CURAÇÁ: ARARINHA AZUL CORRE RISCO DE NOVA EXTINÇAO APÓS SURTO DE VÍRUS

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) divulgou uma nota na noite da segunda-feira (28/07) informando que há um surto de circovírus em ararinhas-azuis reintroduzidas na natureza. Atualmente existem onze aves em vida livre, que foram soltas em 2022 no Refúgio de Vida Silvestre situado no município de Curaçá, na Bahia, onde acontece o programa de reintrodução da espécie, conduzido pela Association for the Conservation of Threatened Parrots (ACTP), criadouro particular com sede na Alemanha.

O circovírus é o patógeno causador da chamada Doença do Bico e das Penas dos Psitacídeos (PBFD), que não tem tratamento. Considerada altamente contagiosa e podendo ser letal, ela provoca perda de penas (que pode ser permanente, comprometendo voo e capacidade de manter temperatura), deformidades no bico e imunossupressão severa. A transmissão do vírus se dá através da exposição a penas infectadas e o contato com superfícies contaminadas, como poleiros, comedouros e bebedouros. Em geral a recomendação é a eutanásia do animal infectado.

Segundo o comunicado do ICMBio, medidas emergenciais já foram tomadas, em conjunto com o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (Inema) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Entre as ações estão reforço nas medidas de biossegurança; triagem dos animais do criadouro, com isolamento, em áreas internas, dos animais com resultado positivo para circovírus até que seja concluída a bateria de testes e descontaminação dos recintos do criadouro e dos comedouros e ninhos utilizados pela população de vida livre. 

“Devido a essa ocorrência, a soltura de um novo grupo de ararinhas-azuis, prevista para este mês, foi temporariamente suspensa. Além disso, o ICMBio, enquanto autoridade que autoriza o manejo in situ dos animais e órgão gestor da APA da Ararinha Azul e do Revis da Ararinha Azul, determinou o recolhimento das ararinhas-azuis de natureza, para que sejam submetidas a bateria de testes, resguardando assim a sanidade da população. O projeto será retomado assim que a situação sanitária estiver controlada”, finaliza a nota.

Em maio de 2023, o ICMBio anunciou que o Brasil não iria renovar o acordo com a ACTP, que durante cinco anos foi parceira do governo no programa de reprodução e reintrodução da ararinha-azul em Curaçá.

Além de várias denúncias e polêmicas internacionais sobre a idoneidade do proprietário da associação, que tem sede na Alemanha, o ICMBio e o Ministério do Meio Ambiente foram pegos de surpresa ao serem alertados sobre o envio pelo criador de 30 araras brasileiras – 24 ararinhas-azuis e quatro araras-azuis-de-lear (Anodorhynchus leari), também endêmica e ameaçada de extinção -, para um zoológico da Índia, sem conhecimento ou autorização do governo brasileiro (leia mais aqui).

Na época da rescisão da parceria, entretanto, o ICMBIO afirmou que a ACTP seguiria atuando no centro da Bahia e “as aves e as instalações de Curaçá continuarão sob responsabilidade da associação. E por parte do ICMBio não há nenhum impedimento de que continue com a reintrodução da espécie na natureza.”

Espécie endêmica do Brasil, ou seja, ela só existe em vida livre em nosso país e em nenhum outro lugar do mundo, a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) foi vítima do tráfico ilegal de aves e a cobiça de grandes colecionadores europeus. Fascinados pelo sua beleza e azul vibrante, eles não economizaram esforços (e muito dinheiro) para poder ter um exemplar da famosa arara brasileira.

Com isso, a ararinha-azul acabou sendo declarada oficialmente extinta no país nos anos 2000.

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