CÂNDIDA BEATRIZ LIMA: CARTA ABERTA AOS PROFESSORES E ALUNOS

De acordo com o artigo 205 da Constituição Federal do Brasil, a educação é um direito de todos e dever do Estado. Portanto, está constitucionalizado que, todos, sem exceção devem ter acesso à educação de qualidade. Contudo, emboraconstitucional, essa nossa realidade nos foi castrada por muito tempo e por muitas vezes, reflexo de políticas, diferenças raciais, de classe social, dentre tantas outras diferenças impregnadas em nossa sociedade que fizeram frente impedirem o acesso à educação de direito a todos Apesar de todos os incansáveis esforços dos meus pais, para que eu pudesse estudar, até o ano de 2003, eu fiz parte de uma dessas classe que não tinham acesso à educação de qualidade.

 Nascida no interior da Bahia, onde o coronelismo imperava por anos, a única coisa que se preocupavam os políticos da época (que não mudou muita coisa) era perseguir quem tentasse ser opor ao pensamento deles, e pagar os salários em dias dos funcionários indicados da Prefeitura Municipal, eu saí de casa aos 13 anos de idade, para tentar estudar em uma lugar que pudesse me proporcionar uma melhor educação. Era assim que os meus pais me ensinavam, era assim acreditavam, na EDUCAÇÃO.

Muito jovem, cheia de sonhos e com uma certeza, eu iria estudar e iria dá muitoorgulho para minha família. Em 2004, eu ingressei na Universidade Estadual do Piauí, no curso de Engenharia Agronômica, encontrei uma universidade sucateada, sem laboratórios, biblioteca com livros antigos, defasados, carteiras quebradas, professores sem perspectivas, reflexo de políticas públicas e educacionais inexistentes. Ao passar de um ano, o cenário era outro, as coisas mudavam, novos professores, a biblioteca ganhava uma nova estrutura, já se falavam em construir um prédio próprio com laboratórios, aquele prédio antigo, com paredes sujas, ganhava uma nova visão. 

A universidade vizinha, UFPI – Universidade Federal do Piauí, ganhava novos cursos, eram outras oportunidades, a nossa visão era a ESPERANÇA!

Com dois anos de universidade, professores com mestrado e cursando doutorado começaram a chegar e fazer parte de um colegiado de concursados efetivos, os sonhos cresciam para eles e para gente também, e eu, uma matuta sonhadora, flutuava nas nuvens com um sonho quase intangível, fazer doutorado fora do país, parecia louco esse sonho, me lembro como hoje, dos meus amigos rindo de mim, e me dizendo que aquilo era impossível, mas eu, repetia aquilo todos os dias, e levava em mim e nos meus pensamentos os meus professores como exemplo, e lembrava de todas as lutas dos meus pais para me manterem ali. Em quatro anos e meio eu me formei em Engenheira Agrônoma, era tudo muito diferente de quando eu iniciei a faculdade, nós tínhamos para onde ir, o que fazer, tinha trabalho, tinha pesquisa, nós tínhamos oportunidades, e eu? Eu abracei todas que surgiram.

Trabalhei em prefeituras, fui bolsista na Embrapa, e em 2013, eu abracei o início daquele sonho de 2006. Comecei em março de 2013, na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia a cursar o mestrado em ciências Agrárias, dois anos depois eu embarcava para Manchester – Reino Unido para fazer o doutorado sanduiche, um ano e três meses de experiências fantásticas, vivendo uma cultura, uma educação, vivendo e aprendendo muito. 2017, realmente o sonho se realizou! Doutora Cândida!

