I EDIÇÃO EMOCIONALMENTE SAUDÁVEL ACONTECE NO DOMINGO 26 NO PARQUE JOSEPHA COELHO EM PETROLINA

Manhã de cuidados com a saúde mental e emocional: oevento acontecerá no dia 26 de janeiro, das 8h às 12h, na sede do Transforma Petrolina e também em outras áreas do Parque Municipal Josepha Coelho, e contará com mais de 100 profissionais de saúde para realização de atendimentos gratuitos a toda a população.

Dentre os profissionais, estarão disponíveis psiquiatras, psicanalistas, psicólogos, especialista em ThetaHealing, Reiki, massoterapia, auriculoterapia, biomagnetismo, microfisioterapia, barras de access, medicina vibracional, meditação, entre outros. Os interessados em receber atendimento devem comparecer ao local e levar 1kg de alimento não perecível.

O Janeiro Branco é uma iniciativa do Instituto Eliana Sicsú, em parceria com o Transforma Petrolina, que visa conscientizar as pessoas da importância da saúde mental e emocional como um estado de equilíbrio. Essa campanha foi criada em 2014 e vem ganhando cada dia mais visibilidade, já que vários estudos indicam a relevância desse tipo de cuidado com a saúde com a crescente epidemia de depressão, ansiedade e outras doenças de caráter psicológico e emocional, atualmente conhecidas como o mal do século.

Para a psicanalista Eliana Sicsú "saúde mental não está somente ligada ausência de transtornos mentais, como muita gente pensa, significa também ter equilíbrio emocional para saber lidar com as instabilidades cotidianas, viver com propósito e evitar a insatisfação na vida pessoal, profissional e relacional".

Segundo a coordenadora do programa Transforma Petrolina, Lara Secchi Coelho, parcerias com profissionais como a Eliana Sicsú e a realização de campanhas voltadas para esse tema são de grande importância para que a população petrolinense adote mentalidade e hábitos mais saudáveis, em favor de um melhor convívio social.


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NO CENTENÁRIO DE JOÃO CABRAL, MORTE E VIDA SEVERINA COMPLETA 65 ANOS

No centenário do poeta, os versos célebres de Morte e vida severina completam 65 anos. O poema, publicado em 1955, é feito em redondilha maior (sete sílabas métricas) e acompanha a trajetória de um retirante que sai do Sertão para a cidade. O título já denuncia: a morte vem antes de vida, já que a tragédia iminente acompanha o protagonista desde o início. São vários encontros com ela, antes do sopro de esperança. O texto continua atemporal, servindo de adaptação para outros formatos de arte, ajudou a moldar a poesia e é um dos trabalhos com mais edições da literatura brasileira.

“Minha poesia procura ser não-lírica e não-subjetiva. É feita para despertar e não para embalar. Utilizo de preferência vocábulos concretos e não abstratos. Tenho a impressão que essas são as principais características que reconheço nela”, disse João Cabral, numa de suas últimas entrevistas, ao jornalista Gerson Camarotti. Isto estava lá em Morte e vida: um texto palpável, concreto, como se fosse feito para sentir aquela síntese e dureza das palavras.

Ele foi inicialmente encomendado pela escritora e dramaturga Maria Clara Machado. Por se tratar de uma peça em forma de poesia, dispensa certa hermeticidade comum a alguns trabalhos do poeta. Com o subtítulo Auto de Natal pernambucano, o poema evoca uma homenagem à literatura ibérica, principalmente os autos medievais. Antonio Carlos Secchin reitera as simbologias natalinas da obra. 

“Destaco que, por ser pernambucano, o Auto de Natal se despe da figuração tradicional, com os reis magos, a estrela guia, e passa a simbolizar a dura luta pela sobrevivência do homem nordestino, e por isso é um texto tão atual.”

Sua força o torna atemporal. Não à toa o texto é um dos mais publicados e maior sucesso editorial da poesia brasileira. Segundo o pesquisador, foram mais de cem edições. “É uma prova de que alta poesia e grande comunicabilidade podem andar juntas".

