EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO AMEAÇA A FOZ DO RIO SÃO FRANCISCO

As águas se agitam no encontro do São Francisco com o oceano, mas Jailton Souza, pescador desde menino, leva o barco com tranquilidade. Ele está acostumado a conduzir turistas até a desembocadura do rio, entre os estados de Sergipe e Alagoas. 

O lugar é um deslumbre de manguezais e praias de areia branca, onde tartarugas desovam. Só que ali já transbordam sinais de degradação. “A água salgada queimou os coqueirais e as plantações de arroz”, mostra Jailton. 

O Velho Chico não consegue mais conter o avanço do mar porque perdeu vazão com hidrelétricas, transposição e outras interferências no seu curso. A nova ameaça é a exploração de petróleo e gás na região da foz. É bem perto do estuário do rio em que a multinacional ExxonMobil quer perfurar 11 poços de petróleo, na Bacia Sergipe-Alagoas. 

A área de influência, sujeita a impactos diretos e indiretos do chamado Projeto SEAL, vai de Alagoas até o Rio de Janeiro. Em caso de vazamento, pelo menos 52 unidades de conservação podem ser diretamente afetadas, entre elas a Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, uma das sete áreas de prioridade máxima para a conservação dos recifes de coral no Brasil. 

A petrolífera ainda depende da licença ambiental do Ibama para iniciar as perfurações, mas, mesmo sem essa permissão, começou a treinar populações locais para lidarem com possíveis vazamentos. Pescadores disseram à Agência Pública que a empresa pagou diárias de até R$ 2.500 por barco para ensinar, por exemplo, como conter petróleo na água. A reportagem percorreu mais de 400 quilômetros entre Alagoas e Sergipe, por estradas de terra e de água, para ouvir populações potencialmente afetadas, deixadas à margem das discussões.

O Ibama informou ao InfoSãoFrancisco que não autorizou os treinamentos sobre derramamento de petróleo, mas não respondeu à Pública se as programações fazem parte das etapas de licenciamento. O histórico de desastres da ExxonMobil inclui um dos maiores vazamentos da história, em 1989, quando o petroleiro Exxon Valdez despejou 42 mil toneladas de petróleo no Alasca, episódio conhecido como “maré negra”. 

Segundo os relatos, as atividades foram realizadas pelo menos nos municípios alagoanos de Piaçabuçu, Coruripe, Jequiá da Praia e Barra de São Miguel e no povoado de Saramém, do lado sergipano. Em cada um desses lugares, duraram aproximadamente dez dias e, em muitos casos, foram divulgadas pelas próprias prefeituras. Um comunicado oficial da prefeitura de Piaçabuçu informou à população sobre a montagem de uma estrutura, ao lado da sede da administração pública, para o “treinamento prático de proteção da costa”. Para Divaneide Sousa, coordenadora da Articulação do São Francisco, as prefeituras estão sendo coniventes por interesse. “Estão de olho nos royalties do petróleo”, comenta. 

Os treinamentos foram ministrados pela americana WittO’brien’s e a brasileira OceanPact, especializadas em planos de contingência de petróleo e respostas a emergências ambientais. As empresas se uniram numa joint venture em 2011. A WittObriens é a consultora ambiental que assina o Estudo de Impacto do projeto da ExxonMobil no estuário do São Francisco.

Em outubro de 2019, o juiz Francisco Eduardo Guimarães, da 14º Vara Criminal Federal no Rio Grande do Norte, requereu mandados de busca e apreensão na empresa, citada por ele como “indivíduo qualificado” na investigação do navio petroleiro grego Bouboulina, da Deltankers, que já foi apontado como responsável pelo derramamento de óleo no litoral brasileiro entre 2019 e 2020. Na época, cerca de cinco mil toneladas de petróleo foram retiradas de mais de mil localidades em 11 estados – nove deles no Nordeste. A substância tóxica contaminou 3 mil quilômetros da costa, sendo considerado o maior crime ambiental em extensão da história do país. 

Apenas em dezembro passado, a PF concluiu a investigação do desastre, indicando um navio petroleiro de bandeira grega como o responsável, mas não confirmou se era mesmo o Bouboulina nem divulgou o nome da empresa responsável. A polícia também não esclareceu se a WittO’brien’s teria relações com a embarcação. Em nota, a WittO’Brien’s garantiu que a empresa “não possui qualquer envolvimento no desastre do óleo na costa brasileira”, nem “qualquer relação com a Delta Tankers”. Informou ainda que “não foi indicada no inquérito policial”, como mostra documento expedido pela PF em novembro de 2019, mas que foi procurada durante as investigações da Operação Mácula, da PF, para “fornecer eventuais informações que pudessem colaborar com a investigação.”

“É FIM DO RIO": Caso ocorra um vazamento de petróleo na operação da ExxonMobil, os próprios estudos da empresa mostram que Piaçabuçu seria um dos primeiros locais atingidos. Lá está a praia do Pontal do Peba, última faixa de areia no ponto de deságue do rio para o mar. O município de pouco mais de 19 mil habitantes já foi um grande produtor de arroz, mas o aumento da salinidade da água, causada pelo definhamento do rio, acabou com a produção. Sobraram a pesca – sobretudo de crustáceos, porque ali está o maior banco de camarões do Nordeste, quarto do Brasil – e o turismo. Isso tudo também vem minguando desde o desastre do óleo, seguido pelos anos de pandemia. 

A Área de Proteção Ambiental (APA) de Piaçabuçu, que protege espécies ameaçadas, como espécies de tartarugas marinhas, funciona com pouca estrutura. Por causa do projeto da ExxonMobil, em setembro de 2021 o Ministério Público Federal (MPF) em Alagoas questionou áreas de proteção da região sobre condições operacionais, caso ocorra um acidente. O gestor da APA de Piaçabuçu respondeu por ofício afirmando que a unidade tem apenas “dois servidores e uma viatura” e, por isso, não tem “capacidade operacional para proteger nem minimizar os impactos decorrentes da chegada do óleo”. 

O servidor não concedeu entrevista porque a comunicação do ICMBio, órgão federal ao qual a APA é ligada, está centralizada em Brasília. O ICMBio não nos respondeu. 

No fim do ano passado, representantes da ExxonMobil estiveram na colônia de pescadores de Piaçabuçu. “Pediram indicação de pescadores para os treinamentos”, conta Antônio Amorim, presidente da colônia, com quase 4 mil associados. Sessenta barcos foram selecionados – os maiores, de seis cilindros, receberam R$ 2,5 mil por diária; os de quatro cilindros, R$ 2 mil. “Ajudou quem estava parado, dependendo do Bolsa Família”, diz Amorim. Ele evitou críticas, mas admitiu que um novo acidente, numa região que já sofreu com o petróleo, “é uma grande preocupação”.

