Ícone do forró e da cultura brasileira, o cantor, compositor e sanfoneiro Dominguinhos foi nomeado herdeiro artístico de Luiz Gonzaga pelo próprio rei do baião. E, apesar de ter feito jus ao legado, Dominguinhos foi além, transitando por vertentes como bossa-nova, choro, bolero e jazz.
O radialista e escritor José Lira, 80 anos aponta que Dominguinhos "foi em vida e continua encantando as mais variadas plateias, indo dos exigentes e aficcionados dos festivais de jazz aos dançadores de forrós pé-de-serra e que foi uma criança nordestina que trabalhou o solo agreste, ‘puxando cobra pros pés’, num dizer bem nosso, e cedo, junto com os irmãos, tocou nas portas dos hoteis, nas praças ou em festinhas populares, ao som da sanfona, do pandeiro e do melê”
Dominguinhos faleceu no inicio da noite de 23 de julho de 2013.
Seu pai também conhecido como Mestre Chicão, foi um famoso tocador e afinador de sanfona de 8 Baixos, nascendo daí uma infância ligada ao mundo musical com certeza, um mundo de simplicidade, reflexo da região rústica e da simplicidade que compunha aquela realidade social.
A vida de Dominguinhos veio sofrer mudanças de rumo quando aos 9 anos conhece Luiz Gonzaga. Aos 13 vai para a cidade do Rio de Janeiro (na época Capital Política do País) e recebe do Rei do Baião uma sanfona de presente. A partir daí as coisas foram acontecendo num ritmo surpreendente, quer na vida particular, quer na vida musical, pois o próprio artista confessou que não tinha grandes projetos para o futuro, tocante ao saber artístico.
Luiz Gonzaga sempre lembrou a Dominguinhos certo compromisso com nossas raízes. Seu Luiz conhecia de perto a potencialidade do afilhado e por isso temia que o filho do mestre Chicão enveredasse por outro caminho diferente da semente plantada lá pelos anos quarenta.
Explica-se: o grande centro urbano dera condições ao menino Dominguinhos de vivenciar uma situação musical onde despontavam nomes famosos que participaram da Época Ouro do Rádio Brasileiro. E ainda jovem, 18 anos, já estava o nosso sanfoneiro aos microfones celebres das Rádio Nacional, Mayrink Veiga e Tupi do Rio de Janeiro.
A virtuosidade ostentada por Dominguinhos é certo que ocorreu por duas vertentes: primeiro pelo talento que latejava dentro de si e veio explodir no momento certo; segundo, pela experiência de viver ao lado de grandes instrumentistas como Orlando Silveira, Chiquinho do Acordeon e outros nomes da música popular brasileira.
Então Pedro Sertanejo, pai de Osvaldinho, prestigiou esse talento, abrindo as portas de sua gravadora para o primeiro disco, em 1964.
Quem teve a felicidade de conhecer de perto o trabalho de Dominguinhos, como também a grande figura humana que ele é (foi), descobrirá logo de início seu traço característico: A humildade. Humildade que o leva a passar um bom espaço de tempo sentado num desprestigiado tamborete, em cima de um caminhão, dedilhando a sanfona para si, à espera de que o som seja consertado para uma apresentação numa periferia ou humildemente na postura do gesto, envergando um "Smoking"para receber mais um Prêmio Sharp, considerado o Oscar, no palco do Teatro Copacabana, no Rio.
O escritor Braulio Tavares diz que Dominguinhos tinha "o poder multiplicador do gênio". "Um grande artista não cria consumidores, cria discípulos e futuros mestres. Dominguinhos foi discípulo de Luiz Gonzaga e inovou a arte do mestre. Essa é a diferença entre o artista que cria e o que se apropria".
Eis o perfil desse artista nordestino, de falava cadenciada como uma toada romântica e de olhar triste; de mansidão que conquista no primeiro aperto de mão e de voz quente quando canta e toca um forró bem balançado.
Em 2002, o músico foi o vencedor do Grammy Latino, com o CD Chegando de Mansinho. Cinco anos depois, voltou a gravar e recebeu o Prêmio TIM (2007) como melhor Cantor Regional, com o disco Conterrâneos 2006. No ano seguinte, concorreu ao 8º Grammy Latino, com o mesmo álbum, na categoria Melhor Disco Regional. Lançou também um álbum, em dueto com o virtuose do violão Yamandu Costa. Em 2008, foi o grande homenageado do Prêmio Tim de Música Brasileira. Em 2010, venceu o Prêmio Shell de Música e, em 2012, um ano antes de sua morte, conquistou o Grammy Latino de Melhor Álbum Brasileiro de Raiz, com o CD e DVD Iluminado.
Em 2012 Dominguinhos foi homenageado em Petrolina, recebeu o Troféu Asa Branca. Dominguinhos lembrou episódios de sua carreira e definiu: " agora é que fico mais emocionado quando escuto os baiões. Tudo é mais bonito"...
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