FOME: NÚMERO DE PESSOAS QUE SOFREM COM INSEGURANÇA ALIMENTAR GRAVE SOBE
Com a voz embargada, Vânia Santos, de 38 anos, relata o drama de nem sempre ter o que colocar na mesa para os três filhos. "A insegurança é muito grande. O sentimento de não ter o que comer na mesa é grande e dói demais. Eu já cheguei até a chorar quando a gente vê o filho da gente pedindo o que comer e tem hora que não tem. É difícil. Não é fácil, não", conta.
Em meio à pandemia da covid-19, o Brasil se viu frente a frente com outra epidemia: a da fome. Nos últimos dois anos, o número de pessoas em situação de insegurança alimentar grave saltou de 10,3 milhões para 19,1 milhões. Nesse período, quase 9 milhões de brasileiros e brasileiras passaram a ter a experiência da fome em seu dia a dia.
Hoje, mais da metade da população brasileira está nessa situação, nos mais variados níveis: leve, moderado ou grave. Como no caso de Vânia, a insegurança alimentar grave afeta 9% da população. Os dados são do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, desenvolvido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN), como parte do projeto VigiSAN.
A fome no Brasil é um problema histórico, mas houve um momento em que o país chegou a efetivamente combatê-la. Entre 2004 e 2013, os resultados da estratégia Fome Zero aliados a políticas públicas de combate à pobreza e à miséria se tornaram visíveis. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada em 2004, 2009 e 2013, revelou uma significativa redução da insegurança alimentar na população brasileira. Em 2013, a parcela da população em situação de fome havia caído para 4,2% — o nível mais baixo até então.
Isso fez com que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura finalmente excluísse o Brasil do Mapa da Fome que divulgava periodicamente. Agora, esse sucesso brasileiro na garantia do direito humano à alimentação sumiu. Os números atuais são mais do que o dobro dos observados em 2009. O país voltou ao Mapa da Fome.
Roberto Bocaccio, professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), explica que as políticas públicas falhas e a recessão econômica do país geram um deslancho da desigualdade social e, consequentemente, o aumento da pobreza.
"É evidente que há uma unanimidade na ideia de que o Brasil precisa voltar a crescer. Precisamos crescer mais ou pelo menos acompanhar o ritmo de crescimento da economia mundial. O nosso crescimento tem sido baixo e insuficiente, porque há uma queda geral no nível de renda. A tendência é de que, em um país com um nível concentração de renda e distorções do padrão de renda, essas diferenças se acentuem. Ou seja, os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres ficam cada vez mais pobres", pontua.
IMPROVISO: A família de Vânia morou por anos em um ocupação em Brasília conhecida como "Cerradão", na Asa Norte. Ao lado de prédios, igrejas e instituições particulares, dezenas de famílias vivem em barracos feitos de lona e pedaços de madeira. A renda da maioria que vive ali vem da reciclagem de lixo. Carroças se enfileiram em uma garagem improvisada ao lado dos barracos e seus donos compartilham do medo de não conseguir vender a quantidade de material suficiente para pagar uma refeição.
A fome vem acompanhada de muitas outras carências. Cláudio, de 45 anos, e a mulher, Márcia Larissa, de 28 anos, também viveram no Cerradão por anos. Com o dinheiro da reciclagem, o casal de catadores sustenta filhos e alguns parentes.
"A pandemia foi bem difícil. A questão de alimentação, roupa, aluguel, tudo ficou mais caro. Tivemos dificuldade para conseguir atendimento no hospital, quem não tem endereço fixo eles ficam mandando ir e voltar", disse Márcia. "As coisas subiram demais. Tudo muito caro. O arroz está um absurdo. Chegou uma época lá em casa que eu cozinhava o arroz, mas tinha que inteirar com cuscuz, que é mais barato. A gente tinha que comer regradinho, porque o arroz estava muito caro", complementa.
Já na família de Vânia, o acesso à saúde e a medicações é árduo. "A maior dificuldade que eu estou passando é com a saúde até agora. Sem poder comprar medicamento. O dinheiro não dá pra comprar medicamento. Não dá nem pra fazer as compras do mês", afirma.
