvens

Exatos trinta anos após a morte do pai, o compositor Humberto Teixeira (1915-1979), a atriz Denise Dummont ("O Beijo da Mulher Aranha", "A Era do Rádio") lançou o filme, o documentário "O Homem que Engarrafava Nuvens", que ela produziu, Lírio Ferreira ("Baile Perfumado") dirigiu.

Assisti naquele mesmo ano o lançamento em São Paulo, isto tornou para mim o filme mais emocionante. Em 2015 outras emoções. Fui prestigiar as festividades dos 100 anos de Humberto Teixeira, lá em Iguatu, Ceará. Conheci ali Denise Dummont. Vi lágrimas e sorrisos da filha do Doutor do Baião.
 

A brasilidade de Humberto Teixeira está impressa em cada cena de "O Homem que Engarrafava Nuvens", que une o passado e o presente do baião e ilustra suas ligações com outros gêneros musicais. Mostra esse Brasil que está vivo.

No filme assistimos cenas raras como a cena do filme "Arroz Amargo"(1949), de Giuseppe de Santis, em que a atriz italiana Silvana Mangano canta "O Baião de Ana" em espanhol.

Na entrevista para o Programa Nas Asas da Asa Branca-Viva Luiz Gonzaga, Denise, conta

que com a produção do filme incluiu um outro desafio, este de ordem pessoal. Foi a sua produção, afinal, que lhe permitiu superar definitivamente algumas mágoas do passado, marcado por uma relação difícil com o pai e o afastamento, imposto por ele, de sua mãe, a atriz Margot Bittencourt.

No filme, Denise tem uma conversa muito franca com a mãe - que morreu em 2007 - em que esclarece definitivamente questões sobre o difícil desquite entre os dois, depois do qual ela foi viver nos EUA com o novo marido, Luiz Jatobá. Advogado, Teixeira não permitiu à mãe levar a filha, que cresceu com ele no Brasil.

Humberto Teixeira assinou cerca de 500 canções, como as famosas "Asa Branca", "Baião", "Juazeiro" e "Assum Preto", Kalu...Humberto Teixeira, o doutor do baião", era advogado e foi criador de uma pioneira lei sobre direito autoral.


O nome O Homem que engarrafava Nuvens retrata o sentimento de Humberto Teixeira...amor pelo Nordeste, Iguatu, Brasil.
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Crato, Cultura, Cego Aderaldo e o livro de Seridião Correia Montenegro

"Quem a paca cara compra
Paca cara pagará Oh! Violeiro do mundo
Dei-me atenção de um segundo
Pra meu lamento profundo
Que hoje decanto o retrato
Um grande vulto do mato
Mato de onde não fujo
Aderaldo Ferreira de Araújo
O Cego Aderaldo do Crato 


Ali nasceu o artista
De ferreiro a maquinista
Que mesmo perdendo a vista
Via com o coração
No pontear de um botão
Era jornal de matuto
Analfabeto e inculto
Orgulho desse meu baião /

 Ao poeta e trovador
Dos repentista, lendário
Da poesia operário
Onde estiver com amor
Do teu admirador
Receba estas rimas vagas
Como uma espécie de "paga"
No seu primeiro centenário"
 

Os versos acima é uma das mais belas interpretações do Rei do Baião, Luiz Gonzaga. A música me veio quando terminei de ler o lIVRO Crato-Princesa do Cariri, Capital da Cultura, Oasis do Sertão, da autoria de Seridião Correia Montenegro.
 

O livro reacendeu minha curiosidade pela vida e obra do Cego Aderaldo, nascido no Crato, o lendário cantador. Uma das mais belas histórias que já ouvi. Remeti a outro livro onde o Cego Aderaldo conta que os seus pés pisaram a poeira de muitos caminhos!

"Tenho comigo as lembranças mais gratas de minhas cantorias, ainda no começo  de minha vida. Percorri todas as serras, alcancei os chapadões, varei a caatinga, entrei no brejo...Por toda parte eu levava a minha voz...Cantei em Baturité, em Canindé...No Crato o meu solo verdejante do Cariri... Que terra boa, maravilhosa! Nunca meus lábios provaram melhor água"!

Lembrei de uma lágrima que chorei quando o ouvi revelar a dor de perder a visão. 

 “Eu ainda era pequeno
    mas me lembro bem
    de ver minha pobre Mãe
    em negra viuvez.
    Meu pai jazia morto
    Estendido em um caixão
    Chorei pela primeira vez!


 E a pobre minha Mãe
    Daquilo estremeceu:
    De uma moléstia forte
    A minha mãe morreu.
    Fiquei coberto de luto
    E tudo se desfez
    E eu chorei então
    Pela segunda vez.