Fonte: Diário de Pernambuco-André Santa Rosa

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TODO MEL TEM SAL, NÃO DUVIDE: COISAS DO BREJO DA PARAÍBA

Moenda Engenho seu Aluisio
1.O engenho de Aluísio fica vizinho à antiga propriedade do Pe. Maia, em Areia, na Paraíba do Norte. Aluísio era um galego desses que encontramos pelo brejo, olho aceso, herói verdadeiro, terror dos meninos que, como eu, adentravam seu território sem pedir licença. Nós o respeitávamos como a uma entidade guardiã das matas e capoeiras. Seu engenho ainda está de pé e funciona sazonalmente.

A moenda está em dia, parecendo uma escultura da pós-modernidade. Essas rodas moveram o mundo brejeiro em certo tempo. Fizeram a vida girar, fizeram a vida voltar ao ponto de partida a cada volta. As tachas de ferro, da maior à menor, iam fervendo a garapa, o caldo da cana, até que, na última e menor delas, se formava o mel, o melado, grosso e escurecido, cheiroso e doce, mas carregado de suor.

Dessa tacha menor, o mel era levado para uma outra tacha, fria. Alguém de braço forte e ágil deveria trabalhá-lo com uma espátula, em giros rápidos, cobrindo e recobrindo, molhando a mesma espátula na água para não grudar. À medida que esfriava, o mel ia tomando uma textura mais pastosa. Antes de endurecer era deitado nas tábuas de rapadura, formas de madeira, onde, descansado, transformava-se em rapadura. Foi a rapadura nossa maior guloseima, nossa mais antiga paixão.

As noites foram sempre agitadas nos engenhos, o serão, as conversas de assombração, as visagens, os malassombros, todo o fio da “puxa” estava recheado dessas reinações. A noite foi mais forte e o breu mais agudo. Nascemos, nós do brejo, rodeados pela história dos engenhos, ladeados por engenhos fazendo história, acompanhados pela triste história de homens cujos suores adoçaram o fel de nossas vidas.

2. O sol fugidio suspirava arquejando, assassinado pela rotação da Terra, ilusão louca. Em sua falsa caminhada pelo céu, ele, o sol, entra pelas portas, janelas e corpos, vivos e idos, da casa grande e abandona-a ainda a pino, no zênite. Entra, mas não sai, visto que, em um segundo turno, entrará novamente, para desfazer-se em sombras logo mais às 18 horas.
Engenho Baixa Verde
Na cidade de Serraria, na Paraíba do Norte, vislumbramos a Baixa Verde. 

A estrada de barro vermelho e alaranjado, percorrida nos cavalos da motocicleta, é sempre declive, escorregando pelo flanco dos morros, demarcada por cercas de arame farpado em troncos de sabiá. A chuva deixou escrita sua letra em forma de vala curvilínea, sensual e traiçoeira.

Na primeira encruzilhada, a Casa Grande sorri amarelada pelo sol da História Colonial e suas nuanças. O fausto de suas linhas humilha a solitária senzala à frente. Mas seus dias de glória e poder decaíram como um todo, acompanhando os momentos decisivos do brejo. Lembro, com estremecimento, que meu pai comandou essas terras, capataz e feitor.

O engenho está calado e mudo, seus bois de carro perderam-se no canavial da ilusão, seus escravos foram alforriados pela morte, seus senhores obrigaram-se a escalar as paredes escorregadias do desengano. Linda Baixa Verde, bela arquitetura: qual guardião zelará por ti o resto da vida inteira? Enquanto estive em tua presença, ouvi muitos dos teus desabafos, compreendi teu silêncio e reverenciei tua longevidade.

3. No final da estrada que dá para Pilões, vindo das terras da antiga usina Santa Maria, à esquerda, inicia-se a estrada que terminará em Serraria. Estrada de barro, veredas bem marcadas. Também do lado esquerdo dessa estrada encontraremos dois engenhos de fogo morto, caldeira fria, mudas moendas, bagaceira livre. Um é o engenho Boa Fé. E mais adiante vemos apenas o que sobrou do antigo e opulento Poções.