O dinheiro dos treinamentos foi uma forma de “silenciar as pessoas”, para Jasiel Martins, fundador da ONG Olha o Chico. A organização fazia parte do conselho gestor da APA de Piaçabuçu, desmantelado durante o governo Bolsonaro, que dissolveu várias estruturas de participação da sociedade na gestão estatal. A ONG assina, com mais de cem organizações, uma carta pública contra a instalação da petrolífera na foz. O texto aponta fragilidades nos estudos de impacto ambiental da ExxonMobil e exige que as comunidades impactadas sejam consultadas em audiências públicas presenciais, não realizadas por causa da Covid-19. 

Na linha de frente da luta pelo São Francisco, Martins assegura que “um acidente será o fim do rio”. “E o rio é sobrevivência. Não tem mais as aningas [plantas de água doce], os peixes mudaram. A gente vive na beira do São Francisco sacrificado, dependendo de caminhões-pipa porque a água está salobra.”

QUILOMBOLAS NA ROTA DO OLEO: A estrada entre Piaçabuçu (AL) e Brejo Grande (SE) é o próprio rio São Francisco. A balsa leva aproximadamente uma hora para atingir as margens do município sergipano, ponto mais próximo da costa do local de perfuração, apenas 50 quilômetros. O óleo poderia chegar lá em aproximadamente dois dias, numa situação de escape grave, segundo as previsões da ExxonMobil.

Quatro territórios quilombolas estão no município: Brejo Grande, Santa Cruz (onde está a comunidade de Brejão dos Negros), Resina e Carapitanga. São 480 famílias, sobretudo de pescadores artesanais e agricultores, vivendo sob tensão.

Embora seja certificado pela Fundação Palmares, o território ainda é ocupado por não quilombolas, donos de grandes fazendas de carcinicultura, que é a criação do camarão. “Somos impedidos de plantar e de pescar nas nossas terras. Colocam seguranças armados, câmeras para nos vigiar”, explica Maria José Bezerra, presidente da Associação Quilombola, conhecida como Deca. 

Água encanada não é uma constante nas casas, muito menos internet. Assim, o convite para uma audiência digital sobre o projeto não fez sentido. “Chamaram para ver a transmissão no telão, em Aracaju (SE), quatro horas de carro daqui. Só pra ver, não nos ouvir”, reclama Domenicio dos Santos, uma das lideranças quilombolas. “A empresa chega assediando, oferecendo dinheiro, treinamentos. Não participamos porque entendemos os riscos”, comenta Enéas Rosa, pescador e líder da comunidade quilombola de Resina. 

Cansada depois de ter preparado um almoço farto, com o caranguejo-uçá pescado na própria comunidade, galinha de capoeira e um suco de mangaba, daqueles que refrescam e colam os lábios, Maria Isaltina Silva, liderança quilombola da comunidade de Brejão dos Negros, se recostou na janela de casa. De lá, ela vê a lagoa do sumidouro, cheia de histórias de encanto e mal-assombros. Seus antepassados habitam este lugar há pelo menos 300 anos, pescando siri, peixes e caranguejos. Ali também ela celebra cocos e maracatus.  “Falam de libertação, mas não fomos libertos. Nos perseguem de outras formas”, pranteia. “Se queremos preservar o mangue, chegam para destruir. Nosso emprego é o rio e o mangue. A gente não sabe fazer outra coisa.”

Jane Teresa e Jerônimo Basílio, advogados ambientalistas da Sociedade Canoa de Tolda, em Sergipe, assinaram uma Ação Civil Pública que tentou impedir a audiência pública em formato virtual, como noticiou o site InfoSãoFrancisco. De forma resumida, eles dizem que a programação, uma etapa fundamental para o licenciamento ambiental, não cumpriu requisitos legais, como a consulta prévia das comunidades tradicionais prevista na Convenção 169 da OIT. 

O MPF, tanto em Sergipe quanto em Alagoas, tentou suspender a audiência, no intuito de garantir a escuta adequada e presencial das populações, observando medidas sanitárias, mas a Justiça não acatou o pedido. No dia 14 de setembro de 2021, o Ibama conduziu uma Audiência Pública Virtual, transmitida pelo YouTube, com representantes da ExxonMobil e da WittO’brien’s. Algumas pessoas receberam um link para intervenções orais ao vivo, porém as falhas na conexão, problemas com áudio e vídeo foram queixas constantes. 

AUDIÊNCIA PÚBLICA: Os questionamentos foram selecionados e lidos pelo diretor de licenciamento ambiental do Ibama, Jônatas Trindade. Ele chegou a interromper um representante dos pescadores, quando lia a carta aberta dos povos contra o projeto, alegando limite de tempo da participação. 

Segundo a advogada Jane, há pelo menos 116 comunidades quilombolas na zona de influência do empreendimento. “Muitas não têm sinal de internet, como iam participar?” Ela conta que “o EIA [Estudo de Impacto Ambiental] foi entregue pela ExxonMobil em cima da hora para consulta, ferindo o princípio da publicidade”. Para o advogado Jerônimo, seria necessário realizar mais de uma audiência on-line, “como prevê a Resolução do Conama 9/87, dada a complexidade dos impactos, que envolvem pelo menos cinco estados e 76 municípios em sua zona de influência”, destaca.

Às vésperas da COP 26, pescadores, ambientalistas e cientistas se unem para deter leilão da ANP, marcado para hoje, com blocos de exploração de petróleo em Noronha e costa de SC

Procuradora do MPF em Alagoas, Juliana Câmara quer anular a audiência por prejuízo à efetiva participação popular. A Ação Civil Pública apresentada por ela, com tutela de urgência, requer o agendamento de uma nova audiência presencial com participação das comunidades tradicionais pesqueiras, que foram excluídas do debate por falta de acesso à internet. Pede também a realização de várias audiências públicas, “dada a abrangência geográfica dos impactos ambientais”, e sinaliza “multa de R$ 10 mil por ato administrativo praticado sem o agendamento de nova audiência presencial com a participação de comunidades tradicionais”. A Justiça ainda não se posicionou.

Juliana está acostumada a acompanhar atividades com grande impacto socioambiental, mas alguns pontos chamam sua atenção nesse caso. O primeiro é a pressa nos processos para o licenciamento ambiental. “Também o comportamento do Ibama, que aponta problemas, mas logo depois acata a justificativa apresentada pelo empreendedor”, observa. Ela diz que a empresa, que esperava iniciar perfurações no segundo semestre, vem demonstrando descontentamento com os questionamentos do MPF e a resistência das comunidades. “Disseram que eventual retardo na licença ambiental afetará o interesse em sua concessão.” 

