ROMARIA DE CANUDOS CELEBRA A FORÇA DO POVO DE CONSELHEIRO

Canudos é um lugar procurado por diversas pessoas que admiram e buscam compreender, refletir e absorver uma inspiração pela história de luta e partilha que aconteceu a partir de 1893. Seja a história da bem sucedida comunidade de Belo Monte, liderada por Antônio Conselheiro, o enfrentamento corajoso e a vitória dos/as conselheiristas durante três expedições das forças militares, ou o triste massacre da quarta expedição, em 1897 e a mobilização para manter viva a história de resistência daquele povo, apesar da inundação da velha Canudos com as águas da Barragem do Vaza Barris, uma aparente tentativa de encobrir o que se passou.

É dessa fonte de força, de história que pulsa em Canudos, que dezenas de pessoas se reúnem em romaria na cidade todos anos, no mês de outubro. Já são 35 edições desse evento que possibilita a quem participa uma programação diversa, com ações nas escolas, visitas guiadas ao Parque Estadual de Canudos, oficinas, celebrações religiosas e apresentações artísticas. A edição deste ano marcou o retorno presencial desde o início da pandemia da Covid-19, com atividades realizadas entre os dias 03 e 09 de outubro.

A romeira Chirlei Cavalcante, que participa da Pastoral da Juventude do Meio Popular - PJMP, de Pilão Arcado-BA, destaca que as discussões e vivências na Romaria de Canudos são importantes porque é uma forma de estar "trazendo a juventude mais para os movimentos sociais e alimentando sempre a mística". A importância da mística foi o tema da oficina mediada pelo Irpaa.

Sobre a relevância da inspiração provocada pela história de Canudos, a jovem Chirlei acredita que fortalece o comprometimento social. "É muito mais do que querer pensar só em si, mas também nas outras pessoas. É uma inspiração para a gente jovem. Eu tinha muita curiosidade para estar aqui. Eu gosto de experienciar vendo", afirma.

O "pensar na coletividade" foi tema central nas oficinas e mesas temáticas da Romaria, principalmente das discussões do Encontro das Juventudes. A "Espiritualidade Libertadora" esteve entre os assuntos abordados com os jovens. Os/As participantes também mencionaram os desafios e a necessidade atual de vencermos o egoísmo, a falta de acolhida dos que sofrem. Para isso, a juventude aponta que é preciso acabar com a distorção entre o que as pessoas fazem e o que o "Sagrado" representa, já que há uma divergência quando se compara o que as religiões pregam com o que muitas pessoas praticam. Os/As jovens denunciaram o uso da religião para espalhar o ódio e a intolerância.

O debate sobre espiritualidade foi mediado pelo integrante da Juventude Franciscana - Jufra, de Salvador-BA, Mateus Antony Nonato. Ele enfatiza que "ser cristão é buscar a vida em plenitude, ser cristão é um ato político. A espiritualidade libertadora é um ato político, de fé, religioso e é, principalmente, um ato humano de buscar a partir do meu credo, independente de qual seja, ir ao encontro do outro e buscar para ele, pra mim e pra todos, vida, vida em plenitude".

Seguindo o mesmo pensamento de Mateus, a jovem Júlya Bispo, de Salgado-SE, complementa que é muito importante respeitar a essência do outro, entender o que o outro fala e age de forma acolhedora. "A gente precisa ser acolhido, cuidado, ser entendido, escutado para que a gente possa fazer isso com os outros". Para Júlya e outras participantes, Deus não é egoísta, ou seja, é necessário que todos sigam e vivam o amor às pessoas próximas e mais necessitadas.

 "Acho super interessante que a gente leve a missão que a gente aprendeu aqui para as nossas cidades, nossas casas, nossas vidas, porque é uma lição importante, bonita e é algo que eu acho que vale a pena ser estudado, ser debatido e levado para a vida", conclui.