Sua chaminé aponta para alguma constelação oculta no céu, pois até a lua se esquiva do seu bolorento olho. O tempo, pelo brejo paraibano, passou rápido, rasteiro e devastador. Ninguém se deu conta desse tempo réptil e muitos cultuam a ascensão, maldizendo a queda, o tombo ribanceira abaixo. O brejo é rico em histórias de assombração. O brejo é pródigo em histórias reais, moldadas pelo lodo, pelos fungos, pelo esquecimento. No Poções, a engrenagem sonha oxidada.

Quando as trevas desceram, os antigos engenhos de cana-de-açúcar e seus senhores tornaram-se o espectro esquálido do seu passado de poder, ouviu-se o grito da terra, cobrando seus domínios. Calaram-se as moendas, suas bocas engolidoras fecharam-se para sempre. Suas imensas tachas, onde se preparavam o mel e a rapadura, vomitaram o fogo das caldeiras sobre o dorso dos seus donos. Os agregados e trabalhadores alugados (cortadores de cana, cambiteiros, tangedores, carreiros) viram-se asfixiados na derrocada dos seus patrões.

O fogo-morto instalou-se geral. A capoeira invadiu as cumeeiras, a vida abandonou as vigas, o verme (eita, Augusto) operou meio às ruínas. Hoje, a roda da moenda reflete meditativa sua sobrevivência solitária. O bueiro, vestido de autoridade desautorizada, mantém-se como marco do que foi e nunca mais será. Os odores da garapa cozendo são tão fortes quanto o cheiro da “puxa”: mas resta apenas o almíscar do abandono sob o som da última lágrima do derradeiro senhor.

4. O casarão de José Rufino está lá, assentado à beira do precipício. Suas vetustas paredes, pestanas e ventosas, observam o vale de imensidão. Tenho certeza que vê os revoltosos de 1817, cansados, caminhando à margem do riacho, subindo até o início da Rua do Bonito. A senzala, o pátio, o tronco desaparecido, tudo carcomido pelo tempo. Se houve gritos, o chicote rasgando as carnes, ou se houve gemidos, os senhores se lambuzando no sexo violento, o chão de pedra e o éter acima os guardarão para sempre.
Areia Paraíba Casarão José Rufino

Mas esse Casarão nos fala loquazmente de severas lembranças. Um tempo de fausto e opulência, um tempo doce para os senhores, um tempo amaro para os sem nada. Sem nada pois suas vidas e até suas almas pertenciam aos primeiros. Parece, por pequenos indícios, que Areia, a Terra dos Bruxaxás, onde nasci, contraiu grande dívida secular, paga a cada dia com sangue e surpresas. Mas também parece que essa dívida não foi assinada pela raia miúda. As mãos do homem comum não assinaram o fatídico pacto.

Indiferente, como marco e marca desses tempos, o Casarão se assina carrancudo. Suas subdivisões, cômodos, escadas, assoalho, fogão, sótão, janelas e luminárias retiveram energias estranhas. Esse Casarão poderia ser mais alegre, ter mais vida, mais cor, mais canções. Adquiriu os ares e as faces de repartição pública. 

À noite, me disseram, um cavaleiro apeia a sua porta, bate três vezes com a aldrava, ninguém lhe abre a pesadíssima madeira. Decepcionado, monta novamente em seu cavalo paramentado e risca em desabalado trote em direção a Pilões de Dentro. Deixa um risco de fogo e fumaça. Os moradores o observam pelas frestas dos postigos. Quando ele some no mundo, vão dormir em paz com seus pesadelos. 

