PAULO VANDERLEY: 12 ANOS DE SAUDADES DE DOMINGUINHOS

Vinte e três de julho de 2025, é o dia que marca os doze anos da morte do instrumentista e cantor Dominguinhos. Um dos principais nomes da música brasileira. José Domingos de Morais, o Dominguinhos, nasceu em Garanhuns, em 12 de fevereiro de 1941, e morreu no ano de 2013.

Exímio sanfoneiro, ele teve como mestres nomes como Luiz Gonzaga e Orlando Silveira. Em sua formação musical, recebeu influências do baião, da bossa-nova, do choro, do forró, do xote e do jazz. O pai, Mestre Chicão, era um conhecido sanfoneiro e afinador de sanfonas e sua mãe era conhecida como Dona Mariinha, ambos alagoanos.

Confira texto de autoria do pesquisador e amigo de Dominguinhos, Paulo Vanderley

Hoje faz 12 anos que seu Domingos nos deixou. Foi num 23 de julho, em 2013. Esses dias andei lembrando muito, e hoje acordei com a memória daquela viagem nossa pra Natal, só nós dois, pro Forró da Lua do querido Marcos Lopes. Que noite bonita! O povo cantando junto, Dominguinhos tocando "De Volta pro Aconchego", parecia oração no ouvido da gente. Noite longa, terminamos perto das 3 da manhã, fila pra tirar retrato, e ele com aquela mansidão atendendo todo mundo. Dormimos pouco, tomamos café rapidinho e, logo cedinho, fomos surpreendidos pela visita de Paulo Tito, mestre do forró com mais de 90 anos, voz grave, marcante. Tenho todos os discos dele, fã mesmo. Foi Gonzaga quem incentivou Paulo Tito a ir pro Rio nos anos 50, se juntar àquela turma boa que fez história. Achei fotos lindas desse encontro: Paulo Tito tocando violão com seu Domingos, junto com Anselmo Alves, Leide Câmara e Kyldemir Dantas, amigos queridos.

Saímos de Natal com o sol truando, Dominguinhos dirigindo e conversando. Só a gente, privilégio grande demais. Falamos muito da chegada dele ao Rio, dificuldades, encantos, amores vividos. Até o romance com Gal Costa entrou na conversa. Ele brincava dizendo que a mãe dela queria casamento e tudo. Foi curto, mas intenso, bonito de ouvir. Sobre outras histórias, ele não precisou nem dizer diretamente, deixou no ar aquele jeitinho dele que dava a entender que era pra guardar segredo. Então essas ficaram só comigo, bem quietinhas.

Mas o que ficou forte mesmo foi o conselho que ele recebeu de Luiz Gonzaga. Na estrada, ele me contou que, no começo, tinha receio de cantar, achava a voz grossa demais. Disse pra Gonzaga: "Seu Luiz, minha voz é muito grossa, se eu cantasse como o senhor...". Seu Luiz nem deixou terminar: "Dominguinhos, pra cantor não tem voz grossa nem fina. O cantor popular canta com a voz que Deus lhe deu. Você vai colocar sua voz dentro da sanfona e daí vai sair um Dominguinhos cantor."

Viajar com Dominguinhos pelas estradas era privilégio puro. Essas histórias ficaram guardadas comigo pra sempre. Anos depois, preparando meu livro sobre Luiz Gonzaga, encontrei exatamente essa história numa entrevista que Gonzaga deu à Dominique Dreyfus. Parecia que eu tava ouvindo seu Domingos contar outra vez. Claro que entrou no livro.

São 12 anos de saudades, mas ele continua muito vivo aqui em casa, na minha família. Trago essas lembranças tatuadas na alma, e no braço, a data do seu aniversário junto com a sua sanfona.

Paulo Vanderley-pesquisador e escritor. Funcionário Público Federal

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