MULHERES AINDA OCUPAM POUCOS ESPAÇOS DE LIDERANÇAS NO CONGRESSO

Ser eleita é apenas o começo da trajetória – e dos desafios – para que as mulheres influenciem os espaços de decisão no Congresso Nacional. Ainda que tenham conseguido mais cadeiras na Câmara dos Deputados e no Senado Federal nas eleições de 2018, elas ainda estão longe dos cargos de poder nas duas casas legislativas: são minoria entre as lideranças partidárias, presidem somente 7 das 36 comissões permanentes do Congresso e nunca ocuparam o posto mais alto – a presidência da Câmara ou do Senado.

Quem está na presidência das duas casas tem o poder de escolher quais e quando projetos de lei serão votados, além de entrar na linha sucessória da Presidência da República. O Congresso Nacional, no entanto, nunca teve uma presidente da Câmara ou do Senado desde sua primeira assembleia, em 1826. Uma das que chegaram mais perto foi a ex-deputada e hoje senadora Rose de Freitas (PODEMOS-ES).

Em 2011, ela lançou a sua candidatura para a vice-presidência da Câmara dos Deputados e chegou ao cargo. Foi a primeira vez que uma mulher participou da mesa-diretora da casa. Nos dois anos seguintes ela se candidatou à presidência, mas conta que foi questionada pelo próprio partido. “Por que uma mulher? Não pode ser uma mulher, porque ela vai conviver com presidente da República, ministros”, conta Rose do que ouviu na época. 

E ela tinha uma resposta para esses questionamentos. “Ora, como parlamentar também faço isso. É o recado cultural que nós temos que combater dia a dia”, conta. 

Para a senadora, ainda existe uma cultura entre os líderes de partido que setoriza onde as mulheres podem ou não estar nos cargos da Câmara.”Eu diria que certos cargos podem, outros não podem. Certas relatorias podem, outras não podem, e o mesmo com as comissões. Têm uma cultura secular de que o homem é mais inteligente, é mais preparado.”

A distribuição das parlamentares nas comissões permanentes da Câmara é um retrato de onde as mulheres podem ou não estar na sociedade. Entre 25 comissões fixas da casa, apenas quatro são presididas por mulheres: a de Cultura, de Direitos da Pessoa Idosa, de Direitos da Mulher e a comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público. A primeira vez que uma deputada presidiu uma comissão permanente da Câmara foi em 1999, segundo dados do Movimento Transparência Partidária.

Líder do PSOL na Câmara dos deputados até julho, a deputada Fernanda Melchionna (RS) acredita que os partidos reproduzem a divisão sexual do trabalho. “Não é normal a falta de representação social das mulheres no parlamento. Não é normal ter mulheres só em algumas comissões de saúde, de seguridade social. Nós podemos debater tudo isso, mas também podemos falar sobre economia, constituição e justiça. Isso mostra como a questão do machismo está presente na Câmara dos Deputados e nos partidos”. 

Em 2019 as mulheres só eram maioria em uma das comissões parlamentares: na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher – em 2020 as comissões não foram formadas por conta da pandemia de coronavírus. Nas outras elas representam no máximo 40% do número total de parlamentares, segundo levantamento do Elas no Congresso, plataforma de monitoramento legislativo d’AzMina, com os dados das comissões permanentes da Câmara. 

Há comissões que sequer contavam com parlamentares mulheres em sua formação, como é o caso da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços. Quando falamos de mulheres negras, elas estão em apenas nove das 25 comissões permanentes. 

Para entender a importância disso, vamos usar como exemplo uma disputa em uma comissão especial do Congresso, em 2017, que mostra o quanto a falta de mulheres em cargos legislativos influencia como as leis serão discutidas. 

Aumentar a licença-maternidade para mães de bebês prematuros parece uma boa ideia para ampliar os direitos das mulheres. Era sobre isso que falava o texto da PEC 181, proposta de emenda constitucional que ganhou uma comissão especial na Câmara dos Deputados naquele ano. O presidente da comissão era um homem: o deputado Evandro Gussi (PV-SP). E entre os três vice-presidentes, apenas uma mulher, a então deputada Geovania de Sá Rodrigues (PSDB-SC). 

