PAULO VANDERLEY: SITE LUIZLUAGONZAGA MOSTRA VIDA E OBRA DO REI DO BAIÃO

 Na semana em que completaria 109 anos, o lendário Luiz Gonzaga volta a ter no ar uma das principais fontes de acesso à sua história. O site Luiz Lua Gonzaga foi idealizado e construído pelo colecionador Paulo Vanderley em 2004, carregando entrevistas, discos, digitalização de materiais gráficos e vários outros materiais sobre o legado do Rei do Baião. 

A iniciativa se tornou um dos principais meios de pesquisa sobre o músico de Exu, levando Paulo Vanderley a ser consultor em projetos como o Museu do Cais do Sertão e a cinebiografia de Gonzagão. O site Luiz Lua Gonzaga parte do projeto de seu criador em celebrar os 110 anos de seu ídolo, comemorados em 2022.

O site luizluagonzaga.com.br retorna com um novo projeto gráfico e abastecido com uma infinidade de materiais que contam a trajetória de Luiz Gonzaga. “Para nós, gonzaguianos, que admiramos tudo o que ele foi, é quase que um princípio propagar a vida e a obra dele. Apesar das dificuldades de trabalhar com cultura no Brasil, trazer mais pessoas para admirá-lo é o que nos anima, é o nosso combustível para fazer esse trabalho”, afirma Paulo.

A produção e luta pela memória de Gonzaga começaram a tomar forma na vida de Paulo ainda na infância. Filho de um funcionário do Banco do Brasil, o colecionador morou em 16 cidades do Nordeste com a família e uma delas foi justamente Exu, onde conheceu pessoalmente aquele que se tornaria seu ídolo. Em 1989, quando Gonzagão faleceu, o garoto recebeu a missão do pai de filmar o cortejo fúnebre, evento que colocou dentro de si a vontade de colecionar tudo o que podia de um dos maiores artistas da história do país, assim como levar adiante o encanto que vivenciou naquela época.

“Hoje eu ainda tento contribuir com essa história. O Luiz Lua Gonzaga chegou a ser o maior acervo sobre um artista brasileiro. No ano do centenário dele, tivemos 9 milhões de acessos e milhares de contatos, se tornando a base de dados mais procurada por jornalistas e pesquisadores. Levamos de 4 a 5 anos para abastecer o site. Hoje, com a retomada, estamos com 30% do que teremos até 2022, quando Gonzagão completará 110 anos”, elabora Paulo.

Para firmar ainda mais esse projeto de digitalizar o máximo possível da história de Luiz Gonzaga, Paulo está desenvolvendo um livro sobre o artista pernambucano para ser lançado no próximo ano, escrito em primeira pessoa, com o próprio Rei do Baião contando sua história, a partir de uma intensa pesquisa em acervos de entrevistas. O projeto também será lançado em formato de áudio, narrado pelo próprio biografado a partir desse material. (Fonte: Rostand Tiago rostand.filho@diariodepernambuco.com.br

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JUAZEIRO BAHIA: FLÁVIO BAIÃO COMANDA HOMENAGENS AOS 109 ANOS DE LUIZ GONZAGA NESTA SEXTA (17)

 

O cantor compositor e sanfoneiro Flávio Baião, comanda o Tributo a Luiz Gonzaga, a partir das 20h desta sexta-feira (17). O evento é acontece no Espaço Baião Nordeste, 130, Avenida Flaviano Guimarães e tem o objetivo de prestar homenagem aos 109 anos de nascimento do Rei do Baião, Luiz Gonzaga.

Flávio Baião esteve na programação do Viva Gonzagaão em Exu, Pernambuco, onde participou do evento entre os dias 10 a 13 de dezembro. No Espaço Baião terá a participação de Matheus e Tinho do Acordeon.

Flávio Baião nasceu em Juazeiro, Bahia no ano de 1968, Flávio Marcelo Mendes da Silva, o Flávio Baião é a síntese de um seguidor do forró feito por Luiz Gonzaga, Trio Nordestino e Dominguinhos. Ele é fiel ao valorizar o nome artístico que ganhou: Flávio Baião. 

Inspirado no tradicional chapéu de couro e sua simplicidade de ribeirinho nascido nas margens do Rio São Francisco Flávio é baião já gravou cinco Cds e 1 DVD. 

No chiado da sanfona, na batida da zabumba e no zunido do triângulo, esse músico segue difundido os autênticos ritmos nordestinos. Coco, baião, xote xaxado e arrasta- pé são as palavras de ordem desse grande cantor. Da sua voz ecoa melodias que revelam o jeito de ser e de viver do seu povo, suas músicas são marcadas pelo calor festivo presente no sertanejo; sendo o sol o maior dos holofotes a iluminar esse artista que, de tão apaixonado pela sanfona, adotou por sobrenome Baião.

Flávio conta que desde criança foi embalado pelas canções de Luiz Gonzaga, no vai e vem das quadrilhas juninas. "Minha mãe, dona Belinha é a responsável por tudo que faço em nome da cultura". 