(Texto: professor doutor em Ciência da Literatura Aderaldo Luciano-Revista Kurumatá)

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ADILSON MEDEIROS E A EXPRESSÃO DA MÚSICA BRASILEIRA NAS MARGENS DO RIO SÃO FRANCISCO

Adilson Medeiros nasceu em Sertânia, Pernambuco, é cantor e compositor. Este inicio de ano Adilson Medeiros esteve visitando Petrolina Juazeiro e vivendo "a inspiração de quem se banha no Rio São Francisco". Entre os inúmeros sucessos, Adilson Medeiros é autor da música Baião de Três (nesta música consta o registro do saudoso radialista Carlos Augusto) e Saudades do Forró do Gonzagão, esta em parceria com Sergio Murilo. 

Morando  em João Pessoa, Paraíba,  cidade que escolheu para educar seus filhos, o descendente de paraibanos do Cariri e de pernambucanos do Moxotó é um dos talentosos defensores da música brasileira disse que este ano lançará um livro que já está pronto. Adilson é advogado mas há anos dedicar-se exclusivamente à música.

Adilson Medeiros é atualmente um dos maiores expoentes culturais do Vale do São Francisco, com shows inovadores, gravações e produções de discos, além de participações vencedoras em festivais importantes como o “Canta Nordeste” da Rede Globo, quando ganhou o prêmio de “melhor letra” e figurou no disco da Som Livre com a música premiada – Fado Xotado.

"Naturalmente, pela minha formação e compreensão da importância histórica do homem nordestino na formação do país, vi na música minha melhor ferramenta para me expressar e contribuir para a construção do perfil cultural do homem brasileiro, integrando o nordeste às demais regiões. Grandes vultos já fizeram isso em suas mais variadas modalidades, outros, continuam o referido ofício. É nesse perfil que sinto-me encaixado. É nele que quero contribuir", revela Adilson Medeiros.

Ele expressa que seu trabalho musical tem um pouco de tudo. Tem Luiz Gonzaga, tem Chico Buarque, tem Zé Ramalho, tem Jackson do Pandeiro, Sivuca, Ariano Suassuna.

Adilson Medeiros fez em 1987 o seu primeiro show no Teatro João Gilberto, em Juazeiro, Bahia. Seu primeiro espetáculo, “O verde e o verso…” impactou a cena artística São Franciscana e no ano seguinte fez mais show autoral “Pro-vocação, vaticínio violado e liras para um reino quase desencantado”.

Na época, anos 80, morando em Petrolina, abandonou definitivamente a carreira de advogado e as atividades de jornalismo radiofônico e professor de História para se dedicar exclusivamente à música. Intensificou seu trabalho de cantor e compositor, tornando-se um dos maiores expoentes culturais do Vale do São Francisco, com shows inovadores, gravações e produções de discos. 

Devido à conquista no Canta Nordeste, o artista recebeu a Moção de Aplausos da Câmara Municipal de Petrolina. Foi convidado pela Rede Globo Nordeste, em 2013, para participar do Especial Causos e Cantos. No programa, Adilson Medeiros recitou e cantou “Viola”, poema feito em parceria com Dimas Batista.

Em 1993, lançou seu primeiro disco, intitulado “Adilson Medeiros”. Neste primeiro trabalho, o artista procurou mostrar a diversidade de estilos que havia em seu repertório. 

A ideia de lançar o disco surgiu de forma inusitada: os próprios fãs e admiradores decidiram financiar coletivamente parte do projeto. Com direção musical do produtor Tovinho, tecladista renomado e músico da banda de Alceu Valença, o disco contou com arranjos do próprio Tovinho, do guitarrista Luciano Magno e de Adilson Medeiros.

 “Menino Cantador” é o segundo disco de Adilson Medeiros. Lançado em 1996, o disco destaca o forró como estilo principal. Teve participações especiais dos sanfoneiros Duda da Passira e mestre Camarão e produção de Luciano Magno.

Em 2003, Adilson Medeiros lançou seu terceiro trabalho, chamado “Minha terra, minha gente”. Com muito xote, o disco tem 17 músicas que falam sobre amizade, amor e a saudade da sua gente. Teve participação especial de Maciel Melo na canção “Ai, Juazeiro, diz pra mim”, composta a pedido da TV São Francisco. O convite surgiu para uma homenagem ao 169º aniversário da cidade, que também destacou Ivete Sangalo, João Gilberto e Targino Gondim.

