DIA DE SAO JOSÉ, 19 DE MARÇO: ESPERANÇA DE CHUVAS NO SERTÃO

O Dia de São José, celebrado a cada 19 de março, presta homenagem ao padroeiro do Ceará e carrega um significado especial para o sertanejo. Trata-se de um importante marco simbólico e de um dia carregado de tradição e expectativa. A crença popular indica que, se chover até o Dia de São José, o ano será de bom “inverno”, com chuva garantindo a safra e a mesa farta. A fé no santo padroeiro se soma à esperança do agricultor, do vaqueiro, do homem do campo.

Confirmando a sabedoria popular, a ciência relaciona o 19 de março, feriado em todo o Estado, à proximidade da passagem do equinócio – o momento em que o sol, em órbita aparente vista da Terra, cruza o chamado equador celeste e incide com maior intensidade sobre as regiões localizadas próximas da linha do equador. No hemisfério sul do planeta, o equinócio de outono acontece no mês de março.

A cultura tradicional popular espelha essa temática em um sem-número de manifestações, como o cordel, o repente, a música. Como a canção “Sinal de Inverno”, do cantor e compositor cearense Eudes Fraga, cuja letra destaca: “Esperei meu amor, esperei com muita fé, que nem um agricultor no Dia de São José / Espera pela chuva, esperei ela voltar, esperei meu amor, até a chuva chegar /

Chuva é sinal de inverno no Dia de São José / me dê um sinal, meu amor, se você ainda me quer”.

Patativa do Assaré, cearense aclamado um dos maiores poetas de todos os tempos, em todo o mundo, também percorreu as paragens simbólicas do Dia de São José, no clássico “A Triste Partida”: “Sem chuva na terra descamba janeiro, depois fevereiro e o mesmo verão / Meu Deus, meu Deus / Entonce o nortista, pensando consigo, diz “Isso é castigo, não chove mais não” / Ai, ai, ai, ai / Apela pra março, que é o mês preferido do santo querido, Sinhô São José / Meu Deus, meu Deus / Mas nada de chuva, tá tudo sem jeito, lhe foge do peito o resto da fé”.

O saudoso, Professor universitário e um dos mais respeitados pesquisadores nacionais da cultura popular tradicional, Gilmar de Carvalho, na sua obra apontava que artistas como os cearenses Francorli e José Lourenço retrataram São José em xilogravuras. 

“O Ceará escolheu São José como padroeiro ou foi o carpinteiro, marido de Maria, pai de Jesus, que veio para nos dar lições de habilidade, paciência e resignação?”, questionava. “Nosso padroeiro tem a nossa cara. Que outro santo teria tantas afinidades com nosso jeito de ser? São Francisco, talvez, não o de Assis, mas o dos sertões de Canindé”, grafou, no texto que faz menção a cearenses como o carpinteiro Carlos, de Amontada, e o “santeiro” Zumbi, de Juazeiro do Norte: “Os dois reverenciam José, por meio do trabalho. As mãos ágeis do mestre carpinteiro ou do santeiro mergulham em um tempo ancestral e cortam a madeira, material vivo, que se deixa domar e assume as formas do trabalho e da fé”.

O pesquisador ressaltava ainda que São José também é padroeiro de outros municípios cearenses, como Aquiraz, Catarina, Granja, Maracanaú, Missão Velha, Potengi, Salitre e Ubajara. “Difícil encontrar um templo, dos mais soberbos aos mais humildes, onde não esteja representada sua figura de homem sereno, o lírio aberto, e a veste. Outra versão o coloca de botas e nos remete, imediatamente, ao barroco, com sua explosão de ouro, volutas e panejamentos. Mas o São José de verdade é o da simplicidade do corte, da economia dos detalhes, o do santeiro sertanejo. Este é o padroeiro e orago de um Ceará que nunca precisou tanto dele como agora. Que chova!!!”.

A devoção a São José e a esperança de um ano de boa colheita ganham reforço anualmente com os encontros dos chamados “profetas da chuva”, sertanejos experientes, conhecidos no Interior do Estado pela interpretação dos sinais da natureza, com diferentes leituras sobre possíveis indícios de um “inverno” bom ou de um ano de seca.

O município de Quixadá, a 168 km de Fortaleza, costuma sediar um encontro de mais de 30 “profetas”, a cada começo de ano, para debate sobre a probabilidade de uma boa quadra chuvosa, a partir de sinais dados pela vegetação do sertão ou por animais como passarinhos, abelhas e formigas. Os agricultores escutam atentamente a fala dos profetas, que vêm de municípios de diferentes regiões do Estado.

As novenas, orações, simpatias, os pedidos de trabalho, fartura e chuva fazem parte do imaginário sertanejo, reforçado pela devoção a São José. O santo homenageado no Estado é também padroeiro do município de Aquiraz, a primeira capital cearense, onde fica a segunda mais antiga igreja do Ceará, a Matriz de São José de Ribamar, erguida no início do século XIX.

O equipamento cultural abriga um conjunto de objetos religiosos advindos dos vários municípios e paróquias cearenses. Esse acervo é constituído por uma diversidade de imagens de santos e de anjos, objetos das procissões religiosas, parâmetros litúrgicos, missais etc, totalizando cerca de 1.400 peças, muitas de notório valor artístico e cultural, que remetem ao barroco colonial cearense.

O Museu Sacro São José de Ribamar, localizado na Praça Cônego Araripe, município de Aquiraz, está aberto à visitação, com entrada franca, de terça a sábado, das 8h às 22h.

Nenhum comentário

← Postagem mais recente Postagem mais antiga → Página inicial

0 comentários:

Postar um comentário