Minha trajetória foi marcada por muita luta, muitas dificuldades, muitas privações, como a de todos que se permitem ir em busca dos seus sonhos, sim, e eu me esforcei muito, muito mesmo, mas, nenhum esforço meu, teria resultado na 1ª doutora da Família Lima, porque, nenhum esforço dos meus pais, por mais vontade, anseio, trabalho que eles pudessem fazer, conseguiriam arcar financeiramente com todas as despesas que é viver em outro país, nenhum esforço meu, ou dos meus familiares me permitiriam ter realizado uma pesquisa de tamanha importância para o Brasil e para o mundo sobre o comportamento das abelhas e seu impacto sob a produção de alimentos e interferência no aquecimento global. Tudo que eu vivi, toda a minha construção acadêmica, tudo que me foi permitido até realizar esse sonho de ser doutora com estudo em outro pais, foi exatamente, porque na minha época eu tive a sorte a felicidade de ter políticas públicas educacionais, com bolsas de estudos, financiamento de projetos de pesquisas, parcerias entre instituições de ensino superior, todos eles oportunizados pelo governo Lula e Dilma.

Sim, foi o Lula que oportunizou a mim e a tantos outros ex estudantes, hoje doutores, a conseguirem realizar sonhos como o meu.

Não precisou muito para que esses sonhos de tantos, fossem castrados, Após pessoas como eu e como tantos, de classes sociais menos favorecidas conseguirem o que anteriormente só era permitido a classe A, nos foi tirado o direito constitucionalizado, e as bolsas de estudos, os investimentos à pesquisa, as parcerias entre universidades brasileiras e de outros países foram sendo cancelas, até que não fosse mais possível ter acesso à educação com a mesma facilidade que tínhamos entre os anos de 2003 à 2016.

Se você não assistiu, não viu, ou ouviu, eu sim, eu vi muitos, muitos, muitos colegas e estudantes precisando comprar com dinheiro do próprio bolso, reagente, luvas, vidrarias e esterilizar ponteiras para conseguirem terminar a graduação, sem perspectivas de sonharem com o mestrado, doutorado, ou com o primeiro emprego.

Após 2016, os cortes na educação começaram a crescer, em um ano, cerca 6 bilhões a menos na educação, em 2019, mais de 12 mil bolsas canceladas pela CAPES, maior fomentadora de pesquisa do país, mais de 2.5 bilhões de reais bloqueados que deveriam ser investidos na ciência.

Bem, eu não sei se o seu sonho é parecido com o meu, mas, eu tenho certeza que você tem um sonho, seja fazer uma graduação, montar sua empresa, passar em

um concurso, conhecer um outro país através do estudo, ou de passeios, e eu também tenho certeza, que você alcançará isso se você se esforçar assim como eu, contudo, de nada valerá o seu esforço, se os cortes na educação e na ciência permanecerem.

Eu espero que após ler essa carta, você tenha consciência de tudo e de tantos que perderam e poderão perder a oportunidade de construir, de aprender, de viver e de realizar sonhos assim como eu pude fazer, quando o governo Lula junto com o meu esforço me possibilitou estar aqui hoje, estudante, professora, palestrante, servidora pública e doutora!

“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.” Paulo Freire

Juazeiro, BA, 28 de outubro de 2022

Cândida Beatriz Lima, engenheira agrônoma, mestre e doutora em ciências agrárias – UFRB – University Salford, professora universitária e defensora da educação. 

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CONSTRUÇÃO DE VIVEIROS DE PLANTAS NATIVAS AJUDAM NA RECUPERAÇÃO DOS BIOMAS DA BACIA DO SÃO FRANCISCO

“A floresta em pé é mais interessante, importante, econômica e eficaz”, afirma o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Maciel Oliveira. Por isso, com os recursos oriundos da cobrança pelo uso da água bruta da bacia do São Francisco, o CBHSF vem investindo sistematicamente em obras que visam a preservação e recuperação das margens do rio e da sua vegetação nativa.

As futuras e atuais gerações já dependem diretamente do que se faz hoje para garantir a melhoria da quantidade e qualidade de água ofertada na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Entendendo a situação urgente, o CBHSF investe também na construção de viveiros de plantas nativas para garantir que as populações possam se qualificar e produzir em grande escala espécies de cada região que auxiliem para o reflorestamento da mata ciliar.

Ao longo dos anos, o CBHSF já implantou esses espaços em cidades como Lapão, no médio São Francisco, Patos de Minas, no Alto São Francisco, Santana do Ipanema e Piaçabuçu, no Baixo, e Jaguarari, no Submédio – os dois últimos seguem em fase de conclusão. Em todas as cidades o projeto serve para o plantio de mudas nativas e frutíferas que auxiliam ações ambientais ao longo do leito do rio e ainda podem gerar renda para centenas de famílias que fazem também o beneficiamento dos frutos.