O CD tem ainda as participações especiais dos sanfoneiros Cezzinha e Gennaro. “Eternos Mourões”, lançado em 2010, é o disco que mais representa Adilson Medeiros, onde ele busca transmitir através da música sua forma de ver o mundo. Nesse quarto trabalho, caprichou na sonoridade das cordas, dos violões e violas, com a maestria de Luciano Magno. Contou com a participação especial de Cezzinha em “Serenata na calçada”, única faixa do disco com sanfona.

Em fevereiro de 2014 venceu o 3º Festival de Músicas Carnavalescas da Paraíba com a música “Depois da Copa”, em parceria com Marcelo Piancó. Apresentou o Programa “Criador & Cia” da TV Tambaú – SBT entre 2013 e 2014, onde recebia e entrevistava artistas do cenário musical nordestino e de outros gêneros, como humor, teatro e dança.

Em 2015, é o álbum “Nosso forró made in PB”. Nesse trabalho, Adilson Medeiros buscou trazer para o estúdio toda a energia que há no palco, em uma captação ao vivo dos instrumentos. T


Além dos discos lançados, Adilson Medeiros possui diversas músicas gravadas por outros artistas, como Maciel Melo, Genival Lacerda, Adelmário Coelho, Luciano Magno, Israel Filho, Cristina Amaral, Nádia Maia, Marcia Porto, Sônia Melo entre outros.


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BRASIL COMEMORA OS 100 ANOS DE JOÃO CABRAL DE MELO NETO, UMA VIDA EM PROSA E VERSO

*“E não há melhor resposta que o espetáculo da vida: vê-la desfiar seu fio, que também se chama vida”...

Os versos de Morte e Vida Severina, obra mais famosa de João Cabral de Melo Neto, sintetizam uma vida devotada à arte e à diplomacia.  O trabalho que o consagrou é uma das poesias nascidas da sensibilidade do escritor nascido no dia 9 de janeiro de 1920 e que morreu em 1999. Modernista, tem versos simples e rigor formal. Inspirações para as obras nasceram, por exemplo, de seu inconformismo diante de dramas de seus conterrâneos nordestinos.  

O recifense, que faria 100 anos, nesta quinta-feira(9), tem uma trajetória com cenários múltiplos e engajados, que lhe valeram prêmios e a imortalidade na Academia Brasileira de Letras.

Parte da infância, João Cabral passou nos engenhos da família nas cidades de São Lourenço da Mata e de Moreno, paisagem de canaviais que marcaram a vida do poeta. Depois, voltou para o Recife e, nos anos 1940, mudou-se para o Rio de Janeiro.

A Baía de Guanabara, o Pão de Açúcar, o aterro do Flamengo, as belezas da então capital brasileira não inspiraram a obra de João Cabral.  Ele não conseguia se desligar do Recife e das imagens de sua infância nos engenhos. Era um tema recorrente em uma obra diversa como a dele.

*“A paisagem do canavial Não encerra quase metal” (Paisagens com Cupim)

O Brasil da política e dos grandes, dos centros de poder, foi secundário na poesia de João Cabral, se é que não foi alvo de crítica ou de ironia. O Brasil que o interesse é somente o Brasil do Nordeste.

Apesar de morar no Rio, João Cabral tinha uma espécie de implicância com a cidade, e também com São Paulo, como focos do poder do país. Ele as considerava como duas cidades – ou estados – que abafaram a autonomia e a vida do Nordeste.

No Rio, João Cabral se tornou diplomata e começou uma peregrinação por diversos países, do Senegal a Portugal. Mas foi no primeiro posto dele, ainda nos anos 40, em Barcelona, que ele sentiu-se confortável, principalmente em Andaluzia e Sevilla. A paisagem lembrava muito a de Pernambuco e isso se refletiu em sua poesia, dedicando às cidades e à paisagem espanholas muitos poemas.

