Lucy Alves guardiã da compreensão inegociável da legitima música brasileira

Analisar o grupo Clã Brasil é fugir da metáfora sem destrancar-nos da poesia. Realidade cristalina, as meninas que formam esse núcleo de sublime construção musical são ao mesmo tempo doces, amorosas e guerreiras. São flores que têm lá seus espinhos guardiões da sua compreensão musical: a defesa inegociável das legítimas tradições estéticas oriundas de mestres como Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Antônio Barros, Jacinto Silva, Gordurinha, Elino Julião, entre outros.

Levemos em conta também o fato de que o quarteto fantástico não caiu na pauta musical de pára-quedas. As quatro garotas são estudiosas, freqüentam os bancos acadêmicos e têm plena noção de teoria e prática na arte que escolheram por empunhar como suas espadas de peso justo. Não devemos ouvi-las com mas-mas e nem poréns. Devemo-las sagrar como realidade, conscientes de que é uma realidade que ainda evoluirá bastante, e que, excetuando mudança de ventos, será uma realidade nacional e, quiçá, internacional.

Jovens, sim, jovens. Mas não as tratemos como menininhas prodígios que merecem atenção apenas pela pouca idade. Poucos são os marmanjos que tocam como elas, hoje em dia.

Louvemo-las como grandes artistas desabrochadas e bafejadas pelo plenilúnio criativo. Elas sempre me emocionam. Seja no forró seja no chorinho o Clã Brasil é a fortuna musical que o Nordeste esperava para negar definitivamente as falsas bandas de forró. O diálogo musical aqui está em outro nível, as meninas catam inspiração nas nuvens alvas divinais. Não são mercenárias e nem se deslumbram. A música é Paixão e Sacerdócio para elas. E ninguém mais as represará. Porque, sem a menor dúvida, Deus está tocando com elas. E elas são tocadas por Deus.

Fonte: Ricardo Anísio-Crítico musical, poeta e produtor
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A cachaça, paixão de brasileiro, Chico Cesár e por onde andará Maria da Paixão do Amor Maior

Sou apreciador de uma dose (lapada) de uma boa cachaça. Deixo bem claro aqui que principalmente Valorizo o consumo moderado e inteligente da cachaça (e de qualquer outra bebida alcoólica). O objetivo aqui é apresentar a cachaça como identidade cultural do povo brasileiro. A primeira destilação de cachaça data de 1532.

O imaginário é tão importante que todo o dia 13 de setembro se comemora o “Dia Nacional da Cachaça” como uma forma de relembrarmos os tempos de um Brasil colonial, quando a cachaça era símbolo de resistência contra a dominação portuguesa.

Por tudo isto na cidade de Salinas a 631 quilômetros de Belo Horizonte, a cachaça é uma das principais bases econômicas. Para homenagear a importância do destilado na região foi inaugurado o Museu da Cachaça de Salinas. Detalhe: 21 de maio é dia da Cachaça Mineira

Em Salinas está a mais saborosa e marcante cachaça: a centenária Havana cuja garrafa chega a custar até 900 reais. Salinas é o único lugar do Brasil que oferece curso de nível superior relacionado a Cachaça.

Todavia, quando o assunto é cachaça meu paladar bate mesmo é pelas cachaças lá da Paraíba...Jorge de Altinho, num de seus versos musicado diz que tem um segredo que a gente  guarda calado, tem amor que a gente guarda no pensamento, tem carinho que guardamos no peito e tem um beijo mais gostoso que os demais e tem moça que endoida qualquer poeta...boêmio cachaceiro!

Pois bem, não guardo sigilo. Minha cachaça preferida é a Serra Limpa. Garrafa com uma produção limitada e orgânica. Já visitei a propriedade do Engenho Imaculada Conceição, na cidade de Duas Estradas onde é feita a cachaça Serra Limpa.

Cá prá nós, é a cachaça preferida do ex-presidente Lula. E mais o meu amigo Antonio Inácio, proprietário do Engenho, presenteou o Papa Bento XVI. É a cachaça preferida do meu amigo vaqueiro aboiador Antonio Joventino e da bela, belissima flor de formosura Maria da Paixão do Amor Maior.

