SIMBOLO DO CARNAVAL DO SERTÃO, MESTRE JAIME MORRE AOS 98 ANOS EM DECORRÊNCIA DA COVID-19

Morreu nesta segunda-feira (4), aos 98 anos, o carnavalesco Jaime Alves Concerva, mais conhecido como Mestre Jaime. Internado deste o último sábado (4) no Hospital Regional de Salgueiro, no Sertão de Pernambuco, o artista plástico testou positivo para a Covid-19 e morreu de falência múltipla dos órgãos, de acordo com informações passadas por familiares.

Nascido em Salgueiro, Mestre Jaime marcou seu nome da história do município com a criação do bloco da “Bicharada”. Ao longo de 75 anos, levou alegria aos foliões com seus bonecos gigantes, representando animais e pessoas anônimas. Além de carnavalesco, Mestre Jaime era artista plástico, seresteiro, músico e alfaiate.

O bonequeiro sempre gostou do carnaval. Como tinha habilidade como alfaiate e artesão, começou a produzir os bonecos de cerca de cinco metros de altura com máscaras de animais, como elefantes e girafas. Os primeiros foram feitos em 1945, após o fim da Segunda Guerra Mundial. Ele serviu no batalhão do exército em Olinda, no litoral do estado, mas antes que fosse convocado para ir batalhar na Itália, a guerra acabou. Ao voltar a Salgueiro, o artista começou a produzir os bonecos.

Outra marca de Mestre Jaime eram os ternos coloridos que ele utilizava durante o carnaval. Assim como os bonecos gigantes, as peças eram produzidas por eles. Para completar o visual autêntico, o carnavalesco usa uma dentadura de ouro 18 quilates.

Nos últimos 75 anos, Mestre Jaime sempre esteve presente no carnaval de Salgueiro. Por causa da idade, desde 2018, o bonequeiro passou a desfilar em um carro alegórico especial e adaptado, para que pudesse aproveitar a festa que mais gostava.

O enterro de Mestre Jaime será realizado no final da tarde desta segunda-feira, em Salgueiro. Casado com Maria Lilita Tavares, o artesão teve quatro filhos e adotou mais dois.


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EX-SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO E CULTURA DE PERNAMBUCO PARABENIZA O JORNALISTA NEY VITAL PELO TÍTULO DE CIDADANIA DE EXU, TERRA DE LUIZ GONZAGA

A Câmara Municipal de Vereadores de Exu, Pernambuco, Terra de Luiz Gonzaga e de Barbara de Alencar, realizou na última quarta-feira (30), a solenidade entrega do certificado do Título de Cidadão de Exu. A honraria é concedida às personalidades que contribuíram, de alguma forma, com o progresso socioeconômico, cultural e turístico do município.

Foram agraciados com o título: Benevuto Ferreira Sobrinho, Italo Lino de Souza, Valdiney Vital Guedes (Ney Vital), Marcos Sergio Ferreira, Antonio Kydelmir Dantas de Oliveira, Juliana Maria Borges e Felipe Soares da Silva.

Devido a pandemia da Covid-19, a vice diretora do Projeto Asa Branca, professora Aline Justino representou os novos  filhos de Exu, Terra de Luiz Gonzaga e de Barbara de Alencar, que não puderam comparecer ao evento.

O deputado Federal Raul Henry, ex-Secretário de Cultura e Educação do Estado de Pernambuco parabenizou o jornalista Ney Vital e pesquisador da obra de Luiz Gonzaga. O deputado destacou o trabalho do pesquisador Ney Vital e a prestação de serviço sempre a favor da valorização da cultura brasileira.

O jornalista Ney Vital, nascido em Areia, Paraíba, ressaltou que é uma honra se tornar filho da terra de Luiz Gonzaga, rei do baião, pernambucano de Exú, terra de bravos. "Terra que nos legou o pioneirismo de mulheres guerreiras e libertárias, que foi Bárbara de Alencar, revolucionária de 1817”.

Na oportunidade o jornalista solicitou ao Deputado Raul Henry um olhar para o momento vivido pelos artistas que precisam do auxílio emergencial da Lei Aldir Blanc e no futuro um projeto que venha a contribuir com o desenvolvimento cultural de Exu, Pernambuco.