A participação nas discussões também foi intensa na conversa sobre a Economia de Clara e Francisco, mediada pela colaboradora do Irpaa, Ana Paula Ribeiro. A jovem Francine Gomes, do Centro Comunitário São José Operário, na capital baiana, pontua que gostou de conhecer a provocação de São Francisco, que fazia um chamado para que a juventude pense em ideias de economia.

 Francine reforça que o momento de partilha foi importante e que é fundamental "ouvir a voz da juventude, porque a gente tem muito jovem, adolescente, com cabeça aberta, preparado para o debate. Acho que a gente deveria escutar um pouco mais sobre os jovens, o que eles têm a nos oferecer ou a ideia que eles têm para nos ajudar a construir novas economias", afirma.

Quem participa da Romaria de Canudos também se encanta com a pluralidade e o respeito à diversidade de crenças. Durante o ato inter-religioso, realizado no auditório do Memorial Antônio Conselheiro, localizado no Campus Avançado de Canudos, da Universidade do Estado da Bahia - Uneb, sentaram-se lado a lado, representantes da igreja católica, dos povos indígenas, dos evangélicos e das religiões de matriz africana. Um momento de destaque e inspirador para os tempos atuais, quando se tornaram tão comuns casos de intolerância. 

A Mãe de Santo Antonieta D'Oxum, do Terreiro Ilê Axé Omim Odô, localizado no Quilombo Quingoma, em Lauro de Freitas-BA, participou da cerimônia e ressalta que "este culto inter-religioso é justamente para mostrar que podemos viver sim com nossas diferenças, com o objetivo de amor e de paz". 

Com um sorriso sereno e entusiasmada, ela nos conta que Canudos é um lugar de "resistência, força, energia positiva, espiritualidade". Mãe Antonieta destaca a energia sagrada que percebe na cidade. "Todo lugar que eu olho eu vejo a força da natureza, a força dos espíritos, os Orixás presentes. Canudos é como se fosse um elo que liga ao Sagrado, em todos os lugares e nas pessoas eu chego a sentir, ver essa energia positiva. Por mais que tudo tenha acontecido em relação a essa guerra, esse massacre, essa coisa tão injusta, este lugar é um lugar nobre".

Há 20 anos Mãe Antonieta planejava ir a Canudos, mas nunca era possível. Ele destaca que desta vez, finalmente, teve a alegria de conhecer mais de perto a história do líder religioso Conselheiro, a quem ela admira e o considera como uma inspiração. "Ele gostava de justiça, da verdade, tinha força, tinha garra e não tinha medo. Para mim ele é um espírito de luz, eu nem sei explicar, porque é tão além do que a gente quer falar, ele é tudo isso!".

Na programação também aconteceu a caminhada histórica cultural, exposição fotográfica, apresentações culturais e a tradicional caminhada dos romeiros. De acordo com o presidente do IPMC, Vanderlei Leite, apenas o público de caravanas vindas de outras cidades baianas e de três estados do Nordeste somam mais de 300 participantes, que se juntaram estudantes e outros habitantes da cidade. A organização concluiu as atividades com o sentimento de dever cumprido.

 "Esse é o formato da nossa romaria, de nos envolver com a temática de Canudos, a Canudos de Antônio Conselheiro, mas também de nos ajudar a refletir sobre a conjuntura atual e como a gente valoriza o legado de ontem para nossas experiências de hoje, para nossa caminhada, na organização, nos enfrentamentos, nas lutas contra as opressões de hoje", finaliza.

A Romaria é promovida pelo Instituto Popular Memorial de Canudos - IPMC, a Paróquia  Santo Antônio de Canudos e a Comissão da Romaria. O evento também conta com o apoio de instituições públicas e de organizações da sociedade civil. 