A procuradora pediu análise pericial dos estudos de impacto ambiental. “Os peritos apontaram o uso de dados defasados e que não levam em conta a sinergia das atividades, onde estão envolvidas não apenas a extração, bem como a movimentação dos navios transportando o óleo, o gás e os resíduos, que serão tratados em Niterói (RJ)”, explica.

Emerson Soares, professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), lembra de quando avistou as primeiras marcas do petróleo enquanto caminhava na praia de Ipioca (AL). Era agosto de 2019. “Encontrei bolachas-do-mar [uma espécie marinha prima do ouriço] com manchas. Recolhi para analisar. Depois de 15 dias, chegou uma tartaruga contaminada.” Engenheiro de pesca e doutor em biotecnologia, ele esteve à frente da força-tarefa do óleo em Alagoas e coordena expedições científicas pelo São Francisco, coletando dados e promovendo ações de educação ambiental. 

“Se o bom senso fosse levado em conta, explorar petróleo próximo à foz seria a última coisa a se fazer”, argumenta. Ele contesta a modelagem utilizada pelos estudos de impacto e dispersão de óleo do Projeto SEAL, que considera atrasada. “Não levaram em conta as pesquisas locais mais recentes, e já publicadas, sobre a vazão do rio São Francisco, constantemente em mutação. Nem os níveis de metais pesados, que aumentaram substancialmente desde o acidente de petróleo em 2019, porque a região da foz foi contaminada.”

Como os reais impactos socioambientais do desastre do óleo nunca foram amplamente mensurados, muito menos sanados, o pesquisador se preocupa com o alto risco da nova atividade. Embora os técnicos da ExxonMobil garantam que a chance de vazamento dos poços a serem perfurados é baixa [na ordem de 1 para mais de 30 mil], Soares detalha, no quadro-branco pendurado em seu escritório, as preocupantes projeções. 

Por causa da baixa vazão, causada pela crise hídrica, construção de hidrelétricas, como a de Xingó, e tantas outras variáveis, o São Francisco não conseguiria conter o avanço de um derramamento de óleo próximo do seu estuário. Fatalmente, o material contaminaria a região da foz. No pior cenário, segundo Soares, o petróleo chegaria à parte dos municípios do litoral norte de Sergipe e do sul de Alagoas – de Jequiá da Praia (AL), passando por toda a região de desembocadura, até próximo a Aracaju (SE). “Com a influência das marés, um derramamento de óleo poderia se deslocar até a cidade de Penedo, no sul de Alagoas.”

Tudo depende da gravidade do escape e do tempo de resposta. Também da época do ano e das correntes. Mas mesmo nos cenários mais moderados, os municípios da foz do São Francisco são os mais vulneráveis à contaminação. Isso implica dizer que todas as áreas de proteção ambiental, comunidades locais e atividades econômicas de alta importância para a região, como turismo e pesca, inclusive do camarão, de ostras e do maçunim, um marisco muito consumido em Alagoas, podem ser afetadas. 

“Sem falar do manguezal do São Francisco, que fornece cerca de 50% das espécies da região”, acrescenta o pesquisador. “Não apenas acidentes, como a própria atividade tem impactos no descarte de materiais tóxicos e no próprio fluxo de navios nas atividades de extração, que modificam toda a dinâmica local, trazendo espécies invasoras em seus cascos.”

TOINHO PESCADOR: POETA E GUARDIÃO DO VELHO CHICO: As janelas dos casarões da histórica Penedo, no sul de Alagoas, têm vista para as margens do Baixo São Francisco. Na beira do rio, a estátua de Dom Pedro II lembra a visita do imperador ao primeiro povoado do estado. Antônio Gomes dos Santos, o Toinho Pescador de Penedo, é memória viva do lugar. E as águas do Velho Chico são o fluxo contínuo de suas lembranças. 

“Hoje o rio tá pobrezinho. Antigamente ficava azul de tanto peixe”, recorda. Aos 89 anos, na pesca desde os 11, Toinho é uma das principais lideranças populares em defesa do rio. Na década de 1960, em plena ditadura militar, ajudou a fundar o Conselho da Pastoral dos Pescadores do estado, cujo papel na resistência política e na mobilização foi fundamental na conquista de direitos dos pescadores artesanais, como os previdenciários, garantidos na Constituição de 1988. Nessa época, ele chegou a ser até ameaçado de prisão.

Poeta e testemunha tanto das mudanças históricas como das ambientais no São Francisco, o pescador denuncia as ameaças ao rio em versos. Sobre a mortandade de peixes depois da construção de barragens, escreveu: “Fecharam todas as várzeas/ Barragens foi por demais/ Acabou-se a produção dos peixes/ Já se foram os animais/ Agrotóxicos matam os passarinhos/ Já se foram os animais”.  

Toinho, seus versos e sua experiência não foram ouvidos pelos empreendedores do Projeto SEAL. Ele lamenta não ter sido convidado para debater o projeto. “Não sou contra explorar petróleo, mas não tem outro lugar que não seja um rio produtivo, que dá alimento? A foz do São Francisco já tem o seu petróleo, que é o peixe.”  

O pescador Genildo Luz, conhecido como Bumba, vestia um boné azul com a marca da ExxonMobil quando chegamos à praia de Coruripe (AL), região da foz. Ele recebeu camisa e um certificado de participação no treinamento de limpeza de praias. “Pagaram R$ 2,5 mil por diária durante 11 dias. Foi bom demais”, comemora. 

Bumba aprendeu a colocar boias de contenção para evitar a chegada do óleo. Contou que 50 mulheres foram convocadas para tirar lixo das praias, ganhando R$ 150 cada uma, que a empresa ainda deu brinquedos para crianças. De quebra, seus técnicos movimentaram pousadas e restaurantes locais. Toda empolgação parece contraditória quando ele lembra o prejuízo tomado no desastre do petróleo, poucos anos atrás. “Fiquei sem vender peixe”, diz. “Agora, se tiver vai ser ruim, mas a empresa vai pagar a gente pra trabalhar”, ameniza.

“Até hoje tem óleo nas pedras do pontal do Coruripe”, comenta Zilma Borges, do Instituto Amigos da Natureza, que fez diagnósticos locais em 2019. Naquele ano, Rosedite Pereira, presidente da Associação dos Ostricultores do município, se voluntariou na limpeza das praias. “O petróleo grudava nas telas onde criamos as ostras. Cheguei a tirar cinco baldes de ostras mortas na época”, lembra.