Em Lapão (BA), o projeto “Produzindo mudas para a recomposição da Caatinga” instalado dentro da estrutura do Parque da Cidade, pretende diversificar a produção agrícola da região e incentivar a fruticultura. O novo viveiro oferta à população mudas de espécies nativas para a recomposição da Caatinga, estimulando o reflorestamento em áreas degradadas, especialmente em morros e encostas, ajudando a mudar o processo de desertificação no Território de Irecê, um dos mais atingidos pelo desmatamento no Estado da Bahia.

Em Santana do Ipanema, o viveiro florestal de produção de mudas é irrigado com sistema de reuso da água tratada na Estação de Tratamento de Efluentes (ETE). Já no município mineiro de Patos de Minas, uma parceria entre o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), a Agência Peixe Vivo, o Instituto Estadual de Florestas (IEF), responsável pelo viveiro, e a Prefeitura de Patos de Minas garantiu espaço e capacidade para triplicar a produção de mudas destinadas à recuperação do Velho Chico, passando de 200 mil mudas/ano para 700 mil. O viveiro que produz cerca de 500 espécies do Cerrado foi reformado em uma ação financiada pelo CBHSF para atender matas ciliares, nascentes, áreas degradadas, recarga hídrica e programas de educação ambiental para as comunidades rurais.

“É preciso pensar em continuidade de forma a garantir a importância dos viveiros. Acredito muito no sucesso desses locais a partir dos cuidados dados por comunidades tradicionais que vestem a camisa quando se fala em preservação do meio ambiente. Então esses espaços são vitais tanto para a geração de renda como também para se pensar no futuro, entendendo que o avanço do desmatamento e do setor imobiliário é grande, o que por vezes acaba com as plantas nativas. Por isso, acredito muito que além de criar os viveiros é tão fundamental quanto, o cuidado deles, ou seja quem vai ficar responsável pela governança. Com isso, entendo como primordial a participação e o empoderamento das comunidades tradicionais que entendem e vivem todos os conceitos de preservação”, afirmou o ambientalista, especialista em Desenvolvimento Sustentável do Semiárido Brasileiro, Jorge Izidro.

Na cidade de Piaçabuçu, em Alagoas, onde funciona a Associação Aroeira, o Projeto de Educação Ambiental e Reflorestamento Bosque Berçário das Águas está em andamento e já colocou em funcionamento parte do viveiro que fornece mudas para o reflorestamento de Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal na região da foz do rio São Francisco, em Piaçabuçu e Brejo Grande/SE, recuperando o ecossistema nativo com foco no extrativismo sustentável e educação ambiental dos beneficiários.

O presidente do CBHSF reforça ainda que manter as árvores de pé é essencial para a preservação da Bacia do Rio São Francisco. “Precisamos ter árvores, cuidar pela preservação ambiental e por isso, os viveiros são essenciais para que haja repovoamento de forma antrópica, com o plantio nas margens dos rios, lagoas, nascentes, áreas de preservação permanente. Como exemplo, o projeto berçário das águas na região da foz do São Francisco além de fazer o replantio de espécies nativas que vão ser preservadas pelas populações, vai possibilitar que essas comunidades possam sobreviver através do beneficiamento de frutos como a cajarana, cajá, pimenta rosa, entre muitas outras árvores e espécies nativas que já estão sendo produzidas”, acrescentou Oliveira.

O viveiro de mudas em Piaçabuçu tem a capacidade de produção de 115.000 mudas ao ano. “Aqui temos em média 13 pessoas já trabalhando no viveiro produzindo diversas variedades de frutas nativas que são beneficiadas e viram doces, geleias, compotas, bolos, entre muitos outros produtos. Então, esse é um importante espaço que representa literalmente nosso futuro”, destacou a presidenta da Associação Aroeira, Maria Patrícia Santos Vilela.

As construções dos viveiros fazem parte das obras de requalificação ambiental que atendem as demandas das comunidades. As obras são financiadas integralmente pelo CBHSF.