Nesta situação, auxílios governamentais podem mudar a realidade desses brasileiros. Ambas as famílias de Vânia e Márcia dependem do Bolsa Família para conseguir comprar o mínimo em meios a tantas dificuldades. "Todos esses auxílios servem como um grande complemento para muita gente. No início do mês, quando recebe o Bolsa Família e com o dinheiro do nosso trabalho, a gente faz a feira, paga as contas e o dinheiro já acaba. Falta dinheiro para comprar uma fralda para uma criança, um absorvente para uma mulher, a carne, tudo isso que também é essencial", comenta Márcia.
Estas famílias também receberam o Auxílio Emergencial, no contexto da pandemia, e agora temem o que a falta desse dinheiro poderá causar. O presidente Jair Bolsonaro anunciou mudanças e lançou o Auxílio Brasil, novo benefício proposto para substituir o Bolsa Família. O Auxílio Brasil vai chegar a aproximadamente 10 milhões de pessoas, que são as que já faziam parte do Bolsa Família e também recebiam o Auxílio Emergencial. Esses brasileiros migrarão automaticamente para o novo benefício.
Outros 24 milhões de brasileiros foram automaticamente excluídos e há 5,3 milhões que estão no cadastro único e, mesmo tendo chance de serem chamados, não foram incluídos."O Auxílio Brasil é uma extrema inconsequência por parte do governo, Há uma incerteza na própria previsibilidade para as famílias. A gente tem recursos insuficientes e que não tem previsibilidade, então, as pessoas não podem nem se programar e ter uma estabilidade", destaca Paola Carvalho, diretora de Relações Institucionais da RBRB. (Fonte: Correio Braziliense)
CUSCUZ É PREPARADO COM CASTANHA DE CAJU, LICURI E MEL POR PRETA GIL PELA CAMPANHA TENHO SEDE
O cuscuz, prato tão apreciado pelos nordestinos e ícone da culinária regional, caiu nas graças de Bela Gil em uma receita especial pensada para ressaltar aspectos sustentáveis no preparo. A culinarista, youtuber e apresentadora de TV apresentou, em seu canal no Youtube, Canal da Bela, uma receita de cuscuz preparado com ingredientes derivados da Agroecologia e feito com água de cisterna, uma das tecnologias sociais de convivência com o Semiárido.
O preparo do cuscuz, com ingredientes do Semiárido, teve um motivo especial: divulgar o Programa Um Milhão de Cisternas, desenvolvido pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), e pedir apoio à campanha ‘Tenho Sede’, lançada em setembro de 2021 com o intuito de arrecadar recursos para construir um milhão de cisternas no Nordeste.
A receita contou com milho de cuscuz não transgênico da Paraíba, leite de castanha de caju com licuri e mel. Todos os ingredientes utilizados foram cultivados por famílias agricultoras agroecológicas do Semiárido brasileiro. “Fico muito feliz de divulgar esse projeto e fazer com que ele continue porque ainda precisam ser construídas outras cisternas”, destaca Bela antes de iniciar o preparo do prato.
Durante a apresentação da receita, a chef contou com a presença de uma das vozes da campanha, a agricultora familiar Josefa de Albuquerque, conhecida como Dona Nena, da zona rural do município de Cumaru, no sertão pernambucano. Ela destaca as melhorias e impactos positivos que o uso da cisterna oferece para a segurança alimentar de sua família: “Quando chove é muito bom porque, além de ter água na cisterna, nós plantamos um pé de coentro, uma fava, um jerimum. Dalí, tiramos para o consumo, para beber, para as plantinhas, para os animais”, explica.
Mulher de cabelos lisos com a metade superior presa usa óculos de armação preta e blusa de cor salmão sentada diante de uma mesa redonda com caneca e computador com uma adesivo de fundo preto e palavra AGROECOLOJA com a primeira parte em branco e LOJA em verde. Ao fundo, parede de azulejos de metrô brancos, cesta de palha com bananas, prateleira com garrafas de mel e cartaz da ASA
CISTERNAS: Ao todo 1,2 milhão de famílias foram beneficiadas com as cisternas construídas no Semiárido brasileiro dentro da meta estabelecida pela ASA em 1999. Deste total, mais de 80% das implementações foram de responsabilidade da rede. A iniciativa inspirou o Programa Cisternas, criado pelo Governo Federal, em 2003. A partir deste marco, a construção das cisternas se intensificou na região. Contudo, a redução no volume de recursos para essas iniciativas tem retardado a chegada da tecnologia para mais de um milhão de famílias que ainda não têm acesso à água no Semiárido.
