Quero lembrar uma frase que já se tornou popular na internet: “a IA não é inimiga, nem amiga, é uma ferramenta”. Dito isso, este texto não se propõe a demonizar as ferramentas de inteligência artificial, mas sim lembrar de uma estratégia bastante antiga (mas que muitos se esquecem em tempos de imediatismo) e que pode ajudar professores e estudantes a driblar essas ferramentas: a biblioteca.
Ir até a biblioteca, consultar um bom livro e se apropriar do conhecimento ali escrito não tem preço, a assinatura da IA sim. Longe de estarem ultrapassadas, as bibliotecas ganham um papel ainda mais crucial na era da inteligência artificial, pois podem ser aliadas da integridade acadêmica. Mais do que nunca, esses espaços precisam ser reconhecidos como lugares de construção do conhecimento, onde professores e estudantes podem encontrar estratégias para contornar a dependência das inteligências artificiais e resgatar o protagonismo da pesquisa humana.
Ao invés de recorrer à IA para resolver tarefas de forma automática, estudantes orientados por bibliotecas bem estruturadas podem redescobrir o prazer da investigação, da leitura aprofundada e da construção argumentativa baseada em fontes confiáveis. O acesso a acervos físicos e digitais, a orientação de bibliotecários e o uso de bases de dados científicos oferecem um caminho mais sólido para quem quer se destacar academicamente de forma ética.
Ao lado dos professores, as bibliotecas também oferecem suporte essencial. Com o apoio de profissionais da informação, docentes podem desenhar atividades menos vulneráveis ao uso indevido da IA. É possível, inclusive, propor trabalhos que exigem pesquisa local, análise de fontes primárias, entrevistas, visitas a acervos, resumos anotados e fichamentos com critérios definidos. Tarefas que demandam envolvimento real, leitura ativa e reflexão crítica.
Além disso, bibliotecas podem funcionar como espaços de formação para lidar com os impactos da IA no ambiente educacional. Oficinas, rodas de conversa e projetos de letramento informacional ajudam a esclarecer não só os limites éticos do uso dessas ferramentas, mas também os riscos de dependência e superficialidade. Ao ensinar estudantes a diferenciar informação de qualidade de conteúdo automatizado, as bibliotecas se posicionam como núcleos de resistência à pauperização do saber.
Sempre vale a máxima: as bibliotecas não são apenas depósitos de livros, mas instituições comprometidas com a democratização do saber, com a organização da informação de forma sistemática e com a formação de cidadãos críticos. Em um cenário onde dados são abundantes, mas a curadoria é escassa, o trabalho dos bibliotecários se torna mais relevante do que nunca. Eles ajudam usuários a entender como a informação é produzida, quais interesses estão por trás de determinadas narrativas e como utilizar ferramentas tecnológicas de forma consciente e produtiva.
Não se trata de proibir o uso da IA, mas de mostrar que o conhecimento não nasce de atalhos. Ele exige processo, envolvimento, análise, comparação, tempo. Nesse sentido, a biblioteca ressurge como espaço de desaceleração consciente, onde o aprendizado acontece de forma mais profunda, reflexiva e significativa.
Em tempos de inteligência artificial, recorrer à biblioteca é um ato de resistência.
Por Luiz Ricardo de Barros Silva, mestrando da Escola de Comunicações e Artes da USP
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