Assessoria de Comunicação do CBHSF: *Juciana Cavalcante Fotos: Deisy Nascimento; Bianca Aun

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AS SEVERINAS LANÇAM SINGLE COM COMPOSIÇÃO DO POETA ZÉ MARCOLINO

O trio feminino mais famoso do Sertão do Pajeú vai lançar um novo trabalho na próxima semana, dia 04, em todas as plataformas de streaming digitais. As Severinas, depois de terem lançado o álbum "Forró das Severinas" no primeiro semestre, apresentam agora o single "Minha Crença", de composição de Zé Marcolino.

A canção fará parte do álbum "Zé Marcolino - Cantigas do Poeta", uma homenagem ao compositor, com dez faixas de sua autoria. O lançamento ocorrerá ainda neste ano. "'Minha Crença' foi uma música que me tocou ainda quando nós estávamos no processo de escolha das faixas da obra em homenagem a Zé Marcolino. Eu nunca tinha ouvido a música e quando eu ouvi à capela, sendo cantada por Bira Marcolino, eu fiquei extremamente encantada, me tomou de imediato", contou a cantora Monique D'Angelo, incitando a curiosidade dos fãs.

Ainda de acordo com Monique D'Angelo, ela disse logo às companheiras do grupo que "Minha Crença" deveria ser uma das músicas escolhidas para o álbum e que, provavelmente, seria uma das mais importantes. "Ver o processo da música se montando foi algo peculiar para mim, a cada nova fase da criação, ela ficava muito mais bonita. Até que gravei a voz definitiva e recebi a faixa para ouvir depois, e chorei, essa música me emociona bastante. É a minha música preferida do álbum", confessou.

A música tem a peculiaridade da obra de Marcolino, com letra que fala de costumes, crenças e sabedorias populares, exaltando vivências nordestinas. A faixa é mítica, tem simplicidade e ainda conta com um toque especial - um poema de Isabelly Moreira, declamado pela própria artista. O arranjo deixa "Minha Crença" com uma roupa de um forró autêntico, costurada com uma guitarra agregadora, gravada pelo grande Instrumentista César Raseck.

História - Mesclando música e poesia, e lembrando das raízes culturais do Sertão do Pajeú, o trio As Severinas surgiu com o intuito de difundir, com musicalidade, a força feminina, mantendo a tradição do forró pé-de-serra, dando nova roupagem a cantigas, xotes e arrasta-pés. Formado por três jovens mulheres, o grupo traz Isabelly Moreira, no vocal, triângulo e declamações, Monique D'Ângelo, no vocal, sanfona e declamações, e Marília Correia, na zabumba. As Severinas se apresentam desde maio de 2011.

Em 2012, lançaram o primeiro CD, que leva o nome do grupo, com composições autorais e versões de músicas de Chico César e Vander Lee que conquistaram o público. Em 2016, o grupo lançou o seu segundo trabalho, intitulado "Tribos", com faixas autorais, parcerias e releituras de canções de artistas que influenciaram a formação musical do grupo.

Em 2021, quando As Severinas completaram 10 anos de estrada, foi lançado um documentário registrando a obra e a história do grupo, junto com um EP, denominado "Xamego de Fulô". O trabalho foi todo composto por músicas inéditas, entre canções autorais e parcerias. Houve participações especiais que evidenciaram a relevância artística e cultural adquirida pela banda: Anastácia, Assisão, Quinteto Violado e Thais Nogueira, além da participação da percussionista Negadeza, foram alguns dos nomes presentes no trabalho.

Neste ano, As Severinas se apresentaram no Teatro do Parque, em Recife, e foram premiadas como "Destaque Trajetória em Música", pelo show "Xamego de Fulô" com o Prêmio JGE Copergás de Teatro, Dança, Circo e Música de Pernambuco 2022, realizado pelo 28º Janeiro de Grandes Espetáculos – Festival Internacional de Artes Cênicas e Música de Pernambuco, edição 2022. Além disso, lançaram o clipe "Não Tento Mais" em março e o DVD junto ao álbum "Forró das Severinas" em junho.