Texto e fotos: Eixo Educação e Comunicação do Irpaa

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CHOQUE FATAL: A AMEAÇA DA REDE ELÉTRICA PARA A ARARA-AZUL-DE-LEAR

Em média três araras morrem todo mês vítimas de choques elétricos em postes que atravessam sua área de ocorrência, restrita ao sertão baiano

A reportagem, Claudia Gaigher Jornalista ambiental especializada na cobertura dos biomas brasileiros e fotos de Thiago Filadelfo, publica no site O Eco Jornalismo Ambiental, destaca: Choque fatal: a ameaça da rede elétrica para a arara-azul-de-lear

Confira:

Quando você está em casa e percebe uma queda de energia, ou até mesmo um piscar na luz, nem sempre se preocupa com o que aconteceu na rede de distribuição para gerar essa oscilação. Foi justamente uma queda ou um piscar de luz nas casas de moradores do interior da Bahia que – perdoem o trocadilho – acendeu a luz de alerta para as pesquisadoras que tentam salvar a arara-azul-de-lear da extinção. 

Qual a relação da rede de energia com o risco de extinção das araras? Bem, com certeza você já viu aves pousadas em poste e linhas de energia. O que talvez você não tenha entendido é que esta cena é sinônimo de viver perigosamente para elas. 

Recentemente, um artigo publicado no periódico IBIS – International Journal of Avian Science por um grupo de pesquisadores, trouxe a confirmação de mais um alto preço que a arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari) paga por compartilhar seu habitat com seres humanos. A chegada da rede de energia, que promoveu melhoria na qualidade de vida de muitos brasileiros, trouxe também uma ameaça para aves raras: a eletroplessão. Quando a ave pousa nos postes de distribuição, recebe uma descarga elétrica acidental e morre em decorrência desse choque.

Uma das pesquisadoras que assina o artigo é a bióloga Larissa Biasotto, que trabalha no Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias, Departamento de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em sua tese de doutorado, ela mapeou os biomas e, a partir dos dados coletados em regiões com registro de morte de aves vítimas de descargas elétricas, montou um ranking das espécies com maior risco de morrerem por eletroplessão. 

“O risco foi calculado por espécie, baseado na densidade de postes dentro das áreas de distribuição e também em características morfológicas e comportamentais das espécies, como tamanho da asa e uso das estruturas de energia para pouso, forrageio, nidificação. Nesse trabalho nós apresentamos os biomas de maior risco e também as espécies”, conta Biasotto. 

A pesquisa identificou 283 espécies de aves que correm risco de eletroplessão, 38 delas vivem perigosamente expostas a um alto risco de morrer ao receber uma descarga elétrica. 

A Mata Atlântica é o bioma onde as aves mais convivem com esse risco, seguido pelo Cerrado, Pantanal, Pampa, Caatinga e Amazônia. Quanto mais avançam as redes, maiores são os riscos, e quanto mais devastado o habitat dessas aves, mais elas se habituam a usar os postes e redes como ponto de apoio e pouso. 

AS AVES MAIOR RISCO: No Pantanal, rota de mais de 180 espécies migratórias de aves, o tuiuiú (Jabiru mycteria), ave símbolo das planícies pantaneiras, está no topo da lista das aves com alto risco de eletroplessão. 

A segunda espécie com maior risco é a águia-serrana (Geranoaetus melanoleucus) encontrada no Nordeste, Centro Oeste e Sul do Brasil. Em terceiro lugar no ranking das aves mais expostas ao risco, está a águia-cinzenta (Urubitinga coronata). Uma das maiores aves de rapina do Brasil, ocorre em áreas de montanha, campos naturais do Sul, Sudeste e Centro Oeste. A espécie é considerada Em Perigo de extinção.

O gavião-de-pescoço-branco (Leptodon forbesi) é um gavião genuinamente nordestino e brasileiro. Essa ave de rapina registra um declínio populacional e restam aproximadamente 2.500 indivíduos no Brasil. Desde 2014 está na lista das espécies ameaçadas de extinção, como Criticamente Ameaçada. Ocorre em áreas de floresta nordestina, principalmente em Pernambuco. Com a redução de seu habitat, os fios de energia se tornaram mais um algoz.

O gavião-pombo-pequeno (Amadonastur lacernulatus) que só ocorre na Mata Atlântica, principalmente Serra do Mar e fragmentos de floresta nas cidades litorâneas, também está no ranking das aves mais expostas ao risco de morrer por choque ao pousar nas redes de energia. A espécie é classificada como Vulnerável ao risco de extinção.