O título de Cidadania Exuense foi concedido por unanimidade pela Casa Legislativa de Exu, Pernambuco pelos vereadores:

Antonio Parente Sobrinho

Cícero Vieira da Silva

Davi Moreira de Alencar

Fernando Adevando Bezerra

Francisco Justino da Silva

Iranley Ulisses Cavalcante

João Carlos Cardoso Bento

José Lopes de Araujo

José Pinto Saraiva Junior

Maria de Fatima Pinto Saraiva

Miguel Moreira da Costa

Rigoberto Amaro de Alencar

Roberto Bento Nascimento

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ANO NOVO DE 2021 E OS VELHOS CRIMES DE POLUIÇÃO AMBIENTAL QUE ATINGE O RIO SÃO FRANCISCO

 

Ano novo e velhas agressões, problemas que afligem o Rio São Francisco. Neste segunda-feira (4), a reportagem do BLOG NEY VITAL, flagrou mais uma vez cenas de poluição nas margens do Rio São Francisco, no bairro Angari, local que deveria ser um dos pontos de visitação e exemplo de educação ambiental. 

Em novembro de 2020 mostramos se assiste nas proximidades da estátua do Nego D'agua um crime, a poluição que agride e mata. São garrafas plásticas, embalagens plásticas, vidros, metais, tecidos, materiais de pesca, madeira manufaturada, borrachas, isopor, espumas e papel, entre outras formas de poluição.

Hoje, dia 4 de janeiro de 2021, a cena se repete.

Dezenas de pesquisadores alertam que grandiosidade do rio São Francisco sempre despertou no ribeirinho a errônea ideia de que suas águas seriam capazes de absorver tudo o que é descartado em suas águas. Atualmente, o despejo inadequado do resíduo sólido é um dos grandes problemas e mata o Velho Chico.

Falta educação, solidariedade, respeito para os frequentadores do local: o lixo deve ser recolhido.

Ano passado Técnicos do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) estiveram em Petrolina e em Juazeiro, para medir a quantidade de água do rio São Francisco, neste trecho. O trabalho foi feito a serviço da Agência Nacional de Águas (ANA). Os resultados mostram que o Velho Chico perdeu muita água ao longo dos últimos 30 anos. Situação que preocupa quem depende do rio.

O Rio São Francisco é um dos maiores da América do Sul. É um manancial que passa por cinco estados e 521 municípios brasileiros, com nascente no centro-oeste de Minas Gerais. O percurso segue pelos estados da Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, onde desagua no Oceano Atlântico.

O Velho Chico possui área de aproximadamente mais de 2,8 mil quilômetros de extensão. Ao longo dos anos, o rio tem sido vítima da degradação ambiental do homem como desmatamento, assoreamento, poluição e construção de usinas hidrelétricas.

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A ESCRITORA RAQUEL DE QUEIROZ E OS AGRICULTORES, OS PROFETAS DA CHUVA

Os profetas da chuva é a sintonia do homem do campo com a natureza que fez surgir os “profetas da chuva”. Ao longo dos anos, a cada plantio e expectativa de colheita, os sertanejos vão ampliando sua interação com o meio ambiente e passando suas experiências e rituais para filhos e netos. 

A escritora cearense, Rachel de Queiroz, primeira mulher a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, ficou famosa ao escrever seu primeiro romance O Quinze, sobre a seca que assolou sua terra. Mesmo morando no Rio de Janeiro, ela voltava sempre à Quixadá, para sua fazenda (“Não me deixes”). 

Sobre os profetas da chuva, dizia a autora: “Vá, por exemplo, ao sertão nordestino, nos meses de novembro e dezembro. O povo, lá não tira os olhos do céu, em procura dos prenúncios. Pequenas nuvens ao poente… pequenas, claro, ainda não é tempo das grandes, mas, se elas se juntam para o sul, quer dizer uma coisa; se aparecem ao poente, a coisa muda. Só o que elas não dizem é que a coisa será essa: como todos os adivinhos do mundo, gostam de se envolver em mistério…” 

Alguns homens e mulheres, acostumados desde pequenos a fazerem previsões para quadra invernosa, valorização das tradições herdadas pelos seus antepassados, conhecidos como "Profetas da Chuva". 