A campanha ‘Tenho Sede’ segue mobilizando recursos para levar água ao Nordeste brasileiro. A iniciativa leva o nome da música composta pelos músicos Anastácia e Dominguinhos, que foi regravada e cantada por Gilberto Gil, com o intuito de chamar atenção para o problema da falta de acesso à água de consumo humano entre as famílias do Semiárido.
No ar há quatro meses, a campanha já conta com doadores de todas as regiões do Brasil e segue agora para uma nova etapa que envolve as companhias de abastecimento e saneamento básico e integrantes do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste que vão oferecer a possibilidade de doação via conta de água.
Serviço-Para doar e saber mais sobre a campanha acesse: tenhosede.org.br
LUIZ GONZAGA, RELIGIOSIDADE NA MÚSICA E DOM HELDER CÂMARA
Se vivo estivesse o Arcebispo Emérito de Olinda e Recife, dom Helder câmara estaria completando, nesta segunda-feira, dia sete, 113 anos.
Para celebrar a data, o Instituto Dom Helder Câmara, realiza o evento de forma virtual nesta segunda, inclusive com celebrações de missas e lançamento de livros que podem ser acompanhados pelo canal do youtube dom Helder idhec.
sa branca em voo rasante,
Olhar de águia a ver distante,
Sente a dor que da terra brota,
De um chão inóspito em calor ardente.
Cercas longas a dividir a terra,
Causa infame de prolongada seca,
Não fosse a asa branca em sinal plangente,
Luiz não teria ainda infante,
Esgrimido um som feito em fole e diapasão,
Batida de pé, nem baião.
Não,
Não teria cantado um amor ardente,
Nem feito luz das estrelas candentes.
Ah,
Não há porque mentir nem esconder!
A asa branca que levantara voo,
Do sertão e da solidão,
Riscou profunda a dor,
De que foi capaz seu coração. (Drance Elias)
Luiz Gonzaga esteve com Dom Helder Câmara e falou sobre o forró, tipo de música nascido no Nordeste, cuja instrumentação básica tem sanfona, zabumba e triângulo. Forró é um ritmo com dança alegre e sensual, hoje espalhado pelo mundo, é um pedaço do Sertão que renasceu na cidade e mata a nossa saudade de Gonzagão, que foi o seu mestre maior.
Luiz Gonzaga é, de fato, uma das mais emblemáticas figuras da música popular brasileira. Junto com os poetas das suas canções, como Zé Dantas, Patativa do Assaré e Humberto Teixeira, ele divulgou o Sertão como a grande síntese cultural do Nordeste, que está hoje no imaginário do povo brasileiro, como um baú de valores civilizatórios e de narrativas profundas. Fez com a sua arte de cantor, o que fizeram pintores como Cândido Portinari, poetas como João Cabral de Melo Neto, romancistas como Graciliano Ramos, dramaturgos como Ariano Suassuna.
Gonzaga, cantando acompanhado de sua sanfona, levou a alegria das festas juninas, da religiosidade popular e dos forrós pé-de-serra, bem como as tristezas e as injustiças de sua árida terra, o Sertão nordestino, para o resto do país, numa época em que a maioria das pessoas desconhecia o forró, o baião, o xote e o xaxado, e em que os nordestinos ainda não tinham voz pra contar suas histórias e afirmar sua dignidade. Gonzagão personificou as ambiguidades políticas do sertanejo, mas cantou como ninguém a cultura de devoção aos santos do nosso povo.
Nos últimos dezoito anos de vida, contudo, entrou na maçonaria - o que enseja e motiva pesquisas sobre a religiosidade em trânsito no Nordeste do Brasil. Para onde está indo a fé da gente?!
Luiz Gonzaga retratando – ou “decantando”, como ele dizia – a fé dos nordestinos. A música de Luiz Gonzaga documentou romarias, novenas, procissões, promessas... Uma trajetória de fé e orações direcionada para ícones como o Padre Cícero e Frei Damião.
"Na minha história pessoal Luiz Gonzaga tem uma importância fundamental. Desde os meus oito anos que eu canto Luiz Gonzaga e me encanto com ele", conta o padre Reginaldo Veloso, que procura compor um repertório para as celebrações litúrgicas da Igreja que tenha raiz nas músicas do povo, como o baião, o xote, o xaxado e as emboladas. "Eu sou muito religiosa. Não aceito que se diga que a fé é algo infantil, ingênua. Ao contrário", defende também a cantora Elba Ramalho.