O que seria mais um passo para os direitos das mulheres, no entanto, ganhou o apelido de cavalo de tróia, quando o relator da comissão, responsável pelo texto final da PEC, acrescentou no documento que a vida começa desde a sua concepção – a maior parte da oposição ao aborto baseia-se na premissa de que o feto é um ser humano, uma pessoa, desde o momento da concepção. O texto da PEC, com o substitutivo, foi aprovado pela Comissão Especial da Câmara com 18 votos contra um na primeira sessão – a única mulher a votar foi a única que votou contra a proposta. A segunda sessão acabou suspensa após manifestação do movimento feminista.

No Senado Federal, a realidade feminina nas comissões não é muito diferente. As mulheres presidem três das 11 comissões permanentes da casa: a de Agricultura e Reforma Agrária, a de Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, e a de Comunicação e Informática. E pela primeira vez desde a redemocratização, uma mulher assumiu uma das comissões com mais poder do Senado, a de de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ). A senadora Simone Tebet (MDB-MS), atual presidente dessa comissão, travou uma disputa dentro do seu partido para concorrer ao cargo. 

Isso é um retrato de outro espaço em que as mulheres estão em desigualdade: as lideranças dos partidos. São os líderes que indicam as lideranças e os membros de cada comissão, de acordo com a proporção do seu partido no total de parlamentares. Quem tem mais pessoas eleitas, ocupa mais cadeiras nas comissões e nas lideranças. É a regra de proporção partidária que está no regimento da Câmara e do Senado. 

Os critérios que as siglas usam para indicar parlamentares para comissões, relatoria de projetos e mesas diretoras, no entanto, não tem base em qualquer regimento da Câmara ou dos estatutos dos partidos.  Nesses casos, prevalecem as regras informais. “Regras informais geralmente prejudicam as mulheres. Se elas têm dificuldade de entrar nesses espaços, elas têm menos tempo para conhecer essas regras. São questões que dificultam”, explica a cientista política Daniela Leandro Rezende, da Universidade Federal de Viçosa (UFV). 

Estudos sobre as lideranças da Câmara indicam que critérios informais comuns para colocar parlamentares em cargos é o acúmulo de experiência na área em que eles estarão.

Se deputados e senadores têm curso superior na área de educação, economia, provavelmente serão indicados para comissões relacionadas a esses temas. O mesmo vale para experiências profissionais. “Mas isso varia ao longo do tempo e de comissão para comissão”, observa a professora.

A trajetória política das mulheres, cercada por percalços políticos maiores do que os homens, é outro aspecto que influencia o cargo que elas podem ter no legislativo, segundo Daniela. “As mulheres estão ausentes nas comissões executivas dos partidos. Têm mais dificuldade para se eleger, então o acúmulo de experiência dessas mulheres é mais difícil. Quando chegam nessa alocação, elas já são minoria e geralmente vão para essas comissões de cultura, família, e menos para as comissões como a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)”.

As lideranças de partido também participam do Conselho de Líderes, que ao lado do presidente de cada casa, decide quais são as votações do dia, com os líderes de maioria e de minoria. 

Mas de 24 lideranças de partido na Câmara dos Deputados, apenas três hoje são mulheres: Sâmia Bomfim (PSOL), Perpétua Almeida (PCdoB) e Joenia Wapichana (Rede). Além disso, a deputada professora Dorinha (DEM-DF), que é líder da bancada feminina, também tem uma cadeira no colégio de líderes. Uma mulher só foi ocupar esse cargo na Câmara em 1996, segundo dados do Movimento Transparência Partidária. No Senado, há apenas uma mulher líder: Eliziane Gama (Cidadania)

A última eleição representou um avanço para as mulheres no Congresso Nacional. Foi só em 2018 que as parlamentares saíram de 10% da casa para 15%, mas ainda estamos longe do que seria suficiente, segundo a cientista política Daniela Resende. 

“Isso significa que as mulheres estão fora de diversas comissões, isso significa que mesmo que elas se articulem e formem um consenso são apenas 15% dos deputados. Isso dificulta que elas se retirem de uma votação, todas as mulheres, tentando impedir a continuidade da pauta”.

A professora alerta que mais um desafio chegou com o aumento de mulheres no Congresso. São as parlamentares conservadoras que, muitas vezes, combatem os direitos das mulheres no legislativo. Um exemplo é a deputado Carolina de Toni (PSL-SC), que apresentou um projeto para acabar com a cota feminina de 30% do fundo partidário. Um recurso que financia campanhas eleitorais de candidatos e colaborou com o aumento de mulheres na Câmara com a eleição de 2018. 

