Recebi texto do amigo paraibano, morador universal, professor, doutor em ciência da literatura. Transcrevo:
"Durante todo o tempo em que me entendo por gente vi surgir e consolidar-se dentro de mim o amor e o respeito pelo rádio. Ainda criança, meu irmão Cacuruta presenteou-me com um rádio Semp à válvula. Curioso menino da Rua do Bode retirei a caixa e vislumbrei aquele coração cheio de elementos que me pareciam uma usina com suas torres e luzes. Apagando as lâmpadas e ficando no escuro aquilo resplandecia e tomava conta de toda minha imaginação. Tornei-me notívago, navegando no dial, buscando emissores de longe, locutores que me falariam de cidades e acontecimentos que eu planejava vivenciar.
Durante o dia me via rodeado pelas rádios locais, pelas ondas que vinham de Campina Grande e suas três rádios AM: Caturité, Cariri e Borborema. Nomes fortes, direto de nossas raízes. O tempo e os homens insanos mudaram os nomes das rádios Cariri e Borborema que, em um período de tempo, aquela chamou-se Rádio Sociedade, e esta, hoje, Rádio Clube. A loucura dos homens se traduz nesses assaltos. Foi na programação das rádios campinenses que aprendi a viver a brasilidade. Retalhos do Sertão, Bom dia Nordeste (com Zé Bezerra) cuja abertura era um jingle sensacional de João Gonçalves, o Rei da Cacofonia, as Sentinelas RB, os Filmes do Dia e Jogo Duro com Humberto de Campos (figura imponente do time Estudantes), esses todos na Borborema.
Na Cariri encontrei ao meio-dia Genival Lacerda com o forró de Seu Vavá. Encontrei também a estreia de Capilé que era a grande promessa artística da terra, cantando ao vivo, violão certo, voz correta e boa comunicação. A Caturité pela manhã trazia Antonio Cardoso Show, aquele que organizava caravanas de cantores para os bailes nas redondezas. Depois dos programas esportivos vinha o Postal Sonoro com belas "páginas musicais". Foi nesse programa que escutei pela primeira vez dobrados militares da Banda do 14º R.I. Mas entendi o gosto musical de nosso povo com extensa programação com Carlos Alexandre, José Ribeiro, Evaldo Braga, Elino Julião, Genival Santos.
Vi nascer as rádios de Guarabira: Cultura e Rural. A Cultura quando surgiu trazia em sua fase experimental uma trilha sonora cheia de novidades. Também testemunhei em Bananeiras a Rádio Integração do Brejo. Todavia na adolescência passei a acompanhar a programação das rádios do Recife: Rádio Clube, Jornal do Comércio, Tamandaré, Olinda e Rádio Globo. Algumas vezes entrava a Rádio Capibaribe (Jovem Cap). Nesse tempo passei a sonhar com a possibilidade de ir morar na capital pernambucana, a matriz cultural do frevo, maracatu e ciranda. Acordava cedinho para ouvir Elias Lourenço. A Tamandaré trazia uma programação mais pop e um som aproximado ao som das FMs.
Paralelamente a essas escutas, ia descobrindo as emissoras de ondas curtas internacionais que transmitiam em português. Assim entrava pelo meu ouvido a Voz da América (EUA), a Paz e Progresso (Russa), a Rádio China Internacional, a Rádio Netherland (Holanda), a Deutsch Welle (Alemanha), a Rádio França Internacional, a rádio da Albania (direto de Tirana) e a BBC. As ondas curtas eram um grande oceano de novidades sonoras. A Voz dos Andes me falava de irmãos americanos falando espanhol. Agora, a noite era o grande passeio pela faixa AM quando acompanhava as rádios do Rio de Janeiro e em especial a Rádio Globo. E como a Globo tinha uma programação sem retoques. A partir das 23 horas era uma viagem com o Panorama Esportivo, O Seu Redator Chefe e Adelzom Alves.
A Rádio Sociedade da Bahia, a Rádio Capital de São Paulo, a Rádio Tupi do Rio foram minhas companheiras durante as noites longas e frias de Areia, Paraíba. Aí, um dia, me vi do lado de dentro na Rádio Serrana de Araruna com os amigos Ney Vital Guedes, Pedro Freire e Ednaldo da Silva. Era um programa semanal chamado Suíte Nordestina. Ficamos um bom tempo no ar. Depois aportei na Rádio Cidade de Esperança. Ainda na Rádio Serrana de Ararura criei, junto com o saudosíssimo José Avelino, o programa Noite de Lua, um programa de saudade. Avelino nos ensinou muito sobre a música brasileira.
Para minha alegria, hoje estou na Rádio Globo do Rio, em um pequeno quadro semanal no programa Sa-ba-da-ba-dooo, com Mário Esteves, todos os sábados entre 5 e 9 horas da manhã. O nosso Cordel de Notícias também vai ao ar na Rádio Globo de São Paulo, ainda aos sábados com Rony Magrini, entre 6 e 9 da manhã. O rádio está vivo, a faixa AM está viva, querem matá-la no Brasil, mas ela ainda representa uma enorme atividade pelo interior dos Brasis. Amo o rádio, Sinto-me parte dele, Sou um guardião, embora tanta coisa ruim aconteça aos seus microfones. Mas uma coisa é o Rádio, a outra, seus donos e vozes".