 Então, o Deus da Glória,
    O mais sublime artista,
    Decretou lá do Céu,
    Perdi a minha vista.
    Fiquei na escuridão,
    Ceguei com rapidez
    E eu chorei então
    Pela terceira vez.
    Meus prantos se enxugaram.
    Das lágrimas que corriam
    Chegou-me a poesia
    E eu me consolei.
    Sem pai, sem mãe, sem Vista,
    Meus olhos se apagaram;
    Tristonhos se fecharam
    E eu nunca mais chorei".


No livro, o escrito Seridão Correia Montenegro, proporciona outras viagens culturais. Revela que através das pesquisas descobriu ser descendente de famílias do Crato e faz um autêntico invenário cultural da região dissertando sobre pessoas, prédios, sítios e monumentos históricos, uma miscigenação cultural valiosa.
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"Seu Ademar" uma vida de paixão e dedicação ao Rádio

Um Café, boa prosa e a preocupação com o futuro do Rádio. Sim Rádio com R maiusculo

Apesar de sua reconhecida importância no Brasil, o Rádio tem sido objeto de poucas publicações. Nem mesmo a expansão dos cursos de graduação e a consolidação dos mestrados e doutorados modificaram de forma signicativa essa situação.
Em Petrolina, Pernambuco Ademar Mariano de Freitas, 75 anos, é merecedor de um capítulo a parte no quesito valorizar a história do Rádio e contribuir com o conhecimento das novas gerações.

"Seu Ademar" mostra, orgulhoso, o fruto de seu trabalho. Após o conserto, os rádios antigos e os toca-discos funcionam perfeitamente e dão um tom histórico a todos que visitam a sua casa.

Ele faz questão de contar a história de cada exemplar e como o Rádio ressurgiu em suas mãos. Segundo ele, o mais antigo é da década de 1940. "O mais antigo eu creio que é da Philips holandês valvulado. Na época, a Holanda já tinha FM. Eles usavam uma frequência um pouquinho diferente da nossa atual, eles tinham FM, AM e ondas curtas. O valvulado portátil é muito difícil de encontrar”, explica.

Há exemplares também da década de 1950, 1960, 1970 e 1990. São rádios de mesa, de carro, de cabeceira, amplificadores e até toca-discos. Entre as peças mais interessantes está um Rádio de 1950. Na coleção é possível encontrar Rádios como o ABC A Voz de Ouro, Transglobe-9 faixas, Semp,  Caravelle, Motoradio, Philco 8 faixas.

O Rádio ainda hoje é companheiro não apenas daqueles que gostam de boa música, mas também dos fãs de futebol. A mania de andar com um pequeno radinho no estádio de futebol fez surgir um rádio bem compacto na década de 1960. Seu Ademar tem versões dos famosos "radinhos de bolso".

A mágica do Rádio tocou Seu Ademar ainda menino e ele relembra o quanto era boa a vida no campo ao som dos passarinhos e do locutor de rádio, trazendo as melhores notícias do dia ou as músicas sertanejas do momento. Como esse tempo não volta mais, ele preserva e resgata o que ainda restou do tempo áureo do rádio no Brasil.

São mais de 60 aparelhos e cada um deles recebe depoimentos memorialísticos sobre ano, origem e o nome dos principais programas das emissoras de rádio. A casa de "Seu Ademar", sem exagero, podemos informar: é um Museu, Centro de Cultura Memória do Rádio...

Os Rádios estão espalhados na casa de "Seu Ademar". Na sala, na cozinha e até no quarto. "Já o conheci com Rádio. Casamos e hoje cada filho ganhou um desses rádios bem antigos para perpetuar o amor, a paixão pelo Rádio", revela Maria de Lurdes Lima Freitas, sorriso largo e amigável  ressalta que um dos programas mais apreciados são os da Madrugada da Globo, Rio de Janeiro, e os transmitidos na Rádio Nacional. São mais 50 anos casados. Uma sintonia perfeita de felicidade e muita comunicação".

Muito organizado "Seu Ademar" possui até uma oficina para restaurar", consertar os rádios quando necessário. Ele mesmo enfrenta a empreitada. Detalhe: todos os rádios estão funcionando perfeitamente.