Projetos como o da deputada do PSL demonstraram que a atuação coletiva entre mulheres parlamentares está mais complexa. “Hoje não há consenso entre as deputadas para questões que antes eram comuns entre elas, como a lei de cotas para mulheres. Você aumenta o número de mulheres, mas desmobiliza esse grupo enquanto uma categoria que tem uma identidade coletiva na Câmara dos Deputados”, explica a cientista política. 

A ação coletiva entre as mulheres é um instrumento para influenciar o processo decisório. Desde a redemocratização, a bancada feminina tem esse papel, reunindo mulheres de diferentes partidos para discutir e criar um posicionamento entre as parlamentares sobre projetos que atingem as mulheres brasileiras. Para a criação da Lei Maria da Penha, por exemplo, foi essencial essa união.

Desde 2013, a banca feminina tem um cargo no conselho de líderes da câmara, com direito a voto e voz.  Alguns assuntos como o aborto contrariam o consenso entre as deputadas, mas o embate aumentou na última legislatura. 

A ex-líder do PSOL, Fernanda Melchionna, acredita que as deputadas contra os direitos das mulheres são minoria na bancada feminina e que a ação coletiva histórica das mulheres no Congresso pode superar as poucas que tentar diminuir o poder da bancada. “Nós precisamos organizar essa força social do movimento de mulheres na sua diversidade para potencializar a luta das mulheres, não só contra retrocessos, mas pelos avanços”. 

ESPAÇOS DE  PODER: A deputada e vice-candidata à prefeitura de São Paulo, Luiza Erundina (Psol-SP), apresentou uma proposta de emenda constitucional (PEC 190/2006) para que pelo menos uma mulher esteja nas mesas-diretoras da Câmara e do Senado e nas mesas das comissões das casas. O projeto foi a votação pela primeira vez em 2015 e está na fila do Senado desde 2019.

A cientista política Daniela Rezende considera que projetos como o de Erundina ampliam o espaço de poder, para que as mulheres estejam presentes nas decisões da Câmara. “Se você tem pessoas com pouco poder numérico, mas que concentram cargos (a presidência da mesa, comissões importantes), os 15% das mulheres no Congresso se multiplica. No caso brasileiro, as mulheres estão excluídas. Isso significa que em decisões importante nós não podemos deliberar”. 

A senadora Rose de Freitas vê a mudança nas pessoas atentas à falta de mulheres no parlamento. Inclusive homens que reconheçam a importância das mulheres e outros grupos na política para melhorar a qualidade da democracia. 

“Para mudar, nós precisamos trazer outros elementos, que pensem como nós lado a lado, tomando uma posição a favor da mulher. Nós não temos número para decidir uma eleição na casa, no estado, a não ser como eleitora. Isso só muda se mudar a representatividade, com consciência da importância da mulher na política”.  - Link para a matéria: https://azmina.com.br/reportagens/mulheres-lideres-no-congresso/ - 

*Letícia Ferreira e Bárbara Libório - Link para a matéria: https://azmina.com.br/reportagens/mulheres-lideres-no-congresso/ - 

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CESOL CRIA KIT PARA IDENTIFICAR PRODUTOS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA

No território Sertão do São Francisco, os produtos dos empreendimentos atendidos pelo Centro Público de Economia Solidária (Cesol-SSF), comercializados no mercado convencional em Juazeiro, no norte da Bahia, receberam sinalizações nos estabelecimentos e nas prateleiras, com a identificação "Aqui tem Economia Solidária!".  As sinalizações visam facilitar para os clientes da região a identificação nos espaços comerciais, dos produtos oriundos da economia solidária do território.

Cada estabelecimento de comercialização recebeu um kit de divulgação contendo um mobilie comercial, um wobbler para prateleiras e um adesivo de parede. Em Juazeiro, tem crescido o interesse dos comerciantes pelos produtos da economia solidária e da agricultura familiar em mercadinhos e padarias. Os produtos têm tido uma boa aceitação pelos clientes.

De acordo com coordenadora do Cesol-SSF, Aline Craveiro, a grande dificuldade vivenciada hoje pelos empreendimentos de economia solidária é a comercialização. "Inserir esses produtos em estabelecimentos e fazer as pessoas conhecerem e consumirem essas produções oriundas de grupos, em sua grande maioria da zona rural, é um grande passo. É muito importante esse acesso a novos mercados. A economia solidária esteve presente, por muitos anos somente em feiras e eventos. Hoje, facilitar esse acesso em novos mercados, além de gerar renda para milhares de famílias, possibilita o consumo dos produtos de qualidade e com preço justo", explicou Craveiro.