Em 2015, o sanfoneiro, cantor e compositor Flávio Baião recebeu da Câmara de Vereadores de Juazeiro, a Comenda Doutor Pedro Borges Viana. A Comenda é uma forma de agradecer e homenagear pessoas que prestam relevantes serviços a comunidade. Flávio Baião atualmente além de inúmeros shows beneficentes é responsável por uma Escola de Música, que atende crianças e adolescentes no aprendizado da sanfona e outros instrumentos. Flávio Baião no ano de 2013 gravou o seu primeiro DVD-Feiras do Nordeste. 

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FRANCISCO JOSÉ PARTICIPA DA SEGUNDA EDIÇÃO DO PROJETO AULAS ABERTAS DO CURSO DE JORNALISMO DA UFCA

Após promover aula aberta com a jornalista, escritora e ex-candidata à vice-presidente da República, Manuela D’Ávila, em abril deste ano, o curso de Jornalismo da Universidade Federal do Cariri (UFCA) traz mais um nome reconhecido nacionalmente para conversar com estudantes do curso e também com interessados externos à Universidade.

 Desta vez, o convidado é o jornalista Francisco José. Natural do Crato, Chico José trabalhou na Rede Globo de Televisão por 46 anos, até ser desligado da emissora, no fim do mês passado. A aula aberta será realizada de forma virtual na próxima sexta-feira, dia 17 de dezembro de 2021, às 19h, com transmissão pelo canal da Semana de Jornalismo da UFCA no YouTube (link para uma nova página). 

A atividade poderá gerar certificação aos participantes com carga horária de 3h. Os interessados em participar devem preencher formulário on-line de inscrição (link para uma nova página), até as 17h do dia do evento. Sobre Chico José Primeiro jornalista nordestino a apresentar o Jornal Nacional, Chico participou de 103 edições do programa Globo Repórter e tem no currículo a cobertura de quatro Copas do Mundo, duas Olimpíadas, da guerra das Malvinas e uma indicação ao Emmy, o mais importante prêmio da televisão mundial. 

Ao fim da exposição, ele participará de uma coletiva de imprensa com alunos do curso de Jornalismo da UFCA e jornalistas da região credenciados. Projeto Aulas abertas Os eventos com Manuela D’ávila e Chico José fazem parte do projeto “Aulas Abertas”, do curso de Jornalismo da UFCA. Participam da organização dos momentos estudantes matriculados nas disciplinas de Assessoria de Imprensa e de Comunicação Integrada, ambas ministradas pelo professor da UFCA, Edwin Carvalho.

 De acordo com o docente, “o projeto tem dois objetivos: o primeiro é fazer com que os estudantes de Jornalismo, que estão fazendo o curso durante a pandemia tenham condições de exercitar as práticas profissionais em formato remoto; e o segundo é aproximar a comunidade do curso de Jornalismo da UFCA, fazendo com que pessoas que têm curiosidade ou interesse pela área possam acompanhar algumas dinâmicas do curso”. 

A intenção dos realizadores é oferecer aulas abertas mensalmente, até a próxima Semana de Jornalismo. Em 2021, a Semana de Jornalismo ocorreu em setembro. *Com informações da Agência Cariri Serviço Aula Aberta com Francisco José Quando: dia 17 de dezembro de 2021, às 19h Onde: Canal da Semana de Jornalismo da UFCA no YouTube Informações: semanadojornalismoufca@gmail.com

Fonte: https://ufca.edu.br






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NÃO BASTA TER ÁGUA PARA SER UM RIO

 “A água vinha até aqui, ó”, indica o pescador Tonis Souza de Oliveira, de 42 anos. O ponto em que sua mão está, encostada numa enorme pilastra, fica mais ou menos na altura de sua cabeça, a cerca de 1,70 metro do chão. Ele está debaixo de uma ponte para veículos, no caminho entre Barreiras e o povoado de Jupaguá, na cidade de Cotegipe, no oeste do estado da Bahia. 

Ali, onde ele pisa em terra seca, costumava passar um corpo d’água, conhecido na região como Aguapiranga. Nesse “braço” do rio Grande – um dos principais afluentes do rio São Francisco –, onde a água era abundante o suficiente para que pescadores lançassem suas redes, resta apenas uma ou outra poça, que só estão ali porque nas noites anteriores a chuva veio forte — pela primeira vez em meses. 

No trajeto para a pequena vila de pescadores em Jupaguá, a ponte sem rio não é a única contradição. Na picape 4×4, além de repórter, fotógrafo, equipamentos e Tonis, que nos guiou até a comunidade, levamos uma pequena caixa de isopor com alguns peixes, que nos serviriam de almoço. Levar o próprio peixe para comer em uma comunidade de pescadores se tornou uma necessidade diante da diminuição da vazão do rio Grande e o secamento de corpos hídricos ligados a ele, que costumavam servir de “berçário” para a reprodução e desova dos peixes. 

Por lá, onde alguns homens vivem à beira do rio, em acampamentos improvisados e com pouca estrutura, a pescaria virou complemento da renda, que muitas vezes depende do recebimento de aposentadoria ou outro benefício social. “Antigamente, meu pai pegava peixe aí… Não tinha gelo, não tinha nada, era sal, botava de carga para ir vender e comprar café e açúcar, desde eu molequinho”, conta o pescador Rubenildo dos Santos, de 66 anos. 