O material tóxico fazia mal para a saúde. A pele de Rosedite ficou vermelha e coçando. Sentiu náuseas, tonturas, mas nunca teve os níveis de intoxicação monitorados para saber se desenvolveria alguma doença com o passar dos anos. Ela também não recebeu compensação pelas perdas financeiras, nem agora, na pandemia, quando os restaurantes chiques de Maceió suspenderam as compras de ostras. “Penso no dinheiro, mas penso mais no meio ambiente, no mangue, que chamo do meu segundo marido”, comenta. “Será que as pessoas estão prontas para evitar uma tragédia ou só estão pensando no dinheiro?”

Em resposta aos questionamentos da reportagem, a ExxonMobil enviou a seguinte nota:

“Com relação aos poços marítimos na Bacia de Sergipe-Alagoas, a ExxonMobil está seguindo as recomendações e protocolos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama). Nossa prioridade é preservar a saúde e a segurança da comunidade e do meio ambiente. Reforçamos que foram realizadas inúmeras reuniões com representantes das comunidades na área de abrangência do projeto, e também audiência pública virtual no dia 14 de setembro de 2021, liderada pelo Ibama. A audiência foi aberta à sociedade e transmitida em plataforma Zoom, pelo Youtube, por rádios locais e está disponível para acesso, por meio do link: www.audienciapublicaExxonMobil.com.br/seal.” (Fonte: agenciapublica e infosaofrancisco)


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É TEMPO DE SAFRA DO UMBU NO SERTÃO

É tempo de umbu e seus derivados pelos quatro cantos da Bahia! Neste mês de janeiro, verão na Bahia, e a safra do umbu promete espalhar esse fruto originário da Caatinga pelas mesas de baianos e baianas, mas também por famílias de outros estados Brasil e até da Alemanha. 

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção de umbu, em 2020, foi de 5,4 mil toneladas, representando 57% do total do país, sendo destaque nacional. Na Bahia, a produção é resultado de um extrativismo sustentável, que proporciona renda para milhares de famílias.

Além de ser comercializado in natura, o umbu pode ser consumido em suco e umbuzada, e também pode ser adquirido e consumido em produtos como geleias, doces, picolés, umbubom, cervejas e licores artesanais. Essas transformações foram possíveis a partir dos investimentos do Governo da Bahia, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), em cooperativas e associações da agricultura familiar, que passaram a contar com agroindústrias de beneficiamento de frutas e com as orientações do serviço de assistência técnica e extensão rural (Ater).

As ações proporcionam o aumento da produção e da produtividade e a qualificação da produção, tendo como um dos principais resultados produtos com valor agregado, que atendem à demanda do mercado.

Um dos casos de sucesso relacionados à 'Árvore Sagrada do Sertão' é o da Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc), localizada no município de Uauá, do Território Sertão do São Francisco. A cooperativa, que comercializa a produção para diversos municípios da Bahia, em outros estados do Brasil e até para a Alemanha, teve, em 2021, faturamento de R$1,5 milhão.

O secretário de Desenvolvimento Rural, Josias Gomes, ressalta que os investimentos têm a finalidade de agregar valor a esse fruto, que é símbolo do Sertão, mas que por muito tempo foi utilizado para alimentação animal e se perdia. 

Ele destaca a importância de se manter a cultura regional, enquanto se investe na melhoria das condições de trabalho e diversificação da produção, o que tem proporcionado alcançar um ganho em escala nunca visto na Bahia, contando com investimentos que incluem agroindústrias, melhoramento do cultivo, aumento de produtividade, e introdução de novos cultivares como o umbu gigante.

"Não fosse assim, nós hoje estaríamos com uma safra grande de umbu sem ter aonde beneficiar e o Estado permitiu que isso fosse feito, de modo que nosso propósito está plenamente aceito e atingido, que é o de agregar valor a esse fruto, na medida em que preservamos a Caatinga e preservamos o umbu, que é o símbolo do Sertão, e damos a ele um sentido importante para que ele continue sendo símbolo do Semiárido Nordestino, que começa a ser admirado pelos doces, geleias, umbuzada que, finalmente, a Coopercuc conseguiu envasar. Valeu o investimento feito pelo Governo do Estado na cultura do umbu", enfatiza Josias Gomes.

Por meio de projetos como o Bahia Produtiva e o Pró-Semiárido, executados pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR/SDR), foram destinados recursos da ordem de R$6 milhões, em infraestrutura, maquinários, equipamentos e outros investimentos voltados para o beneficiamento de frutas. Com as ações, agricultores e agricultoras familiares têm garantido a sua renda com o fruto da terra.

Lucas Carvalho dos Anjos, que é empresário e possui uma loja no município de Lençóis, na Chapada Diamantina, lembrou que o umbu é bastante azedo, mas que conseguiram dar versatilidade à fruta, de modo a permitir sua produção em escala sem perder a qualidade. "Compro para a revenda e sou consumidor do produto. Eu tenho uma loja em Lençóis de produtos da Chapada Diamantina e eu abro exceções para produtos que eu considero de qualidade.

Denise Cardoso, presidente da cooperativa, apresenta a linha de produtos derivados do umbu e fala sobre a expectativa dessa safra. 

"Os produtos derivados do umbu que produzimos aqui são a geleia, os doces, doce de corte, cerveja, licor, umbubom. São vários produtos, tem as polpas, os sucos, e as perspectivas são boas, em relação à safra deste ano. Acredito que será um ano bom para a gente". Em média são colhidas 60 toneladas do fruto, ao ano, nessa região, mas a expectativa é chegar às 100 toneladas, até março de 2022.

Nutrição e sistema imunológico: Além do sabor marcante e dos inúmeros nutrientes o umbu ajuda a aumentar a imunidade, já que é fonte de vitaminas do complexo B, A e C, além de possuir alto teor de minerais como cálcio, ferro, fósforo, potássio e zinco. Neste período de pandemia, é uma boa opção para manter a imunidade em alta. (Fonte: Assessoria de Comunicação SDR/CAR) 

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GERALDO AZEVEDO COMPLETA 77 ANOS E FAZ SAUDAÇÃO AO RIO SÃO FRANCISCO

Geraldo Azevedo nasceu em Petrolina, interior de Pernambuco, no dia 11 de janeiro de 1945. O garoto cresceu às margens do Rio São Francisco e, desde cedo, se interessou pela música, com o incentivo da mãe, professora que promovia eventos culturais na cidade, e do pai, que foi quem lhe deu o primeiro violão. Rapidamente, Geraldo começou a se apresentar nas rádios da cidade, até que se muda para Recife, para se preparar para a faculdade de arquitetura. 