Um desses profetas, Erasmo Barreira, o ano será um dos melhores dos últimos 20 anos.

Para eles, através de experiências, o inverno, isto é a quadra chuvosa, que se inicia em janeiro e segue até maio, promete ser uma das melhores em 2021. Perguntamos alguns deles como são feitas as famosas experiências e que métodos são usados para tal afirmação. Alguns responderam que observam a natureza a seu modo e daí tiram as suas conclusões. Outros acreditam em rituais religiosos, crenças transmitidas de geração a geração. 

Os Meteorologistas do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) apontam o fenômeno La Niña vai influenciar também as chuvas.

Os profetas da chuva é a sintonia do homem do campo com a natureza que fez surgir os “profetas da chuva”. Ao longo dos anos, a cada plantio e expectativa de colheita, os sertanejos vão ampliando sua interação com o meio ambiente e passando suas experiências e rituais para filhos e netos. 

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ISA APOLINÁRIO ASSUME SECRETARIA DE CULTURA E TURISMO DE EXU, PERNAMBUCO

O Prefeito reeleito de Exu Pernambuco, terra de Luiz Gonzaga e de Barbara de Alencar anunciou o nome dos novos secretários municipais para o segundo mandato.

A nova Secretaria de Cultura, Turismo e Desportos será Isa Araújo Apolinário Diniz. "Exu é o berço de talentos e manifestações culturais com enorme potencial turístico. Isa vem agregar junto com esse celeiro uma cultura mais inclusiva, participativa e com um olhar sempre voltado para o legar maior de nossa terra, a cultura gonzagueana", declarou o prefeito Raimundo Saraiva.

Isa Apolinário, de acordo com o currículo, participou ativamente da inauguração do Museu Gonzagção, é sócia fundadora da ONZ Parque Aza Branca, foi secretária Executiva do Comitê do Centenario de Luiz Gonzaga.

Isa assume a secretaria no ano em que o irmão de Luiz Gonzaga, o cantor e sanfoneiro Zé Gonzaga completa 100 anos. Zé Gonzaga nasceu no dia 15 de janeiro de 1921,

Em 2020, a irmã de Luiz Gonzaga, Chiquinha Gonzaga se viva fosse teria completado 95 anos. Este ano de 2021 o Rei do Baião, completaria no dia 13 dezembro 109 anos. Devido a pandemia a futura secretaria terá que buscar meios de incentivar a cultura e aplicar no desenvolvimento da cidade.

Exu, está localizada na Chapada do Araripe e possui um patrimônio cultural e turístico dos mais ricos do Brasil. A cidade costuma celebrar a data de morte de Luiz Gonzaga 02 de agosto e  festejar o nascimento com o  Festival Viva Gonzagão, 13 de dezembro.

Raimundinho Saraiva, do PSB, foi eleito prefeito de Exu (PE) com 51,83% dos votos. Foram 10.682 votos.


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ANTONIO NÓBREGA SEGUE, EM 2021, PROTAGONIZANDO A ARTE QUE BUSCA ENTENDER O MUNDO

Foi na caatinga do Sertão paraibano, na Fazenda Tamanduá, que Antonio Nóbrega, 68 anos, recebeu 2021 ao lado da companheira Rosane Almeida e da filha Maria Eugênia. Sem rituais, avesso a festejos amparados por artificialidades, o multiartista pernambucano não silenciou, porque pela sua cantoria “Nem na faca, nem no grito. Nem no tapa, nem na bala. (...) Poeta não cala”. 

Brincante que é, de um universo cultural que possibilita entender o mundo, Nóbrega conversou com a Folha de Pernambuco e trouxe alentos de possibilidades para um ano cujo foco deve ser o bom senso. Esse é o desejo do nosso maior protagonista da arte, a que vislumbra luz nos fins dos túneis (da vida).

A arte tem o poder de mostrar horizontes e perspectivas habitualmente não vistas no nosso cotidiano. Seja através da poesia ou de uma boa história, somos convidados a compreender o mundo e entrar nos seus subterrâneos mais facilmente”.