“Hoje, até para vender um peixe é dificuldade. As colônias não dão condições para nós, vamos no banco e não pode fazer um empréstimo, vamos fazer o quê?”, questiona Josiel Ferreira Borges, 55. Naquele dia, a pescaria de Josiel no rio Grande não rendeu o suficiente para pagar os litros de gasolina que ele utilizou no motor de seu pequeno barco.

A algumas centenas de quilômetros dali, à beira do rio Branco, um dos afluentes do Grande, a água não secou completamente como na ponte entre Cotegipe e Jupaguá, mas seu nível está baixo. “Tem uma base do rio que nunca passava. Do ano passado pra esse ano, o rio abaixou muito, muito. Dá pra ver. Tinha lugar [do rio] que a gente não atravessava não, só no nado mesmo. Esse ano eu atravesso com a água no peito”, conta o agricultor e também pescador Roberto Rodrigues Batista, de 37 anos.

Morador do Assentamento Rio Branco, em Riachão das Neves, ele tem o fundo de sua propriedade, onde vive com a esposa e duas filhas pequenas, banhado pelo rio que dá nome à comunidade. Nascido e criado no local, “pegando na enxada” desde menino, ele chegou a tentar a vida em grandes cidades, mas voltou em 2015 após a morte do pai.

Nos últimos anos, os cultivos que lhe servem de sustento não têm vingado por falta de água e ele tem dedicado boa parte de seu tempo a cuidar da companheira, que enfrenta um quadro de depressão. Sua família sobrevivia dos R$ 330 que recebia do programa Bolsa Família (recentemente encerrado), de pequenos bicos e da ajuda de vizinhos. A perspectiva de o rio secar de vez lhe tira o sono. A situação o obrigaria a deixar novamente a região. 

“Eu sonhei que eu fui pegar água no rio e chegou lá e só tinha uma poça. Sonhei duas vezes e foi um sonho repetido. Se ele chega a secar, aí um bocado de gente passa necessidade e morre de sede, porque o nosso abastecimento de água é só isso aqui”, diz.

Ao longo dos nove dias de outubro deste ano em que a equipe da Agência Pública esteve em diferentes cidades do Cerrado baiano, o cenário relatado acima se repetiu diariamente: as passagens por pontes que antes estavam sobre rios, ribeirões, córregos, lagoas e outros corpos hídricos que hoje não existem mais como antes; os relatos da diminuição do nível ou do secamento total de cursos d’água, assim como das consequências que isso tem causado na vida desses ribeirinhos, pescadores e agricultores. 

AVANÇO AGRO: Entre os moradores das comunidades tradicionais do oeste baiano com quem a reportagem conversou, há um consenso: os recursos hídricos da região começaram a diminuir a partir do avanço da ocupação do agronegócio, iniciada entre as décadas de 1970 e 1980 e aprofundada nos últimos anos.

“No final dos anos 80, a gente já percebia que as águas estavam secando, o pessoal já falava nisso. Hoje a gente faz uma ligação de que tem a ver com o agronegócio, devido à instalação deles no chapadão, nas áreas de recarga [do aquífero Urucuia], com o desmatamento das nascentes”, explica o agricultor Jamilton Santos de Magalhães, de 39 anos. Conhecido como “Carreirinha”, ele vive na comunidade de fundo e fecho de pasto do Buriti, no Vale do Arrojado, em Correntina. 

Na entrevista à Pública, ele estava de pé dentro de um córrego que costumava abastecer as pequenas plantações locais – completamente seco naquele dia. Segundo o agricultor, a quantidade de famílias que habitam a região diminuiu nos últimos anos em decorrência do secamento da fonte de água. A situação ainda pode piorar, caso o vultoso projeto de irrigação da fazenda Conquista seja colocado em prática. Ligada ao empresário Fernando Schettino, que obteve do estado a maior quantidade de água outorgada a qualquer pessoa, empresa ou grupo familiar no Cerrado baiano, a propriedade localizada logo acima do Buriti tem autorização para captar mais de 320 milhões de litros de água por dia só do rio Arrojado.

Na comunidade de São Manoel, mais abaixo geograficamente em relação ao curso do mesmo rio, a percepção é semelhante. “De dez anos pra cá começou a piorar, já depois que esses grandes empresários aí em cima começaram a plantar roça grande, botar muitos pivôs, abrir poço. Aí foi secando nossas águas aqui”, afirma o agricultor Adolfo Batista de Oliveira, de 58 anos. 

Para regar suas plantações de gêneros como milho, mandioca, maxixe, quiabo e abóbora, ele e os demais moradores da comunidade utilizam uma forma tradicional de irrigação, conhecida como “canal”. No caso da comunidade São Manoel, o canal percorre uma extensão de mais de 17 quilômetros a partir do rio Arrojado, passando por diversas pequenas propriedades. Para quem está mais distante do rio – caso de seu Adolfo e sua família –, a diminuição da vazão tem feito com que a água não chegue durante os períodos mais secos. 

