FEIRA DE ORGÂNICOS DO VALE SERÁ REABERTA NA QUINTA-FEIRA (13 EM JUAZEIRO

A Feira de Orgânicos do Vale retornará o seu funcionamento normal na próxima quinta-feira (13), de acordo com o plano da reabertura do comércio, iniciada no dia 27 de julho em Juazeiro. Os critérios de funcionamentos continuam os mesmos: uso obrigatório de máscaras de proteção para clientes e comerciantes, distanciamento social (2m entre as pessoas) e higienização com o fornecimento de álcool em gel a todos que estiverem no local.

A Feira de Orgânicos localizada na área externa da Casa do Artesão, Orla 2 de Juazeiro, é um espaço dedicado à comercialização de frutas, verduras e hortaliças orgânicas com periodicidade semanal (todas as quintas-feiras, das 16h às 20h) e tem como objetivo disponibilizar aos agricultores da região um local para a venda de seus produtos, facilitando o acesso à população, além de incentivar os novos agricultores a adotar o sistema de cultivo na região

A secretária da ADEAP, Elayne Borges, falou da necessidade de todos seguirem as normas de segurança. “A equipe da ADEAP irá trabalhar para garantir a saúde dos comerciantes e usuários da feira. Fizemos a demarcação do espaço para que todos mantenham o distanciamento social, colocamos funcionários da secretaria para aplicar álcool em gel nas mãos de todos os clientes que adentrarem o espaço, além de exigirmos o uso de máscaras. Pedimos aos usuários e comerciantes, que respeitem as medidas de segurança, sejam fiscais uns dos outros evitando aglomeração e contribuindo para saúde da população”, disse.

Vale destacar, que o serviço delivery da feira de orgânicos continua a funcionar através dos telefones (74) 99102-1764, (74) 99919-6351. (Fonte: Lene Radina/ADEAP)

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CULTURA: PROJETO ASA BRANCA, EXU PERNAMBUCO É TEMA DE LIVE NESTA SEGUNDA-FEIRA (10)

O Cariri Garden Shopping, localizado em Juazeiro do Norte, Ceará, realiza nesta segunda-feira (10), uma Live  com o tema Resgatando a Cultura do Rei do Baião, Luiz Gonzaga, às 16hs. A live conta com a parceria do Colégio Diocesano do Crato, Ceará, Grupo Lojas Neto Tintas (Petrolina, Juazeiro e Paulo Afonso, Bahia). A apresentação da live é do comunicador e publicitário Cícero Marcelino.

A transmissão será no instagran @caririgardenshoppingoficial e vai destacar os músicos do Projeto Asa Branca. O projeto ensina as crianças a tocar sanfona e é mantido pela Fundação Gonzagão, entidade criada em 2 de março de 2000 pelo então promotor de Justiça de Exu, Francisco Dirceu Barros, entre outros parceiros.

Durante a transmissão podem ser realizadas doações para contribuir com o trabalho do Projeto Asa Branca. Agência do Brasil: 1059-6 e conta corrente 18485-3 Fundação Gonzagão.

O projeto Asa Branca mantem viva a valorização do Pernambucano do Século e um  dos mais talentosos artistas da música brasileira, Luiz Gonzaga. 

A vice presidente da Fundação Gonzagão, a professora Aline Justino, diz que é sempre importante divulgar o legado de Luiz Gonzaga e Exu. "O projeto possui crianças e adolescentes que aprendem a tocar Sanfona, zabumba e triângulo, a santíssima trindade do forró ungida por Luiz Gonzaga em suas  andanças por este País e que revolucionou a música brasileira", conta Aline.

Aline revela que objetivo do Projeto Asa Branca é prestar atendimento a crianças e adolescentes, especialmente as carentes, utilizando a arte e a poesia de Luiz Gonzaga para sua promoção social.