A quarentena me obrigou a tarefas que há algum tempo havia me proposto concluir, de natureza literária por exemplo. Pude avançar e talvez no primeiro semestre possa publicar alguns desses trabalhos.

O momento nos predispõe a uma atitude de maior busca de conhecimento, como brasileiros precisamos ter uma consciência menos banal sobre as coisas. Devemos acordar para a necessidade de repensar os chamados arquétipos do "País do Carnaval e do futebol''. 

Certamente a gente não vai ter Carnaval como festa de rua em 2021. Optar por fazer lives não é Carnaval, mas é interessante. Gostaria muito de apresentar frevos instrumentais e comentar sobre seus compositores, falar dos frevos-canções, sua dinâmica e como nascem. 

E o Carnaval é uma festa dividida entre a classe que investe e o povão na rua, uma ambiguidade. Tá na hora de mudar a roleta e entrar no lugar em que o País ainda não esteve: o do respeito por suas ideias no campo social, embora esteja dizendo isso em um momento absolutamente trágico e postergado não sei até quando.

O que está se vendo é uma absoluta falta de bom senso, algo que está fora do foco do Governo. Não há caminhos para a conversa sensata, sequer para a conversa. É difícil esperar que as coisas dentro dessa trama voltem a nos favorecer.

Eu tenho para mim que o caminho de 2021 será o da sociedade mostrar força e não aceitar as coisas “ad eternidade”. A pandemia tem sido um exemplo de muitas contradições que estão ocorrendo dentro desse contexto.

Diria que a maior parte dessa resistência foi alegre. Nós, Rosane e eu, sempre estivemos animosos e nesta pandemia ela junto aos professores do Brincante, conseguiu fazer com que o espaço atravessasse mais uma vez um período tormentoso. Já começamos a divulgação de cursos como a ‘Arte do Brincante’ e o ‘Na Rima’.

Vamos aguardar os acontecimentos sobre cursos presenciais, no segundo semestre, quem sabe? Embora o trabalho virtualmente tenha se tornado um caminho para se associar ao presencial.

Estamos confundindo arte com entretenimento e ao invés de tê-la para entender o mundo, a temos como alienação, como anestesia. Vou puxar um pouco o freio de minha atividade artística. Vai ser mais importante colocar o meu saber em processos de educação cultural, esse é meu propósito maior. Se não mudarmos, a civilização vai fenecer, porque o estado de ignorância vai preponderar.

Como podemos instrumentalizar as pessoas com a arte, dentro de um mundo em que o meio-ambiente está deteriorado, o capitalismo cresce assustadoramente com as maiores fortunas ganhando na pandemia, enquanto milhões passam necessidades das mais atrozes? Acho que no futuro essas pessoas devem ser consideradas tão más quanto os maiores facínoras de nossa época.


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CANTORA TERESA CRISTINA AVALIA QUE SAMBA E POLÍTICA NÃO PODEM CAMINHAR SEPARADOS

 Teresa Cristina não se tornou a “Rainha das Lives” por acaso. Para além de animar as noites dos brasileiros quarentenados durante a pandemia, sua missão, explica, era levar “cultura brasileira para os lares. A cultura escondida nos livros de história”. 

Ao lado de grandes nomes da música brasileira como Chico Buarque, Caetano Veloso, entre outros, interpretando e relembrando o cancioneiro nacional, Tetê, como é conhecida a cantora, também conversou com uma série de políticos e personalidades do país: Lula, Marcelo Freixo, João Paulo Rodrigues, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e uma série de pensadores.

Desde o final dos anos 1990, Teresa Cristina é uma das protagonistas do samba carioca e explica que o samba e a política não podem caminhar separados: “Eu não posso ser sambista e admirar, Zé Ketti, Silas de Oliveira, Paulo da Portela e não gostar de política. Fica faltando alguma coisa”, diz Teresa.

A questão racial, da qual diz não ter tido afinidade até sua entrada na UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), onde formou-se em Letras, também está presente nos temas abordados em sua live. E não seria diferente, afirma, com o 2020 que atravessamos. 