*“O canto da Andaluzia é agudo com seta” (Diálogo)

Seja no Brasil, seja no exterior, João Cabral produzia. E foi premiado: Prêmio José de Anchieta, de poesia, do IV Centenário de São Paulo (1954); Prêmio Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras (1955); Prêmio de Poesia do Instituto Nacional do Livro; Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro; Prêmio Bienal Nestlé, pelo conjunto da Obra e Prêmio da União Brasileira de Escritores, pelo livro "Crime na Calle Relator" (1988), entre outros.

Também entrou para a Academia Brasileira de Letras em 1968. Morreu no Rio de Janeiro em 9 de outubro de 1999.

*“Esse que andando planta os rebolos da cana nada é do Semeador que se sonetizou” ( A Cana dos Outros)

O poeta, ensaísta e crítico literário Antônio Carlos Secchin, membro da Academia de Letras, cursou mestrado e doutorado pesquisando a obra de João Cabral de Melo Neto e foi amigo do pernambucano durante quase 20 anos, até a morte do escritor. Com exceção dos dados biográficos, ele é a fonte das informações que estão na primeira parte desta reportagem (com exceção dos enxertos de poemas, é claro, que tem autoria de João Cabral de Melo Neto).

Os dois se conheceram em 1980, quando Secchin procurou João Cabral para fazer uma entrevista para sua tese de doutorado. “Ele gostou muito do trabalho que eu havia escrito sobre ele [no mestrado] e, a partir daí, nós cultivamos uma amizade muito fraterna, muito franca”, disse.

Para Secchin, a obra de João Cabral pode ser examinada por vários ângulos. “Do ponto de vista do conteúdo, é uma poesia importante porque ela enfatiza, com grande interesse, as questões sociais do Brasil, as condições de vida dos nordestinos, a injustiça social de um modo geral, essa parte geral engajada é importante, mas eu gosto de enfatizar também o aspecto da consciência literária”. 

O pesquisador considera que João Cabral foi um poeta extremamente preocupado com a qualidade do verso e com o rigor da construção do poema. “Então, essa combinação de uma consciência da forma junto com a questão social é o que faz da obra do João Cabral algo absolutamente fundamental na poesia brasileira.”

Na avaliação de Secchin, João Cabral, ao lado de Manuel Bandeira e de Carlos Drummond de Andrade são os três nomes mais importantes no campo da poesia brasileira no século 20.

Já o homem João Cabral de Melo Neto era uma pessoa completamente diferente do poeta, segundo Secchin. “Nós encontramos a imagem do poeta como alguém claro, alguém racional, alguém absolutamente senhor de tudo o que estava fazendo e o homem João Cabral me parecia inseguro, me parecia alguém um pouco assustado diante da vida e que ele usava essa literatura dele tão clara, tão racional, tão digamos, domada por ele, como uma compensação para aquilo que ele não conseguia fazer na sua própria vida particular”, disse.

*“Catar feijão se limita com escrever: joga-se os grãos na água do alguidar e as palavras na folha de papel; e depois, joga-se fora o que boiar” (Catar feijão)

Na confecção de sua poesia, João Cabral era um perfeccionista. Secchin conta que, no processo de criação de suas obras, nada podia fugir ao controle do pernambucano. “Ele planejava o poema em todos os detalhes e às vezes, como ele fez em dois livros pelo menos, um chamado ‘Serial’ e o outro ‘Educação pela Pedra’, não contente em trabalhar a arquitetura do poema, ele trabalhou a arquitetura do livro. Ele bolou um esquema de livro totalmente rigoroso e, a partir daí, ele foi fazendo poemas que se encaixavam como módulos no conjunto maior que era o próprio livro”.

Por todo esse perfeccionismo com o rigor estético de sua obra, João Cabral não acredita muito em inspiração. Ele abraçava apenas o trabalho. Secchin conta que o poeta delimitava o poema que ele queria fazer.