A pesquisa da bióloga Larissa Biasotto norteou o artigo sobre o impacto das redes de energia nas populações de araras-azul-de-lear. A espécie foi escolhida como bandeira para alertar as autoridades e a população em geral sobre a necessidade de aliar o conhecimento científico e popular à tomada de decisão nos projetos de expansão das redes de distribuição de energia. 

Não é só construir postes e puxar fio para que os brasileiros tenham a comodidade de apertar um interruptor e ter luz elétrica em casa. Cada nova rede implica atravessar regiões de ocorrência de espécies cada vez mais ameaçadas com a perda de habitat e ausência de árvores nativas em suas rotas, que acabam usando os postes e fios como ponto de pouso para descanso em suas longas viagens em busca de comida.  

A arara-azul-de-lear faz longos voos diários para se alimentar. Chega a voar mais de 60 quilômetros num único dia. Seu prato preferido são os cocos de Licuri, uma palmeira nativa da Caatinga e que está cada dia mais rara. Para muitos indivíduos, as viagens terminam tragicamente. 

“Em 2008 tivemos o primeiro registro de arara-azul-de-lear morta eletrocutada, foi no Raso da Catarina, na Bahia. Isso nos entristeceu e preocupou. Os moradores das comunidades da região nos avisaram que encontraram uma carcaça de arara azul com ferimentos característicos de um choque. Ela estava caída perto do poste. Nos últimos dois anos aumentou muito o número de araras azuis encontradas mortas eletrocutadas. Os moradores locais são os nossos grandes aliados. Eles encontram as carcaças das aves mortas, recolhem e nos informam. Tem sido uma média de três araras mortas por mês, só esse ano já somam 32. E esse número é muito maior, porque existe a subnotificação, nem sempre conseguimos saber a quantidade de araras mortas por choque na rede de energia”, explica Biasotto. 

Para uma espécie que tem a população em vida livre reduzida a menos de 1.500 indivíduos, o número de mortes registradas já é alarmante o suficiente. Quando considerada a subnotificação, é desesperador, como reforça a bióloga Érica Pacífico, outra autora do artigo, fundadora e coordenadora do projeto Grupo de Pesquisa e Conservação da Arara Azul de Lear. Há mais de uma década ela se dedica a estudar e buscar caminhos para evitar a extinção dessa ave. Arrisca-se escalando os paredões de arenito para chegar aos ninhos, trabalha com outros pesquisadores para conhecer a biologia e comportamento dessa arara e já se integrou à comunidade local, que tem se mostrado grande aliada na luta para evitar a extinção da espécie. 

Extremamente rara, a arara-azul-de-lear só ocorre na ecorregião do Raso da Catarina e nas unidades de conservação do Boqueirão da Onça, na Bahia. Um paredão de arenito vermelho, alto e de difícil acesso. No meio da rocha, uma fenda pequena onde pontos azuis se refugiam. Assim é o ambiente onde a arara-azul-de-lear faz os seus ninhos na rocha e é ali onde se reproduz. Essa espécie é restrita da Caatinga, único bioma totalmente brasileiro. São décadas de ameaças, que a fizeram beirar quase a extinção, mas elas são teimosas. Corajosas e lindas. 

Com a instalação dos postes de rede de média tensão para levar energia para as comunidades, os acidentes e mortes de araras têm aumentado. “O ideal é que seja desenvolvido um programa de monitoramento com buscas bem definidas pelas carcaças todo mês, com um tempo certo, percorrendo trechos específicos, com pessoas treinadas. Mesmo sem essa padronização já deu pra ter noção da gravidade do problema”, afirma Thiago Filadelfo, que também é pesquisador do grupo de conservação e coautor do artigo científico. 

Os pesquisadores explicam que as linhas de energia de média tensão podem constituir uma armadilha ecológica, pois oferecem locais atraentes para poleiros ou nidificação. 