Após passar pelo crivo do atendimento, criação da identidade visual e da rotulagem, produtos como queijos, geleias e geleiadas, doces, rapadura, licores são apresentados ao mercado convencional pelo agente de vendas, onde é feita a solicitação para a comercialização dos produtos nos estabelecimentos comerciais.

Para atender uma demanda de pedidos crescente e dar maior visibilidade aos produtos da Economia Solidária, o Cesol-SSF firmou parcerias em Salvador e Aracajú com a Vila Orgânica, a Casa de Dona Rosinha, da chefe de cozinha Rosa Gonçalves e Preta Flor Distribuição.

A Secretaria de Trabalho Emprego, Renda e Esporte (SETRE) possui 13 Centros Públicos de Economia Solidária em funcionamento no estado. O Cesol-SSF foi inaugurado em 2013 em Juazeiro, e oferece apoio técnico para 128 grupos em dez cidades do território Sertão do São Francisco.

Onde encontrar os nossos produtos? Empório Meu Sertão- Rua Canafístula nº 148, bairro Centenário em Juazeiro. 

Bolo da Vó- Quadra-B, Castelo Branco, Juazeiro.

Empório dos Frios- Avenida Propriá. Alto do Alencar, Juazeiro.

Vila Orgânica- Feira com funcionamento aos Sábados no estacionamento do Circo Picolino, em Patamares, no horário das 7h às 12h, em Salvador.

Startup Escoar Brasil- www.escoarbrasil.com.br

Casa de dona Rosinha- em Itapuã, Salvador.

Fonte: Ascom Cesol-SSF

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LIVE SOLIDÁRIO CORDEL E REPENTE SERÁ REALIZADA NO SÁBADO (03) DE OUTUBRO

 O poeta, cantador de viola, Valdir Lemos através do Projeto Sertão Viola e Poesia, promove no sábado (3) de outubro, às 14hs, a Live Solidário Cordel e Repente. 

A transmissão será ao vivo pela internet pelo facebook e youtube acesso: valdir lemos repentista e poeta valdir lemos. 

O objetivo da Live segundo o organizador é arrecadar fundos para manter as atividades do Projeto Cultural Sertão Viola e Poesia, ajudando as famílias dos poetas necessitados em tempos de pandemia. "

'Já que não podemos realizar apresentações artísticas presenciais solicitamos dos amigos, fãs, admiradores, apologistas, empresários, e de toda sociedade a contribuição financeira no valor que puder, o importante é contribuir para o crescimento e valorização da nossa cultura popular nordestina", diz Valdir Lemos.  

Organização: Poeta Valdir Lemos. Whatsapp: (74) 98812-9905

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WEBNÁRIO TECENDO REDES: FUNDAÇÃO CASA GRANDE E O TURISMO SUSTENTÁVEL NA CHAPADA DO ARARIPE


 O xilógrafo José Lourenço, participou na noite desta quarta-feira (23) do 5º Webinário Tecendo Redes: Fundação Casa Grande e o Turismo Responsável na Chapada do Araripe, promovido pela Casa Grande Memorial Homem do Kariri, Nova Olinda, Ceará. 

O Webinário acontece até o dia 30 de setembro. O objetivo do webnário é dar voz e vez para quem, do local ao territorial, materializa a identidade cultural provocando a inclusão social e o desenvolvimento econômico por meio do turismo responsável, de base comunitária.

O propósito é contar as experiências, de como são estimulados e qualificados os negócios da cadeia produtiva do turismo e da economia criativa, a exemplo da instalação das hospedagens e a implantação de pólo gastronômico; apoio a fomentação de arranjos produtivos local; regularização de transportes alternativos; criação de operadora turística; promoção de eventos; realização de pesquisa científica e formação acadêmica e, idealização de rede de Museus Orgânicos, no território.

O Mestre da cultura José Lourenço falou sobre a Arte Popular na Chapada do Araripe. A mediação do Webnário é do bacharel e mestre Turismo, Junior Santos, Sócio-Diretor na empresa Modus Cariri e Coordenador do Teatro Violeta Arraes Engenho de Artes Cênicas na empresa Fundação Casa Grande - Memorial do Homem Kariri.