Sem outra alternativa para irrigar suas roças, vários dos moradores estão sendo obrigados a deixar a região em direção à zona urbana dos municípios locais ou rumo a capitais como Goiânia e Brasília. Seu Adolfo também teme essa possibilidade: “Eu não tenho outra profissão, não tenho estudo, não tenho nada. Eu ia sofrer lá, porque aqui já tô acostumado na lida do dia a dia”, diz.

Especialistas consultados pela reportagem avaliam que é mesmo o agronegócio o principal responsável pelas mudanças relatadas pelos moradores do oeste baiano. Na visão desses pesquisadores, as mudanças climáticas não explicam o cenário sozinhas, já que a redução da vazão dos rios se tornou mais drástica que a do volume de chuvas nas últimas décadas.

“Quando você quebra o sistema [de abastecimento dos lençóis freáticos] com a ocupação agropecuária intensa, especialmente nas áreas de recarga das bacias hidrográficas, você acaba indisponibilizando água durante os períodos secos, porque os aquíferos vão aos pouquinhos diminuindo a sua capacidade de disponibilizar água”, explica o pesquisador Yuri Salmona, doutorando em ciências florestais pela Universidade de Brasília (UnB).

Também pesquisadora do assunto, Lorena Ferraz, mestranda em desenvolvimento regional e meio ambiente na Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), explica que  a variação na disponibilidade hídrica na região é especialmente associada aos impactos ligados ao agronegócio, tendo se aprofundado a partir dos anos 2000.

 “Foi quando a agricultura irrigada teve um avanço mais intenso. Quando os pivôs centrais começaram a crescer, essa mudança foi mais brusca. É o que na estatística a gente chama de ponto de ruptura, de mudança na série histórica”, aponta.

Como revelado nesta série especial, somente entre os diretores e conselheiros das duas principais associações do agronegócio no oeste baiano, há cerca de 1,8 bilhão de litros de água por dia autorizados para captação nos rios e nos lençóis freáticos da região. Todo esse volume de recursos hídricos, retirado gratuitamente e concedido pelo estado, serve para abastecer grandes plantações de soja, algodão, milho e outras commodities voltadas para a exportação.

Na fala de pescadores, agricultores e ribeirinhos do oeste da Bahia, transparece uma nostalgia dos velhos tempos. Não que a vida fosse fácil, eles dizem. Mas o que motiva essa saudade é o secamento dos rios.

“Conheci córrego que quando menino a gente pegava peixe, e hoje eles não existem mais”, conta Juscelino Brito, que vive na comunidade de Brejo Verde, em Correntina, desde que nasceu, há 64 anos. Agricultor e fecheiro, ele relata que o único córrego que permanece com água na região, ligado ao rio Arrojado, é o da sua comunidade. 

“Seu Celino”, como é conhecido, é uma liderança entre os moradores locais que vêm resistindo à pressão territorial do agronegócio e travando batalha pela preservação do corpo d’água do qual são dependentes. Recentemente, eles fizeram mais de 20 quilômetros de cerca para proteger o córrego local. “A gente faz por amor, sabe, porque estamos enxergando a necessidade, que a natureza precisa de pessoas empenhadas para que ela permaneça em pé”, diz.

As redes lançadas pelos pescadores do oeste baiano têm voltado com cada vez menos peixes, por conta da redução do volume de água nos rios

Segundo levantamento feito pelo pesquisador Tássio Barreto Cunha, pelo menos 29 corpos d’água da região oeste da Bahia estão mortos, sendo que 17 se encontram na bacia hidrográfica do rio Corrente, onde fica Brejo Verde. A lista, apresentada na tese de doutorado de Cunha, defendida na Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2017, foi feita com base em trabalho de campo e em reportagem do programa Globo Rural, de 2000. Em uma nota de rodapé do texto, o pesquisador faz questão de frisar que acredita que o número seja ainda maior, já que as limitações do campo o impediram de alcançar toda a região.

OS QUE EM TESE, AINDA EXISTEM: Se há dezenas de corpos hídricos que já não existem, há outros tantos que permanecem correndo no oeste baiano. Na comunidade de Couro de Porco, à beira do rio Arrojado, num trecho em que é necessário atravessar em uma canoa improvisada para alcançar a roça dos geraizeiros, alguém que não conheça o contexto da região pode ter a falsa impressão de que não há crise hídrica. Afinal, o rio segue correndo. Mas, para o professor e ativista Iremar Barbosa, de 52 anos, que há 16 vive na comunidade geraizeira, desde quando começou a ensinar alunos do ensino fundamental na escola local, “não basta ter água para ser um rio”.

Em 2020, ele concorreu à prefeitura de Correntina pelo Psol, recebendo 2,67% dos votos. “A piora tá contínua. Pode ter um caldo aqui, mas pode não ser um rio. A quantidade de venenos que tem nele hoje é muito maior. O volume de água dele é muito menor”, diz. 