Segundo Aline do ano 2000 até agora, mais de 800 crianças passaram pelo projeto, que inicialmente, além de música, oferecia oficinas de artesanato, dança e poesia. Algumas delas se destacam atualmente tocando sanfona e se apresentando em grupos regionais, “O importante é incentivar as crianças a valorizar a cultura gonzagueana e a promover o município de Exu”, enfatiza.

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MOVIMENTOS SOCIAIS REALIZAM NA TERÇA-FEIRA (11) ATO PELOS 100 MIL MORTOS PELA COVID-19 NO BRASIL

 Representantes, organizações e movimentos sociais de Petrolina, que acreditam na vida e repudiam o genocídio de brasileiros como a União Brasileira das Mulheres (UBM), movimentos sindicais, movimento Cores, Partido dos Trabalhadores, povos de terreiros, entre outros, promovem nesta terça-feira, dia 11 de agosto, o “Ato pelos 100 mil mortos pela COVID-19”, na Praça Maria Auxiliadora, Centro de Petrolina, às 16h.

O Ato tem o objetivo de denunciar as ações do governo que segundo as entidades tem ignorado e subestimado a pandemia, deixando o Ministério da Saúde a quase 90 dias sem um Ministro. Em meio a todo esse caos, 100 mil brasileiros perderam a vida e deixaram em seus entes queridos sentimentos de desesperança e tristeza, além do Brasil ter atualmente 3 milhões de casos de Covid-19 e 12,4 milhões de desempregados.

Desta forma, as instituições se unem para um ato simbólico pelos mortos, solidariedade a dor das famílias enlutadas e em defesa da democracia e pela garantia dos direitos que estão sendo desrespeitados.

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DOM PEDRO CASALDÁLIGA: ORAÇÃO A SÃO FRANCISCO

Compadre Francisco como vais de glória? E a comadre Clara e a irmandade toda? Nós, aqui na Terra, vamos mal vivendo, que a cobiça é grande e o amor pequeno.O Amor divino é mui pouco amado e é flor de uma noite o amor humano.

Metade do mundo definha de fome e a outra metade de medo da morte.A sábia loucura do santo Evangelho tem poucos alunos que a levem a sério. Senhora Pobreza, perfeita alegria, andam mais nos livros que nas nossas vidas...

Muitos tecnocratas e poucos poetas. Muitos doutrinários e menos profetas. Armas e aparelhos trustes e escritórios, planejam a história, manejam os povos.

A mãe natureza chora, poluída no ar e nas águas, nos céus e nas minas. Pássaros e flores morrem de amargura, e os lobos do espanto

ganharam as ruas. Murchou o estandarte da antiga arrogância. são de ódio e lucro as nossas cruzadas.

Sucedem-se as guerras e os tratados sobram; sangue por petróleo os impérios trocam.

O mundo é tão velho que, para ser novo, compadre Francisco, só fazendo outro…

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MORRE DOM PEDRO CASALDÁLIGA, O BISPO QUE DEFENDIA A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO, A REFORMA AGRÁRIA E DAS FLORESTAS

 Dom Pedro Casaldáliga, o bispo catalão que dedicou e arriscou a vida na defesa dos posseiros e dos indígenas da Amazônia, morreu neste sábado (8) às 9h40, em Batatais (SP), aos 92 anos.

Um dos líderes mais influentes da Igreja Católica no Brasil e na América Latina das últimas décadas, dom Pedro foi uma voz incansável contra o latifúndio e em favor da reforma agrária. De sua prelazia, participou, ao lado de outros bispos progressistas, da criação do Conselho Missionário Indigenista (Cimi) e da Comissão Pastoral da Terra.

A sua trajetória no Brasil começou em 1968, quando a busca para servir os mais pobres e injustiçados o levou a trocar a Espanha franquista por São Félix do Araguaia, então um povoado de 600 habitantes no interior de Mato Grosso.