O pesquisador testemunha que “João Cabral admitia que, de vez em quando, não sabia a origem das inspirações. “Vinha uma ideia, vinha uma frase, uma palavra e, se essa frase e essa palavra ou esse verso viesse muito fácil, ele desconfiava. Achava que aquilo não era bom, achava já tinha ouvido aquilo de outra pessoa”. Para Antônio Carlos Secchine, João Cabral era alguém que voluntariamente se impunha muita dificuldade, se impunha muito obstáculo, mas tendo a esperança, a certeza de que conseguiria vencer esses obstáculos e fazer o poema praticamente, exatamente como ele queria”, disse.

*“Essa cova em que estás, com palmos medida, é a cota menor que tiraste em vida” (Morte e Vida Severina)

Dos mais de 30 livros de poesias, um é considerado por Secchin como o maior sucesso da poesia brasileira de todos os tempos: Morte e Vida Severina. Para o ensaísta, a obra não apenas vai garantir a permanência da poesia de João Cabral, mas vai trazendo a reboque, como uma locomotiva puxa seus vagões, o conjunto da obra dele.

“O próprio Cabral lamentava que os outros livros dele não fossem conhecidos na mesma proporção que Morte e Vida Severina. Eu próprio não considero Morte e Vida Severina o grande livro dele, acho que tem quatro ou cinco pelo menos iguais”, disse Secchin.

Morte e Vida Severina virou peça em 1966, foi premiado e um sucesso de público e crítica. Depois virou disco, programa de TV e, mais recentemente, história em quadrinhos e filme de animação.

Antônio Carlos Secchin afirma que João Cabral apreciou as adaptações de poesias para cinema, teatro e TV.

João Cabral esteve presente na primeira montagem para o teatro que desencadeou todo o sucesso de Morte e Vida Severina em 1966, na França. O poema tinha sido escrito dez anos antes sem nenhuma repercussão no Brasil. Na França, a montagem venceu um festival e, segundo Secchin, foi a partir daí que o sucesso ocorreu.

“Na sequência, a peça foi para o Porto [Portugal], ele estava presente, ele se emocionou e apesar de às vezes ele ficar implicando, ‘não, esse poema meu é fraco, não é o melhor que surgiu’ eu tenho o registro de que ele sempre se emocionava quando ele assistia às montagens de teatro desse poema.” (Agencia Brasil)

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DIA DO FOTÓGRAFO: IVAN CRUZ JACARÉ E A ARTE DE COMBINAR LUZ, ÂNGULO, PROFUNDIDADE E ENQUADRAMENTO

Em 8 de janeiro é comemorado o Dia Nacional do Fotógrafo. A atividade registra momentos corriqueiros ou históricos por meio de habilidade de capturar imagens a partir da arte de combinar luz, ângulo, profundidade e enquadramento. Mais do que apenas uma reprodução do real, a fotografia ganhou complexidade estética, com expoentes reconhecidos nacional e internacionalmente por seus trabalhos.

Em Juazeiro, Bahia, um dos mais talentosos fotógrafos é Ivan Cruz, conhecido por Jacaré.  Ivan convive com as mudanças tecnológicas que afetou nos últimos anos o setor da
fotografia. Transformação que foi do filme (analógico) para o digital, quase como um clik. Sao mais de 40 anos de profissão de fotojornalismo. Ivan Cruz "Jacaré" é um dos mais requisitados profissionais da região do Vale do São Francisco. No curriculo consta diversas coberturas das visitas dos Presidentes da Republica dos ultimos 30 anos de democracia. Trabalhou nos principais jornais da Bahia e Pernambuco.

O surgimento da fotografia remonta à virada do século XVIII para o XIX. Nomes como Joseph Niepce, Henry Talbot e Louis Daguerre marcaram a história pelo esforço em obter uma reprodução de eventos sem o método da pintura. Artefatos como o uso de câmaras escuras e papeis especiais com o auxílio de cloreto de prata foram pavimentando o caminho do setor.