“A eletrocussão ocorre quando um animal toca condutores bifásicos ou um condutor e um dispositivo aterrado em um poste. Todas as carcaças foram encontradas sob ou muito perto de postes de energia e a maioria com sinais externos claros de eletrocussão, áreas queimadas no bico, corpo, penas e falanges. Sempre que possível recuperamos a carcaça e submetemos à necropsia para confirmar a morte por lesões provocadas pelas descargas elétricas. As carcaças das araras vão para a Coordenadoria de Gestão de Fauna do INEMA, Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, órgão ambiental da Bahia, para posterior notificação da companhia de energia”, acrescenta Érica. 

A explicação da bióloga é quase um grito de socorro. São anos de pesquisa e luta para proteger essa espécie, e ver mais de 30 indivíduos morrerem por choque elétrico é um golpe duro . Para esses cientistas que tanto se  dedicam a estar no campo, produzir conhecimento científico, buscar apoio da comunidade e caminhos para conservação pra que mais gerações possam ver esses pingos de azul voando pela caatinga baianana, não é apenas um projeto de pesquisa, é um amor incondicional por uma das mais belas espécies de araras brasileiras. Vê-las eletrocutadas provoca uma tristeza profunda, um desalento e até mesmo revolta. 

A arara-azul-de-lear ocorre numa região muito restrita, e as instalações de postes de média tensão com um distanciamento pequeno na rota das araras estão matando os indivíduos. Um contrassenso diante de todo o esforço para salvar essa espécie. 

Essa ave que pode viver 50 anos na natureza, quase desapareceu nas últimas três décadas de tanto que foi capturada para ser vendida no mercado ilegal de animais silvestres. A devastação de seu habitat também contribuiu para acelerar o declínio populacional. E, agora, a rede de energia.

O novo desafio se impõe justamente numa época de grandes conquistas para a conservação da espécie. Em 2019, as seis primeiras araras-azuis-de-lear foram soltas na região do Boqueirão da Onça. Em 2021, mais seis araras-azuis-de-lear do Programa de Manejo Populacional do ICMBio, vítimas do tráfico ou de acidentes na natureza, foram devolvidas à natureza depois de meses de tratamento para se recuperar de lesões provocadas por maus-tratos.

“Entre os anos de 2021 e 2022, mais treze araras foram soltas na região, devolvendo à natureza não apenas indivíduos provenientes do Programa de Manejo Populacional da arara-azul-de-lear coordenado pelo ICMBio, mas também araras resgatadas acidentadas na natureza e vítimas do tráfico ilegal, que infelizmente ainda assombra essa espécie“, afirma a pesquisadora Fernanda Riera Paschotto mestranda do Departamento de Ecologia da USP que também participou do estudo.

A abertura da porta do viveiro e a saída dessas araras batendo freneticamente as asas e voando livres em seu lugar de origem são imagens eternizadas na mente e na alma de quem teve o privilégio de participar desse programa de reforço populacional. Ver a comunidade tradicional que sempre viveu na região se tornar aliada na conservação, como cientistas cidadãos, é outro grande avanço. 

Thiago Filadelfo conta que já foram realizados muitos encontros, grupos de estudos com os pesquisadores e instituições que pesquisam as araras-azuis-de-lear na região. “Estivemos conversando com a COELBA (empresa distribuidora do Grupo Neoenergia) nos últimos 2-3 anos sem sucesso. Apenas quando o Ministério Público foi acionado, no ano passado, começaram a dar atenção e iniciamos um diálogo. Sobre o andamento das medidas mitigadoras, o Ministério Público elaborou um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) no qual sugerimos ações para evitar as eletroplessões. Sei que já começaram a trocar o design das linhas em alguns trechos das redes na região de Euclides da Cunha, mas não sei dar maiores detalhes sobre o cronograma. A malha elétrica é imensa e deverá ser um trabalho longo”, explica o pesquisador.

Enquanto não são aplicadas essas medidas de proteção, as araras-azuis-de-lear continuam morrendo vítimas de choque. Por isso, é possível até usar a expressão ‘eletrocutadas’, que gramaticalmente só pode ser aplicada quando algum ser vivo é “condenado por uma sentença a morrer por descarga elétrica”. Já a expressão ‘eletroplessão’ é o termo usado para os que morrem num instante de acaso, quando entram em contato com redes energizadas e recebem uma descarga. 