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CREDIBILIDIADE, DESINFORMAÇÃO E ISENÇÃO: COMO A INTERNET MUDOU O JORNALISMO

O surgimento da internet mudou muitos aspectos da vida e hábitos pessoais e uma das principais mudanças nos últimos anos foi em relação ao consumo de informação. O que antes era acessível apenas em rádio, televisão, jornal impresso e revista, agora fica tudo à disposição dos cliques no celular. E se a informação era criada em redações jornalísticas por profissionais da área, hoje, qualquer pessoa pode divulgar e criar qualquer tipo de informação. Esse cenário trouxe junto a questão da credibilidade, principalmente depois do fenômeno das fake news.

Segundo Rodrigo Ratier, jornalista e professor de jornalismo digital da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, a crise de credibilidade da informação na era digital põe em risco a própria existência da profissão de jornalista. “Ela, a crise, dialoga um pouco com a ideia de que vivemos num contexto de pós-verdade, em que as emoções importam mais do que a razão, em que os fatos enfim perdem um pouco da força que eles tinham e que o monopólio sobre o relato do real, que antes era atribuído ao jornalista, está difuso”. 

Para resolver esse dilema, segundo a jornalista e professora da ECA, Daniela Ramos, o jornalismo deve assumir um papel de educador, ajudando as pessoas quanto ao consumo da informação correta. Isso faz com que o jornalismo seja capaz de combater a desinformação. “Nesse sentido o jornalismo brasileiro tem uma grande missão, da sociedade como um todo se sentir representada por ele.” 

Elizabeth Saad, também jornalista e professora de comunicação digital da ECA,  destaca que o jornalismo se encontra em um processo muito grande de desinformação graças ao cenário polarizado, em que “existe uma correlação entre o conteúdo informativo produzido com a linha editorial para qual o profissional trabalha”. De acordo com a professora, a linha editorial se posiciona dependendo da empresa e dos proprietários. “É possível que uma determinada marca informativa, não o profissional em si, mas a marca, se posicione num espectro polarizado e o jornalista tem que produzir a matéria conforme esta linha editorial, o que não implica que ele seja alguém que está produzindo desinformação”. 

Elizabeth enfatiza que o jornalismo não pode se deixar contaminar por fake news, de forma a checar todas as informações antes das publicações. Esse procedimento básico para o jornalista deve ser respeitado para que o próprio jornalismo seja diferenciado dos veículos disseminadores de fake news. Para lutar contra isso, é preciso enfatizar a questão da ética jornalística já dentro da universidade. 

Transformações tecnológicas-Apesar de pôr em xeque a credibilidade da informação, a tecnologia transformou o jornalismo e entre suas novas características está a velocidade com que a informação é gerada e transmitida ao consumidor da notícia. O Superintendente de Comunicação Social da USP e também professor da ECA, Eugênio Bucci, em seu livro A superindústria do imaginário: como o capital transformou o olhar em trabalho e se apropriou de tudo que é visível (Autêntica, 2021), explica que a mudança criou a economia da atenção, isto é, na sociedade transformada pela tecnologia o jornalismo precisa atrair a atenção do espectador, competindo não somente com outros veículos, mas também com redes sociais como o TikTok, Facebook e Instagram e com streamings como a Netflix, HBO, Amazon, etc.

E mesmo antes do surgimento da internet, a tecnologia sempre esteve presente no jornalismo, como lembra o jornalista e professor Ratier. “A gente pode voltar aos primórdios e pensar na prensa de Gutenberg, no século XV, que foi sendo evoluída ao longo dos tempos para aumentar a velocidade de impressão, contemplar a impressão em cores, e assim por diante. Da mesma forma, outras tecnologias foram sendo incorporadas aos sistemas produtivos. O próprio telefone, por exemplo, vai se transformar em um instrumento importante para a transformação das práticas jornalísticas possibilitando as entrevistas à distância e assim por diante”.

Para Ratier, essas transformações tecnológicas proporcionaram o enxugamento das redações. “A gente observa sobretudo uma diminuição muito relevante no número de jornalistas necessários para colocar um programa de TV no ar, para pôr um site para funcionar, em comparação, por exemplo, a veículos impressos se a gente voltar 30 anos no tempo”.