O mestre José Lourenço está há mais de trinta anos na Lira Nordestina e chegou a trabalhar com as filhas do fundador, o alagoano José Bernardo da Silva. Ele revelou que o seu objetivo continua sendo o de popularizar a arte e atender ao público que vem para as romarias de Juazeiro do Norte, assim como aos comerciantes da região, imprimindo os cordéis, santinhos e orações para as novenas.

Lira Nordestina é a histórica tipografia que transformou a cidade de Juazeiro do Norte em um dos principais centros da valorização do cordel em todo o País. Da editora, criada em 1936, saíram ilustrações que enfeitam galerias de arte e inúmeras capas de cordéis, os folhetos de poesia nordestina que são reconhecidos como patrimônio cultural brasileiro pelo IPHAN.

Atualmente, trabalham na gráfica ainda xilógrafos que detêm a arte centenária do entalhe em madeira para criar gravuras e carimbá-las em papel. Para continuar a viver deste ofício, eles formaram a Associação dos Xilógrafos e Artesãos do Cariri e criaram produtos para tornar a xilogravura acessível ao público.

Apesar das dificuldades vividas diante do distanciamento social o trabalho continua, de acordo com José Lourenço. Atualmente a Lira Nordestina é de responsabilidade da Universidade Regional do Cariri (URCA), os artesãos atendem os clientes pelas redes sociais. 

Em 1982, a Lira Nordestina foi comprada pelo Governo do Estado e, seis anos depois, incorporada à URCA. Lourenço conta que gráfica passou a ter uma importante função acadêmica e educativa, mas com a perda de convênios, os xilógrafos passaram a ter dificuldades de continuar. 

“Dez anos atrás tive a ideia de fazer uns azulejos, cerâmica com xilogravura. A gente começou a abrir a mente para novas ideias de novos produtos, foi aí que a gente começou a sobreviver com a arte da xilogravura. De repente a gente estava fazendo jogo americano, caminho de mesa, tudo introduzindo a xilo: chinelos, quadros, camisas, produtos na linha do artesanato”, lembra ele.

As produtos foram bem aceitos pelos clientes e tinham boas vendas nas feiras de artesanato e na própria sede, quando a Lira recebia a visita de estudantes e pesquisadores. Contudo, desde o início do isolamento social, a gráfica foi fechada e os eventos suspensos.

Atualmente o Instagram é o canal por onde as pessoas podem conhecer e adquirir produtos originais da Lira Nordestina. José Lourenço vai aos poucos ganhando familiaridade com as redes sociais. Desde março ele vem participando de lives. Em seu perfil @jose.lourenco.xilo, os interessados podem conversar com o artesão e fazer encomendas. 

“A gente teve que se adaptar, já era necessário e agora é a única forma de a gente tem para trabalhar e não deixar morrer a arte da xilogravura”, afirma ele.

Um dos projetos que a Lira Nordestina espera concretizar tão logo seja reaberta é a criação de um Museu do Cordel, onde serão expostas obras raras como as capas originais de cordéis de 1950 que compradas pelo próprio José Bernardo, além do maquinário original e móveis antigos. “Acredito que o museu vai ser um dos projetos mais importantes da história do cordel no Brasil, anuncia.

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FÓRUM POPULAR DE CULTURA PROMOVE LIVE COM A GESTÃO MUNICIPAL SOBRE A LEI ALDIR BLANC EM PETROLINA

O Fórum Popular de Cultura de Petrolina é uma organização política autônoma de trabalhadores/as da cultura de várias linguagens artísticas e que tem buscado o fortalecimento da classe cultural do município visando o planejamento e execução de ações para promoção, valorização e democratização da cultura.

Nesta quinta-feira, 24/09 às 19h, O Fórum promoverá mais uma live em seu canal no Youtube para tratar sobre a Lei de Emergência Cultural nº 14.017/2020, conhecida como Lei Aldir Blanc.

Na primeira conversa o FPCP teve a participação do Governo  do Estado de Pernambuco na pessoa de Tarciana Portella, Assessora de Cooperação e Redes Culturais - Secult PE; e do Conselho Estadual de Políticas Culturais – CEPC PE na pessoa de Williams Santana.