"Seu Ademar" possui pelo Rádio um sentimento de companheiro e amigo. Estabele com os receptores uma oportunidade, vários presentes permanentes de recriar o ambiente mágico, imagético, cumplicidade e também demonstra carinho, fidelidade e agradecimento pelo maior veículo de comunicação, o Rádio.
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Dona Nilza, nascida no Crato, Ceará, mulher marcada pelo bom combate

O caminho que liga Exu ao Crato é a via das escolhas, das encruzilhadas. As paisagens agem e ardem em eco. Quais mãos trabalharam na confecção desse origami? A planície sem fim...E nesta estrada lembrei de uma mulher que conheci no Crato: Nilza. O sobrenome deve ser Silva ou Santos. Não perguntei!

A história de Dona Nilza ganha uma atmosfera dos escritos de Ariano Suassuna: uma atmosfera de amor e violência comparável à das elisabetanas, que une os elementos sangue e  família, nas exatas medidas dramáticas.

Nilza chora a perda do filho morto. Do filho de Dona Nilza bem sei que não louvarão o nome, não comungarão a passagem dele pela terra, não saberão das dores de um filho adulto que não soube em vida, amar a mãe e agradecer o leite que o alimentou nas horas de fome e sonhos, esperança maior de uma mãe.

Nilza ri, chora e bebe! A cachaça é uma forma de dizer do amor a vida que segue...Vida malvada, amarga cachaça! Amarga vida! Vida que mente amargamente!

Logo ela, Nilza, uma mulher marcada numa vida de bom combate para sobreviver, cozinheira que um dia criança teve brinquedos no acalanto do sol, da lua e das estrelas para brincadeiras que não se quebravam quando menina sonhando ser Feliz...

Em Nilza, o que não se quebra (e Deus o livre disto), é uma base espiritual, amizade, fé e compreensão de um coração e alma boa, mesa farta, bom café, boa prosa, as palavras sinceras e assertivas da professora Antonia. Antonia mais que mãe. Mais que irmã. Defensora e conhecedora da dor e da profundidade escondidas nos nuances da alma: as mesmas lágrimas choradas por "Nossa Senhora" pela morte de Jesus Cristo, também chorou a mãe de Judas. A dor é a mesma por quem amamos...

Professora Antonia vidente das horas que virão é a rota caminho de Nilza: Somente os tolos tentam consolar. Eles não sabem que as palavras de consolo são ofensas à dor da pessoa. Antonia não perturba a dor de dona Nilza...e por isto Dona Nilza sorrir e cozinha e caminha...e até voa...

E me restou aos pés da Estátua de Nossa Senhora de Fátima localizada no Crato na visão lá do Juazeiro do Norte, balbuciar uma prece em forma de música:
"Meu caro Cariri, encarecidamente
Venho à tua frente assim de corpo e alma
Venho pedir como pede um romeiro
Que chega em Juazeiro do Padrinho Cícero Romão
Pra longe daqui não deixar seu poeta
Sem ver a linha reta do horizonte dos canaviais"...

Nossa Senhora de Fátima Abençoe Nilza, sua cachaça, sua Fé e tenha compaixão de uma mãe que chora. Dona Nilza escuta a professora Antonia: Não há consolo. "Uma mãe nunca esquece um filho ausente".
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Saudade do tempo que joguei futebol e o drible era poesia, o passe prosa, o chute era êxtase e o gol, delírio pleno.

Minha imaginação viaja pelos campos da minha fantasia. Muitos pensam que só gosto de forró e baião! Tenho uma outra paixão: Futebol. Sou torcedor do Treze de Campina Grande lá da Paraíba.

Fui leitor do jornalista Armando Nogueira, que escrevia a coluna na Grande Área. Com ele li uma vez que O preparador físico Toninho Oliveira, do Flamengo, fez um teste na fase de pré-temporada: media o batimento cardíaco dos jogadores, sempre que tocavam na bola. O resultado mostrou que apenas um não ficava abalado: Romário. Com o craque, a coisa é diferente.

Um dos sonhos que me agitam nas horas de descanso é vibrando na hora do gol. Sim joguei futebol e gostava mesmo era de colocar o parceiro na marca do gol. Tipico meio de campo!  Um drible e um passe genial, sem modestia, garantia minha vaga no time do amigo João João José Oliveira, hoje um craque no jornalismo, trabalhou na Inglaterra e traz no curriculo uma cobertura da Copa Mundial de Futebol. 

Armando Nogueira em dado momento, já nos anos 90, chegou a escrever alertando pela sorte do futebol, tal a degradação a que a estupidez humana estava arrastando os valores do jogo mais apaixonante do mundo.

A falta de ética que afeta a vida pública brasileira invadiu os estádios, subvertendo todos os códigos de conduta dentro e fora do campo. Em vez do drible, um pontapé; em vez de um passe, um cachação. É a lei da selva escancarando a pusilanimidade dos responsáveis que não  punem com expulsão, a rasteira, o pontapé traiçoeiro e outros golpes desleais que ferem fundo a essência do futebol.
 