E você Maria por onde andas?
Estou pensando em você...
Será que vela como eu ?
Será que chama como eu ?
Será que pergunta por mim ?
Se a voz da noite responder
Onde estou eu, onde está você
Estamos cá dentro de nós
Sós...

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Cariri do Ceará: Crenças e Mitologias. Imaginário e Cores. Romeiros e Sanfona

Ano passado participei da Mostra Cariri de Culturas, evento que está consolidado com um dos mais importantes movimentos da cultura cearense e de valorização de intercambio de conhecimentos nas mais diversas dimensões cultural, social e econômico.

Ali pensamos e suamos cultura! Andando no Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha analisei a relação com a sociedade. Conversei nas calçadas, nos bares. Visitei igrejas e vi romeiros do Padre Cícero.

A jornalista Camila Holanda escreveu que nas entranhas do Cariri foi emergido uma versatilidade de ícones que, entrelaçados povoam o imaginário cultural que habita a região.

Ali ouvi uma das mais belas histórias. Resumo: o teatrólogo, pesquisador cultural Oswaldo Barroso, ressalta um dos mais valiosos símbolos, a vigorosa força mítica e religiosa. Oswaldo que hoje é cidadão honorário de Juazeiro do Norte, diz que a primeira vez que esteve no Cariri foi nos anos 70 e a experiência fez com que suas crenças e certezas de ateu fossem desconstruídas e reconstruidas com bases nos sentimentos das novas experiências e epifanias vividas.

"Desde o início, não acreditava em nada de Deus. Mas quando fiz a primeira viagem ao Horto do Juazeiro do Norte, foi que eu compreendi o que era Deus. Isso mudou minha vida completamente", revelou Oswaldo.

Um outra narrativa importante encontrei na mitologia dos Indios Kariris. Nela a região é tratada como sagrada, centro do mundo, onde no final dos tempos, vai abrir um portal que ligará o Cariri  para a dimensão do divino.

A estátua do Padre Cícero encontra-se no topo da Colina. Muitos romeiros percorrem a Trilha do Santo Sepulcro. A pé eles percorrem às 14 estações trajeto marcado por frases e conselhos ambientais do Padre Cícero, que já alertava naquela época para os muitos desequilibrios ambientais e impactos da agressão humana na natureza.

E foi neste clima de respeito, fé e gratidão que ao som da sanfona do Jadson e turma dos gonzagueanos de Belo Jardim e Arcoverde que fomos cantar lá aos pés do Padre Cícero.

No dia 13 dezembro, mesmo dia que nasceu Luiz Gonzaga, o bispo da diocese de Crato, dom Fernando Panico, divulgou  durante missa na Catedral, que o Padre Cícero Romão Batista foi perdoado pelo Vaticano das punições impostas pela igreja Católica entre 1892 a 1916. A reconciliação é um passo definitivo para a reabilitação de padre Cícero na Igreja Católica. 

"Hoje, quero anunciar com alegria, à querida Diocese de Crato e aos romeiros e romeiras do Juazeiro do Norte, um gesto concreto de misericórdia, de atenção e de carinho por parte do Papa Francisco para nós: a igreja Católica se reconcilia historicamente com o padre Cícero Romão Batista", disse Dom Fernando.

E nós os gonzagueanos, vencendo o cansaço dos festejos dos 103 anos de Luiz Gonzaga (1912-1989), Gonzaga que era devoto de Padim Ciço louvamos! Sua Benção Padim Cícero para todo e sempre pedimos Paz e Saúde.
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Dois dedos de prosa com Tâmara Tallita Mendes, Ricardo Anisio e Juliana Souza: corações e almas brasileiras

Dizem que os livros podem ser armas contra o poder e a opressão. O ano de 2016 dei início com a leitura do livro do Jornalista e pesquisador musical Ricardo Anísio. Gosto dos questionamentos de Ricardo. Sou contra a opressão capitalista avassaladora imposta a música brasileira.

O livro conta com críticas, entrevistas e crônicas do jornalista, além de textos do cantor e compositor Xangai, do poeta repentista Oliveira de Panelas, do compositor e violonista Vital Farias e da escritora e professora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Mercedes Cavalcanti, discorrendo acerca dos escritos de Ricardo Anísio e a música em geral.