Desta vez, a conversa contará com a participação da Gestão Cultural do Município  de Petrolina, tendo como representantes o Secretário Executivo de Cultura, Cássio Lucena, o Diretor de Cultura, Marcone Melo, e o Agente Cultural – Servidor Público Efetivo, Sérgio de Sá. A mediação será feita pelos representantes do Fórum, o produtor cultural, fotógrafo e cineasta Chico Egídio; e a atriz, editora de vídeos e produtora cultural Camila Rodrigues.

Na ocasião, será debatido como o município irá executar os recursos na Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, tendo em vista que o Plano de Ação já foi aprovado pelo Ministério do Turismo, podendo ser acessado na Plataforma Mais Brasil, e o Termo de Adesão já foi assinado, possibilitando que o recurso no valor de R$ 2.262.000,00 seja repassado à Petrolina ainda este mês de setembro.

Para os/as trabalhadore/as da cultura que tiverem dúvidas sobre como acessar os recursos da lei ou mesmo sobre o cadastro municipal, podem acompanhar a conversa ao vivo e fazer suas perguntas, pois esse momento será justamente para que a classe cultural, artistas, técnicos/as e produtores culturais sejam ouvidos diretamente pela gestão. Será um espaço de diálogo, escuta e interação entre a classe de trabalhadores/as da cultura e a gestão municipal.

Para acompanhar, basta acessar o canal do Youtube do Fórum Popular de Cultura de Petrolina. A live acontecerá amanhã (quinta-feira, 24) às 19h.

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SECA AVANÇA EM PERNAMBUCO E ATINGE METADE DO TERRITÓRIO, APONTA MONITOR

Dados do Monitor de Secas da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) mostram que, em agosto, Pernambuco registrou expansão de área seca fraca - regiões de estiagem. De acordo com os índices, o aumento foi de 37,68% em julho para 54,29% no último mês. 

O Governo do Estado decretou situação de emergência por estiagem em 55 municípios do Sertão, em 11 de setembro, e mais recentemente, no último sábado (19), em mais 59 cidades do Agreste. Ou seja, atualmente há 114 dos 184 municípios pernambucanos em emergência por causa da seca.

Segundo o monitor, a expansão da seca em agosto ocorreu justamente para o Litoral Norte e Agreste, além do surgimento de seca fraca no Sertão. "Esta com impactos de curto prazo. Houve mudanças nos impactos da seca no Sertão do São Francisco e no centro do estado, que passaram de longo para curto e longo prazo. No leste, os impactos permanecem de curto e longo prazo", diz nota técnica oficial da ANA.

A situação de seca aumentou em 12 dos 19 estados acompanhados pelo monitor. Além de Pernambuco, foi registrado progesso na estiagem em Alagoas, Ceará, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Sergipe e Tocantins. Em Pernambuco, a ANA ressalta que o grau de severidade da seca se manteve.

A redução de áreas com o fenômeno aconteceu somente na Bahia e no Espírito Santo, sendo que o Distrito Federal se manteve sem seca. Enquanto Mato Grosso do Sul manteve 100% de seu território com seca, os três estados do Sul – Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina – ainda não podem ter sua situação comparada com meses anteriores porque estreiam no Mapa do Monitor de agosto, que é o mais recente.

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PETROLINA É CIDADE PALAVRA CANTADA E DECANTADA EM VERSO E PROSA

A maior cidade do Sertão de Pernambuco, que polariza os limites da famosa Ponte Presidente Dutra com a vizinha Juazeiro(BA), chegou aos 125 anos de emancipação neste 21 de setembro de 2020. A cidade, o rio São Francisco que lhe mapeia e as histórias ribeirinhas já foram abordadas nas várias linguagens artísticas: da música às artes plásticas, cinema e literatura. No cancioneiro da MPB, poetas e compositores já decantaram Petrolina com sucesso alinhado seus versos na trilha do pertencimento, das belezas naturas e de seu povo, sempre tendo o Velho Chico como protagonista.

Para citar alguns de seus criadores, tomemos o filho da terra Geraldo Azevedo, como ponto de partida ao expor seu "eu lírico" para com oseu berço natal. No segundo disco de sua carreira, intitulado apenas Geraldo Azevedo(1977), em parceria com Carlos Fernando, uma das mais inspiradas e autobiográfica canções dele é "Barcarola do São Francisco", em cuja letra narra sua partida para o Rio de Janeiro, tendo Petrolina como endereço e cenário de despedida:

É a luz do sol que encandeia(...)Vento, vela a bailar/Barcarola do São Francisco/Me leve para o mar/Era um domingo de lua/Quando deixei Jatobá/Era quem sabe a esperança indo à outro lugar/Barcarola do São Francisco/Velejo agora no mar/Sem leme, mapa ou tesouro/De prata ou luar(...).

