Aderaldo Luciano na Rádio Globo, Rio de Janeiro

Na antiga Rádio Borborema de Campina Grande era assim: nós amanhecíamos com o Bom Dia, Nordeste, apresentado por José Bezerra. O prefixo era na voz de João Gonçalves: "Bom dia, Nordeste; bom dia, Brasil. Pelo som da Borborema, nesse céu azul anil. Zé Bezerra às suas ordens comandando o forró. Campeão de audiência..." Não era o sol quem anunciava o dia. Era Zé Bezerra. Com ele, nós sabíamos que o dia campinense estava nascendo e se alastrando pela vizinhança. Meu rádio Semp Toshiba, de válvulas, captava com brava amplitude a voz gostosa do mestre. 

O dia seguia e, na hora do almoço, a gente parava para ouvir Humberto de Campos, primeiro com sua coluna diária chamada Jogo Duro, depois com Os Filmes Do Dia. Todos que se interessavam pelo futebol paraibano ouviam atentamente as polêmicas palavras de Humberto, o "Moça Velha", goleiro do Estudantes. Embora eu sempre tivesse preferido a equipe de esportes da Caturité, o comentário era imperdível, todos os dias, de segunda a sexta. Como já me interessava por cinema, os Filmes do Dia entrava no pacote da escuta. Depois eu mudava para a concorrente. Ouvíamos a resenha enquanto nos preparávamos para a escola. 

À tarde, Zé Laurentino, poetamigo saudoso, enfeitiçava nossas vidas com seus poemas e trilha sonora maravilhosa. Depois vinha Retalhos do Sertão, no qual a verve dos cantadores nos iniciava nos intrincados caminhos da poesia de improviso e nos apresentava canções belíssimas inesquecíveis como Flor do Mocambo e O Velhinho do Roçado, clássicos do nosso cancioneiro. Mas às seis da noite, novamente, migrávamos no dial para a Caturité para ouvir A Hora do Ângelus: "Ave Maria, cheia de graça... é a hora do encontro da mãe com o filho... do marido com a esposa... da reunião em torno de uma mesa..." 

Entre sete e dez da noite eu entrava a procurar rádios de ondas curtas pelo mundo. Depois, era hora de ouvir os programas de saudade. Foi onde aprendi a gostar de Gregorio Barrios, Carlos Gardel, Nelson Gonçalves e as grandes vozes do Brasil de ontem. Para fechar a noite campinense, na Borborema, o primeiro programa de terror que ouvi no rádio brasileiro: Contos Que A Noite Conta, acho que ainda com Humberto de Campos.  
  
A Borborema, chamada agora de Rádio Clube, nos proporcionou grandes lições de comunicação, todavia, à meia-noite,, obrigatoriamente, sintonizávamos a Rádio Globo, do Rio, para ouvir O Seu Redator Chefe e entrar um pouquinho na madrugada com Adelzon Alves. Há um tempo, sento-me na bancada da Globo e todas essas lembranças acompanham-me definitivamente. 

Fonte: Aderaldo Luciano-professor, mestre e doutor em Ciencia da Literatura 
 
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