Na capital, funda o grupo Construção com Naná Vasconcelos, Teca Calazans e Paulo Guimarães, se apresentando em universidades e festivais culturais. Em 1966, Geraldo Azevedo estreia oficialmente como compositor, quando Teca grava “Aquela Rosa”, parceria com Carlos Fernando inscrita no Festival de Música Popular do Nordeste. A partir daí, passa a acompanhar a cantora Eliana Pittman e se muda para o Rio de Janeiro, onde conhece Alceu Valença. 

Os dois pernambucanos logo se tornam amigos e gravam, juntos, o primeiro disco. “Quadrafônico” é lançado em 1972. Na sequência, cada um parte para a carreira-solo, mas mantém a parceria que resulta em músicas de sucesso como “Caravana” e “Táxi Lunar”, esta última com a participação de Zé Ramalho na composição. Entre os maiores sucessos da carreira de Geraldo Azevedo estão músicas como “Dona da Minha Cabeça”, “Dia Branco” e “Moça Bonita”. E, atualmente, leva ao palco um projeto musical em parceria com Chico César. 

“Fui para o Rio de Janeiro por conta de uma peça de teatro que foi selecionada para o Festival Universitário. No dia da nossa estreia, os diretores do Teatro Opinião estavam presentes e me convidaram para trabalhar na peça do Plínio”, conta Teca Calazans. 

Posteriormente, ela atuaria em programas da TV Globo, até assumir, em 1983, o comando do semanário “Forró”, na Televisão Educativa, a convite do compositor Fernando Lobo, em substituição a Carmélia Alves. 

A tônica era o imenso e diversificado caldo rítmico do Nordeste. Teca não poderia estar mais em casa e à vontade. Na capital carioca, a estadia foi rápida. Ela tinha na praça um compacto simples com uma adaptação dela própria e uma marcha de Geraldo Azevedo e Carlos Fernando, “Aquela Rosa”. 

No ano de 2017, a Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e a Universidade de Pernambuco (UPE) concederam o título de Doutor Honoris Causa ao compositor e músico petrolinense, Geraldo Azevedo. 

No época durante o 3º Congresso Internacional do Livro, Leitura e Literatura no Sertão (Clisertão), foi lançado o livro-homenagem do músico, intitulado “Um Geral-do Brasil: Histórias de Um Menino Ribeirinho”, organizado pelo professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), doutor Juracy Marques, com a participação dos jornalistas Edilane Ferreira, Jota Menezes e Emanuel Andrade, assim como dos professores Joelma Conceição Reis e Ricardo Bitencourt.

“Ao narrar histórias sobre Geraldo, estamos tratando, igualmente, da história social e cultural da sua terra natal e do nosso país. Estamos, na verdade, apresentando um ‘Geral-do Brasil”, disse Juracy.

Geraldo Azevedo é defensor do Rio São Francisco: “As pessoas não acreditam que o planeta pode mudar, as iniciativas de revitalização são todas muito tímidas, enquanto o desmatamento, a poluição e os maus tratos são contínuos”, desabafa. 

As águas doces do Rio São Francisco são saudadas por Geraldo Azevedo no espetáculo “Salve São Francisco”, que rendeu disco e DVD com as participações de Maria Bethânia, Ivete Sangalo, Djavan, Moraes Moreira e Fernanda Takai, que canta com o anfitrião “Opara”, nome de origem indígena. 

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EXU: ASSOCIAÇÃO DE MULHERES AS KAROLINAS REALIZA FEIRA CRIATIVA NESTA QUINTA-FEIR (13)

Nesta quinta-feira (13), a Associação de Mulheres As Karolinas, detalhe, Mulheres Karolina com K, a interpretada por Luiz Gonzaga e que ganham empoderamento "fazendo arte e até teatro", inicia o ano 2022, com a Feira Criativa, com apoio da Lei Aldir Blanc,  na pracinha da Vila, a partir das 18hs.

A feira tem a participação de Lerego Alves e Trio Pé de Serra.

No universo das comunidades artesanais brasileiras, 90% do segmento é formado por mulheres artesãs. Um exemplo está em Exu, Pernambuco. As mulheres artesãs trazem inovação, um olhar para o todo e buscam atuar em Exu, Pernambuco e região, o que fortalece ainda mais o trabalho que desenvolvem através do artesanato. 

Ano passado durante as festividades dos 109 anos de Luiz Gonzaga, a presidente da Associação de Mulheres As Karolinas, localizada na Comunidade da Vilha Nossa Senhora Aparecida, a agricultura Cícera Evarista, disse que é neta do artesão, o saudoso Zé Maria que transformava cipó em Arte e que associação surgiu com objetivo de melhorar a qualidade de vida e autoestima das mulheres. 

A Associação de Mulheres As Karolinas é exemplo superação, esforços, vontade de vencer. "Todas as mulheres artesãs aqui seguem a máxima da música Vozes da Seca, pois queremos trabalhar e ganhar com nosso suor, não queremos esmolas. Queremos trabalhar e mostrar que somos da terra da arte", afirma Cicera.

A associação surgiu para garantir dignidade as mulheres e está em ascensão, se aperfeiçoando para driblar os desafios para Conquistarem seus espaços. “Não é fácil e nem simples, mas é transformador”, afirma Cícera ressaltando que as mulheres fazem tricô, croché, bordado, brincos, e várias miniaturas com a imagem de Luiz Gonzaga.

São cerca de 36 mulheres, todas unidas e com a missão também de capacitar pessoas para a geração de rendas. "As artesãs criam juntas e ganham juntas”.

As mulheres são maioria no Brasil, equivalente a 51,8% da população segundo o censo do IBGE de 2019. Nas comunidades artesanais brasileiras esse número é ainda maior: as mulheres representam 90% de todo segmento. O fortalecimento do trabalho das artesãs no país acontece especialmente pelo trabalho contínuo de comunidades e instituições de apoio.

Boa parte das artesãs vivem em regiões com poucas oportunidades de trabalho, há dois anos de maneira agravante, diante o enfrentamento à pandemia do COVID-19, associações surgem através da economia criativa para superar estigmas de gênero, e fatores como baixa escolaridade e falta de acesso a recursos econômicos.

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ARTICULAÇÃO SEMIÁRIDO REALIZA LANÇAMENTO ESTADUAL DA CAMPANHA TENHO SEDE NESTA QUINTA (13)

Não falta mais água (na minha comunidade), diminuiu o sofrimento. Aqui ninguém vê mais mulher com lata d' água na cabeça. A cisterna foi uma bênção de Deus", diz a agricultora Judite Gonçalves, 83 anos, de Senhor do Bonfim-BA que teve a sua realidade transformada para melhor com o Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC). Assim como dona Judite mudou de vida com o acesso à cisterna, outras famílias ainda precisam dessa transformação.