Nesse caso das araras-azuis-de-lear, o termo gramaticalmente indicado seria eletroplessão. Mas se pararmos para pensar, esticar fios em postes bem perto uns dos outros, atravessando áreas de reprodução e de alimentação dessas aves, é mesmo uma sentença de morte. 

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SE VIVO FOSSE, CANTOR E COMPOSITOR JOÃO DO VALE COMPLETARIA 88 ANOS NESTA TERÇA (11)

O Doodle, do Google, desta terça-feira (11) é uma homenagem ao cantor e compositor brasileiro João do Vale, dono de clássicos como Pisa na Fulô e Carcará. Hoje ele completaria 88 anos de idade.

Nascido no município de Pedreiras, no Maranhão, João começou a carreira musical logo cedo, aos 13 anos de idade. Destaque do gênero Baião, o artista afro-brasileiro foi responsável por introduzir os estilos musicais nordestinos no Brasil.

Quando ainda era jovem, Vale teve que lutar contra o preconceito ao ser expulso de uma escola para dar lugar a um aluno de classe alta. O acontecimento fez com que ele visse o mundo de outras formas.

Ao compor músicas para um grupo musical, João do Vale ajudou a montar peças chamadas de Bumba-Meu-Boi, retratando a cultura maranhense por meio do teatro, dança e letras. Apesar de alimentar a paixão pela arte, o trabalho não rendeu dinheiro suficiente para ajudar a família.

O músico decidiu se mudar para o Rio de Janeiro, com o objetivo de trabalhar e ajudar os familiares. Influenciado pelos gêneros musicais nordestinos, Vale começou a compor músicas sobre a cultura popular.

Como resultado do seu trabalho, ele finalmente teve a oportunidade de apresentar suas canções em Rádio Nacional. Cerca de 14 anos depois, o artista já fazia shows destacando os ritmos nordestinos.

João do Vale escreveu vários sucessos musicais. Entre eles, Carcará, Minha História, Pisa na Fulô, Peba na Pimenta e A Voz do Povo foram os destaques na carreira do artista.

Por causa de sua obra, João do Vale é lembrado até hoje como uma figura-chave no cenário musical brasileiro e morreu em 6 de dezembro de 1996, aos 62 anos. Em São Luís, um teatro se chama 'João do Vale', em sua homenagem. Já em Pedreiras, sua cidade natal, existe um memorial.

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JORNALISTA DANILO RIBEIRO LANÇA LIVRO: ZÉ LIVRÓRIO E A SANFONA VOADORA

O jornalista Danilo Ribeiro, apresentador do programa Globoesporte Bahia, da TV Bahia, anunciou pelas redes sociais,  o lançamento do seu primeiro livro: ZÉ LIVRÓRIO E A SANFONA VOADORA! 

De acordo com o jornalista, o livro é Uma viagem com muita imaginação e forró, com @zelivrorio e sua trupe!

O lançamento acontece na  Terça, dia 11, em Vitória da Conquista e quarta, dia 12, as 10h da manhã, no Festival de Forró da Chapada, em Mucugê

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ARTIGO: POR QUE A VERDADEIRA DEFESA DA AGRICULTURA BRASILEIRA É A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA

É difícil escolher qual o maior desserviço gerado pela ausência de visão para o país ao longo dos últimos quatro anos do governo federal. Entre os ataques ao processo democrático, a consolidação do orçamento secreto, o descaso com a saúde na pandemia, o negacionismo científico, a falta de políticas para a educação em todos os níveis, cabe também analisar os impactos extremamente negativos da fusão equivocada e destrutiva das pautas da agricultura brasileira com as ações de redução da proteção ambiental.