Segundo o jornalista, a diminuição das redações veio acompanhada de um jornalismo multimídia. Ser capaz de produzir e editar vídeos, textos e podcasts, além de articular isso em produtos multimídia, se tornou essencial para garantir um espaço no mercado de trabalho. Ratier conta que além da produção jornalística em si, o profissional deve estar apto a fazer várias atividades. “Fazer a gestão de equipes que consiga controlar o orçamento para produção, que saiba transitar não apenas pensando no contexto do jornalismo digital, entre os sites, mas também nas mídias sociais, entendendo como fluem os canais de divulgação da informação”.

Isenção e precisão-Na construção da produção jornalística o profissional precisa tomar muitas decisões que, querendo ou não, impactam na interpretação do leitor, ouvinte ou espectador. Na faculdade, um dos primeiros aprendizados é de que o jornalista não é imparcial porque imprime no texto automaticamente sua carga de conhecimentos e vivências.

Para Elizabeth Saad, mesmo que o jornalista em si não seja imparcial, ele deve sempre buscar a isenção. A professora explica que trabalhos jornalísticos sempre vão envolver a tríade: precisão, veracidade e isenção. “Em qualquer matéria jornalística que se faça, tem que ter a busca da verdade, a isenção, justamente ouvindo múltiplas vozes envolvidas no acontecimento, e a precisão, ou seja, a checagem do conteúdo levantado”.

Texto: Laura Oliveira-jornal da usp

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LUIZ GALVÃO, FUNDADOR DOS NOVOS BAIANOS, MORRE AOS 87 ANOS

O músico e poeta Luiz Galvão, fundador do grupo Novos Baianos, morreu na noite de sábado (22), aos 87 anos, em São Paulo.

A causa da morte não foi divulgada, mas Galvão estava internado desde o dia 16 de setembro, quando deu entrada na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, com suspeita de hemorragia gastrointestinal. Após complicações, ele foi internado no Instituto do Coração, também na capital paulista, onde morreu.

A morte foi confirmada pela esposa do artista. Ainda não há informações sobre o sepultamento.

Galvão é fundador do grupo Novos Baianos, 1968, que marcou a música brasileira. Com o grupo, lançou o álbum “Acabou chorare”, que juntava samba, rock, bossa nova, frevo, choro e baião. O disco trazia faixas como “Preta pretinha”, “Mistério do planeta”, “A menina dança” e “Besta é tu”.

A coletânea foi eleita pela revista Rolling Stone como a melhor da história da música brasileira, em outubro de 2007.

Luiz Dias Galvão nasceu em Juazeiro, no norte da Bahia, em 22 de julho de 1937. Bom de letras, e bom de bola, Galvão jogou futebol profissional em Juazeiro e chegou a ser campeão baiano de futebol de salão.

Seguiu os estudos, ainda no norte da Bahia, onde se formou e trabalhou por seis anos com agronomia, até deixar a atividade de lado e decidir viver de sua arte.

Anos antes, ainda adolescente em Juazeiro, Luiz Galvão conheceu João Gilberto. A amizade mudaria para sempre a história da música brasileira.

Anos depois, uma nova amizade culminaria em um dos maiores grupos da história da música popular brasileira, os Novos Baianos. Galvão se reuniu, em Salvador, com outros dois jovens saídos de cidades do interior da Bahia. De Santa Inês, no sul da Bahia, vinha Paulo Roberto Figueiredo de Oliveira, o Paulinho Boca de Cantor; e de Ituaçu, no sudoeste do estado, vinha Antônio Carlos Moraes Pires, o Moraes Moreira.

Em 1968, eles criaram o espetáculo que deu origem aos Novos Baianos, Desembarque dos Bichos depois do Dilúvio Universal.

O trio ainda ganharia os reforços Baby do Brasil e Pepeu Gomes. Além de nomes como Jorge Gomes, Dadi, Charles Negrita, Baixinho, Bola Morais e Gato Félix.