A chegada da fotografia no Brasil ocorreu em 1940, com a apresentação do daguerrótipo. Segundo o curador, crítico e professor universitário Tadeu Chiarelli, essa nova prática ocupou o espaço de outras formas de registro, como a imagem xilográfica e em placas de metal. O nascituro desta atividade vai se confundir com o 2º Império, comandado por D. Pedro II.

A fotografia foi um dos segmentos de produção de conteúdos mais afetados pelas grandes mudanças tecnológicas que marcaram o fim do século XX e as primeiras décadas do século XXI. Grandes companhias mundiais, como a Kodak, criada em 1880 e responsável pela introdução da foto em cores em 1935 e pela câmera digital em 1975, foram duramente impactadas pelo surgimento dos dispositivos digitais e da incorporação destes aos smartphones.

Gerações mais novas podem inclusive não ter tido contato com máquinas analógicas, que demandavam a inclusão de um filme, que após o uso do equipamento necessitava ser revelado para a visualização das imagens em um papel especial.

Apesar de completar 180 anos, o ofício de fotógrafo ainda não é regulamentado no país. Ele não se confunde, contanto, com o de repórter fotográfico, uma das atividades da profissão de jornalista, normatizada tanto na legislação geral trabalhista brasileira (a Consolidação das Leis do Trabalho) quanto em decretos específicos.

Uma proposta tramita no Congresso buscando reverter este quadro. O Projeto de Lei da Câmara (PLC) no 64 de 2014, de autoria do deputado Fernando Torres (PSD-BA) foi aprovado na Câmara dos Deputados, passou por comissões no Senado Federal e está pronto para votação em plenário nesta casa legislativa.

Pelo texto, seria definido como fotógrafo aquele que, “com o uso da luz, registra imagens estáticas ou dinâmicas em material fotossensível ou por meios digitais, com a utilização de equipamentos óticos apropriados, seguindo o processo manual, o eletromecânico e o da informática até o final acabamento”.

A matéria prevê que o exercício da atividade possa ser feito por diplomados em cursos superiores e em cursos técnicos de fotografia, além daqueles que na data de entrada em vigor da Lei (caso aprovada) estiverem exercendo o ofício por no mínimo dois anos.

O PLC também elenca modalidades do ofício, como fotografia por empresa especializada, para ensino técnico e científico, para efeitos industriais, comerciais e/ou de pesquisa e para publicidade, divulgação e informação ao público.

Em seu parecer na Comissão de Assuntos Sociais do Senado, o então senador e hoje prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Crivella afirma que a proposição “dará o devido reconhecimento profissional a este importante segmento profissional e econômico, que merece o apreço de todos pelo excepcional trabalho que desenvolvem, registrando o cotidiano e os momentos mais importantes da família brasileira, e de outros eventos relevantes”.

Redação Blog com informações Agencia Brasil

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O ANO DE 2019 FOI O MAIS QUENTE JÁ REGISTRADO NO MUNDO

O ano de 2019 foi o segundo mais quente já registrado no mundo e culminou na década mais quente da história, informou o serviço europeu Copernicus nesta quarta-feira (8).

Os dados publicados revelam que 2019 ficou apenas 0,04°C atrás do ano recorde de 2016, quando as temperaturas foram afetadas por um episódio especialmente intenso do fenômeno climático El Niño.

Segundo a Nasa, El Niño causou um aumento da temperatura global de 0,2ºC naquele ano. Os cinco anos mais quentes foram os últimos cinco, quando o termômetro subiu entre 1,1ºC e 1,2°C, em comparação com a era pré-industrial.

O período 2010-2019 também foi a década mais quente, de acordo com o Copernicus. As temperaturas em 2019 foram 0,6°C acima da média para o período 1981-2010.

"O ano de 2019 foi, de novo, excepcionalmente quente (...) com muitos meses batendo recordes", disse Carlo Buentempo, da agência europeia.

Para a Europa, foi o ano mais quente já registrado, logo à frente de 2014, 2015 e 2018.

Copernicus confirmou que as concentrações de CO2 na atmosfera continuaram a aumentar no ano passado. (Fonte: AFP)
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