Para continuar proporcionando melhor qualidade de vida aos povos da região do Semiárido Brasileiro, a Campanha Tenho Sede visa arrecadar recursos para construção de mais um milhão de cisternas na região do Semiárido Brasileiro. A live de lançamento da campanha Tenho Sede na Bahia acontece nesta quinta-feira (13), a partir das 19h, com transmissão pelo canal da ASA Bahia no YouTube. 

A iniciativa conta com participações especiais de artistas de diferentes territórios baianos como os músicos Roberto Malvezzi – conhecido como Gogó, Marcondes Leite, Aurivone Ferreira, Clara Moreira, Juliano Vilas Boas, Climério Vale e Renato Pereira; as cordelistas Roseli Cordeiro, Marliene Souza e Letícia Aparecida; o poeta Agnaldo Rocha e a poetisa Jamielle Dantas; além do guitarrista Valdir Rocha com as cantadeiras de roda e sambadores/as de Várzea da Roça e dos grupos de dança Quilombos Baixão dos Negros e Maria Preta de Banzaê e Quilombo de Juazeiro dos Capotes de Jeremoabo. Além de homenagem ao saudoso Haroldo Schistek, que sempre lutou pelo bem viver dos povos do Semiárido. 

O lançamento estadual pretende "mostrar à população da Bahia o significado da campanha Tenho Sede, como as pessoas podem contribuir e o que significa doar um pouco de si para as pessoas que não têm acesso à água", destaca Naidison Baptista que é um dos coordenadores estaduais da ASA Bahia. Ele ressalta que a necessidade dessa arrecadação de recursos  se dá porque o programa de cisternas foi suspenso pelo Governo Federal, mesmo existindo ainda mais de três milhões de pessoas que necessitam dessa tecnologia social fundamental para a Convivência com o Semiárido.

"Esta campanha é muito importante! É uma campanha de cidadania, de liberdade, de apoio às mulheres, porque são elas que na maioria das vezes dedicam grande parte do dia a buscar água. Participe da campanha, venha para nossa live. Movimente seus vizinhos e suas vizinhas, busque doadores e doadoras e você também faça seu gesto de solidariedade", frisa Naidison, que também é idealizador da campanha Tenho Sede.

Durante a live, serão realizados sorteios de CDs e livros. Para  concorrer, siga o perfil da Asa Bahia no Instagram @asabahia e veja as orientações. Acesse o canal da ASA Bahia no YouTube para acompanhar a live de lançamento estadual da campanha Tenho Sede:  youtube.com/c/ASABahia.

TENHO SEDE: A campanha Tenho Sede foi lançada nacionalmente em setembro deste ano pela Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA). Seu objetivo é arrecadar recursos para construção de mais um milhão de cisternas de placas para famílias do Semiárido que sofrem com a falta de água para o consumo humano e produção de alimentos. Há cerca de 21 anos, a ASA construiu 1 milhão e 200 mil cisternas no Semiárido, com o Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), mudando a realidade de famílias rurais que passaram a ter melhor qualidade de vida, alimentação e saúde, além de possibilitar a produção de alimentos também para a comercialização, colaborando com a renda das agricultoras e agricultores da região.

O acesso à água é um dos elementos norteadores da Convivência com o Semiárido defendida pela ASA, que reúne mais de três mil organizações, que defendem e propagam políticas públicas voltadas para o Bem Viver no Semiárido.

Os/as interessados/as podem colaborar com doações mensais, anuais ou únicas, que podem ser feitas pela internet, no site www.tenhosede.org.br. 

A campanha Tenho Sede conta com apoio de Gilberto Gil, que regravou a composição de Dominguinhos e Anastácia com direito a um clipe especial para a ação da ASA. A canção é bastante conhecida e torna-se o hino da campanha justamente por representar a luta pelo acesso à água potável, um recurso natural e vital, direito de todas as pessoas.

Traga-me um copo d'água, tenho sede

E essa sede pode me matar

Minha garganta pede um pouco d'água

E os meus olhos pedem teu olhar

A planta pede chuva quando quer brotar

O céu logo escurece quando vai chover

Meu coração só pede o teu amor

Se não me deres posso até morrer

SERVIÇO: Lançamento estadual da campanha Tenho Sede

Dia 13/01 (quinta-feira) - 19h

Onde? No canal da ASA Bahia: youtube.com/c/ASABahia

Participações de artistas: Roberto Malvezzi – Gogó, Marcondes Leite, Juliano Vilas Boas, Aurivone Ferreira, Clara Moreira, Climério Vale e Renato Pereira, Roseli Cordeiro, Letícia Aparecida, Marliene Souza, Agnaldo Rocha, Jamielle Dantas, Valdir Rocha com as Cantadeiras de Roda e Sambadores de Várzea da Roça, e grupos de dança Quilombos Baixão dos Negros e Maria Preta de Banzaê e Quilombo de Juazeiro dos Capotes de Jeremoabo

Participações especiais do integrante da coordenação da Articulação Semiárido na Bahia, Naidison Baptista; da Coordenadora da Campanha Tenho Sede, Fernanda Cruz; e do Presidente da AP1MC, Cícero Félix

Mediação: cordelista Keu Silva e comunicadora Amanda Monteiro

Outra informações: @asabahia (instagram e facebook) 

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RENATO TEIXEIRA VISITA MUSEU LUIZ GONZAGA, NO DISTRITO DE DOM QUINTINO, CRATO CEARÁ


O cantor e compositor Humberto Teixeira literalmente está realizandouma "Romaria", nas terras de Pernambuco e Ceará. Depois de visitar Exu Pernambuco, terra de Luiz Gonzaga, Assará, terra do poeta Patativa do Assaré, Espedito Seleiro, Fundação Casa Grande Memorial Homem do Kariri, em Nova Olinda, Flávio Leandro e Cissa, Bodocó, Pernambuco ontem (09), o poeta conheceu o Museu Luiz Gonzaga, localizado no Distrito de Dom Quintino, Crato Ceará.

"Foi lindo", disse o criador do Museu Luiz Gonzaga, o jovem Pedro Lucas Feitosa, ressaltado que Renato Teixeira é um dos maiores nomes da música brasileira e ele visitou o distrito de Dom Quintino e junto com ele, o pesquisador Paulo Vanderley. 

"Paulo Vanderley trouxe o Renato Teixeita e tudo se torna muito forte pela valorização da cultura brasileira", falou Pedro Lucas.