Tal fusão rendeu ao governo federal o apoio massivo da chamada bancada ruralista que, ao contrário do que deveria defender, privilegia a visão de curto prazo em um setor econômico que depende essencialmente da garantia de condições de longo prazo. O endosso de setores da política brasileira reforça a associação do agronegócio a pautas sem fundamento científico e sem futuro e que, sobretudo, projetam riscos sobre o próprio setor.

Os dados mais recentes do Inpe indicam o maior número de alertas de desmatamento na Amazônia desde 2015. O crescimento do desflorestamento também afeta os demais biomas do país. A expansão das atividades de agricultura e pecuária sobre áreas de vegetação nativa perpetua práticas dissociadas tanto das demandas internacionais, como das perspectivas de viabilidade do setor e da construção de sua resiliência frente às incertezas crescentes.

A amálgama entre a defesa da agricultura e a desregulamentação ambiental, na verdade, beneficia um percentual pequeno de produtores que não cumprem as regras ambientais e macula a maioria dos produtores que atua de forma legal. Adicionalmente, termina por associar, por força da narrativa, o conjunto dos produtores a toda uma gama de atividades criminosas e violência que se expandem na presença do discurso e das ações contrários ao meio ambiente e sob o véu de suposta defesa do agronegócio.

A intensificação sustentável da agricultura é preferível a uma maior expansão sobre áreas naturais e é possível quando políticas adequadas estão em vigor para limitar o aumento da conversão de terras. Esforços para aumentar e diversificar a produção de alimentos através de maior rendimento e integração de sistemas, ao mesmo tempo em que se reduzem os impactos ecológicos adversos, aumentam a segurança alimentar. Hoje, enquanto as áreas plantadas com milho e soja para exportação aumentam, há retração das áreas plantadas com arroz e feijão.

O desmatamento é reconhecido como um risco sistêmico para a economia universal. Globalmente, o Fórum Econômico Mundial calculou que US$ 44 trilhões — mais da metade do PIB global — estão sob um risco significativo pelo aumento da degradação da natureza.

No Brasil, sem dúvida, a agricultura estará entre as principais vítimas. Por isso, internacionalmente, cada vez mais plataformas e ferramentas vêm orientando o setor financeiro e a economia real na construção de cadeias de suprimentos livres de desmatamento e na utilização de mecanismos de rastreabilidade mais sofisticados e transparentes.

O descontrole do desmatamento e as mudanças no uso da terra são responsáveis pela maior fração das emissões brasileiras de gases de efeito estufa, ameaçam a biodiversidade que garante polinizadores, controle de pragas e doenças e a fertilidade do solo e os direitos e à subsistência das comunidades locais.

Os usos da terra que contribuem com vários serviços para soluções climáticas, segurança alimentar e integridade dos ecossistemas dependem da trajetória da mudança do clima — quanto maior o grau de aquecimento, maior será a incerteza sobre a capacidade produtiva de nossos sistemas naturais e manejados. Quem, falsamente, defende a agricultura por meio da degradação do meio ambiente está destruindo as condições mais básicas para seu sucesso em um mundo em mudança.

MERCEDES BUSTAMANTE — Professora da Universidade de Brasília e membro eleito da Academia Brasileira de Ciências

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MORRE BRUNO LATOUR, UM DOS PRINCIPAIS PENSADORES DA ECOLOGIA

O filósofo e sociólogo francês Bruno Latour, um dos principais nomes contemporâneos da filosofia e do pensamento ambiental, morreu na madrugada deste domingo (9) em Paris, aos 75 anos, segundo informações de sua editora Éditions La Découverte.

As influentes obras do pensador, como "Jamais fomos modernos" e "Onde aterrar? Como se orientar politicamente no Antropoceno", foram traduzidas para o português e causaram impacto na academia brasileira. Elas dialogam com a obra de pensadores brasileiros importantes como o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, um dos criadores do "perspectivismo ameríndio.