A viagem por terra desde o interior de São Paulo durou uma semana. Logo no primeiro dia, o missionário claretiano encontrou quatro corpos de bebês mortos, acomodados em caixas de sapato diante de sua casa para que fossem enterrados. "Ou vamos embora daqui agora mesmo ou nos suicidamos ou encontramos uma solução para tudo isto", disse ao seu companheiro missionário Manuel Luzón, segundo a biografia autorizada "Descalço sobre a Terra Vermelha" (Unicamp), do jornalista Francesc Escribano, principal fonte de informações para este texto.

Esses primeiros anos foram de aprendizado sobre a dura realidade local. Em longas viagens de barco e por estradas precárias para chegar a comunidades isoladas, ele improvisava missas com cachaça e bolacha no lugar do vinho e da hóstia.

As condições miseráveis da população, na maioria retirantes do Nordeste, e os abusos cometidos por grandes fazendeiros respaldados pela ditadura militar causaram profunda indignação em dom Pedro. Adepto da ação e admirador do revolucionário argentino Che Guevara, incentivava ações de resistência de posseiros, como derrubadas de cerca dos grandes proprietários.

Em 1970, o padre escreveu o primeiro de vários textos-denúncia que o tornaram conhecido no Brasil e no exterior. "Escravidão e Feudalismo no norte de Mato Grosso", que descrevia os desmandos na região, foi enviado a autoridades da Igreja e do governo e motivou as primeiras acusações de que era agente comunista.

No ano seguinte, o papa Paulo 6º o nomeou bispo da prelazia de São Félix. Na cerimônia, à beira do rio Araguaia, substituiu a mitra e o báculo por um chapéu de palha e o anel de tucum (palmeira amazônica), presente dos índios tapirapés. Logo, o anel se tornaria o símbolo da adesão à Teologia da Libertação, corrente influenciada pelo marxismo que defende uma igreja próxima dos pobres.

Nessa época, dom Pedro publicou o seu texto mais conhecido, "Uma Igreja da Amazônia em conflito com o Latifúndio e a marginalização social", no qual fazia uma minuciosa denúncia contra grandes proprietários de terra. "Se 'a primeira missão do bispo é a de ser profeta', e o profeta é a voz daqueles que não têm voz (card. Marty), eu não poderia, honestamente, ficar de boca calada ao receber a plenitude do serviço sacerdotal", escreveu na introdução.

Dom Pedro chamou de "absurdas" as dimensões dos latifúndios da região, listando-os um a um. "A injustiça tem um nome nesta terra: latifúndio. E o único nome certo do desenvolvimento aqui é a reforma agrária."

Sessão solene em homenagem a Dom Pedro Casaldáliga no plenário da Câmara dos Deputados, em 2003 Sérgio Lima - 04.nov.2003/Folhapress Sessão solene em homenagem a Dom Pedro Casaldáliga no plenário da Câmara dos Deputados, em 2003 O desafio aos latifundiários colocou sua vida em perigo em vários momentos. Na primeira tentativa de assassinato, em 1971, um pistoleiro confessou ao bispo que havia sido contratado para matá-lo. Com a ajuda da igreja, ele fez a denúncia à polícia e fugiu da região.

O episódio mais sangrento aconteceu em outubro de 1976 no povoado de Ribeirão Bonito, hoje a cidade de Ribeirão Cascalheira (MT). Dom Pedro e o padre jesuíta João Bosco Penido Burnier foram até a delegacia tentar resgatar duas mulheres que estavam sendo torturadas. Na discussão com policiais, o companheiro do bispo levou uma coronhada e morreu com um tiro à queima-roupa na nuca.

No plano nacional, a relação com a ditadura militar tampouco foi fácil. Crítico feroz do regime, só escapou de ser expulso por intervenção direta do papa Paulo 6º. Com medo de ter a entrada ao país negada, só viajou ao exterior após a redemocratização. Morreu, aliás, sem jamais ter voltado a sua Catalunha natal.

