AREIA PARAIBA 172 ANOS

Areia viveu em mim, nos primeiros anos, como o mundo possível, o mundo visível. Era geografia e cosmografia, a terra e o céu. Até onde minha vista alcançava, eu pude, ainda criança, percorrer. Relevo acidentado, vidas acidentadas. Céu nublado, vidas nubladas. O verde, segundo aprendêramos, era a esperança.

Os poucos e pequenos rios, os muitos açudes, as cachoeiras formavam nosso mar, o mar brejeiro. A cidade plantada sobre um manancial, um aquífero, fazendo brotar em cada vale um veio d'água, uma mínima lâmina corredeira. Não havia água encanada nas casas das pontas de rua, como se dizia.

Nós, os homens da Rua do Bode, descíamos para tomar banho, à noitinha, no sítio de Seu Zé de Zuza, no riacho caminhante lento para o Rio do Canto. Passávamos por um pé de jaca, numa encruzilhada malassombrada. Nas noites de lua, o sobrenatural fazia seu teatro, homens, fantasmas e lobisomens.

Hoje, o município completa 172 anos. A esperança ainda habita em mim, mas as assombrações foram extintas com o desaparecimento da encruzilhada e o encantamento da jaqueira. Os vídeos institucionais da prefeitura me pegaram num momento de estranha sensibilidade. Neles, vejo meus companheiros: Eliane, Luís, Dona Severina e João.

O peito apertou com a beleza, com a mão certeira na câmera dos que promoveram as tomadas, os movimentos, os depoimentos, as minudências. Talvez eu tenha sido um covarde ao partir. Vocês que ficaram seguraram a onda, suportaram as dores gerais, encontraram um caminho. Não acredito no futuro, acredito no presente. O futuro virá quando vier!

Areia é minha terra de amores!

Fonte: Aderaldo Luciano-professor doutor em Ciencia da Literatura
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