Contou Armando Nogueira que dias amargos, certa vez, mum tremendo acesso de melancolia: "Que diabo, eu venho de outras eras. Sou dos tempos em que o futebol brasileiro sabia refinar sua técnica, elevando-a às culminâncias da arte: o drible era poesia, o passe era prosa, o chute era êxtase e o gol, delírio pleno.

Sitiado de tristeza, eu me perguntava sem eco: terá sido em vão aquele drible à direita que Garrincha inventou e que nos deu de mão beijada como herança maior?

E a “folha seca” com a qual mestre Didi decretou o outono de tantos goleiros pelos campos afora? E o milagre de Pelé, cujos gols – como eu já disse – eram tramados na véspera, pois, matreiro como ninguém, ele trazia de casa as traves e a bola do jogo...

Belas tardes em que a bola solar de Gérson, Tostão e Rivelino espalhava contentamento pelos campos mexicanos no mundial de 70. Eu tinha orgulho de chorar em público as lágrimas de alegria que não eram só minhas porque de todos nós, irmãos gêmeos de Carlos Alberto, de Jairzinho e Clodoaldo. Até hoje, eles dão a volta olímpica no Azteca da minha infinita saudade.

Bem-vindo sejas, doce Nenem Prancha, tu que me ensinaste a decifrar os mistérios da linha de fundo, fosse nos pés de Tesourinha, fosse nos pés de Garrincha ou de Julinho: tu que me mostraste, pela primeira vez, onde luzia o talento de Heleno de Freitas e a chispa certeira de Ademir Menezes. Tu que tanto louvavas com olhar reverente a majestade de Nilton Santos".

Tá explicado: minha saudade é que o gol um dia na minha vida foi arte, poesia, o passe prosa, o chute magia e o gol delírio pleno...tá explicado!

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Luiz Gonzaga aprendeu que para concretizar os sonhos era preciso primeiro aprender a caminhar, correr, dançar e voar

"Quem deseja aprender a voar, deve primeiro aprender a caminhar, a correr, a escalar e a dançar. Não se aprende a voar voando". Não sei o porquê mas pensei nesta frase para argumentar o pioneirismo de Luiz Gonzaga e seus parceiros musicais em defesa do meio ambiente, numa época que não se defendia a ecologia.

Agora o Rei do Baião, Luiz Gonzaga ganha o título maior no Ensino Superior. A Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) concedeu ao cantor e compositor Luiz Gonzaga o título de Doutor Honoris Causa (in memoriam), maior honraria das instituições de ensino.

Este título, nestes tempos de inversões dos valores educacionais e culturais, onde prolifera nos meios de comunicação péssima educação, gritaria, letras que incentivam desunião, invejas,  falta de amor; o título traz a oportunidade de valorizar o aprendizado e vontade própria de ser vencedor de um cidadão que não nasceu em berço de ouro e venceu todo tipo de preconceito.

Todo brasileiro sabe da condição de semi analfabeto de Luiz Gonzaga, mas cidadão que sempre sonhou em aprender e propagar o quanto é importante estudar na vida e ter um diploma universitário. O título concedido pela UFRPE é merecido e simboliza a valorização da leitura e do aprendizado. Luiz Gonzaga teve a coragem de sonhar quando tudo era proibido!

A ideia de conceder o título a Luiz Gonzaga veio do professor e pesquisador da UFRPE Severino Mendes Júnior. Ele argumento que Luiz Gonzaga foi um autêntico defensor do meio ambiente. O professor afirmou durante entrevista que pela afinidade das letras de Gonzaga com os estudos da UFRPE ele merecia o título máximo de Doutor Honoris Causa.

A proposta foi formalizada e aprovada, por meio da Resolução nº 158/2012, pelo Conselho Universitário da UFRPE. Na justificativa, a reitora da UFRPE e presidente do Conselho, Maria José de Sena, afirma que o cantor e compositor é um “autêntico representante da cultura nordestina, cujas canções envolvem ecologia e meio ambiente, enaltecendo a fauna da caatinga e referenciando a conservação da natureza”.

O Título de Doutor Honoris Causa é concedido a personalidades que tenham se distinguido pela sabedoria ou pela atuação frente a artes, ciências, filosofia, letras ou das relações com a sociedade. O título de doutor universitário proporciona a Luiz Gonzaga o mote de nós todos cantar e incentivar nossos jovens a estudarem e buscar o diploma que vai garantir liberdade. A educação é a única forma de libertação.