O redemocratização, nos anos 1980, aliviou a tensão em São Félix, mas a ascensão do papa polonês João Paulo 2º, um opositor do comunismo, estremeceu suas relações com o Vaticano. A aproximação com a Nicarágua sandinista e com a Cuba de Fidel Castro, com quem se encontrou, provocaram atritos. Desta vez, o bispo de São Félix escapou de ser punido graças à intervenção da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).

Em 2003, ao completar 75 anos, dom Pedro apresentou sua carta de renúncia ao papa João Paulo 2º, como prevê o protocolo. Nessa época, já sentia os efeitos do "irmão Parkinson", como ele brincava, doença que ao longo dos anos lhe tirou os passos e depois a voz. Mesmo assim, nunca abandonou São Félix, hoje com 11 mil habitantes.

O legado de dom Pedro não se resume à luta contra a injustiça social. Escritor e poeta, é autor de diversos livros, alguns publicados apenas na Espanha, onde também é reconhecido como influente liderança católica.

Em um de seus poemas sobre a morte, escreveu: "Eu morrerei em pé, como as árvores/Me matarão em pé. O sol, testemunha maior, imprimirá seu lacre/sobre meu corpo duplamente ungido. De golpe, com a morte/se fará verdade a minha vida/Por fim, terei amado!"

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RADIALISTA CARLOS AUGUSTO EM SUAS ESTAÇÕES DE SAUDADE

Antes da radiodifusão em solo dos sertões pernambucanos, algumas cidades incluindo Petrolina, mobilizava sua comunicação, seu comércio, sua vida em sociedade através de serviços privados de alto-falantes a partir de um estúdio improvisado, uma engenhoca acoplando microfone, pikc-up para disco em vinil e cornetas afixadas em postes públicos. 

Em Petrolina esse serviço eletrônico no inicio dos anos 1960 foi instalado, segundo informações investigadas e confrontadas por este signatário, em três diferentes endereços. Mas, sobressaia-se o estúdio “BRASIL PUBLICIDADE” de um “Menininho Sobral” em conjunto com entusiasmado comunicador de voz em tom de barítono conforme o mercado exigia à época. 

Era Carlos Augusto Amariz Gomes, dividindo-se nas atividades de estudante do Colégio Dom Bosco e empreendedor no setor lojista de bicicletas. Venceu nessa disputa, o microfone, a comunicação que acordava com Petrolina diariamente. A Diocese de Petrolina através de seu titular, Dom Antônio Campelo, estava em conversa com o Governo Federal, ainda na gestão de Juscelino Kubistchek, visando a concessão de uma emissora de rádio. 

Enquanto Carlos Augusto afinava sua voz que nunca “precisou de truques eletrônicos”, Dom Campelo encurtava seus voos para Brasília em avião ou entre cortava a Bahia e Minas para pressionar presidentes. Em 1962, governava agora o Brasil Jânio Quadros. Com sorte e reza, Dom Campelo arrancou autorização do presidente JANIO Quadro e ele fez porque quis, ou seja, a EMISSORA RURAL, hoje, RADIO A VOZ DO SÃO FRANCISCO AM 730. Torre fincada, rádio no ar e administração diocesana recrutara alguns locutores, entre estes, o que viria a ser seu próprio ‘DNA’, a primeira carteira profissional registrada, o primeiro emprego em comunicação, CARLOS AUGUSTO.

Antes da Emissora Rural, porém, Carlos Augusto se juntava a outro brilhante comunicador do rádio regional, Osvaldo Benevides, recentemente falecido ainda na direção da sua Rádio Juazeiro, Bahia. Essa dupla protagonizou em alto-falante um ‘jornal falado’ denominado REVISTA DOMINICAL. Carlos e Osvaldo entre 1959 e 1962, ressaltavam a qualidade sonora, a voz nativa sem sotaque sem frescura e sem influência de nada para tornar mágica a história das emissoras hoje multiplicadas em frequência modulada e ondas médias. 