Nas 372 páginas que perfazem a publicação, o autor não deixa de lado a polêmica e nem evita temas considerados espinhosos pela crítica musical. Assim, Ricardo Anísio traz opiniões coesas e bem fundamentadas e levanta discussões em capítulos como “Caetano acha que o mundo é seu umbigo”, “A Bossa Nova foi produto ou Arte?”, “João Gilberto é uma mentira”, “Vandré: O meteoro que se fez história, “Elomar: Erudição dos Sertões”, “O que é indelével em Zé Ramalho” e “Bandolins para o mestre Jacob”, entre outros.

Ricardo Anísio aponta que jornalismo se faz com paixão e zelo, com técnica e paixão, com fatos e alguma poesia.

Música também se faz com poesia, paixão e técnica. E aqui entra o dialago com a jornalista Juliana Souza, paraibana universal que não esquece dessas pilastras e anda preocupada com golpes de desconhecimento brutais que envolve jornalismo e música.

"Mas nem tudo está perdido meu caro Ney Vital", diz Juliana.


Nas palavras de Juliana e ouvindo os baiões de Jorge de Altinho, fiz uma pequena lista da música dos paraibanos: Para começar somos berço do maestro que fundou a Orquestra Sinfônica do Brasil, o grande José Siqueira, que aliás também guarda consigo (em memória) o marco de ter sido o primeiro regente latino (e assim sendo, o primeiro brasileiro, claro) a empunhar as batutas diante da Orquestra Sinfônica de Moscou.

Na "Black Music" feita no Brasil temos o grande Genival Cassiano, Genival Macedo foi o criador do Trio Elétrico que os baianos tentam anotar como seu. Temos o Geraldo Vandré, o Sivuca, o Zé Ramalho, o Antônio Guedes Barbosa (pianista que melhor gravou a obra de Chopin, segundo a imprensa latina), Jackson do Pandeiro, Canhoto da Paraíba (referência "jimihendrixiana" do violão tocado pelo avesso), Vital Farias, Antônio Barros & Cecéu, Geraldo Correia, Zé Calixto tocadores de sanfona de 8 Baixos...

E, e muito antes da lista terminar me fala a professora Tamara Tallita: "estava assistindo documentário da vida e obra de Dominguinhos e um músico falou que a produção musical de hoje não tem essencia. Não tem sentimento. São letras com o objetivo de vender pra uma gama de pessoas que não sentem nada. O músico disse que quando escuta  Dominguinhos chora! Pois Dominguinhos toca e canta com sentimento extremo".

E eu quase vou às lágrimas, lembrei que ouvi isto do próprio Dominguinhos. Ele relatou com os olhos marejados numa entrevista que aos 70 anos estava mais sentimental.

Por fim volto a Ricardo Anisio: "Temos e precisamos lembrar todos os dias que somos de uma nação abençoada, terra de poetas como Zé da Luz e de compositores como Zé do Norte ("Lua Bonita", "Saudade, meu bem, Saudade" ) que nos orgulha, com certeza.

A música trava sim um dialogo permanente com a cultura brasileira e muito contribuiu para tecer esse imenso tapete multifacetado que é a arte produzida nesse terreiro de Mãe Preta e Pai João.

Tenho dito...
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Targino Gondim e Anselmo Gomes: na sombra do Juazeiro

Targino Gondim está a caminho dos 25 anos de carreira. São mais 20 anos de festa desse sanfoneiro discípulo fiel de Luiz Gonzaga. A amizade com Targino me proporcionou conhecer o professor e advogado Anselmo Gomes. Anselmo é um dos compositores de Targino.

Targino Gondim possui os segredos e nuances da noite estrelada. Cheio de sabedoria aprendeu com "Seu Targino", Luiz Gonzaga e Dominguinhos e bebeu na fonte dos vaqueiros cantadores de viola e por isto  sabe divisar o Cruzeiro do Sul do Sete Estrelo. Este sentimento poético, revelador encontramos em Zé Marcolino, Humberto Teixeira, Zé Dantas.