Para ele, caso a tendência atual se mantenha, com desmatamentos e grandes captações de água para irrigação, os rios do oeste baiano passarão a ser intermitentes, correndo apenas no período chuvoso. “Nesses 16 anos, eu vi riachos que tinham água secarem. Vi pequenos regos [forma de irrigação tradicional] que o pessoal sempre fez desses riachos secarem. Vi os peixes sumirem do rio. E vi as pessoas desaparecerem desses locais. É uma situação bastante triste”, lamenta.

A percepção de Iremar é reforçada pelos dados disponíveis das estações fluviométricas da região, que indicam que o volume de água dos corpos hídricos locais tem diminuído continuamente. “Na bacia do rio Corrente, em 1978, a vazão dos rios era mais ou menos 280, 290 m³/s. Hoje, está próximo de 100. Foi uma redução muito significativa, quase 70% da vazão média anual. E a bacia do Rio Grande, mais acima, também está na mesma tendência”, explica a pesquisadora Lorena Ferraz.

O cenário encontrado no oeste baiano é uma constante em praticamente todo o Cerrado, segundo Yuri Salmona, da UnB. “A gente chegou à conclusão de que a maioria, mais de 80% das bacias, tem uma diminuição da vazão. Se for colocar uma mensagem simples, é que o Cerrado de fato está secando, que está diminuindo a disponibilidade de água nos seus rios”, explica o geógrafo, que vai publicar nos próximos meses um estudo com base na análise de mais de 30 anos de dados de quase 100 estações pluviométricas do Cerrado.

Com uma camiseta que resume a sua luta: “Cerrado em pé: a vida brota das águas!”, a fecheira Aliene Barbosa, de 41 anos, conta sua relação com o rio Arrojado, que fica a poucos metros de sua casa, na comunidade do Grilo. Na infância, sem água encanada em casa, ela lavava roupas e louças, tomava banho e fazia café com a água do rio. 

“Eu gosto de viver aqui, gosto do trabalho da roça, de lidar com os animais, com o rio. É uma ligação muito forte que eu tenho com a terra, com a água, com tudo”, diz. Na visão dela, o desenvolvimento alardeado pelo agro atinge negativamente os pequenos agricultores e demais moradores do oeste baiano, já que diminui a disponibilidade de água. 

Para seu Celino, da comunidade de Brejo Verde, também no Arrojado, é necessário resistir a esse modelo de desenvolvimento que devasta a natureza. “O meu intuito, e eu brigo até o fim, é pra esse Cerrado continuar em pé. Eu não fiz estudo nenhum comprovado, mas eu tenho conhecimento que esse Cerrado em pé é o berço das águas. Por isso que a gente vem resistindo, resistindo com briga mesmo, não é passando a mão na cabeça, não.”

No oeste da Bahia, região do Cerrado brasileiro que é uma das últimas fronteiras agrícolas do país, nas últimas duas décadas, o agronegócio tem avançado sobre as águas que servem de fonte de renda, lazer e vida para os ribeirinhos, agricultores e pescadores que vivem nos Gerais da Bahia. O objetivo é expandir suas plantações para áreas onde as chuvas são menos abundantes, e os cultivos demandam irrigação, quase sempre feita por meio de pivôs centrais — situação que tem causado conflitos socioambientais.

*Texto site Agencia Publica: Rafael Oliveira-ornalista pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Passou pelo Jornal e Rádio USP e pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji),


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LUIZ GONZAGA É UM SEMIDEUS, UM MESTRE, UMA REFERÊNCIA, AFIRMA GILBERTO GIL

 "Luiz Gonzaga é um semideus". Há nove anos, durante as festividades do 100 anos de Luiz Gonzaga, Com esta pequena frase, Gilberto Gil explicou a grande dimensão da influência do Rei do Baião na sua carreira artística. Na época O cantor baiano conversou com a imprensa após show de quase duas horas em Exu, Sertão pernambucano, cidade natal de Gonzagão.

Gil contou que viu Luiz Gonzaga pela primeira vez quando tinha dez anos. Naquela época, ainda menino, saiu de Ituaçu, no centro-sul da Bahia, onde cresceu, para fazer o ginásio em Salvador. Era início dos anos 1950, auge do baião. "Ele foi fazer um show, com Catamilho (zabumba) e Salário Mínimo (triângulo), na Praça da Sé. E eu vi aquela coisa, que parecia uma epifania, uma coisa descida do céu", relembrou.

Quando decidiu apostar na carreira musical, Gil achou que era hora de quebrar com a ditadura estética da Bossa Nova e misturá-la com o rock e o baião, aquele ritmo que estava guardado na memória desde a infância. "De semideus, ele tornou-se um mestre, uma referência, depois tornou-se um amigo também. Ficou amigo do meu pai, e toda vez que ia para Vitória da Conquista [BA], ia à minha casa, tomava um café. Ele ficou assim, uma pessoa queridíssima, de casa. Eu costumo dizer que sou da família", explicou.

No Sertão nordestino, Gil é mesmo de casa. É figura certa nas festas de São João, quando recheia o repertório de forró. "Há alguns anos que eu venho fazendo Araripina e Sertânia [em Pernambuco], Mossoró [no Rio Grande do Norte], Juazeiro e Senhor do Bonfim [na Bahia]. E, no São João, os lugares são parecidos, com barracas de comidas típicas, bebidas, bandas de todos os tipos, mais tradicionais ou transformáticas. Hoje, eu fiz Bob Marley também. É que eu vivo nessa ponte, entre tradição e inovação, eu gosto disso."