Carlos Augusto junto com a EMISSORA RURAL, no ‘Antigo’ e RADIO GRANDE RIO AM neste Novo TESTAMENTO, soube juntar valores, oxigenar nossa antropologia de seca e de couro, de vaqueiro e cantorias, de sanfona e berrante, de Rio e espécie animal, sobretudo o jumento, repartindo seu temperamento duro feito angico, sua alma de asa branca, seu olhar firme de catingueiro para tornar bela cada manhã brasileira dos sertões adentro. 

Carlos Augusto lia a riqueza mas comia no prato indesejado dos bêbados marginais em seu sabático jeito de juntar tocadores, bom e ruim, em quaisquer foles ou zabumba, no aço de qualquer triângulo e no que fosse mais inventado nessa orquestra de gente excluída. 

CARLOS AUGUSTO juntava multidões. Carlos corria mato adentro com tantos vaqueiros embandeirados para a Missa campal ou para o terço anônimo do ‘Pau de Leite’. Carlos era a reprodução invejável de todos os intérpretes d xote, do xaxado e do baião. Era Luiz Gonzaga encarnado no estúdio mandando essa terra acordar que “ já é meio dia”. A Radiodifusão hoje fica órfã do BOIADEIRO DO RÁDIO que pegou seu gado e foi pra junto do seu bem, JESUS SERTANEJO.

Adeus...  (Testo apresentado em Petrolina, 02 de Abril de 2015. *Por Marcelo Barbosa Damasceno-radialista)

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ESPECIALISTAS ALERTAM PARA O RISCO DE EXTINÇÃO DOS JUMENTOS NAS PAISAGENS DOS SERTÕES DEVIDO EXPORTAÇÃO PARA A CHINA

Em menos de cinco anos, o animal que se tornou símbolo do sertão pode desaparecer da paisagem nordestina. Usado na produção de remédios e cosméticos na China, a exportação coloca em risco a espécie. O mestre Luiz Gonzaga deu-lhe o título de “maior desenvolvimentista do sertão”, na canção “O jumento é nosso irmão” (autoria de José Clementino).

Já Chico Buarque teve que reconhecer, no musical “Os Saltimbancos”, que, afinal, não era mesmo o “jumento o grande malandro da praça”, pois “trabalha, trabalha de graça”. Também chamado de jegue, asno ou jerico, qualquer alcunha que se escolha para o animal de origem africana, introduzido no Brasil pelos portugueses, esta remeterá sempre à estultice, à parvoíce. Historicamente, porém, ele tem papel fundamental no desenvolvimento agrícola do país, principalmente no Nordeste. Antes da chegada das máquinas, era o grande aliado do homem do campo na lida diária, transformando-se em patrimônio cultural e símbolo do agreste brasileiro.

Nos últimos anos, no entanto, o simpático jumento começou a sumir da paisagem sertaneja, desde que os chineses passaram a importar o animal do Brasil. Segundo especialistas, o risco de extinção tornou-se iminente. Estima-se que em menos de cinco anos a espécie pode desaparecer. A China tem interesse, principalmente, no couro, matéria prima para a produção do ejiao, uma gelatina usada na medicina e em cosméticos. A carne é um subproduto, consumido no Norte do país asiático. Calcula-se que a demanda por jumentos na China gire em torno de cinco milhões de cabeça por ano, movimentando um mercado de cerca de R$ 22 bilhões. A ironia é que o Brasil entrou nessa conta sem sequer ter quantidade suficiente de animais para exportação. Em 2012, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) contabilizara uma população de apenas 902 mil jumentos, 877 destes vivendo no Nordeste.