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, refletindo sobre a crise política e ambiental que o Brasil vivia, Latour afirmou que seria "muito importante para o resto do mundo" que o Brasil encontrasse "respostas para essa crise". Segundo ele, o Brasil seria, hoje, "como a Espanha era em 1936, durante a Guerra Civil: é onde tudo que vai ser importante nas próximas décadas está visível." Na Guerra Civil espanhola, marcada pelo envolvimento de voluntários do mundo inteiro, uma aliança de centro-esquerda (composta de republicanos, socialistas, anarquistas e comunistas) enfrentou as forças fascistas e reacionárias do General Franco com apoio dos ditadores Hitler e Mussolini.

O conflito antecipou a tragédia da Segunda Guerra Mundial Latour era amigo dos pensadores brasileiros Eduardo Viveiros de Castro e Déborah Danowski, que se referem ao pensamento do francês no livro "Há mundo por vir? Ensaios sobre os medos e os fins". Ambos lamentaram a morte do pensador em suas redes sociais.

Latour foi ainda foi um dos idealizadores da teoria, nova na sociologia, do "ator-rede" que leva em conta, para além dos humanos, objetos (ou "não-humanos") e discursos, sendo estes também considerados "atores". A teoria era influenciada pelo pensamento do filósofo e sociólogo francês Gabriel Tarde. Em entrevista à revista Cult, Latour credita parte da redescoberta do trabalho de Tarde ao "brasileiro, Eduardo Vargas, que há muito tempo tem publicado sobre o assunto.

Latour nasceu em 22 de junho de 1947 em uma família de comerciantes de vinho em Beaune, no centro-leste da França. Formou-se em filosofia e antropologia. Ele então, lecionou em escolas de engenharia na França, mas também no exterior, principalmente na Alemanha e nos Estados Unidos, onde foi professor visitante em Harvard. Foi um dos primeiros intelectuais a perceber a importância do pensamento ecológico. (ESTADÃO)

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FORMAÇÃO EM ECOLOGIA QUANTITATIVA: INSCRIÇÃO VAI ATÉ 8 DE NOVEMBRO

Estão abertas até 8 de novembro, às 17h, as inscrições para a 3ª Chamada Pública do Programa de Formação em Ecologia Quantitativa. Os selecionados participarão de um curso intensivo de dois meses na área, a ser realizado em São Paulo, e receberão uma ajuda de custo mensal de R$ 1,5 mil, além do custeio da passagem e hospedagem, se o aluno não for da capital paulista. A ação é uma iniciativa do Instituto Serrapilheira e do International Centre for Theoretical Physics – South American Institute for Fundamental Research.

O curso terá início em janeiro de 2023, durante o recesso universitário, e as aulas serão ministradas no Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista (Unesp). “A ideia é capacitar alunos de qualquer campo de conhecimento a formular e responder grandes questões nos diversos subcampos da ecologia, de modo que saiam do curso preparados para ter um pensamento de vanguarda sobre o tema”, destacam os organizadores.

Para participar, além de estar interessado em uma trajetória científica na área, é preciso estar cursando ou já ter concluído a graduação ou o mestrado. Serão até 30 vagas e os escolhidos precisam “demonstrar capacidade de enfrentar tarefas desafiadoras com rigor metodológico, visão crítica, criatividade e espírito de colaboração”. Também é necessário saber inglês, pois tanto o processo seletivo, como as aulas serão nesse idioma.

Os candidatos devem ter ainda conhecimento de cálculo básico: familiaridade com conceitos de funções contínuas e descontínuas, limites e funções trigonométricas, exponenciais e logarítmicas, assim como ser capaz de resolver derivadas e integrais simples.

A seleção será feita em duas etapas. Na primeira, o interessado deve entregar uma carta de motivação escrita em inglês, de até 4 mil caracteres; enviar o currículo, de até duas páginas; e o histórico escolar da graduação com pelo menos 75% dos créditos concluídos em alguma instituição de ensino superior do Brasil. Para quem estiver cursando ou tiver concluído o mestrado deverá apresentar o histórico acadêmico.

Os selecionados para o programa serão notificados no dia 21 de novembro e a lista final será divulgada no dia 1º de dezembro. Ao final do projeto, em março de 2023, os alunos com melhor desempenho serão convidados a participar de um curso mais avançado sobre ecologia. (Fonte: Agencia Brasil)

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