Independente de saudosismo, no início da carreira já com os pés no chamado Sul Maravilha, lançava de longe seu olhar sob o pertencimento das coisas que ficaram na sua memória fotográfica do passado e de sua origem na comunidade do Jatobá que está sempre plena e viva no filme de sua vida real.

Uma das canções mais conhecidas no país que fala de Petrolina é o xote "Petrolina e Juazeiro", gravada no final da década de 1970 pelo grupo Trio Nordestino e depois pelo autor pernambucano Jorge de Altinho que na década de 1970 morou na região. O compositor confronta de forma poética as duas cidades, buscando eliminar um possível senso de disputa e bairrismo, inserindo os dois territórios no campo das belezas naturais, como reforça na letra:

Nas margens do São Francisco nasceu a beleza e natureza ela conservou. Jesus abençoou com sua mão divina/Pra não morrer de saudade vou voltar pra Petrolina/Do outro lado do rio tem uma cidade/Que na minha mocidade visitava todo dia/Atravessava a ponte, ai que alegria/ Chegava em Juazeiro, Juazeiro da Bahia(...) Juazeiro, Petrolina/ Todas as duas eu acho uma coisa linda/Eu gosto de Juazeiro e adoro Petrolina/.

Em 1986, em um dos seus melhores discos "Mestiço é isso"(1986), Moraes Moreira em parceria com o Geraldo Azevedo, também carimbou uma canção batizada de "Petrolina e Juazeiro", usando as águas do Velho Chico como referência de batismo e unificação das cidades ribeirinhas.

"Meu barco é meu coração que vai sem mágoa/ Nas águas deixa paixão até o cais/ Beira de rio/ Pernambuco e Bahia/ Todo vapor Marinheiro pode trazer Meu amor Juazeiro/ Bela menina pode trazer meu amor Petrolina".

Filho de Petrolina radicado há mais de 30 anos em São Paulo o compositor, cantador e cordelista Aldy Carvalho, jamais quebrou seu cordão umbilical com a cidade natal. Suas temáticas sempre estão focadas no Nordeste, no Sertão e na caatinga. A ampla percepção das lembranças da infância se atualiza com o presente. Um de seus primeiros discos, o Redemoinhos, gravado em LP e depois reeditado em Cd (1999/2000), trafega pelo imaginário de temas que traduzem a amplitude de suas memórias vivas desde a infância em Petrolina. Não por acaso, ele dedicou o disco à cidade de Petrolina "O Sertão que vive em mim"

Nascido em de Santa Cruz, onde passou parte da infância, Virgílio Siqueira, radicado há décadas em Petrolina é um dos maiores poetas em atividade no Estado, com vários livros publicados e projetos independentes. Na edição de Vaga-lumear (2011), o leitor encontra Petrolina como pano de fundo no belo (trabalhado e inspirado) poema "A essência do nosso sonho", no qual expõe o homem e mulher inseridos na grandeza do sertão em que Petrolina é o cenário com beleza e energia do Velho Chico.

Do encanto do teu nome/Nosso lume se espalha pra todo canto/ Em tua chama de esperança – amor e fé/ Com bravura, luz e força – o homem brandura e acesa fibra – a mulher /Bebem a energia do rio/ Úmido manto a nos acolher em seu leito/ Para mais um desafio/ Com a certeza de vencê-lo, ativa no peito/ Brotam daqui, Petrolina/Da entranha dos húmus do teu chão/À agridoçura do sumo dos teus frutos/A essência do nosso sonho e suor/ Nossa força e suporte, por ti: nosso trabalho/ Nosso sentido mais forte, por ti: nosso amor.

Com dez anos de carreira, só em 1982 foi que Alceu Valença conquistou o grande público por conta de estouro de Tropicana do disco Cavalo de Pau. O disco tem "Rima com Rima" em que o compositor provoca: Se eu rimar rima com rima/É tangerino tangerina(...)/Pirapora Petrolina/ Pirapora o teu destino é Petrolina/ Rimando remo com rima/É rio é maré e é mar". Enfim, Petrolina continua sendo terra sempre cantada e decantada.

 Texto *Emanuel Andrade, jornalista, professor do curso de Jornalismo em Multimeios e Doutor em Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP).

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