“Eu era contra a Política de Cotas. Era muito mal informada. Sempre trabalhei desde criança, desde os 12 anos de idade e, por poder ter dinheiro para pagar um cursinho pré-vestibular e entrar em uma universidade pública, eu não reconhecia que era privilegiada, sim. A gente não pode ter vergonha de mudar, a gente não pode ter vergonha de aprender”, reflete a cantora. 

Brasil de Fato: Tua relação com o samba nos parece muito intrínseca, mas sempre foi assim? Quando ela surgiu? 

Teresa Cristina: Na minha infância - eu sou dos anos 1970 - era muito influenciada pela cultura norte-americana, pela música preta, a música Disco: Dana Sana, Barry White, Tavares. Eu gostava muito desse estilo musical. 

Quem me apresentou o samba foi meu pai, mas naquele momento, o que eu queria mesmo era ouvir música Disco. Quando eu entrei na UERJ, para estudar letras, é que eu comecei a me formar como cidadã, como um ser político. E eu acho muito importante, quando eu passo meu conhecimento adiante através das lives, a gente não deixar de propagar e passar adiante o conhecimento. 

O samba do Rio de Janeiro nasceu das mãos de uma mulher. Isso é muito importante, mesmo que a história tenha apagado um pouco essa participação. 

Quando eu entrei na UERJ eu era contra as cotas. Olha só! Sempre trabalhei desde criança, desde os 12 anos de idade e, por poder ter dinheiro para pagar um cursinho pré-vestibular e entrar em uma universidade pública, eu não reconhecia que era privilegiada, sim. Mesmo sendo de classe média baixa, meu pai feirante, sustentando cinco filhos, suburbana. Eu tinha algum privilégio.

Quando eu entrei para o movimento estudantil, essa ficha foi caindo para mim. Eu não tenho vergonha de dizer isso, porque podem existir pessoas que também pensem como eu pensava antes de entrar na UERJ. E a gente não pode ter vergonha de mudar, a gente não pode ter vergonha de aprender”.

As tuas lives já se tornaram uma tradição na internet. Mas elas vão para além da música. A quem te compare com Tia Ciata e tudo o que representa as raízes do samba, a oralidade.

A Tia Ciata é quem trouxe o samba para o Rio de Janeiro e isso significa muita coisa. O samba do Rio de Janeiro, que depois foi levado a todos os cantos do Brasil, nasceu das mãos de uma mulher. Isso é muito importante, mesmo que a história tenha apagado um pouco essa participação.

 Eu cresci vendo nas revistas, nas novelas, nos filmes, nas propagandas, nos outdoors, mulheres brancas em lugar de destaque e sucesso 

Ele nasce (o samba) e se mantém, por uma força ancestral. A ancestralidade, através da oralidade, vai se perpetuando. Então eu, como sambista, me sinto nessa missão de passar um conhecimento, de passar adiante o que eu aprendi, o que eu vivi. E foi isso que, de alguma forma, tentei fazer nas lives. 

Momentos difíceis que a gente passou, no mundo todo, aqui no Brasil um pouco mais porque a gente teve uma dificuldade acelerada pelo descaso de algumas autoridades com relação à quarentena, ao isolamento. E eu percebi que muitas pessoas, assim como eu, estavam em casa sem saber o que fazer, sem motivação, sem esperança de sobreviver a essa pandemia. 

A gente se preocupou com a saúde, mas também com a situação financeira. Muitos brasileiros passaram por dificuldades e continuam passando. E eu tentei, através das lives, me aproximar das pessoas, de alguma forma dizer a essas pessoas que elas não estavam sozinhas. 

A música também acabou servindo como pano de fundo para discussões muito maiores, sobre o país, sobre a relação da música com a política.

Eu admiro muito uma cantora, compositora, ativista, chamada Nina Simone. E ela tinha uma fala muito direta, muito forte. E uma das coisas que ela dizia é que o artista, para ser considerado artista, ele tem que refletir o tempo dele. Em outra fala, ela dizia que a liberdade era a maior virtude que um artista, uma pessoa poderia ter. É você se sentir livre. 

Eu não gosto desse pensamento que algumas pessoas têm, e que ouço desde criança, que nesse país não se discute futebol e religião. E por não se discutir religião hoje a gente têm Congresso, câmaras de vereadores cheias de evangélicos fundamentalistas que votam muitas vezes contra o povo.