O professor Gilbraz Aragão, do Mestrado em Ciências da Religião da UNICAP, lembra que o nosso Sertão teve uma evangelização católica com "muita reza e pouca missa, muito santo e pouco padre", uma tradição mais oral do que escrita.
"Por exemplo, a bíblia não era lida na nossa língua. As pessoas tinham que se valer dos seus próprios meios para transmitir histórias através de contos, loas e benditos. Então não era uma Igreja de padres com livros, mas de lideranças carismáticas que usavam da sua intuição religiosa para distribuir bênçãos, fazer rezas e contar histórias edificantes", explicou. Os contos e cantos, como os de Gonzaga, tiveram assim um papel importante na socialização religiosa.
LUIZINHO CALIXTO: O SOTAQUE BREJEIRO DO MESTRE DA SANFONA DE 8 BAIXOS
O CD “Sotaque Brejeiro”, do MESTRE DA SANFONA DE 8 BAIXOS, Luizinho Calixto é excelente. É cd que você escuta uma dez vezes tamanho é o encanto dos acordes e sons do talentoso músico e sua sanfona Pé de Bode.
São 13 músicas: Até que enfim (Geovânio Zu), Dedo de Mola (Luizinho Calixto), Quebra Queixo (Luizinho Calixto), Enfeite de Saudade (Rangel Jr/Efigênio Moura), No tempo do meu avô (motivo popular, com adaptação de Luizinho Calixto), Sob Nova Direção (Ton Oliveira), Sotaque Brejeiro (Luizinho Calixto), Forró para Enok
Marques (Luizinho Calixto), Não vou rotular (Thiago Calixto), Chorando Contigo (Luizinho Calixto/Severino Medeiros), Um Tom para Rangel (Luizinho Calixto), Sem Compromisso (Luizinho Calixto) e Trocando as Bolas (Luizinho Calixto).A direção artística é de Luizinho Calixto e a mixagem e masterização de Adelson Viana, sendo que o CD foi gravado na Vila Estúdio Sonoro, com os técnicos Adelson e Lauro Viana. Na gravação, sanfona de oito baixos, acordeom, zabumba, triângulo, pandeiro, agogô e reco-reco couberam a Luizinho Calixto, o violão de sete cordas a Márcio Ramalho e o cavaquinho a Gugu. Houve, ainda, participações especiais de Geovânio Zu e Thiago Calixto, compositor, filho de Luizinho e um de seus maiores incentivadores.
O trabalho teve o apoio cultural de Renato Moreira, Flávio Roberto e Dinart Freire. A respeito das parcerias do CD, Luizinho é enfático: gosta de chamar para junto dele as pessoas que têm talento. “Você não sabe, mas aí de repente ali pode haver um Dominguinhos, um Jackson”, assinalou.
O CD foi feito de modo independente e reúne vários ritmos, a exemplo de xote, forró e choro. O artista explicou que embora hoje a gravação de compactos seja cada vez mais rara, considera importante ter um registro material da obra. Além disso, colecionadores e pessoas que acompanham a sua trajetória profissional, há tempos solicitavam algo semelhante.
O compacto foi lançado no ano de 2020 durante a “Roda de Choro”, em Campina Grande Paraíba.
Luiz Gonzaga Tavares Calisto, artisticamente conhecido como Luizinho Calixto, nasceu em Campina, em 21 de junho de 1956. É a “raspa do tacho” de uma família de 10 filhos, da união de Maria Tavares Calixto e João de Deus Calixto, o “Seu Dideus” (1913-1989). O pai de Luizinho foi um instrumentista paraibano renomado, tocador da sanfona de oito baixos. Já os irmãos mais velhos formam uma linhagem de grandes músicos (Zé Calixto, Bastinho Calixto e João Calixto).
Desde menino, Luizinho conviveu com ícones da historiografia musical brasileira. Muitos eram amigos de sua família, a exemplo de Jackson do Pandeiro, com quem, certa feita, Luizinho dividiu o palco, e Luiz Gonzaga, que lhe presenteou com uma sanfona. O primeiro álbum veio em 1975, intitulado “Vamos dançar forró”, com o qual percorreu o Brasil em turnê.