Gilberto Gil exaltou a personalidade forte e carismática do velho Lua, que contribuiu para revelar um Nordeste ainda desconhecido, naquela época, ao Sul e Sudeste do país. "Ele tinha aquela coisa cívica, política, estadista, ocando para presidentes que fizeram projeto de eletrificação do Brasil, parecia 'Tempos modernos', uma coisa chapliniana. Gonzaga é muito interessante. Tem as músicas com Zé Dantas, extraordinárias, as mais jocosas, como 'Respeita Januário', aquela narrativa, ele chegando [em Exu], os oito baixos, o linguajar que ele revelou, esse modo nordestino de falar, a essência do nordestino. Gonzaga representa isso", comentou.

O baiano brincou dizendo que Gonzagão foi o Elvis Presley brasileiro. "Ele saía por aí, com uma indumentária, uma formação musical extraordinária, um power trio", falou, aos risos. Na época de ouro da rádio brasileira, os músicos tocavam com traje fino, mas Luiz Gonzaga queria assumir, mais forte ainda, a imagem do nordestino. A partir de 1947, colocou um chapéu de couro na cabeça, à moda dos cangaceiros. Era época de lançamento da música "Asa Branca", composta em parceria com Humberto Teixeira.

Os empresários não gostaram da ideia, mas Lua era teimoso e, no fim, das contas, trocou o paletó, a gravata e o sapato engraxado pelo gibão e sandália de couro, típicos dos vaqueiros. Ainda na empreitada de valorizar o Nordeste, o sanfoneiro inventou o trio pé de serra para acompanhá-lo nas apresentações: o triângulo para lembrar as bandas de pífano; a zambumba, os pipocos dos fogos de artifício. Isso que era o baião, segundo especialistas: a mistura de sonoridades dispersas no ambiente sertanejo que Gonzagão teve a genialidade de dar harmonia e melodia.

Para Gilberto Gil, Gonzagão foi decisivo para a música popular brasileira, ao dar de presente o baião, além de outros ritmos, como xaxado e xamego, que mais tarde estariam todos dentro do grande gênero forró. Quando surgiu, o samba-canção carioca estava caindo e o país, sendo invadido por músicas estrangeiras. "Então, ele teve essa premonição extraordinária, de entender o pop brasileiro. Quando se contar a história da música brasileira, lá no futuro, ele [Luiz Gonzaga] vai estar ali, entre os grandes inventores, como João Gilberto", destacou.

A invenção do mestre ficou de legado para muitos admiradores e seguidores, como o sanfoneiro Dominguinhos, que também fez show na quinta-feira, esquentando o palco para Gilberto Gil. O baiano, inclusive, tem parcerias com o artista pernambucano, como as canções "Abri a porta" e "Lamento sertanejo".

"Dominguinhos teve a herança do Gonzaga, que ele incorporou, através das canções, dos estilos, o gosto pelo xote, xaxado. Mas Dominguinhos foi além, em uma direção que Gonzaga não pôde, não teve tempo: ele foi na direção do início de Gonzaga, o instrumentista, da época das boates do Mangue, no Rio de Janeiro, quando ele tocava tango, choro, polca, foxtrot, tocava tudo, repertório internacional, tudo na sanfona", falou Gil.

O cantor lembrou de uma passagem decisiva na carreira de Gonzagão, que o fez mudar de direção artística. "Segundo a lenda, Armando Falcão foi lá [no Mangue], em uma apresentação dele [de Luiz Gonzaga], e disse: 'oh, rapaz, por que é que você não canta as coisas lá do Norte?' Então ai ele compenetrou-se. Em três a quatro dias, apareceu com outro repertório, então conheceu Humberto Teixeira, depois Zé Dantas, aí aconteceu aquela música que eu cantei hoje", disse Gil, referindo-se a "Dança da moda".

A canção, feita por Luiz Gonzaga e Zé Dantas, diz assim: "no Rio está tudo mudado, nas noites de São João. Em vez de polca e rancheira, o povo só pede, só dança baião". Lançada em 1950, retratava a mais pura realidade: o baião estava implantado, tocava em todas as rádios, estampava manchetes de jornais e, como disse o próprio Gil, "virou uma dinastia".

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ANA VARTAN: EXU PERNAMBUCO, UMA FOTOGRAFIA QUE VALE MAIS QUE MIL PALAVRAS

“Uma imagem vale mais que mil palavras” é uma expressão de autoria do filósofo chinês Confúcio, utilizada para transmitir a ideia do poder da comunicação através das imagens.

O significado deste ditado está relacionado com a facilidade em compreender determinada situação a partir do uso de recursos visuais, ou a facilidade de explicar algo com imagens, ao invés de palavras (sejam escritas ou faladas).

O pensador político e filósofo Confúcio (Chiu Kung era seu verdadeiro nome) viveu entre 552 e 479 a.C, e ficou conhecido como o Mestre Kung, devido aos seus sábios provérbios.