A sorte dos jumentos brasileiros começou a ser traçada em 2016. Naquela altura, a Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB) resolveu definir os critérios para o abate legal de equídeos. A partir daí, instituiu-se a matança para a exportação. Calcula-se que, desde então, cerca de 100 mil jumentos tenham sido mortos nos três frigoríficos autorizados pelo governo federal, nos municípios de Amargosa, Itapetinga e Simões Filho. O risco de extinção deve-se ao fato de que não existe criação de jumentos para o abate, como acontece com o gado, por exemplo. Os sertanejos capturam animais soltos ou domésticos para vender para atravessadores e fazendeiros.

Após perder a utilidade no campo, substituído por motos e equipamentos industriais, o jumento passou a ser descartado, simplesmente solto nas estradas, causando acidentes. Por isso, a princípio, a ideia de exportar soou como bálsamo para as autoridades. Mas não demorou muito para que se percebesse a crueldade por trás da aparente saída. O sofrimento do animal começa logo na captura. Levados em caminhões sem nenhum suporte para esse tipo de transporte, os jumentos viajam centenas de quilômetros sem direito a água e alimentação. Isso porque, segundo Eduardo Aparício, membro da União Internacional Protetora dos Animais (UIPA), a carne do animal não é o principal foco dos chineses e sim a pele, o que torna evitável para a cadeia os custos com alimentação.

As denúncias de maus tratos se amontoam. No mesmo ano de 2016, o Ministério Público da cidade de Miguel Calmon recebeu representação criminal contra o abate de jumentos. Na ocasião foram realizadas inspeções em um frigorífico que foi multado e recomendada pelo MP a suspensão do abate após verificação de irregularidades nas instalações e em seu funcionamento. Em 2017, a comarca de Amargosa também recebeu denúncias e, em 2018, o mesmo fato aconteceu em Itapetinga e Canudos, onde cerca de 200 jumentos que seriam abatidos morreram de fome em uma fazenda do município, enquanto outros 800 animais caminhavam para o mesmo fim. As ações foram representadas pelas entidades União Defensora dos Animais – Bicho Feliz e Fórum Animal, participantes da Frente Nacional de Defesa dos Jumentos (FNDJ).

“Os jumentos são capturados ou comprados, amontoados em caminhões, depositados em fazendas sem comida e água, o que gera enorme sofrimento dos animais”, comentou a advogada Gislane Brandão, da FNDJ.

Em 2018, a juíza Arali Maciel Duarte, da 1ª Vara Federal de Salvador, concedeu decisão liminar proibindo o abate de jumentos na Bahia, em resposta à Ação Civil Pública movida por diversas entidades, entre elas Bicho Feliz, Fórum Animal, REMCA e SOS Animais de Rua (Frente Nacional de Defesa de Jumentos). A liminar, porém, durou pouco.

 Em setembro de 2019, foi suspensa pelo Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, sob a alegação de que a restrição se caracterizava como “duríssima e de gravíssimas consequências e alto impacto econômico para o comércio estadual e, consequentemente, para a economia pública nacional”. De acordo com a Assessoria de Comunicação do TRF 1ª Região o processo está concluso para decisão aguardando julgamento.

CHINA: Mas o que torna o animal tão cobiçado pela China? Anualmente, para produzir 5.600 toneladas do ejiao, são necessários 4,8 milhões de peles de jumento – e esse índice cresce 20% por ano. Ou seja: não há, no país asiático, animais suficientes para sustentar o mercado. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (Food and Agriculture Organization of the United Nations, FAO), em 1992, havia mais de 11 milhões de jumentos no país, representando o maior rebanho do mundo. Já, em 2017, a estimativa foi que esse número havia diminuído em mais da metade, não ultrapassando 4,6 milhões de jumentos. Mas esse número pode ser ainda mais baixo, cerca de 2,6 milhões de acordo com o Anuário estatístico da China para 2017. Por isso, a necessidade de importar de outros países. Inclusive do Brasil.

