Dois dedos de prosa com Tâmara Tallita Mendes, Ricardo Anisio e Juliana Souza: corações e almas brasileiras

Dizem que os livros podem ser armas contra o poder e a opressão. O ano de 2016 dei início com a leitura do livro do Jornalista e pesquisador musical Ricardo Anísio. Gosto dos questionamentos de Ricardo. Sou contra a opressão capitalista avassaladora imposta a música brasileira.

O livro conta com críticas, entrevistas e crônicas do jornalista, além de textos do cantor e compositor Xangai, do poeta repentista Oliveira de Panelas, do compositor e violonista Vital Farias e da escritora e professora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Mercedes Cavalcanti, discorrendo acerca dos escritos de Ricardo Anísio e a música em geral.

Nas 372 páginas que perfazem a publicação, o autor não deixa de lado a polêmica e nem evita temas considerados espinhosos pela crítica musical. Assim, Ricardo Anísio traz opiniões coesas e bem fundamentadas e levanta discussões em capítulos como “Caetano acha que o mundo é seu umbigo”, “A Bossa Nova foi produto ou Arte?”, “João Gilberto é uma mentira”, “Vandré: O meteoro que se fez história, “Elomar: Erudição dos Sertões”, “O que é indelével em Zé Ramalho” e “Bandolins para o mestre Jacob”, entre outros.

Ricardo Anísio aponta que jornalismo se faz com paixão e zelo, com técnica e paixão, com fatos e alguma poesia.

Música também se faz com poesia, paixão e técnica. E aqui entra o dialago com a jornalista Juliana Souza, paraibana universal que não esquece dessas pilastras e anda preocupada com golpes de desconhecimento brutais que envolve jornalismo e música.

"Mas nem tudo está perdido meu caro Ney Vital", diz Juliana.


Nas palavras de Juliana e ouvindo os baiões de Jorge de Altinho, fiz uma pequena lista da música dos paraibanos: Para começar somos berço do maestro que fundou a Orquestra Sinfônica do Brasil, o grande José Siqueira, que aliás também guarda consigo (em memória) o marco de ter sido o primeiro regente latino (e assim sendo, o primeiro brasileiro, claro) a empunhar as batutas diante da Orquestra Sinfônica de Moscou.

Na "Black Music" feita no Brasil temos o grande Genival Cassiano, Genival Macedo foi o criador do Trio Elétrico que os baianos tentam anotar como seu. Temos o Geraldo Vandré, o Sivuca, o Zé Ramalho, o Antônio Guedes Barbosa (pianista que melhor gravou a obra de Chopin, segundo a imprensa latina), Jackson do Pandeiro, Canhoto da Paraíba (referência "jimihendrixiana" do violão tocado pelo avesso), Vital Farias, Antônio Barros & Cecéu, Geraldo Correia, Zé Calixto tocadores de sanfona de 8 Baixos...

E, e muito antes da lista terminar me fala a professora Tamara Tallita: "estava assistindo documentário da vida e obra de Dominguinhos e um músico falou que a produção musical de hoje não tem essencia. Não tem sentimento. São letras com o objetivo de vender pra uma gama de pessoas que não sentem nada. O músico disse que quando escuta  Dominguinhos chora! Pois Dominguinhos toca e canta com sentimento extremo".

E eu quase vou às lágrimas, lembrei que ouvi isto do próprio Dominguinhos. Ele relatou com os olhos marejados numa entrevista que aos 70 anos estava mais sentimental.

Por fim volto a Ricardo Anisio: "Temos e precisamos lembrar todos os dias que somos de uma nação abençoada, terra de poetas como Zé da Luz e de compositores como Zé do Norte ("Lua Bonita", "Saudade, meu bem, Saudade" ) que nos orgulha, com certeza.

A música trava sim um dialogo permanente com a cultura brasileira e muito contribuiu para tecer esse imenso tapete multifacetado que é a arte produzida nesse terreiro de Mãe Preta e Pai João.

Tenho dito...
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