Em 1970, o grupo lançou seu disco de estreia, “Ferro na boneca”. Em seguida, foram morar em um sítio em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, onde seguiam a cultura hippie dos EUA e da Europa em plena ditadura militar brasileira.

A grande obra viria após uma visita de João Gilberto à casa em que eles moravam juntos, já no Rio de Janeiro. Era 1972, quando o grupo lança o álbum “Acabou chorare”, que consagrou os Novos Baianos. O trabalho juntava samba, rock, bossa nova, frevo, choro e baião.

Com a regravação de “Brasil pandeiro”, de Assis Valente, além de “Preta pretinha”, “Mistério do planeta”, “A menina dança”, “Besta é tu” e a faixa título, todas de coautoria de Moraes Moreira.

O disco foi eleito pela revista Rolling Stone como o melhor da história da música brasileira, em outubro de 2007. No total, foram oito discos de estúdio. Há ainda dois álbuns ao vivo, de reuniões do grupo, um de 1997 e outro de 2017.

Luiz Galvão escreveu a maioria das canções gravadas pelo grupo, e musicadas por Moraes Moreira. Entre suas composições estão "Acabou Chorare", "Preta Pretinha" e "Mistério do Planeta".

Aém da vida musica, o artista também investiu na literatura e deixou registros da história do grupi que marcou a história da música no Brasil. Galvão é autor dos livros: "Novos Baianos: A história do grupo que mudou a MPB"; "João Gilberto: a bossa" e "Anos 80: A história de uma amizade na década perdida". O juazeirense ainda lançou o disco Galvão, A Palavra dos Novos Baianos.

O poeta sai de cena deixando como legados a paixão pela arte, a poesia, as letras marcantes, e o bom humor. Além de uma defesa intransigente do seu povo e da sua terra.

“O nordestino é um lutador, um vencedor. E Juazeiro é uma cidade brincalhona, de muito humor, é ‘cheguei’. Juazeiro é o cara”, gostava de dizer em entrevistas.

Apesar da saúde frágil com que viveu nos últimos anos, Luiz Galvão se manteve sempre em estado de poesia. Ao lado dos filhos e da esposa Janete, acompanhando o Vasco, time do coração, ou nos mínimos detalhes, Galvão fez valer os versos que deixou eternizados. "Apesar de tudo, a vida é boa e ainda é bela".

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PROFESSOR JOSÉ URBANO: VIVA O MESTRE VITALINO

O Alto do Moura é, desde sempre, o bairro sagrado da cultura de Caruaru. Nasceu como uma comunidade rural, e hoje está integrado a paisagem urbana da cidade, pelos bairros que foram nascendo no seu entorno, as vias de acesso e principalmente pelo fator  cultural, espaço rural escolhido pelo Mestre Vitalino para viver, constituir família e de onde foi para a eternidade, nos deixando um legado cultural grandioso.   Como expressão cultural, Vitalino se tornou mestre, a matriz da cultura do barro figurativo, reconhecido pelo Brasil e mundo afora, há 75 anos passados.

A grandeza desse personagem também está representada pela escola de arte popular que ele, talvez sem ter consciência disso, formatou e que perdura até os nossos dias.  

Foram discípulos de Vitalino artesãos da grandeza de Manuel Eudócio, que tem peças expostas na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro (eu fui lá conferir em 2019) Zé Caboclo, Luiz Antonio, D. Ernestina (primeira mulher artesã de Caruaru) e tantos outros que tem descendestes que vivem exclusivamente da arte do barro na cidade.   

Em 1947 a coleção de Vitalino, com temas 100% nordestinos, foi levada para uma exposição no Rio de Janeiro, então capital federal, e atraiu os olhares do país para a nossa arte popular.   Nos anos 50 algumas peças foram levadas para outra exposição na Suíça, e foi um sucesso.   Vitalino tornou-se nosso embaixador cultural de Caruaru.  

Outro artesão migrou para o Alto do Moura e criou um novo estilo do artesanato em barro, e hoje tem um importante memorial, o Mestre Galdino, que fez um trabalho numa simbiose entre humano, animais e seres  de mundos imaginários.