“Os jumentos vivem de 30 a 35 anos. Antes de serem substituídos por máquinas, sua utilidade no campo era de grande valor comercial, pois auxiliavam na produção e trabalho nas fazendas, devido à sua resistência ao trabalho”, destacou Chiara Albano, zootecnista e professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA). “Hoje, sem utilidade, acabam sendo descartados. E o que temos visto ao longo desses anos é que, com o abate do jumento, o animal corre grande risco de extinção. Nessa escala, pode estar extinto em quatro anos”.Não foi fácil, mas estamos conseguindo fazer com que as pessoas entendam aquele espaço como um local de cuidados e preservação” Eduardo Aparício Membro da União Internacional Protetora dos Animais (UIPA)

SAÚDE: Além da crueldade envolvida no abate de jumentos, outra questão toma notoriedade: trata-se do surto de mormo, espécie de anemia infecciosa, que atinge os equídeos, podendo também ser transmitida para humanos. O contágio pode acontecer por meio do contato com pus, secreção nasal, urina e fezes do animal. Segundo a ADAB, os últimos casos registrados ocorreram em Euclides da Cunha e Feira de Santana, onde animais infectados com a doença foram sacrificados.

“A liberação do abate dos jumentos no país, além de inaceitável, gerando sofrimento aos animais e sua extinção, representa um risco à saúde da população e a outros animais, já que ao contrário do que diz a ADAB, o mormo não foi controlado”, afirmou Gislane Brandão, da FNDJ. 

“Dezenas de animais foram confirmados positivos para mormo no rebanho apreendido em Euclides da Cunha/Canudos (BA). Centenas de animais morreram em Itapetinga (BA) de forma extremamente cruel, com manejo violento, além de muitos animais agonizando e mortos serem mantidos juntamente com os vivos, sem qualquer cuidado e alimentação enquanto aguardavam o transporte para o abatedouro, muitos acometidos por doenças contagiosas, e os produtos originários desse abate foram exportados em 2018”.

RESGATE: O bom exemplo vem do Ceará. Na cidade de Santa Quitéria, a 220 quilômetros de Fortaleza, fica o Parque Padre Antônio Vieira, que abriga cerca de três mil jumentos, em área de 500 hectares. Considerada hoje um santuário, a fazenda, a princípio, funcionava como um depósito de jumentos recolhidos nas estradas do estado. Sem alimentação ou cuidados, a maioria acabava morrendo. Foi então que Geuza Leitão, presidente da União Internacional Protetora dos Animais, em parceria com o Ministério Público e o Detran/CE, resolveu arregaçar as mangas, conseguindo firmar um termo de ajuste de conduta para garantir o bem-estar dos jumentos capturados.

“Junto com a União Internacional de Proteção dos Animais (UIPA), do qual faço parte, criamos a ideia de um parque de turismo que poderia servir para o recolhimento do animal, pesquisa dos hábitos e cuidados. Hoje a taxa de mortalidade diminuiu consideravelmente, os animais têm um tratamento digno, recebendo alimentação, água, vacinas”, comentou Aparício. “Não foi fácil, mas estamos conseguindo fazer com que as pessoas entendam aquele espaço como um local de cuidados e preservação”.

O local recebeu o nome de Parque de Proteção Padre Antônio Vieira numa justa homenagem. Homônimo do português que se tornara um dos nomes mais influentes da colônia, no século 17, o pároco foi um grande defensor dos animais e escreveu o livro que inspirou Luiz Gonzaga: “O Jumento, Nosso Irmão”. Por 30 anos, ele coordenou o Clube Mundial dos Jumentos que chegou a receber apoio da atriz e ecologista francesa Brigitte Bardot. “O padre dizia: ‘A situação é triste porque tudo que existe neste Nordeste foi feito no lombo do jumento’”, comentou José Dimas de Almeida, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Miguel. (Ascom CHBSF texto: Juciana Cavalcante. Fotos: Marcizo Ventura)

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