O artista vive há pelo menos 40 anos da profissão de tocador de oito baixos. Tem 12 discos gravados entre vinis e CDs. Mostrou sua arte a milhares, em países como Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha, Suíça, Argentina e Angola. Luizinho também foi o criador do Encontro de Sanfoneiros e Tocadores de Fole de Oito Baixos da UEPB. Teve participação, como instrumentista, em gravações de artistas aclamados: Sivuca, Dominguinhos, Chico César, Evaldo Gouveia, Fagner. Soma-se, ao seu currículo, parcerias com Elino Julião, Genival Lacerda, Messias Holanda, Alcymar Monteiro e Beto Barbosa; integrou, igualmente, shows de Belchior, Marinês e Nara Leão.
Luizinho Calixto É professor do Centro Artístico da UEPB desde 2013. Recentemente, a Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB) incluiu o nome de Luizinho no registro de Mestre das Artes – Canhoto da Paraíba – Rema/PB. O Rema visa reconhecer, proteger e valorizar os conhecimentos, fazeres e expressões das culturas tradicionais do Estado. Para isso, Luizinho dispôs da assessoria da professora Joseilda Diniz, uma das curadoras da Sala de Cordel do MAPP, que o auxiliou na elaboração de seu dossiê artístico e vem desempenhando esse papel dentro de suas atribuições na Pró-Reitoria de Cultura (Procult) da UEPB. (Fonte: Texto: Oziella Inocêncio-UEPB)
PREVISÃO É DE CHUVAS NO ALTO DA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO E EM PARTE DA BAHIA.
A vazão do Rio São Francisco praticada pela Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), a partir das hidrelétricas de Sobradinho (BA) e Xingó (SE), será mantida em 4.000 metros cúbicos por segundo (m³/s) até nova análise, sem data prevista de redução desse patamar.
Informativo oficial da Chesf foi enviado no início da tarde para prefeituras, defesas civis, comitês, associações, entre outras entidades e usuários. Foi realizada Reunião de Acompanhamento das Condições de Operação do Sistema Hídrico do Rio São Francisco, coordenada pela Agência Nacional das Águas e Saneamento Básico (ANA), com a participação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) e outros órgãos que atuam na bacia.
As previsões meteorológicas apresentadas foram de permanência de chuvas nas próximas semanas no Alto São Francisco, em Minas Gerais, e em parte da Bahia. Dessa forma, os reservatórios precisam continuar operando no regime de controle de cheias.
Os reservatórios principais da Chesf no Rio São Francisco, Sobradinho e Itaparica (PE), estão acumulando água. Entretanto, seguindo normas e diretrizes para operação de controle de cheias, a Companhia precisa respeitar o chamado “volume de espera”, considerando que as chuvas na Bacia Hidrográfica do Velho Chico seguem até abril, quando se encerra o período úmido.
A vazão de 4.000 m³/s, pelas regras estabelecidas, é a metade do valor máximo que a Chesf pode liberar de água e, portanto, é fundamental que a calha do rio seja mantida desocupada. “Estamos permanentemente avaliando a situação e qualquer alteração será divulgada com antecedência, como temos feito”, declarou o diretor de Operação da Companhia, João Henrique Franklin.
CELESTINO GOMES VIVE NA IMENSIDÃO DAS CORES, TONS DO CÉU E DA ABUNDÂNCIA DAS ÁGUAS DO RIO SÃO FRANCISCO
Do escritor Virgilio Siqueira-músico e poeta confira TEXTO-Homenagem a Celestino Gomes
Pronto! Agora, não mais incomodas
Agora a falsa ternura que brota das acomodadas e incomodadas faces
Mistura-se, sem nenhum pudor, à sagacidade de tua irreverência
Agora, não és mais um louco
Mas um excêntrico que os normais não conseguem entender e aceitar
(Mesmo sendo, cada um dos que hoje assim te veem
Parte do batalhão impiedoso que te julgava e condenava sumariamente)
Ora, mas agora nada mais importa!
Que fazer, se as mortíferas balas perdidas do mundo não te atingiram
E se o teu perturbativo jeito de ser, jamais se perturbara?