Das músicas de Targino Gondim gosto de todas. Principalmente das inéditas, ainda não conhecidas do público. Tenho o privilégio de ser amigo desse sanfoneiro e sei que os próximos anos é de mais sucesso. Muita música boa no matulão.

Mas quero aqui confessar que meu sentimento bate mais forte quando escuto Na Sombra do Juazeiro, composição de Anselmo Gomes que Targino Gondim gravou e que Dominguinhos numa tarde ao pôr do sol lá em Exu, terra de Luiz Gonzaga revelou ser bonita demais.

Na Sombra do Juazeiro, é tema de saudade, amores, é expressão de sonho, desejo e angústia. Na canção a natureza é solidária até no sofrimento.

Vejamos:
"No meu pé de serra na sombra do juazeiro eu passo o dia inteiro pra ver ela passar mas ela não vem e eu fico esperando sozinho, lamentando aguardando por meu bem/.
E toda quinta-feira lá tem arrasta pé, Vixe, como tem mulher e tanta brincadeira vai amanhecendo o dia e eu fico esperando sozinho, matutando mas não vem quem eu queria/.
Oh tanta malvadeza faça isso comigo não se tens tanta certeza que é teu meu coração na próxima quinta-feira passe logo bem cedinho estou louco por teus carinhos e pra dançar um forrozão...

É por isto que Na Sombra do Juazeiro é minha preferida pois embala, encanta, vibra o sentimento. É um mistério que emudece. Targino Gondim e Anselmo Gomes foram contagiados aqui no ritmo, melodia e harmonia e fizeram uma música mais brasileira, tipo exportação, materializando o real sentido da palavra cultura.

Na Sombra do Juazeiro é o desenho cósmico da natureza-homem-mulher, expressão no choro solitário de dor na união dos destinos. É o juazeiro simbolo de resistência.

Que Santa Cecília protetora da música, ilumine Targino Gondim...e eu quero tá junto comemorando os 100 anos desse poeta sanfoneiro.

Felicidades Targino Gondim. Que São Domingos Lua Gonzaga Ilumine tua Inspiração..
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Crato-Ceará: Pedro Lucas, 10 anos cria Museu para homenagear Luiz Gonzaga, o Rei do Baião

No programa Nas Asas da Asa Branca-Viva Luiz Gonzaga de sábado 16 de janeiro através da Rádio Cidade am 870, via internet www.radiocidadeam870.com.br, você vai conhecer Pedro Lucas, 10 anos, morador do Distrito de Dom Quintino, localizado no Crato, Ceará, que criou o "Museu Luiz Gonzaga".

Ele conta que em 2013, então com 8 anos, voltou encantado de uma visita que fizera ao Museu em Exu (PE). Ao voltar para a sua casa deu vazão à admiração que nutre por Luiz Gonzaga: ele cria um museu dedicado ao Rei do Baião, na casa em que sua falecida bisavó morava, vizinha à dele.

O Museu está localizado na rua Rua Alto da Antena, no distrito de Dom Quintino. No acervo cerca de 100 objetos que recriam a época em que Luiz Gonzaga viveu. Pedro Lucas guia as visitas no local, contando a história de cada objeto do museu, função que divide com o primo, Caio Éverton, de 8 anos. Além de discos, rádios, ferramentas de trabalho e utensílios, partes do universo cantado por Luiz Gonzaga.

A paixão pela música de Luiz Gonzaga, Pedro Lucas conta ter surgido mesmo quando ouviu “Numa Sala de Reboco”, composta por José Marcolino. "Gostei tanto da música que passei a cantá-la frequentemente". Então ganhou um CD de Luiz Gonzaga."Ai eu ouvi várias vezes e fui cada vez mais ficando apaixonado por tudo que Luiz Gonzaga Canta", revela Pedro Lucas.

Com os pés no chão e olhos nas estrelas Pedro Lucas, filho de agricultores,  tem consciência dos desafios que tem pela frente e afirma: "a iniciativa não vai parar. Vou estudar muito e pretendo concluir um curso superior e conciliar a profissão com a sanfona, instrumento que tem o sonho de aprender a tocar".