Afinal, o estudo de Luiz Gonzaga foi sua sanfona. E os josés, severinas e João, Antonio que não sabem tocar sanfona para ganhar o pão de cada dia?
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Raimundo Aniceto, tocador da Banda Cabaçal do Crato tá doente, tá sem tocar, sem dançar, sem pular, tá sem alegria

Numa conversa com o amigo escritor, professor Aderaldo Luciano, ouvi a promessa que será colocado em um poema certeza que Deus era um tocador de pife e foi soprando nele, num pife feito de taboca, que deu vida ao Homem com seu sopro fiel. 

Nesta madrugada não me saiu da "cabeça" o sentimento da falta de respeito que é tratado nossos mestres da Cultura. 

A Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto do Crato, Ceará tem no tempo uma vereda de espinho e esperança, brilho das estrelas que não mudam de lugar, a peleja entre a fome e a fartura. Este ano a Banda completa 201 anos de Fundação.

Em 2015 a Banda perdeu o mais antigo dos integrantes, Antonio Aniceto, o responsável por abrir o caminho para os mais novos. A

Banda já está na terceira geração, com os filhos de Adriano, Cícero e Jeová, filhos de Antônio e João, netos de José Aniceto e ousam em desafiar a "industria capitalista avassaladora". Valorizam a história e a tradição. 

Mais uma fez a dor qual espinho massacrando a pele, a ferir os sentimentos mais nobres traz uma situação de desconforto: Seu Raimundo Aniceto, 86 anos sofreu um AVC, perdeu a voz. O braço está paralisado, já não toca! Por telefone a filha de Raimundo, a Socorro Aniceto conta com voz baixinha: a situação carece de muita preocupação.

Raimundo Aniceto é Mestre da Cultura, oficialmente reconhecido pelo Governo do Estado do Ceará. É Patrimônio da Cultura mais Brasileira.

A história conta que tudo começou com o índio kariri José Lourenço da Silva, que com suas cabaças resolveu criar um grupo musical surgida em 1815. Toda a família se envolveu no trabalho, e a tradição foi passada por três gerações.

Os irmãos Aniceto lançaram três discos: o primeiro em 1978, patrocinado pelo Ministério da Educação e Cultura; o segundo em 1999, produzido pela Cariri Discos em parceria com a Equatorial Produções; e o último em 2004, intitulado “Forró no Cariri”. Também lançaram um DVD, gravado em 2008, no Theatro José de Alencar, registrando a histórica apresentação da Banda Cabaçal em conjunto com a Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho.

O nome da banda vem do tempo de José Lourenço, o Aniceto. Na época, a zabumba era feita da cabaça da roça. A terra natal dos Irmãos Aniceto é o Crato, mas a cultura da família já é conhecida em todo o Brasil e até na Europa. O grupo resiste...

A professora Elídia Clara Aguiar Veríssimo, da Universidade Estadual do Ceará (Uece), que em 2002 defendeu tese de mestrado sobre o som produzido pelo quinteto explica que os componentes da Banda se diferenciam das demais bandas cabaçais do Cariri pela temática de suas músicas. Usam os sons e o comportamento observado na natureza.

"Aí nascem os baiões e forrós que ninguém mais produz, trazendo o cotidiano da roça para o palco”, avaliou Elídia. Também fazem parte do repertório situações vividas por alguns integrantes. É o caso da música da Luta do Severino Brabo. Mestre Raimundo contou que esse personagem realmente existiu e fez parte de sua infância. O tal homem assustava a todos andando com dois facões na cintura e tentando arrumar briga por onde passava.

“Eu ficava olhando, aprendi alguns movimentos com ele e coloquei isso na banda”. Nesse caso, impressiona o som emitido pelas facas que acompanham a música.

Seu Raimundo era o responsável pela coreografia, ele dançava, pulava e arriscava até um salto mortal na apresentação. Na foto ele está com o então ministro da Cultura, Gilberto Gil.


Apesar da solidão e olhar triste Seu Raimundo em nome da Banda Cabaçal Irmãos Anicetos já recebeu a Honra do Mérito Cultural, concedido pelos relevantes serviços prestados a cultura.

A pesquisa de Elídia também mostra que, apesar de não possuírem formação acadêmica em música, os Aniceto têm ouvido para sons que músicos profissionais não têm. O mesmo ocorre com a habilidade em tocar seus instrumentos musicais.

Por tudo isto nesta madrugada eu penso com mais Fé: Deus dai-me forças e tende compaixão de nós neste vale de lágrimas! Não deixe o som do Pife parar!



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