Já dizia o poeta: “Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia”. Na certeza dessa premissa, a possibilidade de revisitar um presente e futuro feliz é sempre uma experiência prazerosa. E a fotografia tem esse poder. Ao olhar para uma foto, riquezas de detalhes são observadas e, na nossa mente, uma cena é reconstruída.

Momentos históricos de Exu, Pernambuco, terra de Luiz Gonzaga em tempos de recursos digitais, facilidades de armazenamento estão ao alcance de um clique. Agora a internet, tempos digitais oferece um acervo de milhares de fotos com uma riqueza de detalhes impressionante.

A fotografia continua sendo a única forma de eternizar algo que é importante, seja esse algo um lugar, um objeto, um momento especial ou até mesmo pessoas especiais. A fotografia é um importante instrumento para gravar momentos sobre a história da humanidade.

O significado da palavra fotografia no grego quer dizer “escrita da luz”. Fotografar não é apenas um clique, é a inspiração, é a arte, é a paixão de quem eterniza momentos! 

A bióloga Ana Vartan Ribeiro de Alencar Ulisses, "nascida e criada os dentes" em Exu, Pernambuco, fez um clique que é pura arte durante as festividades dos 109 anos de Luiz Gonzaga, no Parque ASA BRANCA, neste ano de 2021.

A foto acima é um registro que reflete a Luz da esperança em um futuro de cultura e conhecimento. A criança é neta de João Gonzaga.

"Sempre gostei muito do movimento que as Festas do Gonzagão proporcionava na cidade,  a casa sempre cheia com os parentes (amigos de seu Luiz como tio Egídio  que recebia Luiz Gonzaga em sua casa lá Salvador BA) que vinham de fora, mas foi na escola que de uma professora chamada Joana Darck através de um trabalho que ela passou que despertou o interesse propriamente dita por seu Luiz. Comecei a conversar com pessoas que conheciam a história dele e só foi aumentando a admiração", conta Ana Vartan. 

"Hoje faço parte da ONG Parque Aza Branca , sou biólogo de formação, acredito muito no Turismo rural de base comunitária aqui na cidade para fortalecer ainda mais os movimentos culturais/turísticos/ambientais que vez ou outra dão uma enfraquecida  principalmente na pandemia que estamos passando e pensando em tudo que vem acontecendo quando vi a criança passando por mim com a sanfona , a chinela e o chapéu de couro foi como um sinal divino dizendo: acredite ! O legado de seu Luiz Gonzaga é  forte e vai semear esse chão por muitos e muitos anos", revela Ana.

"Fiquei tão emocionada ao ver a cena que quase não saia a foto. Um criança linda que encheu-me os olhos de esperança por dias melhores", finalizou Ana Vartan.

O professor doutor em Ciência da Literatura, Aderaldo Luciano, pronunciou que Luiz Gonzaga é fotografia visionária, o "Nordeste continuaria existindo caso Luiz Gonzaga não tivesse aterrissado por lá há cem anos. Teria a mesma paisagem, os mesmos problemas. Seria o mesmo complexo de gentes e regiões. Comportaria os mesmos cenários de pedras e areias, plantas e rios, mares e florestas, caatingas e sertões. Mas faltaria muito para adornar-lhe a alma. Sem Luiz Gonzaga quase seríamos sonâmbulos.

Luiz Gonzaga, mais que ninguém, brindou-nos com uma moldura indelével, uma corrente sonora diferente, recheada de suspiros, ritmos coronários, estalidos metálicos. A isso resolveu chamar de BAIÃO.

Luiz Gonzaga plantou a sanfona entre nós, estampou a zabumba em nossos corpos, trancafiou-nos dentro de um triângulo e imortalizou-nos no registro de sua voz. Dentro do seu matulão convivemos, bichos e coisas, aves e paisagens. Pela manhã, do seu chapéu, saltaram galos anunciando o dia, sabiás acalentando as horas, acauãs premeditando as tristezas, assuns-pretos assobiando as dores, vens-vens prenunciando amores.

O olhar de Gonzaga furou o ventre de todas as coisas e seres, escaneou suas vísceras, revirou seus mistérios, escrutinou suas entranhas. A mão do homem deslizou pelas teclas sensíveis da concertina, seus dedos pressionaram os pinos, procurando os sons baixos e harmônicos. Os pés do homem organizavam o primeiro passo, sentindo o caminho, testando o equilíbrio. A cabeça erguida, o queixo pra frente, a barriga desforrada e o pulmão vertendo cem mil libras de oxigênio, vibrando as cordas vocais: era Lua nascendo.

O peito de Gonzaga abrigava o canto dolente e retotono dos vaqueiros mortos e a pabulagem dos boiadeiros vivos. As ladainhas e os benditos aninhavam-se por ali buscando eternidade. Viva Luiz Gonzaga do Nascimento, sempre na mira de nossos corações.

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CULTURA GONZAGUEANA: O FORRÓ MAIS BRASILEIRO NO RITMO DO TRIO AS JANUÁRIAS, SOCORRO E MAZÉ

Durante as festividades dos 109 anos de Luiz Gonzaga realizado em Exu, Pernambuco, um toque com a força da modernidade provocou euforia nas terras do Rei do Baião. A presença do trio As Januárias e da dupla Socorro e Mazé mostrou o talento feminino e os valores e frutos plantados por Luiz Gonzaga.