A história do adolescente teve início em 2013, Pedro Lucas Feitosa, então com 8 anos, voltou encantado de uma visita que fizera ao Parque Asa Branca, o Museu do Gonzagão, em Exu, Pernambuco. Ao voltar para a sua casa, no Crato (Cariri cearense), Pedro Lucas já sabia como dar vazão à admiração que nutre por Luiz Gonzaga: ele criaria um museu dedicado ao Rei do Baião, na casa em que sua falecida bisavó morava, vizinha à dele.

A história virou realidade no distrito de Dom Quintino, a 26 km do centro do Crato,  Ceará, onde Pedro Lucas, montou o museu para contar a história de Luiz Gonzaga. O garoto teve inspiração de outros lugares artísticos. "Eu vi muita gente que queria conhecer a história dele, Luiz Gonzaga, logo vislumbrei criar um ponto turístico e eu criei o museu".

Segundo o avô, Antônio Feitosa, aos 5 anos o menino começou a ouvir as músicas de Luiz Gonzaga e se inspirou. A maior parte dos artigos do museu veio de doações de terceiros. "Eu postava na internet, o pessoal foi vendo e doando", diz o idealizador do museu.

A paixão pela música de Luiz Gonzaga foi concretizada quando numa festa de São João na escola, Pedro Lucas escutou “Numa Sala de Reboco”, letra de Zé Marcolino e ter gostado tanto da música que passou a cantá-la frequentemente. Uma tia dele viu o gosto pela música e presenteou-o com um CD de Luiz Gonzaga.

Atualmente, o Museu Luiz Gonzaga, está localizado na rua Rua Alto da Antena, no Distrito de Dom Quintino. O espaço já foi visitado por nomes como Chambinho do Acordeon, Targino Gondim e o pesquisador Paulo Vanderley, pesquisador da vida e obra de Luiz Gonzaga.

O Museu Reúne objetos que recriam a época em que Gonzagão viveu. Pedro Lucas antes da pandemia guiava as visitas no local, contando a história de cada objeto do museu, função que divide com o primo, Caio Éverton. Além de vinis do artista, o museu exibe sanfonas, ferramentas de trabalho e utensílios, partes do universo cantado por Luiz Gonzaga.

 Para o futuro ele que ser um museólogo e no presente estuda no curso de  audiovisual.

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BAHIA VIVE ONDA DE MORTES DE ARARAS AZUIS ELETROCUTADAS EM POSTES

Congeladas num freezer, em uma fazenda em Euclides da Cunha, no Norte da Bahia, três araras-azuis-de-lear aguardam um desfecho. Nos últimos dez dias do ano passado, elas caíram mortas do céu da Caatinga. 

Não foi lá o que se pode chamar de novidade na região, onde a morte de araras se torna cada dia mais frequente. Desde 2018, ao menos 31 delas morreram em condições semelhantes: próximas a postes de energia. 

A arara-azul-de-lear está ameaçada de extinção e só existe em 12 cidades baianas. As principais são Canudos, onde a maioria das araras-azuis dorme nas fendas de paredões, e Euclides da Cunha, onde passam a maior parte do dia em busca de frutos de palmeiras para alimentação, como o licuri.

“A gente já se reuniu com instituição, já falamos do problema, mas o problema não é resolvido”, conta Marlene Reis, 41 anos, proprietária da fazenda onde estão as três araras refrigeradas, guardadas num saco plástico, e membro do projeto Jardins da Arara de Lear.

Ela e o marido, o guia de expedições naturais Mário Reis, são duas das pessoas que, com ajuda das populações locais, recolhem araras mortas do chão. É um trabalho que se avoluma. 

O trio de araras mortas aguarda por técnicos do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), responsáveis por realizar a necropsia, o exame que determina a causa morte, nos animais. Até o fechamento da reportagem, a espera continuava, assim como o problema associado a choques de animais em postes de energia da Neoenergia Coelba. 

A morte das araras passou a espantar em 2018, ano em que sete delas foram encontradas sem vida, próximas a redes elétricas, em Euclides da Cunha. Desde 2018, foram 31 mortes associadas à eletroplessão. As mortes se concentram em quatro áreas rurais de Euclides, porque lá estão os principais pontos de alimentação das araras do amanhecer ao fim do dia.

“Eletroplessão” é o termo técnico dado à morte causada por uma descarga elétrica não intencional. Ela acontece se uma arara tocar, simultaneamente, em um fio energizado e outro não energizado ou com potência energética diferente. Dessa forma, as araras fecham o circuito de energia e são eletrocutadas - algo parecido ao que ocorre, por exemplo, quando, descalço, você toma um choque durante o banho.

Com a diminuição da cobertura de árvores nativas, fenômeno que não é exclusivo de lá, as redes de energia se tornam lugares de pouso das araras. 

“A eletroplessão era um evento muito mais raro, morria um em um ano, depois morria outro. Nunca tinha visto nada parecido”, conta a engenheira Kilma Manso, que acumula mais de duas décadas de observação, pois chegou à Bahia em 1998.

A situação das mortes chegou ao limite numa data que engenheira Kilma Manso lembra, porque foi marcante: 9 de junho de 2020. Desde então, o Ministério Público da Bahia (MP) abriu dois inquéritos civis para apurar as mortes.

Coordenadora da Organização para Conservação do Meio Ambiente, Manso recebera, por três dias seguidos, notícia de araras mortas sob fios, no Povoado das Baixas, em Euclides da Cunha. “Primeiro eu achei que era um problema específico de um poste. Mas aí chegaram os três casos, em três dias seguidos”.

Para Kilma, era impossível que tudo se tratasse de uma coincidência. Possível era que as mortes não parassem por ali. 

O problema pode ser resolvido com cinco mudanças, que incluem distanciamento dos fios dos postes e uso de cabeamento multiplexado (fios traçados e revestidos), segundo relatório técnico enviado ao MP. Mas as modificações não foram feitas, o que gera uma onda de mortes coletivas. 

A coletividade das mortes é tanto simbólica quanto literal. As araras azuis vivem um amor da monogamia. Se perdem seus companheiros ou companheiras, elas raramente voltam a participar do ciclo reprodutivo. Para uma espécie ameaçada de extinção e monogâmica, a morte de uma representa um declínio geral. 

Henrique Batalha, professor do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e especialista em evolução de aves, ajuda a explicar o porquê de isso acontecer. As araras, não só as de-lear, costumam manter uma só companhia sexual. O casal estará junto para cuidar dos filhos, forragear e desbravar novos territórios.

“Alguns estudos genéticos já mostram que existe cópulas fora do casal, o que é uma forma de aumentar a variabilidade genética, mas, de modo geral, a monogamia se aplica”. 

A expansão dos ambientes urbanos sem considerar a vida desses animais, aliado a anos de tráfico ilegal, impactam no sumiço delas do céu. 