Não discutir a política cria seres apolíticos. A gente não pode não discutir a política, porque ela interfere diretamente na nossa vida. Política é o preço do arroz, é a discussão antirracista, é  falar sobre segurança, sobre os direitos que as mulheres devem ter sobre seus corpos. Então, a política me atravessa a todo momento.

 Eu não posso ser sambista e admirar, Zé Ketti, Silas de Oliveira, Paulo da Portela, e não gostar de política. Fica faltando alguma coisa 

Quando a gente despolitiza as coisas, a gente perde nossa fala, nosso direito de reivindicar. Por isso não gosto de ser isenta, de ficar em cima do muro. Acho que a gente tem que assumir nossas posições. Até porque ninguém está sempre 100% certo.

A gente está em um país que sofreu muito com uma ditadura, onde muita gente desapareceu. Um país que acabou de tomar um golpe horroroso, um país que prendeu um presidente injustamente, sem provas. Um país que "impeachmou" uma mulher, com um discurso misógino, machista, fascista. O que fizeram com a Dilma foi muito feio.

E, como artista, me sinto no dever de me posicionar sobre certas questões. Se eu influencio alguém, se as minhas ações são ouvidas por alguém, eu não posso não passar minha verdade para essas pessoas. 

Eu não posso ser sambista e admirar, Zé Ketti, Silas de Oliveira, Paulo da Portela, e não gostar de política. Fica faltando alguma coisa.

E ao falar sobre política no Brasil e sobre esses mestres do samba, é impossível deixar de lado a discussão sobre o racismo estrutural brasileiro?

O primeiro avanço foi admitir a existência do racismo estrutural. De um racismo que está além das nossas falas, além da percepção. São "pequenos detalhes" que cercam a gente a vida inteira. Eu cresci vendo nas revistas, nas novelas, nos filmes, nas propagandas, nos outdoors, mulheres brancas em lugar de destaque e sucesso. Como eu vou acreditar que uma mulher negra é tão valorizada nessa sociedade, quanto aquela mulher que está sempre em evidência?

 Foi um ano marcado por essa discussão antirracista e essa luta vem de muito tempo, mas a discussão chegou mais cedo e ainda não acabou 

A mulher tem sempre os mesmos gostos, a mesma cor da pele. Estão sempre em um status de poder e os empregados são pretos. Como eu vou me transportar para a realidade? Eu vou achar que isso é verdade. Quer dizer, o poder está sempre com a pessoa branca e a pessoa negra é subserviente, recebe ordem, é humilhada. Quando ela tenta sair do lugar onde está, é chamada de insolente, como eu já fui chamada. De insolente, de abusada, autoritária. 

Tinha um professor de cultura brasileira na Universidade. Quando eu reclamei com ele sobre o olhar do Gilberto Freyre, o autor de Casa Grande e Senzala, quando ele dizia que a miscigenação amenizou a relação entre o senhor de engenho e os escravos, e eu dizia que essa palavra foi construída em cima de muito estupro, de muito sexo sem sentido, sem permissão, ele dizia que eu era muito revoltada, muito rancorosa. 

Esse tipo de resposta que as pessoas dão, nasce de um racismo estrutural. A resposta do Mano Menezes (ex-técnico do Bahia), quando o Gerson (meia do Flamengo) diz que foi vítima de racismo dentro de campo, ele (o Mano) fala com ele (o jogador): “malandragem não”. Na visão da branquitude ainda ligada a esse racismo estrutural, a malandragem está ligada à pele preta. 

Então, foi um ano que foi marcado por essa discussão antirracista. Porque essa luta vem de muito tempo, mas a discussão chegou mais cedo e ainda não acabou. Porque ainda temos o mesmo discurso de volta. Nós estamos em dezembro de 2020. Não é para o Mano Menezes falar aquilo. Não cabe. 

Quando você entra nas redes sociais do Bahia, a quantidade de gente branca defendendo o colombiano, dizendo: "ah, ele não sabe nem falar português direito, como ele foi racista?". Para ser racista você não precisa falar nenhuma palavra. Com um gesto você pode ser.

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