Durante o dia me via rodeado pelas rádios locais, pelas ondas que vinham de Campina Grande e suas três rádios AM: Caturité, Cariri e Borborema. Nomes fortes, direto de nossas raízes. O tempo e os homens insanos mudaram os nomes das rádios Cariri e Borborema que, em um período de tempo, aquela chamou-se Rádio Sociedade, e esta, hoje, Rádio Clube. A loucura dos homens se traduz nesses assaltos. Foi na programação das rádios campinenses que aprendi a viver a brasilidade. Retalhos do Sertão, Bom dia Nordeste (com Zé Bezerra) cuja abertura era um jingle sensacional de João Gonçalves, o Rei da Cacofonia, as Sentinelas RB, os Filmes do Dia e Jogo Duro com Humberto de Campos (figura imponente do time Estudantes), esses todos na Borborema.
Na Cariri encontrei ao meio-dia Genival Lacerda com o forró de Seu Vavá. Encontrei também a estreia de Capilé que era a grande promessa artística da terra, cantando ao vivo, violão certo, voz correta e boa comunicação. A Caturité pela manhã trazia Antonio Cardoso Show, aquele que organizava caravanas de cantores para os bailes nas redondezas. Depois dos programas esportivos vinha o Postal Sonoro com belas "páginas musicais". Foi nesse programa que escutei pela primeira vez dobrados militares da Banda do 14º R.I. Mas entendi o gosto musical de nosso povo com extensa programação com Carlos Alexandre, José Ribeiro, Evaldo Braga, Elino Julião, Genival Santos.
Vi nascer as rádios de Guarabira: Cultura e Rural. A Cultura quando surgiu trazia em sua fase experimental uma trilha sonora cheia de novidades. Também testemunhei em Bananeiras a Rádio Integração do Brejo. Todavia na adolescência passei a acompanhar a programação das rádios do Recife: Rádio Clube, Jornal do Comércio, Tamandaré, Olinda e Rádio Globo. Algumas vezes entrava a Rádio Capibaribe (Jovem Cap). Nesse tempo passei a sonhar com a possibilidade de ir morar na capital pernambucana, a matriz cultural do frevo, maracatu e ciranda. Acordava cedinho para ouvir Elias Lourenço. A Tamandaré trazia uma programação mais pop e um som aproximado ao som das FMs.
Paralelamente a essas escutas, ia descobrindo as emissoras de ondas curtas internacionais que transmitiam em português. Assim entrava pelo meu ouvido a Voz da América (EUA), a Paz e Progresso (Russa), a Rádio China Internacional, a Rádio Netherland (Holanda), a Deutsch Welle (Alemanha), a Rádio França Internacional, a rádio da Albania (direto de Tirana) e a BBC. As ondas curtas eram um grande oceano de novidades sonoras. A Voz dos Andes me falava de irmãos americanos falando espanhol. Agora, a noite era o grande passeio pela faixa AM quando acompanhava as rádios do Rio de Janeiro e em especial a Rádio Globo. E como a Globo tinha uma programação sem retoques. A partir das 23 horas era uma viagem com o Panorama Esportivo, O Seu Redator Chefe e Adelzom Alves.
A Rádio Sociedade da Bahia, a Rádio Capital de São Paulo, a Rádio Tupi do Rio foram minhas companheiras durante as noites longas e frias de Areia, Paraíba. Aí, um dia, me vi do lado de dentro na Rádio Serrana de Araruna com os amigos Ney Vital Guedes, Pedro Freire e Ednaldo da Silva. Era um programa semanal chamado Suíte Nordestina. Ficamos um bom tempo no ar. Depois aportei na Rádio Cidade de Esperança. Ainda na Rádio Serrana de Ararura criei, junto com o saudosíssimo José Avelino, o programa Noite de Lua, um programa de saudade. Avelino nos ensinou muito sobre a música brasileira.
Para minha alegria, hoje estou na Rádio Globo do Rio, em um pequeno quadro semanal no programa Sa-ba-da-ba-dooo, com Mário Esteves, todos os sábados entre 5 e 9 horas da manhã. O nosso Cordel de Notícias também vai ao ar na Rádio Globo de São Paulo, ainda aos sábados com Rony Magrini, entre 6 e 9 da manhã. O rádio está vivo, a faixa AM está viva, querem matá-la no Brasil, mas ela ainda representa uma enorme atividade pelo interior dos Brasis. Amo o rádio, Sinto-me parte dele, Sou um guardião, embora tanta coisa ruim aconteça aos seus microfones. Mas uma coisa é o Rádio, a outra, seus donos e vozes".
Fonte: Aderaldo Luciano-professor. Pós-doutorando.