Essas mulheres protagonizaram lições mais sublimes de música e empatia na terra de Luiz Gonzaga.

Numa das canções mais conhecidas de Luiz Gonzaga, repete-se: “Lui, respeite Januário”. É um clamor para que aceitem outras formas de fazer forró. Pois é justamente pedindo o fim dos preconceitos com diferentes jeitos de fazer música e, especialmente, com a presença feminina na música brasileira que as irmãs Mayra Barbosa, Mayara Barbosa e Sidcléa Cavalcanti criaram um trio forrozeiro. 

O trio se chama As Januárias, banda que traz seu forró com violão um tempero especial. O grupo é ao mesmo tempo inovador e tradicional. É inovador por ser composto por três mulheres jovens que buscam suas referências musicais na história do ritmo e não nos ramos mais recentes. Mas é tradicional por ser um grupo que marca a presença feminina no forró — uma constante desde os primórdios, mas que sofreu um apagamento histórico, como elas defendem — e também por interpretar canções tradicionais.

Quem explica o mix livre de preconceitos e repleto de muita pesquisa histórica que faz as Januárias é Sidcléa Cavalcanti, o ponto fora da curva. Professora das gêmeas Mayra e Mayara, ela se tornou uma irmã postiça de ambas e é ela quem introduziu o violão no trio.

“O forró sempre teve outros instrumentos, o pífano, o melê, o fole de oito baixos, também conhecido como pé de bode, instrumento de Seu Januário, pai de Gonzagão, e até o pandeiro. A ideia do trio liderado pela sanfona veio com a urbanização proposta por Luiz Gonzaga, por ser muito enxuta, mais fácil de transportar. Ela é de fato riquíssima e acabou associada à identidade forrozeira, mas não é a única. Hoje em dia há diversas instrumentações, há forró eletrônico, o próprio Gonzaga usou guitarra, baixo, flauta. O forró é uma música muito diversa e eu, que sou professora de violão, me graduei nesse instrumento, sempre tive facilidade de encaixá-lo nessa mistura”, diz.  

O posicionamento d’As Januárias em defesa da presença feminina no forró também passa por uma argumentação histórica, mostrando que a visão do nordestino como masculino é uma ideia que se construiu ao longo do tempo e que a realização da força do povo também em um aspecto feminino tem ganhado maior espaço — o que culmina até em figuras como Juliette, do BBB. 

“O signo nordestino ainda é muito patriarcal, é o ‘cabra macho’, o cangaço, o resistir, a natureza seca. A mulher, que ainda é vista como um símbolo frágil, ficamos em um ponto periférico nessa estrutura. Mas o feminino sempre esteve na cultura nordestina, no forró. Canções como ‘Feira de Mangaio’, costumam ser citadas como sendo de Sivuca, mas é uma parceria dele com Glorinha Gadelha, sua esposa. ‘Eu só quero um xodó’ é de Dominguinhos com Anastácia, uma figura fundamental do forró. É uma luta diária recriar esse laço e as Januárias e os grupos femininos tem buscado restaurá-la”, afirma. 

PROJETO: O trio “As Januárias” é um grupo feminino de forró criado no ano de 2017 pelas irmãs Mayra Barbosa, Mayara Barbosa e Sidcléa Cavalcanti. A banda surgiu com a proposta de fazer forró com uma formação instrumental diferente da convencional, utilizando violão em vez de sanfona para combinar com a zabumba e o triângulo/agogô. O projeto é formado por mulheres e busca exaltar a força e o protagonismo feminino em um meio ainda predominantemente masculino como o forró, tocando repertório de nomes expoentes como Marinês, Anastácia, Elba Ramalho, Clemilda, Lia de Itamaracá e Selma do Coco. 

Em seu trabalho autoral, o trio mescla influências que vão do forró ao maracatu, com letras que tratam de temas contemporâneos como as conquistas e lutas das mulheres na sociedade. As Januárias buscam fazer forró para o público jovem, mas sem deixar de exaltar a tradição. 

SOCORRO E MAZÉ: A dupla Socorro e Mazé é traduzida por mulheres de vibra que se uniram a levam forró por onde passam. Socorro, paraibana, Mazé, pernambucana, dois estados que tem em sua raiz o autentico forró. Não sabemos se por isso ou se a veia nordestina arretada que instigou a dupla “Socorro & Mazé” desde 1983.

No ano de 1999 se uniram a banda taquaritinguense Naturais do Forró e lançaram um CD juntos. Desde então a carreira vem crescendo e ganhando as mídias e festas da região. Em 2019 foram às homenageadas do São João de Taquaritinga do Norte. Estão sempre se apresentando no Alto do Moura e contratadas para shows na região, sempre muito elogiadas pela critica.

Possuem várias músicas autorais com destaque para: Alto do Moura, Flor de Maracujá, Taquaritinga e Pé de Mulubu e uma homenagem a Luiz Gonzaga. 

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