No centro da cidade de Euclides da Cunha, está a Praça Arara Azul-de-Lear. Por engano, a praça tinha sido nomeada Ararinha, em 2010, mas a comunidade local pediu a troca para a Prefeitura. A ararinha - aquela que aparece no filme Rio (2011) - é a outra espécie que existia em Curaçá, no cerrado baiano, mas foi extinta.

No Brasil, existem cinco espécies de araras podem ser encontradas na região amazônica, no Nordeste e nas regiões do Planalto Central.

“A gente procura falar arara-azul-de-lear sempre, para não confundir”, conta Marlene, a ativista que guarda as araras mortas congeladas. 

Há, entre Euclides, Canudos e Jeremoabo, uma rede articulada de defensores da arara-azul-de-lear. São eles quem recolhem as araras mortas e cobram uma solução. Os nativos são incentivados a comunicar as mortes e, aí, os registros só crescem.

Em fevereiro de 2020, Aliomar Almeida, coordenador do projeto Jardins da Arara de Lear, entrou, pela primeira vez, em contato com a Neoenergia Coelba. Via rede social, ele denunciou as mortes das araras sob postes. Reuniões foram marcadas, nada foi resolvido. 

“O que vemos é o agravamento da situação. Quando os procurei, tínhamos um número de aproximadamente dez araras mortas e hoje, dois anos depois, são quase quarenta”, diz Aliomar Almeida, coordenador do projeto Jardins da Arara de Lear.

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) reconhece a eletroplessão como um dos principais desafios à sobrevivência das araras no Norte da Bahia. 

O Ministério Público e a Coelba estão, neste momento, em discussão sobre a assinatura de um Termo de Ajuste de Condutas (TAC) para promover mudanças em postes.

“Qual é a solução? Precisamos ter energia e precisamos ter araras vivas. Nos reunimos com entidades ambientais que atuam no local para pensar as melhores soluções”, afirma Luciana Khoury, promotora do órgão.

Na última sexta-feira (7), o MP notificou a Coelba sobre as mortes mais recentes de araras. A área que precisaria de mudanças tem 18 mil quilômetros de extensão e inclui cinco cidades. “Eles [a Coelba] acham inviável. Então, vamos fazer mudanças para que, de início, a gente informe as áreas prioritárias, mais urgentes, onde as mudanças precisam acontecer”, diz Khoury. 

A Neoenergia Coelba informou à reportagem que mantém diálogo com o MP para contribuir com a segurança da arara-azul-de-lear e que, durante todo o processo, apresentou alternativas possíveis de modificações na rede elétrica, como um inibidor de pouso das aves na rede. Segundo Khoury, a medida não foi aceita pela comunidade, que disse que o inibidor, na verdade, atrairia as araras para os fios. 

Depois da delimitação da área de maior incidência das araras, a Neoenergia Coelba afirma que apresentará nova proposta de readequação da rede elétrica.

O TURISMO DAS ARARAS: São 17h50 e o canto das araras-azul-de-lear se faz ouvir pela Fazenda Juazeiro, distrito de Euclides da Cunha. É sempre um acontecimento o retorno das araras para seus dormitórios, em Canudos, mais lembrada pela guerra que ocorreu na cidade que pela presença das araras azuis.

“Quando chega essa hora, eu vou para frente de casa”, conta Jucione de Santana, 43. O amadurecimento dos frutos de licuri está próximo, vai de janeiro a junho, e com ele as visitas das araras se tornarão mais constantes. “Elas ficam bem aqui no meu quintal”, conta Jucione. 

As araras fazem parte do cotidiano local. Em diferentes temporadas, turistas brasileiros e estrangeiros chegam às hospedarias da cidade para conhecê-las. Para isso, acordam 4h30 para ir até Canudos.

É onde funciona a Estação Biológica de Canudos, parque privado que abrange as áreas dos dormitórios das araras que, de manhãzinha, partem em busca de comida e só voltam no fim do dia. Elas gostam do licuri, um fruto típico da caatinga fartamente encontrado ao leste de Euclides da Cunha. 

A Estação, mantida pela Fundação Biodiversitas, pode receber visitas, que custam R$ 200 por pessoa. Roupas claras, barulho e flashes são proibidos. Os grupos não podem reunir mais de 15 pessoas. Eles se sentam em banquinhos de madeiras e a estrada que leva ao observatório é natural. Ameaçadas pelos humanos desde a chegada dos portugueses ao Brasil, as araras aprenderam a ter medo dos humanos. 

“Se trata de um animal em estado crítico de ameaça. Então, a gente não faz nada que cause qualquer transtorno, barulho, transtorno ao animal qualquer coisa que interfira vai prejudicar no crescimento da população”, explica Tania Maria da Silva, bióloga da Fundação Biodiversitas. 

Nas redondezas, uma parte da população sempre admirou a beleza do animal. Mas, para a fome, ele também era alimento, e os caçadores não se inibiam em atirar contra seu corpo de, em média, 75 centímetros.

Nos espaços da Academia e dos museus europeus, a arara-azul-de-lear já era descrita desde o século 19. Constava em quadros. Só em 1978, no entanto, depois de tanta procura, ela foi catalogada, oficialmente, no Norte baiano, pelo ornitólogo alemão naturalizado no Brasil, Helmut Sick. 

O mistério, enfim, estava solucionado. O problema do desaparecimento da espécie, por outro lado, não. Quando Sick encontrou as araras-azuis-de-lear, havia apenas 21 delas contabilizadas. O projeto de monitoramento das araras, iniciado pelo Icmbio e organizações ambientais, surtiu resultado. Em 2019, último ano do levantamento, eram 1469 araras-azuis-de-lear na Bahia. 

Antes do censo, havia gente como o avô de Mário Reis, que já falava e conhecia araras.

“Eu me lembro delas jovem, mas só me tornei defensor de uns 15 anos para cá. Virei ambientalista e defensor ferrenho da Caatinga e das araras”.

Reis viu o entorno encher de pessoas interessadas em ver as araras, que se tornaram um atrativo turístico que impacta a economia local. Ele próprio se tornou guia de expedições de turistas.

“A região toda sabe do problema do choque elétrico. A mortandade está muito grande”. No dia do fechamento desta publicação, a grandeza da mortandade se mostrou mais uma vez. A reportagem foi avisada da morte de outra arara, às 10h da última quinta-feira (6).

Dessa vez, um senhor encontrou o animal morto, sob um poste de energia no Povoado de Serra Branca, Euclides da Cunha. Ensacada e levada ao freezer, menos uma arara pincelou de azul o céu da caatinga no fim daquela tarde em que deveria voltar para casa. (Fonte: Correios 24hs-Fernanda Santana)

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