A arte do Alto do Moura é 75% exportada para todos os Estados do Brasil, movimenta a economia com muita força. Atualmente, mais de 600 famílias vivem da arte do barro, que tem recebido toda atenção das administrações públicas, nos quesitos de urbanização, com escola, Casa da Mulher Artesã, Associação dos Moradores, asfalto, iluminação, segurança pública e no período junino, grande pólo onde se curte o verdadeiro forró, criado por Luiz Gonzaga, nosso pernambucano do século.

Viva Vitalino, viva a cultura Nordestina

Professor José Urbano

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FALTA DE ÁGUA E POLÍTICAS PÚBLICAS PROVOCAM DESESPERO AOS AGRICULTORES DE JUAZEIRO E PETROLINA

Nos últimos meses Juazeiro e Petrolina, emitiram alertas sobre a baixa umidade do ar. A massa de ar seco e quente que está na região, além de fazer com que as temperaturas atinjam a marca dos 36ºC nos próximos dias, deve fazer com que a umidade varie entre 12% e 20%, isto representa uma temperatura igual aos dos desertos.

Mais uma seca avassaladora mostra o drama da falta de política publica que assola a zona rural de Juazeiro e Petrolina. A falta de água provoca desespero em diversos municípios do norte da Bahia e região do Vale do São Francisco.

O BLOG NEY VITAL colheu diversos depoimentos de moradores da região. O agricultor Martonio Ribeiro Marins mora no Sítio Vassoura. "São mais de vinte anos e a cada dia que passa á dificuldade de água aumenta, bebemos água de carro pipa e mesmo assim com muita dificuldade não só aqui mas na população em geral que moram aqui perto estamos todos com a cisternas secas carregando água de muito longe em baldes, na minha casa moram seis pessoas e dessas seis pessoas quatro crianças e há mais de anos prometem encanar água pra cá e estamos sempre na espera mas nunca chegou por isso estou aqui fazendo esse relato por que estamos necessitando muito".

Outro desabafo é de Francisco de Assis Delmondes Baia, lider comunitário, presidente da Associação de Agricultores do Distrito de Barra de São Pedro, Ouricuri, divisa com Petrolina, Pernambuco. "Temos conversando com agricultores de Petrolina, Ouricuri e região. A situação é dramática. Falta água para abastecer as casas e também para os animais", diz Francisco ressaltando que a situação torna-se mais dramática quando na residência moram mais crianças e idosos. "Falta de água maltrata muito", desabafa.

Em Petrolina, no Povoado de Cristalia, Almas, Caititu, Simpatia a situação é de calamidade. O coordenador de Comunicação e relações sociais do Conselho Popular de Petrolina e da Bacia do São Francisco, Rosalvo Antonio, revela que "por causa da estiagem, rios e açudes secaram em vários pontos e a população depende de carros-pipa para fazer atividades básicas, como tomar banho e cozinhar".

Ele avalia que "é inacreditável ainda ter comunidades sem água e que vivem próximo ao Rio São Francisco e o mais dramático próximo a adutoras".  "Aqui em Petrolina toda a região do Sequeiro está sofrendo, mesmo aquelas que tem cisternas e ou barragens. É preciso uma antecipação dos Governos ações concretas", diz Rosalvo.

Segundo o BLOG NEY VITAL obteve informações em algumas localidades de Juazeiro e Petrolina os caminhões-pipa e levam água para comunidades da zona rural. Mesmo assim, a água que chega na casa dos moradores é insuficiente para cuidar de todas as tarefas de casa e do campo.

No Povoado de Pontal, localizado próximo ao Distrito de Itamotinga, a agricultora conhecida por Lela Bezerra revela "que animais estão morrendo com sede, não tem água para os animais". Fotos registram bodes e carneiros "já caídos no chão".

"Peço socorro e a quem de direito possa ajudar. A falta de água torna difícil viver no semiárido. Nossa região está mendigando por água. Somos mais de 150 famílias e precisamos de água. A operação carro pipa aqui foi cortada. Estamos sem nenhuma assistência. Precisamos que o poder público traga água para a região", desabafou Lela.

No próximo mês de novembro, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) não chove na região.

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