Diante de nós, acomodados sonâmbulos que nunca sonham
Eras um delírio permanente
Ou uma centelha que incandescia a escuridão que somos
E trespassava o breu impenetrável de nossa hipocrisia
Cotidianamente estabelecida
Covardemente aceita
Se eras, perante o mundo
Indiferente aos valores que se impõem a todos
Eras também, para este mesmo mundo, uma proposta de alento
Contida na inquietude de teus dias intensamente vividos
E em tuas noites, das quais não dependias para o sonho
Pronto!
Agora, não és mais uma ilha perdida
Na imensidão de uma cidade vazia, estéril
E hoje, mais que nunca, pálida, triste e pobre
A covardia, a servidão e o medo
Tranquilos, podem pastar na grama dos jardins das praças
Livres que estão dos afogueados ferrões e dos flamejantes chicotes
Que se manifestavam em tuas atitudes e em tua língua de farpas
Teus raros amigos saberão – alguns
Silenciar a dor da perda que não é perda
Outros tecerão e bradarão palavras em teu louvor no momento preciso
E assim, haverão de elevar-te o nome que já é, em si mesmo, celeste
Agora tu és o que sempre foste sem que nunca percebêssemos
Um caudaloso rio submerso a irrigar luzes e cores
A fazer que brotem da sequidão do solo do sertão
Arco-íris tingidos com tonalidades que nos acalentam e libertam
Agora, é como se em tua inquietação
Pairasse uma brandura que não se acomoda
E retinisse, numa candura que insiste em dizer-nos
Que és feito de fogo, de rio, e de sol.
Pronto!
Agora dormem, sob o cerro de tuas pálpebras
As mais incandescidas imagens que concebeste
Em comunhão com os encantos dos entardeceres
Revestidos com enigmáticas tramas de tonalidades
Da mesma forma que dormem, em teu corpo inerte
Todas as cores e luzes que explodiram de teus pincéis
De teus anseios e de tuas mãos
Que teceram com raios de estrelas, de lua e de sol
Todos os encantos e desencantos, reais e fictícios
Que te faziam viver como sonhar
Como dormem, ainda
Acalentadas pela perpetuação do teu último suspiro
Repousadas na fartura do teu emblemático bigode
Todas as imagens
Minuciosamente capturadas pela agudeza de tuas retinas.
Pronto!
Agora, tudo está definitivamente vivo
Quando cintilam as luzes que se manifestam nas cores de tuas telas
E nas formas das marcantes figuras esculpidas pelas tuas mãos
Concebidas pela humanidade que explodia em teu peito
E pela fecundidade dos teus argutos olhos azuis.
Pronto!
Agora és o que sempre foste e o que sempre serás
Um homem liberto das amarras dos conceitos e dos preconceitos
A anti-razão do sonho, enfim realizado
Expresso no desejo maior de sentir-se, um dia, misturado
Às ternas e acolhedoras águas do amado
Velho Chico.
Já o Cantor Maciel Melo FEZ uma homenagem a Celestino Gomes. "Fiz uma música dedicada a três pintores por quem sempre tive muita admiração. Um é Celestino Gomes, filho de Petrolina; O outro é Mateus Veloso, que conheci ainda na adolescência; o terceiro é Ivan Marinho, companheiro de muitos anos. Começamos juntos, eu nos bares das noites recifenses, ele nas telas, nas paredes, nos recitais de poesias, nas salas de aula. Sonhávamos muito, enquanto ele pintava eu tocava violão. Foram os melhores anos de minha vida".
Na letra Maciel Melo compara o pintor e o cantor:
'Quando pinta o pintor
Pinta a cor
Do pensamento do poeta
Pinta as linhas do verso
Tinge a métrica
Desenha sua canção
E os acordes de um violão
Pelos dedos da mão
Se transformam em aquarela
Pinta pra ele ou pra ela
Com a tinta da emoção
Quando canta todo cantador
Seu pinho é seu cavalete
E do seu amigo velho e alto tamborete
Vê uma paisagem bem precisa
Decantando a Monalisa
Faz um quadro, entoa um rosto
Sinfoniando o sol posto
Traz a tela para os dedos
Sonorizando segredos
Canta o gosto e o desgosto
Quando se pinta ou se canta
Quando se escreve ou se fala
Quando se escuta ou se cala
Pode estar se pintando um mundo
Emoldurando o ser
Com as cores do bem viver
Nas telas do bem amar...