"O objetivo maior é incentivar que nossa cultura não pode morrer", finaliza Pedro Lucas.
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A música brasileira é muito rica. Mas infelizmente está reduzida a cantores padres, axé e sertanejos, diz Ruy Castro

Autor de Carmen: uma Biografia, sobre Carmen Miranda, e Chega de Saudade, no qual conta a história da bossa nova, Ruy Castro é uma dos principais vozes a resgatar o passado cultural brasileiro. Numa entrevista, concedida por e-mail, o autor fala sobre seu novo livro, A Noite do Meu Bem, que narra a história do gênero samba-canção, e compartilha sua insatisfação com o cenário atual da música do país. Ele cita que a música está reduzida a porcaria do axé, sertanejos e padres cantores.

Confira a entrevista:
*O senhor refuta a hipótese de que o samba-canção seria o bolero brasileiro. Quais foram as principais características e influências do gênero investigado pelo livro?
Não há a menor identidade rítmica entre o bolero e o samba-canção. O samba-canção é o samba. Ah, mas o samba-canção e o bolero falam de amores fracassados. É verdade – mas toda música romântica fala de amores fracassados, inclusive a americana. E há muitos sambas-canção para cima, otimistas – é só ver o repertório do Dick Farney, da Doris Monteiro, da Elizeth Cardoso. Além disso, quando o bolero penetrou no Brasil, no começo dos anos 1940, Ary Barroso e Noel Rosa já tinham criado seus grandes sambas-canção.

*Como o samba-canção foi capaz de desbancar gêneros musicais de fora do país, uma vez que a música francesa e a americana exerciam grande protagonismo nas rádios brasileiras? 
No passado, a música americana já contava com os discos, filmes, revistas, jornais e até com os álbuns de figurinhas para se impor em todos os países. E, como em toda parte, a presença dela no Brasil era enorme. Só que, na época, fazíamos música brasileira, e muita gente a preferia à música americana. O samba-canção atendia a todas as solicitações: era melodicamente sofisticado, harmonicamente complexo, ritmicamente delicioso, bom de dançar com rosto colado, e as letras eram bem escritas e diziam coisas. Não havia cantor estrangeiro que vendesse mais que a Angela Maria ou o Nelson Gonçalves. A partir de 1983 é que a música brasileira passou a macaquear a que se fazia em toda parte e, aí, a música americana tomou conta.

*Qual foi a importância de Lupicínio Rodrigues para o samba-canção?
Total. Lupicínio, assim como Custodio Mesquita, Herivelto Martins, José Maria de Abreu e Dorival Caymmi, foi dos primeiros a perceber a riqueza e a potencialidade do samba-canção. Não por acaso produziu a maioria dos seus primeiros clássicos.
 

*Seu livro foi festejado por preencher uma lacuna pouco pesquisada da música brasileira. O senhor arrisca algum motivo para que o samba-canção não seja mais conhecido hoje?
O brasileiro é assim mesmo quando se trata do seu próprio passado. Quando lancei Chega de Saudade, em 1990, ninguém na época queria saber de bossa nova – estava morta e sepultada havia mais de 20 anos. Com o livro, ela foi redescoberta e, à sua maneira, discreta e elegante, está no ar até hoje. Vamos ver se acontece o mesmo com o samba-canção. Não há quem ouça obras-primas como Chuvas de Verão, Risque, Dó-ré-mi, Ouça, Não Tem Solução e todas do Lupicínio sem se arrepiar. O samba-canção está esquecido, mas é formidável, é nosso e cabe a nós ressuscitá-lo.

 *Qual é o legado do samba-canção no atual cenário musical brasileiro?
Cenário atual? Legado? Nenhum. Nem do samba-canção, nem do samba propriamente dito, nem da bossa nova, e nem de qualquer ritmo brasileiro. Fomos reduzidos a porcarias como axé, sertanejos e padres cantores. A boa música brasileira hoje não pode contar com as gravadoras, nem com o rádio, nem com a televisão, nem com as casas de shows e nem com ninguém. Os últimos grandes cantores, se quiserem se apresentar, têm de pagar para cantar. Há muita gente fazendo coisa boa, mas escondido, sem a menor chance de penetrar no mercado.

Fonte: Jornal Zero Hora

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